Make a Memory

Capítulo XXXVI - Resolução


Eron tentava a todo custo me convencer a esquecer o Félix, mas não conseguiria nunca tal feito. Ele saiu do quarto do hotel com pressa e com muita raiva. Apostei que ele não iria mais voltar..., mas, me tranquilizei cedo demais. Quando me virei para trancar a porta ele voltou, e se aproveitou da minha surpresa para me beijar.

Segurando com força no meu rosto ele não me deixava sequer respirar. Tentava forçar um beijo que eu não queria nem um pouco. Quando minha surpresa passou eu reagi empurrando-o severamente. Fiquei indignado por ele se prestar a essa situação.

— O que é isso, Eron? Enlouqueceu?! Você nunca tentou me beijar sem o meu consentimento, nem quando estávamos juntos, e agora você vem e faz uma coisa dessas?!

—... Eu... Eu fiz sem pensar, Niko. D-Desculpa...

— Desculpa nada! Não te desculpo! Você já passou de todos os limites. E, olha aqui, se você tiver feito coisa pior do que me beijar a força você vai conhecer um Niko que você nunca imaginou, entendeu?!

Ele me olhou surpreso. Eu não deveria ter falado tanto.

— C-Como assim se eu tiver feito coisa pior? Do que você tá falando?

— Nada. Deixa. Agora sai!

— Eu vou, Niko. Mas, eu ainda não desisti de você.

— Esse assunto já está morto e enterrado, Eron. Bota isso na sua cabeça.

— Não! Não é justo! Você vai ficar aí, morrendo de amores pelo Félix, que não tá nem aí pra você. E sabe por quê? Porque ele te esqueceu, Niko! Ele não lembra nem que você existe.

— Ela lembra sim!

Droga! Outra vez falei demais, pois ele ficou me encarando.

— Como que ele lembra? Ele perdeu a memória de novo, não foi?

— F-Foi, foi, claro que foi! Mas, isso não quer dizer que ele não se lembre de mim. Quando ele acordou eu era quem estava ao lado dele. Nas duas vezes. E mesmo que ele não se lembrasse quem eu era, ele sabia que eu era importante para ele. Que eu sou importante para ele. O Félix, achando ser o Cristiano ou não, sempre soube que me ama. Ele voltou a se apaixonar por mim e pode se apaixonar de novo. Com memória ou sem memória, ele, na verdade, nunca me esqueceu. A mente dele podia ter me apagado, mas do coração dele eu nunca saí. Agora, você, Eron... Você eu quero que saia daqui agora mesmo e não apareça mais na minha frente. Porque você pode ter trazido o Fabrício de volta, você pode ter se arrependido de tudo, você pode até mesmo dizer que ainda gosta de mim. Mas, me amar é uma coisa que você nunca soube o que é. E hoje eu posso dizer o mesmo. Nós nunca nos amamos, Eron. Aquilo que a gente tinha não era nem nunca foi amor. Foi uma paixão com prazo de validade. Este que já venceu... Há muito tempo. Portanto, por mais que eu tenha a agradecer, ou não, a você... Eu quero que você fique bem longe de mim e dos meus filhos, entendeu? Não se aproxime. Não tente mais nada. Senão qualquer coisa boa que eu ainda sinta por você, uma empatia que seja, vai se transformar em nojo, em repulsa, e o que é pior, em pena. Então, vai viver a sua vida e deixa a minha em paz.

Tranquei a porta na cara dele e não quis nem saber se ele foi embora ou ficou lá parado do mesmo jeito que estava. Tudo que eu queria era que o Félix chegasse logo e todo esse pesadelo finalmente acabasse.

...

...

...

Eron, porém, não aceitaria tudo tão facilmente, mesmo com todas as palavras do Niko.

— Você não vai se livrar de mim assim, Niko. Não quer me ver mais? Mas, eu ainda vou te ver. Eu venho. Venho sim. ... E vou fazer você me pagar por cada noite mal dormida que passei pensando em você.

O advogado dizia isso baixinho, jurando a si mesmo que não desistiria daquele que achava ser o seu grande amor.

— Se você não vai ficar comigo... Também não vai ficar com o Félix. Eu vou fazer com que ele acredite mais ainda no que ele acredita agora. E assim ele nunca vai olhar pra você. Nunca mais.

...

À noite, no mesmo dia, Eron voltou até o hotel e bateu na porta do quarto de Niko.

— Você de novo? Eu disse que não queria mais te ver na minha frente, Eron! Sai daqui. Eu não quero brigar. Os meninos já estão dormindo, tem outros hóspedes dormindo também, e eu não quero escândalos essa hora da noite.

