Os negros e longos cabelos que se mostravam por baixo do costumeiro gorro estavam desgrenhados, mas Edu não tem tempo de descobrir o grande mistério de Dudu por conta de sua atenção estar em outro local em especifico.

–--- Edu?

–--- Dudu!!!

Os gritos são instantâneos enquanto que uma envergonhada Kanker se escondia por debaixo dos lençóis bagunçados.

–--- Edu sai daqui! ---- o tom usado era estranho vindo dele, de qualquer pessoa seria um ato normal, mas Dudu jamais seria tão... bruto.

O jovem ainda em estado de choque, assustado e um tanto irritado empurra o amigo “ligeiramente menor” para fora do quarto com violência; batendo aporta como se o expulsasse do local, ainda a ajeitar o gorro sobre a cabeça.

Edu por sua vez fica ali parado na porta por alguns segundos tentando “não” entender o que havia visto.

Desce as escadas.

Para no corredor.

Rouba mais um copo na geladeira.

E se senta na calçada.

–--- Edu? ---- depois de alguns minutos a voz fraca e adocicada de seu amigo parecia ter voltado ao timbre normal. Edu evita se virar mas estava curioso alem de muito nervoso e constrangido. ---- O que faz aqui? Desculpa eu...

–--- Eu vim te pedir desculpas... ---- o menor fitava os próprios sapatos tentando ao maximo tirar a imagem do amigo da cabeça. ---- Eu perdi a cabeça naquela hora. Não tinha o direito de dizer metade do que disse.

Como o clima entre os dois não poderia ficar pior do que aquilo; eles apenas se calam sem saber o que responder um ao outro. Eram muitos assuntos, muitos sentimentos misturados e coisas a serem ditas.

–--- Esta tudo bem... Você não gosta das Kankers eu sei disso.

–--- Mas eu sou seu amigo deveria... como você disse te apoiar!

–--- Mas eu disse que você agiria exatamente como ágil.

–--- Isso é verdade... ---- o menor respira fundo logo se levantando para encarar o amigo cara a cara; claro que ainda estava constrangido pelo ocorrido, mas nunca foi uma pessoa de fugir. Pelo menos não de Dudu e Du. ---- Mas eu agi como um grande mané. Me desculpa?

–--- C-claro Edu. ---- ele sorri sem graça, por um lado: pelo fato de Edu estar o pedindo desculpas por outro... o flagra. ---- Então... errr. Você pode... Não falar nada disso pra ninguém?

–--- An? Ah! Claro!! Claro amigão!

Era muito difícil para ambos "tentar" agir normalmente.
~*~*

A conversa estranha e tímida dos dois era algo engraçado de se ver então o curioso Du se aproxima surgindo como um fantasma estranhando não ser notado pelos distraídos amigos.

–--- Que bom que estão de bem! ---- ele abraça ambos como um poderoso urso forçando um contra o corpo do outro de maneira bastante incomoda.

–--- Para com isso Du! ---- envergonhado e muito incomodado Dudu tenta se esgueirar e fugir do contato físico como um gato em pânico, mas era algo inútil; não importava o quanto forçasse parecia um bebe em comparação com a força monstruosa do amigo. ---- É serio... me solta. ---- pede e implora se sentindo derrotado.

–--- Tah! ---- o sorridente apenas abre o os braços deixando que os amigos caíssem como dois sacos de batata. ---- Ops.

–--- É Du... fizemos as pazes esta tudo bem agora. ---- o menor se levanta rapidamente vendo que o amigo ainda se atrapalhava como de costume, logo percebendo que o maior invadia a casa como se fosse dele assim como ele próprio havia feito. ---- Espera Du! Não entra ai.

–--- Por que não? ---- o maior para em frente à porta enquanto os dois se entre olham sem saber como responder.

–--- Por nada Du. ---- ainda tremulo Dudu entra em sua própria casa temeroso. ---- Eu vou lá em cima um segundo já desço. Vão pondo algum jogo ai.

Dizendo isso o jovem desaparece escadaria a cima, enquanto o pequeno observava nervoso corando gradualmente conforme o amigo sumia.

–--- Por que você esta vermelho Edu? ---- o maior questiona ao ligar a televisão abrindo um dos armários em busca dos novos jogos que Dudu havia comprado.

–--- Por nada Du esquece. ---- o baixinho ordena se jogando em um dos sofás esperando que o amigo montasse tudo sozinho.

Seus pensamentos iam para locais que não queria; não importa o que fazia não conseguia tirar certa imagem de sua mente. Dudu estava...

Sem o goro.

Espera! Sem o gorro?

Em anos de convivência Dudu nunca o deixara ver o que havia por debaixo do gorro. O fez jurar não tentar ver, e apesar de toda curiosidade que o consumia ele respeitou.

Mas agora não conseguia aceitar o fato de uma Kanker ter o direito de saber o que lhe foi negado por toda uma vida de amizade e confissões.

