Masquerade

Phillip Khan


Madison Hartfold

Suspiro depois da quinta música cantada.

– Será que podemos descansar um pouco?

A mulher que está nos assistenciando na gravadora libera. Eu e os meus amigos saímos para comer em uma padaria ali do lado. Não tinha muita escolha: a padaria com cara de cafeteria do Brooklyn ou uma lanchonete onde vendiam coisas hipercalóricas. Bom, estava morrendo de fome, não podia me dar ao luxo de procurar outro lugar longe dali.

Não consegui deixar de perceber que várias outras bandas e alguns cantores solos entravam na gravadora.

– Eles estão nos enrolando - sussurro. - Olha lá! Eu já vi cover dessa menina no Youtube. Ela é uma viner também. Minha voz é bem melhor que a dela.

– Você é tão modesta - Tiffany ironiza.

Estava frustrada. Pensei que seria aceita na hora pelo simples fato de ser quem sou. Parece que teria que me esforçar um pouco mais. Cansada demais para brigar com Tiffany, apenas retruquei:

– Antes metida do que mentirosa.

Me levanto.

– Vou falar com o Sr. Khan, já que nenhum de vocês parece estar fazendo o menor esforço para alavancar a nossa carreira.

§§§

Tiffany Morgenstern

Olho para meus amigos diante de mim. Se é que ainda posso chamá-los assim.

– O que deu nela?

– Você também não dá descanso, né? - Bash rosna e arrasta a cadeira, indo atrás de Madison.

O celular de Adam treme. É uma mensagem. Ele sorri e Scarlett torce o nariz.

– Com licença - ela levanta. - Tenho que resolver umas coisas antes da próxima música.

Adam bufa quando ela se afasta.

– Lett, vem aqui - ele vai atrás dela.

Ficamos só eu e Frank. Ele ergue os ombros, em sinal de desculpa.

Parece que em um embate entre mim e Madison, todos preferem ficar do lado dela.

– Parece que no final eu sou o único do seu lado.

Não depois que você descobrir que eu dormi com seu melhor amigo, murmuro para mim mesma. Não depois de descobrir que eu estou grávida de um filho que não é seu.

– Frank, eu acho que nós temos que convers...

Uma mulher passa com uma porção de batata fritas ao lado da nossa mesa e torço o nariz. O cheiro daquela fritura me embrulha o estômago, o que é estranho, porque eu sempre amei batata frita. Coloco a mão na boca e levanto rapidamente.

– Eu... - não termino a frase, corro para o banheiro o mais rápido possível e é um alívio quando finalmente consigo vomitar.

§§§

Madison Hartfold

Phillip Khan, vinte e cinco anos, bonito, dono da gravadora, empresário musical dos sonhos de qualquer banda em ascensão. Ele não precisa de poder, afinal seu pai é o Embaixador da França nos Estados Unidos e sua mãe é uma socialite que vive oferecendo jantares chiques para arrecadar dinheiro para organizações carentes. Ele tão menos precisa do dinheiro. Há quem diz que ele faz isso só para se ocupar, que gosta da música ou até que que aparecer perto de famosos, porém há alguns comentários maldosos que dizem que se a cantora ou integrante de uma banda é muito bonita, ele fisga. Se alguma coisa desse errado, eu contava que esse boato fosse verdadeiro.

Olho para as várias salas com vidros que barravam o som, tantas pessoas tentando realizar um sonho e eu ali porque simplesmente queria a fama... aquele pensamento quase me fez desistir. Quase.

Vejo aquele pedaço de mau caminho passando por mim, com as mãos na calça jeans, os dentes perfeitamente brancos e alinhados, os cabelos negros ajeitados em um topete que para muitos poderia parecer bagunçado, mas eu sabia do esforço que ele tinha feito para deixá-lo daquela maneira. Além disso, haviam dois grandes e lindos olhos esverdeados na jogada. Por baixo da camisa branca de gola V, dava para ver seus músculos se sobressaindo, parte da clavícula aparecendo.

Toco seu ombro e sinto um leve choque quando aquelas duas esmeraldas me encaram dos pés a cabeça, os olhos brilhando, mas mãos cerradas em punhos dentro do bolso. Irracionalmente, ele mordeu a parte de dentro da bochecha. Muitas pessoas não notariam, mas eu tinha uma qualidade natural para a reparação de todos os atos de uma pessoa bonita e esse dom só se aperfeiçoou com Patrick me dizendo para observar tudo ao meu redor, que eu sempre poderia tirar vantagem de um ato de uma pessoa.