— Niko, eu só vim te pedir desculpas. Me desculpa, por favor. Me deixa falar com você...

— Eu não tenho nada pra falar com você e nem quero falar com você. Eu vou embora amanhã e estou arrumando as malas. Por favor, não me atrapalha.

— Niko, vamos conversar civilizadamente, por favor. É só um minuto.

— Já disse que não... – Nesse mesmo instante, um garçom apareceu com uma garrafa de vinho para Niko, dizendo que haviam encomendado para ele. O loiro logo suspeitou.

— Foi você, Eron?

— Não.

Mesmo ainda meio desconfiado, Niko entrou e deixou a garrafa sobre a mesinha de centro.

Eron aproveitou para entrar também, mas ficou perto da porta.

— Eron, eu já te disse pra ir embora. Vai. Não temos mais nada a conversar. Eu achei que tivesse sido bem claro mais cedo.

— Foi, Niko, você foi bem claro, mais claro impossível. Mas, eu... Eu não quero que você me odeie por ainda gostar de você. Eu não suportaria conviver com isso.

— Ai, ai... Eu não te odeio, tá bem? Só não quero que fique aqui perto de mim.

— Por quê? Acha que... Podemos reviver algo do passado se estivermos próximos?...

— Oi? Nada a ver! Passado é passado, Eron. Aceita. Aceita que dói menos.

— Não tem jeito. Dói de qualquer maneira.

— Ah! Para de drama!

— Niko, me perdoa. Eu não vou mais te incomodar, mas me perdoa. Eu fui muito burro em te perder e mais burro ainda em não aceitar que não vou te ter nunca mais. Me perdoa, vai.

— Eu já te perdoei, tá? Agora vai embora.

— Eu vou. Mas... Você me perdoou de verdade? De coração?

Niko suspirou impaciente, mas compreensivo como sempre.

— Perdoei, Eron. Quando eu perdoo é de verdade. Só teria uma circunstância na qual eu não te perdoaria jamais. Seria se você mexesse com algum filho meu.

Niko, por já estar desconfiado, ficou encarando Eron após falar isso. Eron ficou nervoso, mas conseguiu fingir que não e continuar.

— Eu nunca faria nenhum mal aos seus filhos, Niko. Eu não sou assim. Você sabe que tudo aquilo com o Fabrício no passado foi por conta da Amarylis...

— Quantas vezes terei que repetir que não quero mais conversar? É o mínimo que eu espero de você, que você respeite, pelo menos, os meus filhos. Agora já pode ir.

— Ok, mas antes...

— O que é, Eron? O que mais você quer?

— É só uma coisinha, eu prometo. E aí eu vou embora. – Ele pegou a garrafa de vinho e começou a abri-la.

— O que você tá fazendo? Deixa essa garrafa aí, não deve ser pra mim.

— Vamos beber só uma taça, Niko. Só uma. Para brindar. Para brindar, seja pelo perdão que você me deu ou... Nem que seja por uma despedida. Pela nossa despedida.

— Não! Eu nem sei porque mandaram isso pra mim, deixa aí, deve ser engano. Pode ser pra outro hóspede...

— Você não ouviu que o garçom entregou para você? Ele disse seu nome.

— E eu já disse que não quero. Eu não pedi isso.

— Niko, vamos lá, eu já abri, olha só... Por favor. Vamos brindar só uma última vez e eu prometo que será a nossa despedida definitiva. Eu não volto a te ver nunca mais, se você não quiser.

Como Eron não parava e foi pegar dois copos que achou rápido por ali, Niko pegou o vinho que ele serviu. Eron propôs o brinde e Niko brindou, pois a proposta de Eron foi brindarem por ele ter reencontrado o Fabrício. Ao beber o primeiro gole, Niko achou que o vinho estava com um leve gosto amargo. Achando aquilo muito estranho, ele pediu:

— Já fiz o que você queria, Eron. Já brindamos. Agora pode ir embora e fazer o que eu quero. Não voltar nunca mais a me importunar.

— Eu vou. Deixe-me apenas acabar o copo de vinho. Não se preocupe. Acabe o seu também.

— Hum... Eu vou ver se os meninos não acordaram. Acaba logo isso e sai.

Logo Niko retornou já com o copo vazio.

— É bom demais para ser verdade! - Eron exclamou.

— Do que está falando, Eron?

— Não está sentindo nada diferente?

