Marina estava com a cabeça fervilhando, ficou surpresa com todas as novidades que a vida lhe reservara. Não sabia como deveria agir diante daquele novo universo, se a sua situação com Clara era delicada, mais delicada ainda era a história de Duda. Como ela deveria se comportar? Como se aproximaria da filha? Como seria sua relação com Clara? Mergulhada em tantas indagações resolveu curtir a tarde na piscina, quem sabe assim conseguiria colocar as ideias em ordem.

Assim o dia passou: Clara, Vanessa e Flávia trabalhando no estúdio e Marina tentando achar paz no meio do turbilhão em que se encontrava. Antes de ir embora Clara se encaminhou até a piscina para se despedir da fotógrafa, mas desistiu no meio do caminho, pois Marina estava tão absorta em seus pensamentos que a assistente não teve coragem de interrompê-la, mas não perdeu a oportunidade de observar a fotógrafa por alguns instantes.

Depois de terminar seus afazeres no estúdio Vanessa foi à procura de Marina, estranhou a ausência da fotógrafa durante toda a tarde, sabia que havia algo acontecendo na vida da amiga. Vanessa se sentou na espreguiçadeira ao lado de Marina e mirou o pôr do sol, tal como a fotógrafa fazia. A ruiva quebrou o silêncio e disse:

– Que carinha contemplativa é essa, Marina? Anda, desembucha! Te conheço.

– Ai, Vanessinha! Se eu contar você não acredita!

– Tenta! Você me pegou de bom humor, há uma grande chance de eu acreditar! – Vanessa disse em tom brincalhão.

– Nem sei por onde começo...

– Vou arriscar um palpite: Ana e Clara.

– Na mosca! Quer dizer, em parte! A questão da Clarinha você já deve ter ideia, mas sobre a Ana....quando eu te disser você vai cair pra trás!

– Ai, Marina! Detesto suspense! Fala logo! – Disse uma Vanessa impaciente.

– Lembra quando eu e a Ana nos mudamos de Londres pra Nova Iorque?

– Claro que lembro! Você estava chata! Enfeitiçada pela modelete.

– Ai, Van! Então, lembra quando te disse que queríamos um filho, que tentaríamos a inseminação, daí tentamos e não deu certo. Resolvi vir pro Brasil, Ana ficou e eu vim.

– Tá, Marina! Não tem nenhuma novidade aí!

– Pois é! Pra mim também não tinha, até ontem...

– Ai, Marina! Qual a novidade? – Vanessa olhou assustada para Marina, temia que a verdade fosse a que ela estava pensando.

– Van, a Duda!

– Gente...

– A Duda é minha filha!

– Meu Deus, Marina! Bem que eu senti um clima estranho, mas não botei fé! – Falou Vanessa estupefata.

– Pois é! E isso está martelando na minha cabeça o dia todo! Como eu faço pra me aproximar da minha filha? Como eu lido com isso? E a Clarinha nisso tudo... – Marina falava meio afobada.

– Ei, calma! Respira. Vamos por partes. Deixa eu te perguntar uma coisa: a Ana volta quando pra Nova Iorque?

– E ainda tem essa, Van! Não sei! Eu fiquei de conversar com a Ana amanhã, hoje minha conversa é com a Clara!

– Então está explicado o sumiço da senhorita: você está encalacrada com duas mulheres. Como sempre, né, Marina?!

– Não fala assim, Van! Você sabe que isso não é verdade. Poxa! Não se trata de duas mulheres, se trata da minha filha e da Clarinha.

– E a Ana?

– O que tem a Ana?

– Ah, Marina! A mulher aparece três anos depois com uma filha sua nos braços e você acha o que? Que ela está querendo tirar foto pro álbum de família? A julgar pelas cenas que vi ela quer muito mais do que isso.

– Será, Van? Acho que não! O carinho que temos uma pela outra sempre vai existir, você sabe que temos uma história, mas a Ana não confundiria as coisas, acho que ela quer mesmo resolver essa questão da nossa filha. E tem outra, você sabe quem é a dona dos meus suspiros... – Marina disse a última frase de olhos fechados, mentalizando a imagem de Clara.