Ele parece não me reconhecer imediatamente, mas seus lábios perfeitamente desenhados e sérios logo formam um sorriso grandioso.

– Madison - retribuo o sorriso ao ouvir meu nome em seu delicioso sotaque francês. - Uau, você está linda.

Mantenho o sorriso no rosto.

– Eu me lembro da última vez que a vi, você ainda tinha dentes de leite.

Tampo metade do rosto com uma mão, envergonhada, mas não consigo segurar o riso.

– Meus dentes da frente estavam moles. Você e Zac jogavam futebol no gramado perto da piscina lá de casa, eu e Aimee nos refrescávamos. Era verão. Então você teve a brilhante ideia de acertar a bola no meu rosto e derrubar não só meus dentes, mas também o meu corpo todo.

Phillip solta uma alta e deliciosa gargalhada. As pessoas ao redor olham para nós.

– Desculpa, se eu imaginasse que aquela menina se tornaria tão bonita, jamais teria a feito me odiar a maior parte da infância.

Balanço a cabeça.

– Eu nunca o odiei.

Um sorriso zombeteiro surge nos lábios de Phillip.

– Você não está falando sério.

– Eu estou! - insisto, rindo. - Você era chato e irritante, mas eu nunca o odiei.

Hora de atacar, digo a mim mesma.

– Pra falar a verdade, sempre o achei muito bonito - confesso.

Não era uma mentira, mas levantar o ego dele era bom antes de dar o bote.

– Parece que você não mudou - completo.

– E você pode ter mudado na aparência, Madison, mas por dentro continua a mesma - apesar das duras palavras, o sorriso se mantem em seu rosto, sempre intacto. - O que você está fazendo aqui?

A verdade é que eu sempre fui uma das irmãs mais novas do melhor amigo do meu irmão. Zac e Phill cresceram juntos, devido a grande amizade entre nossas mães. Me lembro de passar alguns Natais com a família Khan e até algumas viradas do ano quando éramos pequenos. Tenho boas lembranças da minha infância. Inclusive de mim e de Aimee colando chiclete no cabelo das meninas que se jogavam em cima de Zac e de Phill. Aimee sempre teve uma queda por Phill, mas se ele já me achava nova demais, o que acharia de minha irmã? Ele nem era tão mais velho assim. Bom, nove anos. Ele tem vinte e cinco e eu dezesseis. Quase dezessete. De qualquer forma, idade nunca foi algo importante para mim. Vinho bom é aquele antigo, minha irmã de quinze anos me disse quando a flagrei beijando um cara de quase trinta em uma festa que Zac deu em nossa casa.

– Na verdade, Nova York é a minha cidade.

– Eu sei - ele balança a cabeça. - O que eu perguntei foi relacionado a gravadora.

– Bom, eu canto.

A risada de Phillip é cheia de deboche.

– Você canta? - ele ri novamente. - É sério isso?

– Tenho uma banda. Fazemos muito sucesso na internet, para a sua informação - cruzo os braços.

– Madison, sinto muito, mas eu estou atrás de talentos de verdade, não de caçadores de fama.

Me aproximo mais dele, tocando seu ombro levemente enquanto circulo ao seu redor. Paro diante de seus olhos, mais próxima e atenta do que nunca.

– Nós já gravamos cinco músicas - falo, firme. - Estamos cansados de enrolação.

– Eu tenho muitas audições para assistir, Madison. Pelo amor de Deus. Você quer fama? Marque com a minha secretária para jantarmos juntos um dia. Pronto. Satisfeita?

Ah, pelo amor de Deus. Claro que eu estava atrás de fama, mas isso não dava o direito dele falar comigo daquela forma, ainda mais alto daquele jeito, na frente de todo mundo. O pai dele podia ser um embaixador francês e a mãe dele uma filantrópica, mas a rainha de Manhattan sou eu.

Ofendida, acerto um tapa estalado em seu rosto. Ouço os OHs! espantados atrás de mim. Tento segurar o riso ao ver o rosto incrédulo de Phill. Ele me segura forte pelo braço, tento me afastar, mas não consigo. Ele me arrasta para um corredor isolado ainda segurando meu braço.

– O que você acha que está fazendo?

