Make a Memory

Capítulo XXI – Memorável


Quando chegamos em casa, Félix estava demonstrando que, de alguma maneira, havia se lembrado de nós. De mim e dos meus filhos. Ele não me lançou um olhar questionador cheio de dúvidas, pelo contrário, tratou Jayminho como se nunca o tivesse esquecido.

Mas, foi então que o meu filho nos surpreendeu, dizendo:

— Agora que você voltou e não vai mais embora, você já pode ser meu pai.

A primeira coisa que fiz ao ouvir isso foi olhar para a expressão inexplicável do Félix. Ele havia ficado sem palavras, meio em choque, eu diria.

— É... Filho... Eu sei que você está com muita saudade do Félix, mas ele está muito cansado. Ele precisa trocar de roupa para a gente jantar.

— Vamos jantar todos juntos, papai?

— Vamos, sim!

— Eba! Eu vou trocar de roupa também! – Ele não tinha necessidade de trocar de roupa, mas saiu tão entusiasmado que eu deixei.

— Ah! É uma graça, né? Ele está muito feliz por te ver de novo, Félix.

Félix apenas deu um leve sorriso para mim. Dava para ver que ele queria me perguntar sobre o que o Jayminho havia dito.

Adriana também se aproximou com o Fabrício nos braços.

— Ah, eu também tô tão feliz de ver o senhor aqui de novo, seu Félix!

Eu expliquei: - Félix, a Adriana é a babá dos meus filhos.

— Ah... Obrigado. – Ele a agradeceu, mas vi que ele ficou olhando para o meu bebê. Tive, então, uma ideia.

— Me dá aqui meu filhote, Adri. – Peguei meu bebê. – Quer segurar ele um pouquinho, Félix?

Ele me olhou meio reticente, mas pegou o meu filho. Ele o olhou, olhou... Até falar seu nome:

— Fabrício.

Novamente ele me surpreendeu.

— Você... Se lembra do nome dele?

Vi o Félix respirar fundo e olhar para mim sorrindo, ao comentar:

— Eu não poderia esquecer o nome de um bebê que eu ajudei a resgatar, não é?

Aquela afirmação e o sorriso em seu rosto me fizeram ver que ele estava se lembrando. De alguma maneira ele já se lembrava do essencial da nossa história. Só acho que ele não fazia ideia do quanto isso me deixava feliz.

— Vem... – Peguei em sua mão e o levei em direção ao quarto. – Você quer trocar essa roupa? Eu acho que tenho alguma coisa aqui que caiba pra você.

— Quero. Eu não me sinto muito bem com essa bermuda. – Ele riu envergonhado.

— Já eu me sinto muito bem em te ver assim. – Tive que ser sincero, apesar de que sei que fiquei com as bochechas vermelhas. Ele também ficou. E não teve coragem de me responder nada. Esses pequenos detalhes no comportamento eram a maior diferença entre o meu Félix de sempre e esse homem que estava na minha frente. O meu Félix, só com esse comentário, já teria me encarando com aquela carinha cínica, dito mil loucuras sensuais e tentado me jogar na cama. Mas, esse homem que estava na minha frente era recatado, introvertido. Eu tinha ideia do quanto estaria sendo difícil para ele tudo pelo que ele passou, mas ele estava tímido demais pra o meu gosto.

Peguei em suas duas mãos, entrelaçando nossos dedos. Cheguei mais perto e o beijei delicadamente, esperando que ele retribuísse. E ele retribuiu, ainda parecendo que não sabia muito bem o que fazer.

— Ei... Por que não me beija do mesmo jeito que me beijou antes quando veio aqui? – Indaguei.

— Porque daquela vez eu te beijei para ver o que eu sentia. Dessa vez eu já sei o que sinto quando te beijo... Quando estou com você.

— Então? Não é melhor assim?

— Não. Porque agora eu sei o que somos um para o outro e... E me dá medo...

