Tiffany Morgenstern

Acordo com dor de cabeça e em uma cama dura. Estou em um lugar que não é um quarto. Bom, aquilo nem parece um quarto, para começo de conversa.

Olho ao redor. Um abajur simples sob o criado-mudo branco, cortinas finas e claras, sem persianas, uma pequena televisão de plasma grudada à parede e duas portas. Uma deve dar para a saída e outra para o banheiro, provavelmente.

Tento caminhar até a segunda. Levantar não foi difícil, mas assim que forcei meu peso sob meus pés, minhas pernas cederam e eu me esborrachei no chão. Um gemido de dor escapou dos meus lábios. Respiro fundo e me levanto com dificuldade, me apoiando na cama e no criado-mudo. Depois me apoio nas paredes e mesmo com a dor lancinante, consigo chegar ao banheiro. Abro a porta e a fecho assim que entro. Vou direto para o espelho.

Há um curativo em minha testa, em forma de X, que não está escondendo muito a faixa de sangue já seco perto da raiz do meu cabelo loiro. Estou pálida, bem mais branca do que o habitual, e há um pequeno pedaço de algodão na dobra do meu braço, a parte de dentro do cotovelo direito. Tiro o algodão e vejo uma pequena picada, um pequeno ponto de sangue.

Eles tiraram meu sangue? Me pergunto. Para quê?

Passo os dedos pela picada onde eles devem ter enfiado a agulha e sinto um certo incomodo. Coloco um band-aid que achei no banheiro no lugar do algodão e então olho no espelho fixamente para meus olhos.

Desejei não ter olhado.

Estava completamente cheia de olheiras. Roxas, bolsas... eu estava ridícula, horrível. Nunca poderia deixar alguém me ver assim. Meus lábios estavam rachados e eu sentia um gosto amargo na boca.

Volto para o quarto às pressas enquanto procuro minha bolsa. Ao acha-la em um armário no canto do lugar, vasculho pelas minhas maquiagens. Passo tanto corretivo, base e pó embaixo dos olhos que ninguém nunca diria que eu passei uma noite ruim. Sem outra maquiagem. Tinha que parecer um pouco normal.

Ouço passos se aproximarem da porta, guardo as maquiagens e volto para a cama, fingindo que ainda estou dormindo. Sempre odiei médicos. Talvez seja porquê Madison é herdeira de um hospital.

Escuto o barulho de um salto fino e baixo tocando o chão enquanto se aproxima da cama. Uma mão gelada e feminina tira minha temperatura e depois anota algo, porque escuto o barulho de caneta contra algo, um papel provavelmente apoiado em uma prancheta.

– Batimentos cardíacos estáveis – ela diz a alguém. – Pode parar com os sedativos.

Eles me sedaram?

– Ela está bem, teve sorte. Porém o feto corre sérios riscos de vida. Se não ficar em repouso nos últimos dois meses de gravidez, o perderá.

Feto? Gravidez?

Não, abro os olhos, não há mais como se fingir se desmaiada.

– Como assim eu estou grávida?

A enfermeria de cabelos, olhos e pele escura sorri para mim de forma amigável.

– Você deve sorte, Srta. Morgenstern. Se um cliente do hotel não tivesse a encontrado no banheiro, a concussão poderia ter sido bem mais séria. Além disso, ao cair, você bateu a barriga com força. Caiu com ela para o chão. Pode ter danificado a caixa craniana do bebê, por isso tiramos sangue, para ver se conseguimos examiná-lo. É muito pequeno, então ainda não há como romper uma parte da placenta para estuda-lo.

– Mas... não vão me pedir um raio X, um pré-natal, algo assim?

– Se você quiser fazer, não há problema. Sinta-se à vontade para mimar esse bebezinho.

A enfermeira sorri e sai do quarto ao lado do homem com quem ela estava falando. Assim que a porta é fechada, eu começo a chorar. Não havia dormido com nenhum outro cara desde Cancun além de...

Meu Deus. Não. Ele vai me matar. Ela vai me matar. Eu e meu bebê estamos perdidos.