— É... Não... Agora que você falou... Achei o vinho com um gostinho diferente, sim... Ele deve ser meio forte, né?...

— É. É bem forte. - Eron mostrou seu próprio copo. - Por isso que eu não tomei de verdade.

— P-Por quê?

— Não está se sentindo sonolento, Niko?...

— Eu?... Eu estou com sono, mas... É por causa do vinho?...

— É. Não exatamente. Mas, digamos que esse vinho foi especialmente preparado para você... Por mim.

Niko sentou no sofá como se tivesse uma tontura de repente.

— O que... O que você fez?

— Niko, Niko... Eu fiz tudo que eu podia por você. Fiz de tudo para ter seu amor de volta, ou, no mínimo, o seu respeito. Mas, e você? Você me põe pra fora daqui como um animal nojento que você não quer nem ver. Eu não posso conviver com isso.

— Você... Você tentou me beijar... À força.

— Você não aceitaria de outro jeito. Nem vai aceitar o que ainda vou fazer. Sei que quando você acordar, aí sim que não vai querer me ver nunca mais. Mas, pelo menos, eu vou ter o consolo de que você vai ficar com a consciência tão pesada que não vai mais ter coragem de procurar o Félix de novo. Ele também não se lembra mais de você, será bem mais fácil. Ele não vai te dar atenção nenhuma depois que souber que voltamos a ficar juntos.

— Eu nunca... Nunca vou ficar com você de novo... Nem você me dopando!

— Nunca diga nunca, Niko. Nesse estado você não vai poder se defender. E eu posso até tirar fotos nossas, ou quem sabe, nos filmar, para caso o chato do Félix recupere a memória de novo.

— O que você ganha com isso?

— A satisfação de dormir com você pela última vez.

— Eron... Não... Não se aproxima de mim... Meus filhos... Eles estão dormindo bem ali...

— Eu sei. Não vamos acordá-los, não se preocupe. Eu aluguei o quarto ao lado.

Eron chamou o falso garçom que havia levado o vinho para Niko e o loiro percebeu que era comparsa de Eron. O advogado mandou que ele o ajudasse a levar Niko para o outro quarto. Os dois o levaram. O loiro já parecia fora de si, desnorteado, quando o colocaram na cama. Eron mandou o falso garçom sair, não sem antes dar um bom dinheiro a ele.

— É agora, Niko. Enfim sós. Pela última vez. Mas, pode ter certeza que eu não vou me esquecer. E você também não.

...

...

...

Na manhã seguinte...

Voltei para me encontrar com o carneirinho e os meninos, levando em mãos a chave para a solução dos nossos problemas. A viagem havia sido bem melhor do que eu esperava. Agora sim, nossas vidas iriam mudar e nossos sonhos se realizar definitivamente.

Quando entrei no quarto, porém, encontrei o Niko muito sério. Estava sentado no sofá como se me esperasse.

— Carneirinho?... Tudo bem aqui?

— Mais ou menos.

Sentei ao lado dele.

— Ei! Eu esperava uma recepção calorosa, um abraço, um "que bom que você voltou". O que houve? Não me diga que aconteceu alguma outra coisa com os nossos filhos?

— Não, eles estão bem. E eu estou sim feliz por você ter voltado.

— Ah é? Pelas contas do rosário! Se toda felicidade fosse assim, seria o apocalipse! O que foi, hein?

— É que... Eu não sei como começar a te contar uma coisa que aconteceu ontem...

— O que aconteceu ontem? Você está sério demais. Se não foi com os meninos... Foi com você?

—... Foi. Quase. Seria.

— Calm down, carneirinho! Me explica direito. Se você jogar um monte de palavras soltas eu não vou entender, querido...

— Tá. Então, eu vou resumir em uma só palavra... Eron.

Levantei logo, já impaciente. - Qual foi a porcaria que aquela lacraia fez dessa vez? - Mas, quando fui colocar as coisas que eu trazia numa pasta na mesinha, percebi a garrafa de vinho pela metade. - O que isso faz aqui?

O Niko ficou calado por uns segundos e eu, claro, já comecei a pensar o pior.

— O que essa garrafa de vinho e a lacraia têm a ver com essa carinha fechada, Niko? O que ele fez com você?

— Promete que não vai ficar nervoso?

— Já estou. Agora depende do que você vai me dizer. Eu te avisei para não chegar perto daquela lacraia!

— Ele... Ele não fez nada, Félix. Ele tentou fazer.

— O quê? Fala agora o que foi que eu vou procurar essa lacraia no buraco onde ele estiver e esmago!