–--- O Dudu ta demorando. Vou chamar ele. ---- o maior comenta inocente ao ir em direção as escadas.

–--- Não! ---- o menor grita agarrando o braço do maior com força, e este o encara confuso. ---- É que... o Dudu... ele... Bem... você não pode ir por que...

–--- Eu fui me trocar Du. O que você queria? ---- esperto Dudu responde rápido sabendo que seu amigo distraído não saberia dizer se ele estava ou não com a mesma roupa que havia subido, e logo esqueceria o jeito estranho de Edu se portar.

E assim foi feito.

Passaram a tarde a jogar, e Du distraído como sempre não notava as trocas constantes de olhares dos amigos. Dudu só queria voltar no tempo e evitar todo o constrangimento; enquanto Edu se sentia traído pelo amigo.

[Trililin]

O telefone de Edu toca e ele demora a tender, pois queria vencer a ultima faze.

–--- Alo?

[---- Du seu idiota! Vem pra casa!!! A mamãe já cansou de te ligar o dia todo!]

A voz de Sarah ecoa na sala toda como se esta estivesse presente, e logo Du desliga se levantando.

–--- Desculpa gente. ---- o maior de ergue do chão entregando o controle ao dono da casa logo indo em direção a porta. ---- Tenho que ver qual é a bronca da vez.

–--- Ei Du... ---- a vosinha tremula do amigo o para na porta, e logo Dudu vai ate ele sussurrando para que Edu não os ouvisse. ---- Isso é pra você. ---- envergonhado ele o entrega um pedaço de papel. ---- Foi a Marie que me deu, acho que é da Mai. Bem... eu não li não se preocupe. ---- o sorriso de dentes tortos do colega o traz um pouco de alivio, sabia que podia confiar nas palavras do amigo. Que não sabia mentir.

–--- Obrigado Dudu. Amanha te conto o que ouve. ---- dizendo isso o maior se vai, deixando os dois sozinhos.

Com o silencio constrangedor.

–--- Então ela já tinha ido embora? ---- ele questiona o obvio afim de quebrar o clima estranho, indo guardar os jogos.

–--- Tinha. ---- corresponde sem graça indo arrumar o que Edu tinha “arrumado”. ---- Demorei um pouco para arrumar o quarto.

–--- Saquei... ---- respira fundo, chutando os tapetes com as mãos nos bolsos. ---- Não vai ligar pra ela?

–--- Depois eu passo lá. ---- ele volta a por as caixas no armário. Evitavam se olhar ou falar o que realmente queriam.

–--- Pode ir lá agora. Eu... acho melhor ir indo pra casa também. ---- o menor segue em direção da porta. A situação entre eles não estava muito boa e não queria deixar assim. ---- Olha Dudu! Eu... Fico feliz que você esteja feliz com ela. ---- ele encara o rosto corado do amigo e faz um sinal de jóia. ---- Claro que sei que você nuuuunca vai contar nada. Mas fico feliz por vocês estarem “bem”.

Com isso Dudu parecia soltar fumaça pélas orelhas e corar ate os ossos.

Mas Edu fecha a porta e se vai.

oOoOoOoOo

Algumas casas ao lado Du chegava já esperando pelo pior.

Arrastava os pés como quem ia para seu próprio funeral, já estava cansado desta vida; sempre a mesma coisa todos os dias.

Ele abre a porta perigosamente percebendo que sua irmã estava na sala ao ver televisão e esta é logo mandada sair. partindo com um sorriso ardiloso nos lábios.

Sua mãe esbraveja e grita com um papel mostrando suas notas baixas e que ele provavelmente não iria passar de ano; grita e rebaixa o pobre Du revelando coisas que os vizinhos falavam e pensavam sobre o garoto. ---- Você não passa de um preguiçoso! Um inútil e nunca vai ser nada na vida! Só me desaponta com tudo o que faz! ---- Mas apesar de tudo ele já estava acostumado a tais palavras ásperas.

Apenas espera ela terminar ouvindo a tudo em silencio.

Quando ela se cansa de gritar e vai pegar um copo d'agua ele já sabia que a bronca havia chego ao fim, apenas pega o boletim assinado e amassado e vai ate seu quarto que ficava no porão, indo ler a carta de Mai.

***

Ola Horace.

Desculpa ter feito o que fiz hoje, não queria parecer a “velha” Mai Kanker só que estava tudo tão perfeito que achei que... Desculpa mesmo.

Olha eu sei das coisas que você passa em casa.

Não que eu seja uma fofoqueira, longe disso. Mas pessoas como nós conseguem reconhecer umas as outras. Se você não passar de ano não se importe, pode fazer um supletivo! Não deixe que ninguém diga que você é burro.

Só por que anda com um gênio como o Dudu que mais parece o Magaiver com suas invenções, você não tem de se comparar a ele; entendeu bem.

Eu te amo pelo que você é. Simples, simpático e uma pessoa muito carinhosa; e se possível gostaria de tentar fazer dar certo entre nós.

Beijos com amor Mai Kanker.

***