CAPÍTULO ONZE - O INIMIGO LHE AVISA

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"Nem sou cativo ou mendigo
de uma pátria. Mas da língua
que me conhece e espera.
E a razão que não me dais,
eu crio. Jamais pensei
ser pai de santos filhos."

(Carlos Nejar)

Praticamente, fiquei a viagem inteira sozinha. Alguns cantavam, e os meus amigos iam de vez em quando sentar do meu lado. Bem, Matthew e Bianca estavam se agarrando. Não, isso é pouco, estavam se comendo. Se tivesse uma cama, eles já teriam feito... aquilo.

_Manu? _chamou-me, Fábio?

_Que houve? _questionei, desconfiada.

_Dá para você vim aqui um minuto? Por favor. _murmurou afoito.

_Fale. _sussurrei apenas, rolando os olhos.

_Mas que desconfiança, em? Faremos uma trégua, pode ser? Para que você não desconfie, Manu. _perguntou, suplicante. Piscando logo em seguida.

_Está bem. O que você quer me contar, Fábio?

_Eu quero que você fique longe do Hélio, Manu, ele não presta! _ordenou, ríspido e rude.

Não entendi o porquê dos dois, Matthew e Fábio, pediram para me afastar dele. Eu gostava do mesmo, mas isso estava ficando estranho. Olhei para que ainda estava irritado, desmanchei o sorriso de minha face.

_Por quê? _perguntei, preocupada.

_Porque ele é um falso e vai te magoar muito. _declarou.

_A é? Quem é você para falar isto? Você também me magoou o bastante, mas ainda bem que tu não significas mais nada para mim. _confessei, antes de ver sua face se contorcer.

_Você não sabe o motivo que me levou a isto. Poxa! Eu não queria fazer aquilo, mas tive que fazê-lo. _comentou apenas, deixando-me curiosa.

_E, qual foi? _questionou, curiosa.

_Não posso dizer, sinto muito.

_Então, até você não dizer qual foi o motivo, vou continuar a andar com o Hélio. _finalizei, indo para o lugar onde me sentava.

Deu para notar o mesmo praguejando em um tom baixo, fazendo-me rir. Fui chantagista, mas eu tinha que fazê-lo. Queria saber o motivo que levou a me abandonar no passado, algo que demorei para esquecer. Percebi que ele ainda tinha sentimentos, dos quais pensei que não houvesse mais.

Saímos do ônibus e entramos no museu, um lugar lindo e magnífico. Confesso que não sou boa em português, porém gosto da matéria. Passamos pelos seguranças e paramos na frente do local, pois a diretoria queria nos contar algo.

_Querem que prestem bastante atenção. Como todos devem saber, está é uma viagem escolar. Temos o intuito de que aprendem nesta viagem, então quero que façam um relatório. As perguntas a serem respondidas estão na folha, deve ser á caneta e entregue a professora na saída. Vale dez e serão com as duplas da viagem, alguma dúvida?

_Podemos consultar os colegas ao lado? _perguntou um aluno, de modo engraçado.

_Claro... que não, idiota. Mais alguma dúvida, que seja inteligente?

_Se não soubermos responder alguma questão e tivermos conhecimento em outro tema que não estiver na folha, mas contém no museu. Podemos trocar pela que não entendemos? _questionou Nicole.

_Não, meu anjo, pois as perguntas são todas condizentes aos assuntos estudados em sala. _finalizou, porque ninguém mais questionou sobre algo.

Após pegarmos o relatório, sentamos em um banco. Era lindo o jardim que tinha na frente do museu, algo encantador. Matthew começou a ler e me puxou pela braço, entrando no local.

_Ei, temos que ler primeiro. _sussurrei, afastando-me.

_Eu já o fiz, Manu. Vamos, rápido. _disse, puxando-me em direção aos outros colegas.

O guia começou a falar sobre o quão importante é a literatura para o nosso país. Contou da linguagem formal, que para ele é o mais fascinante na língua portuguesa. Logo, podemos começar o relatório. Matthew me levou para o lugar aonde tinha várias cabines, cada uma falava sobre um escritor.