Eu não dormi com nenhum outro cara desde Cancun além de Bash. Se estou mesmo grávida, esse filho é dele.

§§§

Scarlett Wilkins

Sinto os lábios de Zac contra os meus. Em meu rosto, em minha mandíbula, em minha clavícula, parando nos meus seios para encará-los e sorrir depois. Suas mãos me tocam com calma, não por doçura, mas por tortura mesmo. Ele brinca comigo, dá voltas e voltas e nunca chega aonde tem que chegar. Sempre me faz implorar, me faz me humilhar... parece que ele gosta de ter o poder de decisão.

– Eu exerço controle sobre tudo – ele me contou uma vez. – Gosto de ver uma mulher que é normal diante de todos, mas na cama se revela. Gosto quando ela fala besteiras durante o ato e me pede para aliviá-la de sua tortura. Eu simplesmente lhe dou o que ela quer.

Sinto um sorriso se formar em meus lábios quando ele para de beijar a minha barriga e retira minha única peça de roupa com os dentes. Sinto que posso desmanchar a qualquer momento.

Ele sobe com as mãos quentes em minha cintura e com os olhos brilhantes e vidrados. Antes que possa me beijar, faço um giro e fico por cima dele. Zac parece surpreso e até meio confuso, mas não diz nada, então decido dizer:

– Hoje eu exercerei controle sobre você.

Ele dá risada, mas seus olhos brilham de desejo, eu consigo ver isso claramente. Enquanto uma de minhas mãos escorre até a sua barriga, a outra permanece em seu peito definido, sentindo as batidas do seu coração. Está tão acelerada e ele logo demonstra isso com outras partes do corpo.

– Se revele, Zac – sussurro em seu ouvido.

Ele murmura um gemido baixo em meu ouvido e eu sorrio diante daquilo. Eram música para meus ouvidos, sua voz tinha uma textura tão rouca, tão gostosa.

Zac me pega no colo e me posiciona em cima dele, de forma provocativa, mas sem fazer o que deve ser feito. Escorrego e minhas costas se arqueiam com a sensação. Sinto sua pulsação em locais inimagináveis e seus dedos percorrem toda extensão nua do meu corpo.

Saio de cima dele e volto com o que estava fazendo antes. Ainda escuto os gemidos baixos de Zac e suas mãos grudando de suor em meus cabelos, que estão colados a minha testa e ao meu pescoço. Desde o começo eu propus que Zac ligasse o ar condicionado, mas ele insistia que esfriava o clima.

– Gosto da sensação, do suor de dois amantes durante a noite. Você aprenderá a gostar também.

As palavras se embaralham em seus lábios e seus olhos se reviram. Sinto que está na hora.

Subo em seu colo novamente, ainda sem deixa-lo me tocar, e agarro seus cabelos loiros com força.

– Diga – murmuro, mordiscando sua orelha. – Me peça para aliviá-lo da sua tortura.

Zac cerra os lábios. Insisto várias vezes para ele ceder, mas pareceria impossível. Ele realmente gostava de exercer controle.

– Me deixe dar o que você quer, Zac – sussurro. – O que você quer? O que você precisa?

Ele abre os olhos com dificuldades. Suas duas safiras se encontram com meus olhos castanhos esverdeados e ele sorri, agarrando meus cabelos.

– Eu preciso estar dentro de você nesse exato momento. Quero levá-la ao céu durante à noite e durante o dia. Quero ficar trancado nesse quarto com você para sempre. Quero que você saiba quem eu realmente sou.

O encaro em forma de questionamento. Se ele tinha algo a dizer, que dissesse logo.

– Quero lhe contar que meus desejos verdadeiros são bem mais...peculiares.

– Deixe-me ver.

– Ei, Garota Mascarada, você não entende... quando eu digo peculiares, digo diferentes. Até mesmo estranhos.

– Já vi muita coisa estranha nessa vida, principalmente nesses últimos meses nesse lugar.

– Você pode não entender e eu não quero que você tenha medo. Quero que me diga quando está preparada.

– Eu estou preparada.