— Medo? Medo de mim?

— Não. Medo de não saber te corresponder. – Ele me olhou nos olhos, depois de tanto tempo. – Niko... Eu já sei que te amo, mas eu não sei te amar.

Suas palavras só me fizeram me apaixonar ainda mais.

— Ah, Félix... Mas, isso é tão fácil. É mais simples do que você imagina.

— Então, por que eu não sei explicar isso que sinto?

— Porque sentimento não tem explicação... É assim... Só existe.

Após isso ele ficou muito sério e no instante seguinte, com as mãos em meu rosto, me puxou para um beijo que de tão intenso me deixou de pernas bambas. Eu não estava esperando por um beijo assim tão forte, tão apaixonado, tão decidido.

...

...

Quando ele disse aquilo, foi como se algo inexplicável dentro de mim se ativasse e me enchesse de coragem para pegá-lo em meus braços e dar-lhe o beijo mais ardente que eu poderia dar.

Quando eu o soltei, nós dois tivemos que recuperar o fôlego. Mas, eu sabia que havia recuperado algo mais que o ar dos meus pulmões. Eu havia recuperado aquilo que faz meu coração bater mais forte, aquilo que faz minha mente esquecer o resto do mundo, aquilo que deixa meu corpo quente e minha alma acesa. Eu havia recuperado o amor de minha vida.

— Eu... Eu não esperava que você me beijasse assim.

— Eu não costumava te beijar assim, por acaso?

— Quê? – Ele riu. – Você fazia isso e muito mais.

— Como o quê, por exemplo?

Ele ficou ruborizado outra vez, mas eu entendi o que ele pensou sem ele precisar falar quando vi seus olhinhos verdes se dirigirem à cama.

— Niko... – Eu precisava perguntar. – Quantas... Q-Quantas vezes nós já... Dormimos juntos?

Ele ficou boquiaberto por uns segundos com a minha questão, mas eu precisava mesmo saber.

— É... Nós... Várias vezes.

— Várias?

— Oh! Quase todo dia...

— T-Todo dia?

— É, bem... – Ele deu outra risadinha, e era incrível como nossos papéis se invertiam de uma hora pra outra. Primeiro eu ficara mais tímido, agora ele. – Desde que a gente começou a namorar você vem quase toda noite aqui pra casa... E... Você vem principalmente pra jantar, mas...

— Entendi...

— Geralmente, você só volta de manhã pra sua casa.

—... Agora eu entendo porque você pensou outra coisa quando eu pedi pra apenas dormir aqui.

— Ai, Félix... Sabe o que é? - Ele deu uma risada divertida. - É que... Se você lembrasse... Você nunca quer só dormir.

Nós dois nos olhamos e era indescritível a tensão sexual naquele instante. Mas, o momento foi interrompido pelas batidas na porta e o chamado do filho do Niko.

— Papai, já tô pronto! Vem!

— Já vamos, filho! – Niko respondeu e voltou para mim. – Vamos, Félix, você ainda tem que trocar de roupa. Ficamos tão distraídos que nem vimos o tempo passar.

Ele se apressou a pegar algumas roupas e me deu para eu vestir. Quando eu estava pronto, saímos do quarto.

Durante o jantar, fiquei pensando no que eu já recordava e no que eu poderia ter para recordar de agora em diante. Eu não tinha um passado, pois este não existia em minha memória, mas eu sabia que tinha um futuro, o meu único futuro possível. E eu estava jantando com ele.

...

...

Era como um sonho realizado ver o Félix de volta à minha casa, à minha vida. Durante o jantar, observei que ele estava pensativo. Provavelmente estava pensando em tudo que já havia descoberto depois de sua perda de memória. Não era para menos, qualquer um ficaria calado, distante. Mas, além disso, ele também estava curioso.

— Agora você vai ficar com a gente, Félix? – Jayminho perguntou, feliz com a presença dele.