— Não precisa procurar, ele está no quarto ao lado.

— Onde?! - Indaguei estupefato. Minha surpresa nada agradável só passou quando ele me levou até o quarto ao lado e eu vi a maldita da lacraia lá, caído numa cama, completamente desacordado. O carneirinho, então, me contou tudo.

— Ele mandou me entregarem equela garrafa de vinho anonimamente. Aí veio aqui com um papo de "vamos brindar nossa despedida", disse que queria me pedir desculpas e não ia aparecer nunca mais, blábláblá... Abriu a garrafa e nos serviu. Mas, claro que ele não estava com a intenção só de brindar, né?...

... ... ...

... - É agora, Niko. Enfim sós. Pela última vez. Mas, pode ter certeza que eu não vou me esquecer. E você também não.

— Não, pode ter certeza que não.

— Niko?! V-Você tá de pé?

— Você achou mesmo que eu ia tomar aquele vinho, seu desgraçado! Eu notei que você pôs alguma coisa nele. O que você achou que podia fazer comigo, hein?

— N-Niko... Eu... Eu...

— Cala a boca!...

... ... ...

—... E foi isso, Félix.

— Mas, essa lacraia maldita perdeu completamente a noção! Só pode! Ele queria o quê? Te agarrar à força ou o quê? Quem ele acha que é?! Você deu uma surra nele, não deu? Diz que deu.

— Não, não foi uma surra, Félix. Você sabe que eu não sou capaz disso, mesmo com toda a baixaria que o Eron tentou fazer. Eu só dei dois socos na cara dele para ele ficar atordoado. Foi o tempo de eu correr até nosso quarto e pegar a garrafa de vinho pra fazer ele beber e ver o que é bom. Eu tomei só um gole e já senti que tinha alguma coisa dentro. Quando percebi qual era a intenção dele, eu derramei o resto e fingi que tomei. Ele acreditou e tentou... Bem, você entendeu o que ele tentou. Não acho que ele ia mesmo fazer algo comigo se eu estivesse realmente dopado, mas ele, certamente, ia me fazer acreditar que rolou algo entre nós para me fazer me sentir mal e não procurar mais você. Ele mesmo confessou essa última parte.

Eu olhava para aquela criatura ali deitada e sentia vontade de vomitar. Era tanto nojo daquela lacraia que eu não sabia nem o que dizer do que ele fez.

— Então... Você fez ele beber o resto do vinho, foi?

— Foi. Foi o castigo dele. Fiz ele provar do próprio veneno. Obriguei-o a beber e disse que se ele não fizesse isso eu ia chamar a polícia e acusá-lo de tudo possível e acabar com a carreira dele. Ele bebeu quase metade e já caiu aí, completamente dopado. Deixei ele sozinho e voltei para o quarto.

— Vamos, carneirinho. Vamos voltar para nosso quarto, eu preciso falar com você.

...

...

Estranhei a calma do Félix depois de tudo que eu havia contado sobre a tentativa ridícula do Eron de dormir comigo. Ele apenas pediu que voltássemos ao quarto para conversar. Fui com ele, então.

— O que você quer falar, meu amor? Pensei que... Bem, que você fosse ficar mais nervoso quando soubesse o que houve. Por isso eu estava tenso...

— Não, carneirinho. O que importa é que ele não conseguiu o que queria. E mais... Eu estou orgulhoso de você.

— Orgulhoso de mim?

— Você foi bem espertinho de fingir para a lacraia que o planinho dele tinha dado certo. Gostei. - Ele deu seu sorrisinho típico, cínico, que eu tanto gosto.

— Gostou?

— Gostei, óbvio! Você não só enganou a lacraia como deu uma lição nele e ainda fez tudo isso sozinho.

Nesse instante eu pensei e também senti orgulho de mim. O Félix tinha razão. Durante o tempo em que ele passou achando ser o Cristiano eu aprendi muito. Aprendi a ser mais esperto, a me virar mais sozinho, a pensar por mim mesmo, a perceber as coisas ao meu redor... Eu acabei aprendendo a ser um pouquinho mais como o meu Félix, quando o meu Félix não estava comigo.

— Quer saber, meu amor... - Abracei-o. - Eu acho que nós dois estamos ficando cada vez mais parecidos.

— Hum... Que bom! Mas, pelas contas do rosário, carneirinho, nunca deixe de ser você, porque eu amo mais você do que a mim mesmo.

Esse era meu Félix! O homem que sempre sabia o que dizer para me fazer sentir maravilhosamente bem.

