– A primeira maior besteira foi não ter te contado que a inseminação deu certo, um dos embriões vingou, demorou pra aparecer, mas funcionou! Então veio a Duda!

Marina ficou atônita com essa revelação e por um minuto não soube o que falar.

– Ana, eu estou um pouco zonza, não ouvi direito. Você disse que a Duda...

– É nossa filha! A Duda é nossa filha! Desculpa falar assim, não sabia muito bem como era melhor te falar isso...

– Como era melhor me falar isso? – Perguntou Marina indignada – Isso é o tipo de coisa que se fala na hora que se descobre e não três anos depois. Era simples, você podia ter me ligado, mandado um email, sms, qualquer coisa! Podia ter atendido minhas ligações, custava dizer “Oi, Marina! Tudo bem no Brasil? Então, tô grávida de um filho seu!” – Marina demonstrava estar furiosa, andava de um lado para o outro com as mãos na cabeça.

– Marina, eu não estou te pedindo nada. Na época fiquei com medo da sua reação, quando você resolveu vir pro Brasil imaginei que vocês estivesse deixando pra trás todos os nossos sonhos, inclusive o sonho de termos um filho.

– Pelo amor de Deus! Eu não deixei nada pra trás, eu só não quis continuar em Nova Iorque. Eu não imaginava que você poderia ficar grávida, o médico disse que não tinha dado certo, eu estava lá com você. Eu jamais deixaria um filho para trás! Você não podia ter feito isso! – Marina falou um pouco exaltada.

– Agora eu sei disso, Marina! Mas eu tive medo, fui irracional e agora estou aqui tentando arrumar as coisas. – Ana falou demonstrando arrependimento.

– Eu só não consigo entender o porquê de você não ter confiado em mim, nós sempre conversamos tanto, prometemos lealdade uma à outra, quando o nosso relacionamento acabou pensei que tivesse ficado a amizade. – Marina falou agora mais calma.

– Além de desculpas e não sei mais o que dizer.

Marina e Ana choravam juntas, naquele momento nada era mais eloquente do que o choro e o silêncio. Marina pensou no tempo que perdeu com a sua filha, da primeira palavra que ela não ouviu, dos primeiros passos que ela não registrou, de tudo que deixou de viver com Duda. Ana pensou em tudo que teve de passar sozinha, sem ter Marina para apoiá-la. Depois de um tempo se abraçaram e naquele abraço trocaram todos os sentimentos que não poderiam ser verbalizados. As duas deitaram no tapete do estúdio e Marina envolveu Ana em seus braços, queria demonstrar que agora estaria ao seu lado, que poderiam juntas começar a ajeitar as coisas. Adormeceram naquela posição.

Vanessa foi a primeira a ver a cena e bufou instantaneamente, foi para o jardim respirar ar fresco, a proximidade de Ana e Marina a incomodava profundamente. Não demorou muito para que Clara chegasse, Vanessa não perdeu a oportunidade de demonstrar seu mal humor.

– Bom dia, Vanessa.

– Você fala que é bom agora, quando você vir a cena que acabei de ver, rapidinho vai perceber que o dia está péssimo! Dia difícil pras inimigas, Clarinha!

Clara não deu muita importância, adentrou ao estúdio e entoou um sonoro bom dia, não percebeu de imediato que a fotógrafa tinha companhia e se arrependeu quando as duas mulheres acordaram e olharam para ela. Clara ficou sem graça, pediu desculpas e rapidamente saiu do estúdio. Quando viu Clara no jardim e sua cara de decepção, Vanessa disse:

– Te disse que o dia estava ruim.

– Mas, Vanessa, elas ficaram? – Clara disse um pouco atordoada.

– Desses detalhes eu não sei, né, Clara?! Mas ouvi muitas risadas ontem.

– A Marina não faria isso...

– Não faria por quê? Marina é solteira, livre, desimpedida.

–Mesmo assim! Eu sei que a Marina não faria isso! – Nesse momento a fotógrafa surpreendeu as duas. Ana tinha ido embora e elas combinaram de conversar melhor no dia seguinte.

– Posso saber o que eu não faria? – Vanessa não perdeu tempo e falou:

– Poxa, Marina! Um quarto enorme e você faz questão de curtir a noite com a modelete no meio do estúdio!? Francamente! Eu vou entrar e começar a trabalhar antes que eu perca mais horas preciosas do meu dia.

Nesse momento Clara e Marina estavam lado a lado, a fotógrafa percebeu que Clara estava chateada, então tornou a perguntar:

– Você disse pra Vanessa que eu não faria alguma coisa, ainda não me disse o que era.

– Sabe, Marina, é incrível como as coisas mudam tão rapidamente, não tem muito tempo você estava se declarando pra mim e hoje te surpreendo dormindo abraçada com outra mulher. – Clara falou visivelmente magoada.

– Clara, não é bem assim. Não é como se eu tivesse tido um caso com a Ana. Nós temos uma história, sobretudo de amizade. Ontem descobri que essa história rendeu um fruto muito precioso – Marina disse emocionada.

– Você não precisa me dar satisfação da sua vida. Desculpa! Eu só não consigo evitar o ciúme que sinto dela.

– Você disse que sente ciúme? – Marina agora esboçava alegria na voz.

– Disse, Marina! Disse e repito: sinto ciúme quando vejo você com a Ana.

– Clara, não tem motivo! A Ana é minha amiga e você é meu am..., quero dizer que o amor que sinto por vocês é diferente. Mas não quero entrar nesse mérito, já esclarecemos as coisas e eu vou respeitar seu casamento com o Cadu.

– Não tem mais casamento, Marina. Acabou. – Clara disse num misto de tristeza e alegria.

– Como...como assim? Não tem mais casamento como? – A fotógrafa se surpreendeu com a revelação.

– Eu e Cadu resolvemos nos separar, insistir no casamento era um erro. Eu mudei, ele mudou. Estamos melhor assim. Estou tentando te falar isso desde ontem.

– E o Ivan? Como ele reagiu a essa novidade? – Perguntou preocupada a fotógrafa.

– O Ivan é um menino incrível, está sendo super paciente e compreensivo. Cadu ainda está lá em casa, combinamos de levar todo o processo de separação com calma, para afetar o mínimo possível o nosso filho.

– Estão certos! O Ivan em primeiro lugar! Nossa, hoje é o dia das revelações! É tanta novidade que preciso de um tempo na piscina pra colocar as ideias em ordem. Me acompanha, Clarinha?

– Não posso, tenho trabalho pra fazer e minha chefe é brava. – Clara disse rindo.

– Não acredito nisso! Ela não pode ser tão careta assim! – Disse rindo, quando Marina já estava se encaminhado pra piscina Clara segurou seu braço e disse:

– Marina, ainda precisamos conversar, precisamos ajustar as coisas entre a gente.

– Diante das novidades precisamos mesmo!

As duas falaram juntas:

– Janta comigo?

Elas riram e combinaram que Marina buscaria Clara em casa mais tarde. A assistente estava muito feliz, mas ainda temerosa em relação ao impacto que Ana tinha na vida de Marina. A fotógrafa estava tentando assimilar todas as novidades: Duda, Clara, Ana, estava feliz e meio perdida no meio desse turbilhão.