— Hã? Ficar aqui?

— É. Você vai ficar morando com a gente ou ainda vai voltar pra sua casa?

— É... – Ele me olhou por um segundo e voltou para o Jayminho com uma questão. – Jayminho... Por que você disse quando eu cheguei que agora eu já podia ser seu pai?

Meu filho me olhou com aquela carinha como se me perguntasse “eu posso contar, papai?”. Sorri para ele e ele entendeu.

— Sabe o que é, Félix... Eu contei o nosso segredo pra o papai. Desculpa.

— Segredo?

Eu expliquei ao Jayminho: - Filho, o Félix não se lembra daquilo que combinou com você, porque depois que ele sofreu o acidente ele acabou esquecendo algumas coisas.

— Ah... Então, ele se esqueceu do nosso segredo?

— Pois é, esqueceu. Mas, não foi culpa dele, foi por causa do acidente. Ele bateu a cabeça muito forte, e quando isso acontece, às vezes, a gente acaba se esquecendo das coisas.

— Ah...

— Mas, você pode contar pra ele o que vocês tinham combinado antes.

Meu pequeno virou para o Félix e contou.

— Félix, você se lembra de uma vez que ficou aqui me ensinando matemática depois que o papai foi trabalhar?

— Não, Jayminho, eu não lembro...

— Mas, foi. E aí você falou que é um gênio, e eu perguntei se era gênio da lâmpada, tipo o do Alladin, mas você disse que não, mas quando eu perguntei se você fosse um gênio assim qual desejo você gostaria de realizar, você disse que queria ser meu pai.

— Eu... Eu disse isso?

— Disse! Aí eu disse que eu já tinha o papai Niko, mas você disse que eu ia ter dois pais, que você e o papai iam ser pais meu e do Fabrício. Ah! Você também disse que só ia contar o segredo pra o papai quando tivesse com a nova casa pronta, aí eu perguntei que casa e você disse que era uma casa bonita, na praia, de frente pra o mar e com uma piscina.

Félix olhou para mim curioso. Definitivamente não fazia ideia do que o Jayminho estava falando, mas parecia querer saber mais.

— E... Eu disse onde era essa casa?

— Hum... Não.

—... O que mais eu falei?

— Falou que eu podia escolher se chamava vocês de papai Niko e papai Félix ou de papi Félix e papi carneirinho.

— Oh! Disso eu não sabia. – Comentei.

— Papi?... Eu falo assim?

— O tempo todo. – Respondi.

— Eu te falei mais alguma coisa, Jayminho?

— Você me ensinou duas coisas.

— Ensinei? O quê?

— Primeiro a matemática pra eu tirar dez na prova e deixar meus papis orgulhosos.

Ouvir o Jayminho chamar nós dois de pais me trouxe uma imensa alegria.

— E o quê mais?

— Ensinou também que o mar mais perto da praia às vezes é verde e lembra os olhos do papai Niko.

Félix ouviu tudo atentamente. Vi seu olhar brilhando, emocionado. Tive que falar:

— Viu só, Félix? Viu por que você tem que ficar com a gente? Para que a gente possa transformar nossos desejos em realidade.

Ele me olhou tão profundamente que parecia que ia mergulhar fundo nos meus olhos e na minha alma. O que ele me perguntou a seguir, então, foi extasiante.

— É do seu desejo que eu me torne outro pai para seus filhos?

...

...

Niko me olhou de um jeito que parecia roubar minha alma e deixá-la em suas mãos para que ele fizesse o que bem quisesse. O que ele me respondeu, então, me fez sentir aquilo que eu mais procurava: plenitude.

— Sim, Félix... Esse é o meu maior desejo. Ter uma família completa. E a minha família só vai estar completa quando você fizer parte dela.