– De verdade – ele insiste. – Eu quero que você seja sincera e não tema nada.

Olho no fundo dos seus olhos e suspiro. Estava quase perdendo à vontade... os arrepios, os arquejos, os choques estavam ficando mais fracos, minha vontade estava se dissipando.

– O que eu preciso fazer para que você acredite em mim?

– Quero que aceite fazer algo mais selvagem comigo.

Sorrio maliciosamente.

– E já não fazemos sexo selvagem o suficiente?

– Estou te propondo novas oportunidades. Se não aceitar, não tem problema. Nenhuma garota realmente aceita.

– Como assim?

– Eu preciso de uma mulher que se entregue de corpo e alma para mim. Quero que ela sinta exatamente tudo que eu posso oferecer.

– Quantas já aceitaram?

– Nenhuma.

Engulo em seco. Se nenhuma aceitou, é porque algo estava errado.

– Podemos começar com algo mais leve, se você quiser. Como eu disse, quando estiver preparada, me diga.

Sorrio fracamente e o beijo com vontade.

– Então serei a primeira a aceitar participar desses seus desejos peculiares.

Zac parece confuso.

– Você não tem medo? – ele pergunta. – Sei lá, que eu seja um maníaco por sexo, psicopata, sei lá.

– Eu confio em você.

O loiro sorri para mim.

– Então a Garota Mascarada aceita meu desafio?

O beijo com intensidade e o deixo entrar dentro de mim. Depois de um gemido inicial, me acostumo com a sensação maravilhosa.

– Pode me chamar de S – digo. – Se quiser. Isso é o máximo que eu posso contar de mim.

§§§

Madison Hartfold

Depois de sair da sessão de fotos, vou para a gravadora. Por causa da campanha do dia de alguma coisa, me queriam cantando uma música bem bonita e emocionante para a noite. Não sabia nada de música emocionante, mas escolhi Lay Me Down do Sam Smith. Espero que fique boa.

Enfim, os produtores adoraram a performance. Estava tudo certo: cantaria no próximo festival de música na cidade. Estava tão feliz, até que:

– Queremos todos os cinco.

– O quê?

– Os cinco que cantaram No Angels com você na Internet – uma mulher fala. – Queremos todos ou não tem acordo.

Bufo ao sair da gravadora. Era só o que me faltava, ter que chamar Tiffany para cantar conosco porque eu precisava dela para ser famosa.

Olho para Patrick depois de despejar várias coisas em cima dele.

– E então?

– Diga a sua irmã para mim, sim? Diga que haverá reunião da banda na minha casa hoje à noite. Quero todos lá e eu nunca que vou ligar ou chama-la pessoalmente. Diga que se ela não for, a arrancarei pelos cabelos de casa.

§§§

Pelas oito horas, todos se encontram na mansão Hartfold.

– Que bom que todos estão aqui – sorrio. – Tenho uma proposta para fazer.

Todos a olham curiosos.

– Achei uma produtora para nós – abro um sorriso de ânimo. – As pessoas nos adoram. Temos jornalistas todos os dias nas nossas portas. Esse é o momento para fazer sucesso.

– Hum, Maddie... – Tiffany começa. – Nós fizemos o vídeo para um projeto do colégio, não para ficarmos famosos.

Bufo.

– Sabia que a estraga prazeres ia ser você, Tiffany. Se não quiser, tudo bem. Arranjo outra segunda voz para colocar no seu lugar.

Eu não me humilharia pela presença dessa vaca nem morta.

Tiffany suspira.

– Eu topo.

Me surpreendo com a decisão dela.

– Sério?

– Se vamos fazer isso, faremos juntos.

dentro – Frank fala.

– Vamos lá – Adam concorda.

Eu sabia que Bash faria o que eu pedisse, então me virei para Scarlett.

– E então, Lett?

A morena busca a sala com os olhos. De relance, a vejo encarar por poucos segundos Bash. Ele assente discretamente para ela.

Era só o que me faltava, rosno mentalmente. Será que todas minhas melhores amigas têm que dormir com meu namorado?

Lett sorri.

– Qual será o nome da banda?