E já que eu aprendi a ser mais esperto e observador, eu fui logo indagando:

— E essa pasta, hein? O que é?

— Ah, isso? Isso, carneirinho, é nossa chave da verdade.

— Chave da verdade?

— Com o que tem aqui dentro... Todos os nossos problemas serão solucionados. Inclusive, a casa.

— A casa? Essa casa de Angra?

— Sim, essa casa de Angra. Por um acaso, eu encontrei o doutor André, que por sinal também está irritadíssimo com a lacraia. E ele me contou umas coisinhas bem interessantes.

— Ué! Ele não estava lá naquela casa com o Eron? Quero dizer, antes de todo esse planinho ridículo...

— Estava.

— E ele não havia comprado a casa?

— Quem disse?

— O Eron disse... - Foi então que percebi que o sorrisinho do Félix era de boas notícias. - Espera aí! Era mentira, não era? O André não comprou a casa?

O Félix não me respondeu. Apenas abriu a pasta e tirou uns papéis. Ao me mostrar, li rapidamente e vi que se tratava da escritura da casa.

— Félix... Você... Você conseguiu? A... A casa...

— A casa é nossa, carneirinho!

— Ah! - Nos abraçamos forte. - Como assim?

— O André estava com o contrato que a lacraia deixou com ele para ele assinar. Ele ainda não havia comprado, nem pretendia comprar a casa. O inseto do olho colorido é que estava tentando convencê-lo a qualquer custo. Claro, o papi mandou que ele vendesse urgentemente, isso é verdade. E sabe como eu descobri isso?

— Como?

— Passei o resto do dia e a madrugada inteira viajando e só cheguei agora, vim direto pra cá, carneirinho. Eu fui até São Paulo, fui falar com o papi sobre a casa e fui consultar o perito sobre o desaparecimento do Fabrício.

— E aí? O que descobriu?... Aquelas suas suspeitas...

— Estavam certas. - Ele tirou outro papel da pasta e era uma foto. Uma foto que me fez tremer por dentro com uma raiva e uma indignação absurdas. Era o Eron levando o Fabrício daqui do hotel. Ele era quem havia sequestrado o meu bebê.

— Ele... Ele... Como foi capaz?! Aquele... Ele vai ver só... Ele vai ver do que eu sou capaz! Eu disse pra ele, Félix, eu disse que ele não mexesse com meus filhos ou ia me conhecer, e ele vai!

Saí em disparada para o quarto a lado onde o Eron continuava dopado. Não me segurei nem pensei em nada, tamanha era minha raiva. Eu só queria dar vários tapas na cara dele e gritar o quanto eu o odiava. Embora eu não me permitisse sentir ódio por ninguém, foi exatamente aquilo que senti naquele momento pelo Eron: ódio. Se o Félix não tivesse me segurado eu não saberia me controlar.

— Carneirinho! Nao adianta fazer nada agora, ele não vai nem sentir, criatura! Esse aí agora nao é só boca mole, ele tá todo mole, portanto, deixa pra descontar sua raiva de forma inteligente, ok?

— Como, Félix? Como que se resolve uma coisa dessas de forma inteligente? Eu não consigo pensar em nada, você entende? Nada!

— Carneirinho, meu amor, calma! Por isso eu pensei por você. Eu já pensei em tudo.

O Félix segurava em minhas mãos para eu não ir lá e quebrar a cara do Eron. Suas palavras me fizeram respirar fundo e me acalmar um pouco.

— Ok, ok... Eu... Eu não sei o que me deu, Félix, eu não sei o que me deu, mas... Eu tô muito estressado, meu amor, eu não aguento mais... Não aguento mais tudo isso, não aguento mais olhar pra o Eron, não aguento mais pensar em tudo sozinho, eu preciso de você...

— Você nem eu vamos ter que olhar mais pra ele. Por muito tempo, pode ter certeza, carneirinho. Pode ter certeza. Vem cá...

O Félix me abraçou e eu desabei em lágrimas. Acho que estava extravasando todo o meu cansaço naquele abraço.

— Félix, me ajuda... Foi tanto tempo sem você...

— Shh... Agora eu tô aqui. Eu estou aqui com você, carneirinho... Estou aqui... E eu não vou te soltar nunca mais.

Ouvir aquilo me surpreendeu. Como o Félix sabia que eu havia prometido isso a ele durante todo o tempo que ele passou achando ser o Cristiano? Bom, já não importava mais. O que importava era que o meu amado Félix estava comigo de novo e nós dois, finalmente, nunca mais nos soltaríamos.

...