Depois de tudo que eu havia ouvido eu não tinha mais porque duvidar de nada, sobretudo do amor do Niko. Eu não queria sair dali nunca mais, era onde eu deveria estar e onde eu deveria permanecer, junto deles.

— Você vai ficar, Félix? – O menino me perguntou, mas essa resposta não era eu quem tinha.

— Eu vou ficar, Niko? – Joguei para ele quase já sabendo a resposta.

— Você vai ficar, sim. – Ele sentou mais perto e pegou em minha mão. – Nós não vamos mais te deixar ir embora. Não é, Jayminho?

— É! – O garoto veio pelo outro lado e me abraçou. Não precisei me conter. Deixei que as lágrimas de felicidade viessem e rolassem. Era inexplicável aquele sentimento de estar em família como o que eu estava sentindo naquele instante.

— Não chora não, Félix. – O pequeno pediu gracioso.

— Não estou chorando porque estou triste, pelo contrário, é porque eu estou muito feliz de estar aqui com vocês.

— Todos nós estamos felizes, Félix. – Niko falou. – De hoje em diante será sempre assim. Nunca mais vamos nos separar. – Ele passou um braço em volta de mim e com o outro alcançou seu filho. – Não é, meu filho? Fala pra o Félix que você também tá muito feliz por ele estar de volta e que ele não vai mais sair daqui.

— Eu também tô muito feliz, Félix. – O menino obedeceu, e ainda completou: - Eu tô feliz porque agora eu vou ter dois pais. Quando eu ficava no abrigo, eu pensava que não ia ter nunca um pai, até que apareceu o papai Niko. E agora tem você. Eu vou ter dois pais por causa de você! E sabe o que é melhor? É que vocês dois são dois heróis!

Niko e eu nos olhamos sem saber o porquê de tais palavras. Eu, muito menos.

— Herói, eu? Por que, Jayminho?

— Porque primeiro o papai Niko me resgatou do abrigo, e depois você resgatou o meu irmãozinho daquela bruxa que queria levar ele. Então, vocês são dois heróis, pra mim e pra o Fabrício. E vocês dois vão me dar uma família.

Era desconcertante e ao mesmo tempo maravilhoso tudo aquilo que o Jayminho me contava. Até pouco tempo atrás eu estava me achando um monstro e ele... Ele me via como um herói. Como podia? Como ele conseguia me ver assim? Eu tinha sido mesmo capaz dessas coisas? Coisas tão boas... Coisas que não condiziam com as que eu fiz no passado. Eu havia mudado tanto assim?

— Você tem certeza que eu sou um herói, Jayminho?

— Tenho. Mas, tem uma coisa que eu quero perguntar.

— Pergunte.

— Quando eu vou poder começar a te chamar de pai?

Dessa vez antes de mim quem chorou foi o Niko. Eu o vi ao meu lado segurando o choro enquanto mantinha um sorriso lindo. Ele me olhou de lado e também me jogou a mesma questão:

— Quando?

Olhei para ele, para o Jayminho, pensei no bebê também... E não tive mais dúvida alguma.

— Pode me chamar de pai quando você quiser, Jayminho.

O pequeno me abraçou e me iluminou ao dizer:

— Então, a partir de agora, você é o meu papai Félix.

—... Sim. E não sabe como me faz bem que me chame assim. Quero que seja sempre assim, sempre! De hoje em diante eu também sou seu pai. Seu papi Félix.

Niko me olhou num misto de estranheza e emoção.

— Você disse... Papi?

— Ué! Vocês não disseram que é assim que eu falo? Então? A partir de agora eu quero ser o papi dos seus filhos. Eu posso?

— Pode não... Deve.

Nossos rostos já estavam bem próximos e nós só terminamos de vencer a mínima distância com um beijo repleto de ternura.

...

...

Algum tempo depois do jantar, meus filhos foram dormir e a Adriana pôde descansar. Eu fiquei na sala com o Félix.

