– O seu rim é compatível – disse a Dra.
- Mas porque? – perguntou Felipe.
- Aparentemente, o seu irmão estuprou a Sra. Susana.
- O meu irmão o que?
- Acho que ela não te contou.
Então, Susana entrou na sala.
- Então o que deu o resultado – disse Susana.
- Compatível. – informou a médica.
- Você doaria seu rim, Felipe?
-Com toda a certeza.
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Acordei com a minha cabeça apoiada no travesseiro. Olhei para o lado, onde estava ele? Mas que merda, precisava sair daqui. Levantei rapidamente da cama, e senti aquela sensação horrível, como se fosse desmaiar. Bosta. Comecei a caçar as minhas roupas, quando vi ele saindo da cozinha.
- Mas o que você pensa que está fazendo? – ele estava segurando um ovo e vestia apenas uma cueca samba canção xadrez, deixando a mostra o abdômen definido.
- Eu vou – hesitei - pra casa.
Deixei escapar uma risada pelo nariz, que casa?
- Mas a sua casa é aqui agora.
Não pude evitar um sorriso, afinal, ele realmente gostava de mim.
- Então, eu estava pensando em cozinhar isso pra você – ele balançou o ovo que estava em sua mão direita.- mas não faço a mínima idéia do que fazer com ele.
Eu ri, ele não podia estar falando sério, até eu sabia fazer ovo. Foi quando virei a cabeça e notei que ele tinha pesquisado como cozinhar ovo no Google que notei que ele estava falando sério.
- Eu faço isso pra você – disse caminhando em direção a cozinha.
Quando passei por ele, notei que eu era muito mais baixa, então procurei automaticamente meus sapatos de salto, estava e sentindo anã. Ele riu do meu desespero atrás dos sapatos.
- Você ri porque não é com você. – eu disse.
Fomos interrompidos pelo telefone tocando. Ele colocou no viva-voz e voltou sua atenção para os ovos.
- Ah, oi pai.
- Vocês vem hoje a noite?
- Vamos sim, nos aguarde.
- Muito bem.
- Eu não consigo acreditar que você entendeu, pai, isso me deixa tão feliz.
- Sua mãe me ajudou com isso.
-Eu estou doido pra você conhecer ela. – ele olhou pra mim – ela é simplesmente incrível.
- Eu também não vejo a hora, filho.
- Ás sete e meia estamos ai.
- Eu estarei esperando.
Tom então desligou o telefone.
- Não tem alguma coisa que você deveria ter me contado? – perguntei.
- Hoje vamos jantar com os meus pais - ele olhou seu relógio – daqui há três horas mais especificamente.
Três horas? Eu comecei a surtar, eu tinha três horas para parecer normal e saudável.
- Tchau, amor – disse indo em direção a porta - tenho que me preparar fisicamente e psicologicamente.
Eu comecei a surtar, eu não tinha experiências muito boas com sogros, o último menino que me levou pra conhecer a família dele, bem, o pai dele era pastor. E as coisas não foram lá muito bem. Eu me visto toda de preto, jaqueta de couro, meia calça rasgada e ouço rock. A mãe dele apontou o dedo da minha cara e me chamou de menina demoníaca e as coisas só pioraram quando o meu celular tocou e começou a tocar Nirvana. A mãe dele disse que Nirvana era coisa do demônio. Sinceramente, eu acho que o Kurt Cobain tava ocupado demais injetando heroína pra se fazer pacto com alguém. E teve também aquela vez que eu derrubei o peixe o pote das cinzas do avô da mãe do menino, mas é melhor eu parar por aqui. Liguei então, pra única pessoa que poderia me acalmar.
- Fê?
- Eu to estudando.
- Eu preciso de você.
- Que é?
- Eu vou conhecer os pais do Tom.
- Não vai, finge que você teve um infarto, se você for você vai estragar tudo.
- Fê, não tem mais jeito.
- E agora?
- E agora eu pensei que você pudesse me deixar mais como, como... você.
- Te encontro em quinze minutos.
A Fê era a namorada dos sonhos pra qualquer pai, ela seria perfeita.
- Vai, sua vagabunda, levanta – reconheci a voz.
Eu a abracei.
- Que saudades de você!
- Eu também senti sua falta,sem-teto.
-Não sou mais sem-teto.
-NÃO?!?
- Hoje o Tom me falou que a casa dele era nossa casa.
- Nossa, vocês vão casar.
-Casar? Tá louca?
- Isso se os pais deles gostarem de você.
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Duas horas depois, eu estava pronta. Um pouco assustada mais pronta. A Fê tinha enfiado em mim um vestido preto, ela queria rosa, mas eu me recusei. Ela tirou um bloquinho da bolsa.
- Se eles perguntarem do trabalho você vai falar o que?
- Foi lá que eu conheci o Tom – respondi
- Da comida?
- Muito boa, mesmo que seja um bosta.
- Errou.
- O que? Tá certo.
- Não pode falar palavrão.
- Ah, me desculpe.
- Vamos continuar, chegando lá vai fazer o que?
- Elogiar a mãe, perguntar se precisa de ajuda com a comida, alguma coisa.
- Isso mesmo.
- Fê?
- Oi.
- E se ela for velha e gorda e eu começar a rir?
- Ai fudeu.
O telefone começou a tocar.
- Acho melhor você mudar esse toque, vai que ele é pastor – disse Fê.
- Tom? – atendi o telefone.
-Posso ir te buscar?
- Pode sim.
- Você tá na sua casa?
Ih, merda, eu não tinha casa.
- To sim. – respondi – e disse um endereço qualquer.
- To indo ai.
- Fê.
-Lá vem. Diga?
- A gente precisa chegar nesse endereço, porque eu disse que moro lá.
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Acabou que deu tempo. Eu cheguei no prédio e agora o Tom acha que eu mora lá. Ele tá usando um terno preto com uma camisa preta. Maravilhoso. O taxista estacionou.
- Chegamos, senhor.
Ele pagou.Olhei pela janela, e me deparei com uma mansão linda. Tinha uma piscina na frente e duas árvores que junto com a iluminação da casa, ficavam perfeitas. E eu estava prestes a entrar naquela casa maravilhosa.
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