– Rá Rá – Vanessa riu irônica. – Sempre a Clarinha! Mas vamos ver se a Ana se contenta com essa amizade aí! Ainda mais com um filho na manga...cuidado com isso, hein, Marina!

– Eu sou grandinha, Vanessa! Sei me cuidar! Bom, vou me arrumar porque daqui a pouco tenho que buscar a Clara.

– Lá vai ela se meter com a mulher casada – disse Vanessa num tom provocativo.

– SE-PA-RA-DA! ERA casada, não é mais. – disse Marina sorrindo.

– Que babado, Marina! Mas ela separou mesmo? – Perguntou uma Vanessa surpresa e desconfiada.

– Ela que disse! Ainda estão morando juntos e resolvendo os detalhes por causa do Ivan...- Marina dizia quando Vanessa a interrompeu.

– Marina, Marina! E você caiu nessa conversinha? Essa é a história que homem casado conta pra amante: “eu estou me separando!”. Ela está te cozinhando, como sempre fez, aliás. – Disse em tom irônico.

– Ai, Vanessa! Que saco! Eu não preciso que você me deixe mais encanada, eu preciso que você me deseje sorte, só isso!

– Posso até desejar, mas a grande sorte que você teve jogou fora, se você tivesse ficado comigo pra sempre, como eu queria, não teria esse monte de problema pra resolver agora! – Vanessa disse aos risos e Marina fez uma careta para ela e subiu pra se arrumar.

Marina entrou em seu quarto, se despiu e foi tomar um banho. Deixou que a água do chuveiro caísse sobre sua cabeça como quem deseja lavar a alma. Naquele momento pensou em Clara, em tudo que a morena representava para ela, em como desejou que ficassem juntas, nunca quis que a morena fosse infeliz em seu casamento, não torceu pela separação dos dois, na verdade Marina tinha perdido a esperança de que isso pudesse acontecer um dia. O que sentia em relação à Clara não era lógico, não tinha explicação, mas sentia naquela mulher a plenitude que sempre procurou.

Quando Marina se apaixonou por Clara sempre imaginou o momento em que a morena resolvesse dar uma chance a ela, de alguma maneira Marina sentia que a relação das duas seria algo inevitável, o fato de não estarem juntas era apenas um desvio de percurso que deveria ser corrigido. Mas será que viveriam isso agora? As palavras de Vanessa pesaram na cabeça da fotógrafa, será que Clara abriria mão de sua vida ao lado de Cadu? Não sabia se para a morena ela era uma curiosidade ou uma possibilidade real de relacionamento.

Enquanto isso no Leblon Clara se arrumava e pensava em tudo o que gostaria de dizer para a fotógrafa, depois de ter conversado com Cadu sentia mais liberdade para expressar seus sentimentos por Marina, sabia que se sentia atraída pela fotógrafa, que ela despertava sensações com as quais Clara ainda não sabia lidar, nunca se deu ao direito de viver isso plenamente, agora seria diferente, pelo menos no que dependesse dela. A morena sorriu com esse pensamento e percebeu seu coração acelerar quando olhou para o relógio e notou que estava quase na hora de encontrar-se com Marina.

Marina mandou uma mensagem para Clara avisando que já estava à sua espera na porta de seu prédio, não demorou muito para que finalmente se encontrassem, elas estavam lindas, trocaram um olhar cheio de carinho e expectativa, as duas ansiavam muito por aquela conversa franca, Marina quebrou o silêncio e disse:

– Você está linda, aliás, você é linda. – A fotógrafa disse com sua voz naturalmente sedutora. Clara sorriu tímida e respondeu:

– Imagina! Você que sempre tem esse olhar tão generoso comigo. – Se encararam por alguns segundos até que Marina finalmente disse:

– Vamos?