Eu estava radiante pelos sonhos que estavam se tornando realidade na minha vida, mas a realidade que já existia precisava de atenção. Ainda tínhamos muitas coisas a resolver. E a primeira era...

— Precisamos avisar a sua família que você já apareceu, Félix.

— Eu sei... Mas, não quero voltar para aquela casa, Niko. Alguma coisa me diz que eu não queria estar lá, sabe? Que eu não posso, não consigo ficar lá.

— Acho que é normal. Você está recuperando a memória aos poucos e tem uma coisa que você não sabe.

— O quê?

— Quando você sofreu o acidente que te fez ficar assim, você estava saindo daquela casa.

— Saindo, como? Essa não foi a primeira vez que eu fugi?

— Não. Mas, você não tinha fugido exatamente. Pelo que entendi, você teve uma discussão muito séria com seu pai e resolveu sair de casa às pressas. Você estava muito abalado quando me ligou para dizer que queria vir pra cá, que queria até morar comigo.

— Eu vinha morar com você quando sofri o acidente?

— Vinha. Pelo menos, foi o que você me disse antes de... – O ar me faltou quando recordei aquele som horrível da hora em que o meu amor se acidentou.

— O que foi, Niko?

— Nada, é que... Eu estava falando com você ao telefone no exato momento em que você sofreu o acidente. – Eu não pude evitar que as lágrimas escorressem. – Eu te pedi para desligar porque era perigoso, mas você não me ouviu. De repente eu só escutei um barulho alto, terrível!... Você havia batido o carro, Félix...

... ... ...

... - Carneirinho! Carneirinho, como é bom ouvir sua voz!

— Félix? Sua voz está alterada. O que foi?

— V-Você me ligou na hora certa.

— O que está havendo? ...

— Você está em casa?

— Sim, eu vou ao restaurante agora... ... Por quê? Onde você está?

— Estou dirigindo.

— Ai, Félix, eu não sabia. Não é bom... ...Vou desligar.

— Não! Não, por favor, não desliga!

— Mas, Félix...

— Eu estou indo para aí, carneirinho.

—... Para minha casa?

— Sim!... Eu... Eu posso ficar aí?...

— Pode...

— Posso morar com você? ... ... Carneirinho! Carneirinho! Está ouvindo?

— O-Oi? O... Que você disse?

— Eu posso morar com você? Eu sei que você vai deixar.

— V-Você... Você quer morar comigo?

— Quero. É o que mais quero... ... Nós seremos felizes, seremos uma família, porque eu vou provar que posso sim cuidar de alguém e vou cuidar de você e dos seus filhos.

— Félix... I-Isso é lindo, mas... Eu não tô entendendo nada.

— Eu te explico quando chegar aí, Niko. Só me diz que me ama que eu já vou me sentir muito melhor.

— Eu te amo, Félix. Chega logo aqui, por favor, eu quero saber o que aconteceu. Eu tô te esperando...

— Eu também te amo, carneirinho. ... Vou fazer como você fez, vou pedir pra você repetir...

— Repetir?

— É, repete que me ama, vai.

— Tá bom... Eu te amo.

— De novo.

— Eu te amo.

— De novo... Por favor...

— Eu te amo. Eu te amo, te amo, te amo... ... ...

... ... ...

Enquanto eu contava o que tinha acontecido, Félix ficou calado olhando fixamente para o nada.

— Félix?...

Ele, repentinamente, pegou em meu rosto e pediu:

— Repete, carneirinho! Repete que me ama!

Aquele tom de voz... O desespero no seu olhar... Eu sabia! Ele havia recordado o que nós falamos momentos antes do acidente.

— Félix... – Peguei também em seu rosto do mesmo jeito, trazendo-o para mim, e repeti minhas próprias palavras. Eu nunca iria esquecê-las. – Eu te amo. Eu te amo, te amo, te amo! Posso repetir quantas vezes for preciso. Eu te amo, nunca se esqueça disso. Vem logo pra mim, vem.