Penso em uma mentira rápida. Phillip não receberia a mim e aos meus amigos de braços abertos depois da nossa briga. Penso, penso, penso. Meu cérebro corre contra o tempo.

– Eu precisava afastá-lo de todos para que pudesse fazer isso.

Antes que ele possa fazer qualquer pergunta, o beijo com certa agressividade. Phillip está tenso no começo, de raiva, mas depois relaxa. Segura em minha cintura e me mantém pressionada contra a parede.

– Você me deu um tapa por que queria me beijar? - ele questiona, rindo. - Você é insana, Madison.

– E não é que eu sou mesmo? - sussurro.

A mão de Phill está na minha coxa e eu o deixo mantê-la ali, porém a mão sobe e toca a barra da minha lingerie, por baixo da saia. Paro a sua mão esse exato instante.

– Se quiser mais do que um beijo, vai ter que marcar a nossa audição o mais rápido possível.

– Você não mudou nada, não é?

– Nunca.

O puxo para mim e o beijo com vontade.

– Eu e meus amigos vamos embora. Amanhã de manhã estaremos aqui as 10 horas para a nossa audição.

Vejo pelo canto do olho um sorriso pervertido se formar nos lábios de Phillip conforme me afasto, ajeitando a saia.

§§§

Conto aos meus amigos a novidade.

– O Sr. Khan adorou nossas músicas. A nossa audição oficial será amanhã de manhã. As 10 horas.

Olho ao redor. A vadia não está aqui.

– E Tiffany?

– Passou mal - Frank noticia. - Foi pra casa.

Foi então que ela percebeu que só Frank estava na mesa.

– E todo mundo?

– Bash foi atrás de você, Scarlett ficou brava com Adam, que também foi atrás dela.

Suspiro e me jogo dramaticamente na cadeira.

– Essa guerra entre nós não vai acabar bem - ele continua. - Você e Tiffany, Adam e Scarlett... Todos nós éramos tão próximos. Crescemos juntos, estudamos juntos, convivíamos com as mesmas pessoas... Pensei que duraria para sempre.

– Nada dura para sempre.

– Eu não entendo - ele balança a cabeça. - Desde Cancun todo mundo está estranho. Você mal suporta olhar para a Tiff... não entendo o que há entre vocês.

Em um acesso de raiva, olho nervosamente para ele.

– Você quer saber por que eu a odeio? Porque antes ela conseguia se controlar, mas depois de Cancun se tornou insuportável.

Frank não entende. Suspiro.

– Tiffany dormiu com Bash várias e várias vezes.

§§§

Scarlett Wilkins

Adam segura meu pulso. O empurro para longe, mas ele ainda anda atrás de mim.

– Lett, por favor.

– Poderia ser com qualquer pessoa - rosno -, mas a sua irmã? Pelo amor de Deus, Adam, você é nojento.

– Naomi não é minha irmã.

– Não é de sangue, mas vocês foram criados juntos como se fossem.

– Igual nós - ele sussurra. - E quem nos julgou em algum momento?

Paro para pensar. Ele pode estar certo, mas mesmo assim...

– Sim, crescemos juntos, porém como amigos. Eu nunca te chamei de irmão e nem nada do tipo.

– Eu só não queria que você ficasse brava.

– Fui eu quem terminei com você, por que eu ficaria brava agora?

Adam me vira e me faz encará-lo. Seu polegar toca minha bochecha. Não resisto e fecho os olhos.

– Eu gosto de você, Lett, mas você sabe como eu sou. Sempre soube. Eu nunca conseguiria me manter fiel. Sei que você não quis ficar mais comigo por causa disso.

Meu coração pesa. Se ele soubesse...

– Eu posso ficar com outras, posso até me apaixonar em algum momento da vida, mas eu quero que você saiba que você sempre vai estar no meu coração.

Resisto ao impulso de sorrir. Obrigo minhas bochechas e meus lábios a se manterem sérios, mesmo que ainda esteja de olhos fechados enquanto seu polegar acaricia meu rosto.

– Porque você me mostrou novas possibilidades, Lett, e eu sempre serei grato por isso. Eu deixei você entrar e não me arrependo. Eu aceito as minhas escolhas, eu espero que você aceite as suas.

Engulo em seco e abro os olhos no exato momento em que seus lábios tocam os meus. Desfruto daquele beijo calmo por poucos segundos, porque logo me afasto, colocando minhas mãos entre nós.

– Tchau, Adam.