Estava escuro. A rua estava deserta. O motorista soltou o volante e pegou a foto que estava no banco do passageiro. Era o menino que estava atravessando a rua. Como se chamava mesmo? Paulo. Esse era o nome. O homem no carro virou a cabeça e encarou o menino na faixa de pedestres. Tão jovem. Mas que seja, só estava cumprindo ordens. Pisou no acelerador, o menino voou e caiu perto da calçada. Estava morto.

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– Terminamos por hoje - disse Tom.

- Aleluia! – respondeu Rique – Você tá tentando matar a gente cara!

– Pois é, porque vocês não morrem logo de uma vez? – disse ele rindo.

– Tá, gente vamos sair pra beber? – sugeriu Mike.

Todos concordaram, menos Tom:

– Ah, vocês podem ir, eu já encontro com vocês lá, preciso dar uma arrumadinha aqui. Gabi, me ajuda a arrumar?

– Claro – respondi.

Mas eu estava com a mente longe, com o que eu tinha concordado mesmo?

E quando fiquei sozinha com Tom ele me surpreendeu:

– E você vai me contar a verdade sobre o negócio do Gabriel?

– Que? Já te contei!

Será que eu deveria contar? Seria tão bom tirar o peso das minhas costas. Então a voz do Gabriel veio na minha cabeça. Se você contar pra alguém, vai ser dez vezes pior. Teria como ele descobrir que eu contei? Dez vezes pior. O Tom me protegeria certo? Ele era homem. Se você contar pra alguém, vai ser dez vezes pior.

– Tom, vem cá.

– Decidiu contar?

– O Gabriel – comecei- ele...

Peguei então a mão dele e coloquei por debaixo da minha saia, no ossinho da bacia.

– Está quebrado – ele disse.

Jura? Será que é exatamente por isso que estou te mostrando?

– Ele me bateu.

Ele parecia chocado. Escorregou então a mão para a base da minha coluna e me puxou pra mais perto. O meu peito estava encostando no dele agora. Eu podia ouvir seu coração batendo.

– Vamos denunciá-lo, ele pode ser preso por causa disso. – sussurrou ele.

Se você contar pra alguém, vai ser dez vezes pior.

– Não. Foi há muito tempo, deixa quieto. Promete não contar a ninguém?

Se você contar pra alguém, vai ser dez vezes pior.

– Prometo.

–Jura?

– Não confia em mim?

– Confio.

Logo que ouviu minha resposta, ele me beijou. A mão dele subiu, levantando junto a minha camiseta e deixando as minhas costas expostas. Os beijos foram ficando mais intensos e ele colocou as minhas pernas em volta da cintura dele. Se ele me soltasse, eu cairia no chão, mas sabia que ele não contaria, quer dizer, soltaria, eu confiava nele. Continuamos nos beijando, até que veio um barulho da porta.

Se você contar pra alguém, vai ser dez vezes pior. Era o Gabriel, ele sabia.

– Relaxa- disse Tom enquanto beijava meu pescoço - deve ser o vento.

É, ele tinha razão era só o vento. Continuei a beijá-lo.

Se você contar pra alguém, vai ser dez vezes pior.

De repente, a porta abriu. Vento não abria portas.

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Paulo acordou no meio de uma calçada, com uma dor insuportável na barriga. Só sabia de uma coisa, tentaram o matar.