_Você tenta respostar a esta pergunta, Manu. "2ª questão: Qual é o componente da 4ª cadeira da academia brasileira de letras? Conte um pouco de sua obras e vida."

Entrei na cabine que correspondia a Carlos Nejar, começei a ouvir.

"Carlos Nejar (Luiz C. Verzoni N.), advogado, professor e poeta, nasceu em Porto Alegre, RS, em 11 de janeiro de 1939. Eleito em 24 de novembro de 1988 para a Cadeira n. 4 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Vianna Moog, foi recebido em 9 de maio de 1989, pelo acadêmico Eduardo Portella..." (Revista Agulha)

Era tão grande que adiantei a fala, escrevendo só o que era necessário sobre sua vida. Lembrei-me que ainda tinha que falar sobre as obras dele, algo que a máquina com toda a certeza mostraria os resumos das mesmas.

"POESIA: Sélesis (1960); Livro do tempo (1965); O campeador e o vento (1966); Danações (1969); Ordenações (1971); Canga (1971); Casa dos arreios (1973); O poço do calabouço (1974); Somos poucos (1976); Árvore do mundo (1977)..." (Revista agulha)

Fiquei feliz por não conter um pouco da história de cada obra, pois eram muitas. A maioria era poesia, mas também existia a ficção. Peguei a folha com os dados e sai em disparada da cabine, tropeçando em algo forte. O choque foi tão grande que me derrubou, mas alguém me levantou rapidamente. Notei que era um jovem segurança, aquele que todas as meninas olharam na entrada.

_Tome mais cuidado... Senhorita?

_Manu, Manu Toledo. _respondi, inconsciente.

_Oh sim, és muito bonita. Cuide-se, até mais ver. _comentou, deixando-me constrangida.

Estranhei por ele ter me ajudado bonita, pois era raro alguém achar beleza em mim. Passei pelo Matthew e entreguei os meus dados para ele, depois indo responder outra pergunta. Ele era concentrado no que fazia, algo que eu admirei muito. Suas respostas eram inteligente e completas, deixando-me extasiada. Ele não tinha defeitos acentuados? Oh céus; Deste jeito, eu nunca o esquecerei.

Paramos na banca em frente ao local, para comprar um chips. Logo, sentamos na árvore para lanchar. Começamos a ler as respostas, achando as frases que poderíamos por no trabalho.

_O que você acha disto, Manu? _disse com esforço, pois estava comendo.

_Bom. _respondi apenas, tentando não olhar em seus olhos.

Droga! Por que eles não me faziam mentir? Eu não queria contar a verdade, não queria perguntar o que desejava. Não podia, não devia, era errado. Não sei porque, mas parecia que eu estaria cometendo um crime. Perguntar sobre a sua última frase, que definitivamente não saia da minha cabeça.

_O que andas pensando, pequena? Para mim, neste momento, sua mente não é mais previsível. Isto me atormenta, porque eu queria saber o que pensas. _perguntou, preocupado.

_Nada..._comecei, mas ele me parou.

_Conte-me, por favor. _implorou, pegando meu rosto e o virando para encará-lo. Ele sabia o poder que seus olhos exerciam em mim, e usava isto para ter o que quisesse.

_Eu queria saber o porquê de dizer que eu não sei o poder que eu tenho sobre você... _confessei, reconhecendo a minha derrota.

_Como não percebes? Não sei o porquê, mas eu faria tudo por você. Isto é o que me incomoda. Odeio ser dominado, porém não consigo negar algo que me pedes tanto. Eu até tento, as vezes consigo lhe confrontar, mas sempre acabo derrotado. _declarou, sorrindo. Sorrindo muito.

Não tinha o que falar, porque estava acontecendo muito rápido. Estava agindo estranho comigo, muito. Eu devia desconfiar, porém não consigo. Pois ele é em primeiro lugar, um amigo. Enquanto o vento batia em nossos rostos, pensava o quão ele foi importante para mim. Acordando para a realidade, lembrei-me que agora só falta terminar de passar os dados para o relatório. Desejam-me sorte.