Ele ficou me encarando com um rostinho de menino assustado. Eu continuei falando para que ele saísse daquele estado.

— Vem logo pra mim, Félix. Meu amor, vem. Volta pra mim. Ei! Olha pra mim! – Ele me olhou nos olhos. – Félix... Vem pra mim. Você precisa voltar... Por inteiro. Eu te quero de volta. Você, não outro, eu quero você... O meu Félix.

Ele continuou me olhando e nos encaramos por alguns segundos que pareciam não acabar mais, até que ele me chamou de novo daquele jeitinho que só ele sabia...

— Carneirinho.

— Félix...

Ele acariciou meu rosto e eu daria tudo para saber o que se passava naquela cabecinha confusa naquele instante. Aquele olhar perdido, mas que se concentrava no meu com uma força incrível.

— O que você quer fazer? – Perguntei.

— O que eu mais quero... É me lembrar de você. Lembrar completamente, entende?

— Você quer se lembrar dos momentos que passamos juntos? É isso?

— É.

Suspirei e pensei: eu não tinha como fazê-lo lembrar, mas eu tinha como fazê-lo ter algo para recordar.

— E se... Ao invés de procurarmos as memórias do passado... Nós fizéssemos novas memórias, para o futuro?

— Como?

— Fazendo um momento ser inesquecível. – Peguei na mão dele e tive certeza de que ele sabia sobre o que eu estava falando. – Você quer? Quer fazer uma memória comigo?

...

...

Eu sabia do que ele estava falando. Eu sentia medo, ansiedade, mas acima de tudo sentia uma paixão avassaladora pelo Niko. Eu queria muito ter algo para recordar, algo para nunca mais esquecer. E eu tinha certeza que ele podia me proporcionar isso. As questões que eu ainda tinha poderiam ficar para depois. Agora era hora de tornar um simples momento em um momento memorável.

Nessa hora eu estava segurando no braço dele, sentado de frente para ele. Como se eu estivesse sendo guiado por uma vontade oculta em meu ser, eu fui subindo a mão pelo seu braço, vendo-o se arrepiar com o meu toque. Subi com os olhos por seu corpo. Vi seu peito subir e descer num suspiro profundo. Eu ainda não havia me dado conta do quão perto nós estávamos um do outro até que senti sua respiração quente em meu rosto. Levantei mais os olhos e vi aqueles lábios rosados maravilhosos que, em silêncio, me pediam beijos. O silêncio foi quebrado quando ele me repetiu a pergunta:

— Quer tornar isso memorável?

— Quero.

Com minha afirmação, ele não teve dúvidas. Nem eu. Ele segurou firme em minha mão, levantou e me levou junto com ele. Eu me deixava ser levado para onde quer que ele quisesse.

Ao chegarmos ao quarto, ele fechou a porta e voltou para junto de mim. Como que necessitando de uma última confirmação minha, ele repetiu:

— Quer mesmo deixar esse momento inesquecível, Félix?

— Quero, carneirinho.

— Você... Você se sente preparado?...

— Apenas faça. – Interrompi-o, pois não havia mais nada a se discutir. Nós dois nos queríamos. E mesmo com todas as questões e sentimentos embaralhados que pairavam em minha mente, eu queria mesmo me entregar a ele mais que tudo. Só ele me fazia sentir pleno.

...

...

Com a sua confirmação eu nada mais tinha a fazer senão fazê-lo meu homem de novo.

Nossas bocas foram se aproximando e nossos corpos deitando devagar. Nossos lábios se juntaram e então nossas línguas começaram a dançar uma dança de amor.

Em seguida era a vez de a pele compartilhar o calor daquele momento. Levantamos da cama apenas para que a roupa pudesse sair e somente nossos corpos entrassem em sintonia.

Era o reviver da nossa primeira vez. Era a nossa primeira vez outra vez.

...