Entraram no carro e seguiram para o restaurante que Marina havia reservado. Durante o trajeto falaram pouco, mas tudo que não foi dito em palavras ficou nítido pela troca de olhares e de gestos carinhosos. As duas tinham muito a falar, mas nenhuma delas queria se precipitar e colocar tudo a perder, sabiam que a situação era delicada. Chegaram ao restaurante e se acomodaram numa mesa reservada que tinha uma vista privilegiada para o mar, a iluminação do lugar era indireta, aquilo deixava o ambiente com um clima mais aconchegante e intimista. Clara estava encantada com o lugar.

– Nossa! Como esse lugar é lindo, Marina!

– Fico feliz que você tenha gostado, Clarinha! Os últimos dias foram tão atribulados, achei que merecíamos uma noite mais tranquila.

–Tranquilidade! Paz! É tudo o que preciso agora! - disse Clara de olhos fechados.


– Está difícil em casa, Clarinha? - perguntou preocupada Marina.

– Toda mudança é difícil. Ainda estou tentando me entender. A conversa que tivemos no outro dia me deu uma sacudida.

– Não era a minha intenção te deixar desconfortável, foi mais um desabafo! Me desculpa!

– Não é pra você se desculpar, foi bom pra mim! Acho que estava tentando me esconder do inevitável, e com isso estava causando sofrimento a todos ao meu redor. O Cadu não merece isso! Nem o meu filho! Muito menos você...- disse a última parte com o olhar fixo em Marina.

– Clarinha, não se cobre tanto. Sofrer faz parte da vida, aprendemos muito com o sofrimento, não é verdade?

– Verdade! Eu, por exemplo, reaprendi a tomar as rédeas da minha vida. Na verdade ainda estou aprendendo - Clara disse com um sorriso no canto da boca.

– Eu espero que você seja muito feliz nessa empreitada. - disse Marina com ternura, e emendou: - vamos fazer os pedidos?

As mulheres fizeram seus pedidos e continuaram a conversar sobre amenidades, falaram de Ivan, do humor característico de Vanessa, do estúdio, dos últimos ensaios e chegaram onde Clara queria: Ana.

– Muito bonita a Ana. Vocês pareciam bem íntimas... - Clara disse revelando sua curiosidade.

– Somos muito amigas. Tenho muito carinho por ela. - Marina não quis diminuir a importância de Ana em sua vida, ainda não sabia como falar com Clara sobre Duda, mas quis deixar claro que o sentimento que nutria por Ana era de amizade.

– Nunca tinha ouvido você falar nela. É uma daquelas amigas de Londres que foram mais do que amigas? - Clara disse demonstrando um leve ciúme. Marina riu.

– É mais ou menos isso, nos conhecemos em Londres, ficamos juntas por um tempo. Mudados para Nova Iorque e quando eu decidi vir para o Brasil, a Ana quis ficar, nos separamos sem briga, sem culpa. Sempre nos entendemos bem, mas depois que cheguei aqui não tive mais notícias dela, até o dia em que ela apareceu no estúdio. - Marina deixou todos os detalhes da história das duas de fora, contou o básico.

– Nossa! E aí?

– Aí o que?

– Vocês namoraram, terminaram porque decidiram ficar em países diferentes e agora ela está de volta. - Clara não conseguiu se controlar e não pode evitar falar do dia em que viu as duas dormindo juntas - e já voltou direto pros seus braços, eu vi naquele dia! - Clara disse com certo pesar.

– Peraí! Não aconteceu desse jeito aí como você está pensando. Naquele que você nos viu acabamos dormindo de tão cansadas, você estava com a gente antes, estávamos numa conversa animada...

– Marina, eu não quero te controlar! Nem posso! Eu só quero entender, quero saber se na sua vida ainda há espaço para mim, para nós duas. – Clara proferiu aquelas palavras com sinceridade, não pensou que conseguiria ser tão explícita, mas o medo de perder Marina superou qualquer outro receio que ela tivesse. Marina ficou comovida por aquelas palavras, ficou sem reação por alguns segundos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.