Capítulo 2

Ana ficou visivelmente preocupada com a fala da filha e logo tratou de mudar de assunto, Marina ficou com uma expressão confusa vendo o desconforto de Ana ao tocar no assunto. Vanessa estava só observando a dinâmica da mesa, considerou o tempo que Ana ficou sem dar notícias e aparecer na mídia, a história de Marina e Ana como casal, percebeu como Duda tinha traços físicos que lhe eram familiares e tomou um susto com a conclusão a que chegou. Disse mentalmente “Não é possível. A Marina tinha dito que não tinha dado certo! A Ana não faria isso....ou faria?!”. Aquele pensamento fez Vanessa engasgar com o suco que estava tomando e pela primeira vez Clara se manifestou:

– Êta, Vanessinha! Bota os braços pro alto! - Vanessa respondeu com seu tom irônico:

– Eu tenho que colocar meus joelhos no chão, isso sim! Só Jesus na causa! - Marina a olhou com uma expressão interrogativa, as outras mulheres também não entenderam a fala de Vanessa, mas a atenção foi desviada para Duda quando ouviram a voz da menina:

– Mamãe, posso ir na piscina?

– Não, filha! – Disse Ana, ao que Marina prontamente respondeu:

– Pode sim, Duda! Pode sempre que quiser! - Ana olhou para Marina a repreendendo, então a fotógrafa logo consertou - Sempre que quiser e sua mãe deixar! - Duda ficou feliz com a resposta e logo emendou:

– Marina, você quer ser minha amiga?

– Mas eu pensei que já fôssemos amigas! Você é amiga mais fofa e linda que eu tenho, Duda - respondeu Marina achando graça da menina, e logo Vanessa se manifestou:

– Nossa, Marina! Estou ao seu lado por todos esses anos e já perdi meu título?! Acho bom a gente trabalhar, viu?! Antes que eu seja substituída de vez pela Duda!

Nesse clima de descontração as mulheres terminaram de tomar o café. Marina e Duda se deram bem logo de primeira, o que deixou Ana muito feliz, seu reencontro com Marina estava superando as expectativas, no entanto, a modelo, que não era boba, percebeu que existia uma certa tensão entre Marina e sua assistente Clara, anotou mentalmente de sondar a relação das duas. Não demorou muito a babá de Duda passou no estúdio e levou a criança com ela, mas a menina só foi embora sem chorar depois que sua mãe prometeu que ela voltaria para passar um dia inteiro na piscina com a fotógrafa.

Logo começou o ensaio, seria uma campanha para uma marca de lingerie, mas a proposta era que as fotos fossem mais carregadas de romantismo do que de sensualidade. Ana era uma modelo experiente, sabia se posicionar e, também, ficava muito a vontade sendo clicada por Marina, havia cumplicidade entre as duas, sem contar que Ana era linda. Todo esse clima não passou despercebido por Clara, a assistente acompanhou de longe toda a interação das duas, se amaldiçoou por não ter assumido antes seu amor por Marina, Clara queria ir até a fotógrafa e lhe beijar, mostrar para a modelo que Marina era dela, logo foi despertada de seus pensamentos por Vanessa, que disse:

– Agora não adianta ficar com esse olho comprido pra cima da Marina, Clarinha! A fila da Marina corre! Te disse....

Clara estava tão concentrada em Marina que nem se deu ao trabalho de responder Vanessa, mas uma coisa era fato: não deixaria que Ana atrapalhasse sua história com Marina, elas já haviam passado por muitos desafios e Ana seria apenas mais um. Clara podia ser indecisa, mas era determinada e agora estava determinada a ficar com a fotógrafa.

Assim que percebeu o momento de mudança de cenário e observou que a modelo havia se afastado para trocar o figurino, Clara aproveitou para se aproximar de Marina, já que as duas mal tinham se falado durante o café da manhã. A assistente levou um copo de água para a fotógrafa e disse:

– Toma. Você precisa se hidratar! -Ao se aproximar de Marina, Clara reparou que a fotógrafa estava distraída observando as fotos que havia feito de Ana.

– Não precisa se preocupar, Clara! Mas obrigada. - Clara percebeu que a fotógrafa estava fria com ela e se incomodou profundamente com o tom que Marina usou.

– Marina, o que aconteceu? Você está tão fria comigo!

– Clara, você sabe como eu me sinto em relação a você! Já conversamos sobre isso! Nós podemos trabalhar juntas, mas não espere que eu vá me sentar com você pra tomar um café e conversar sobre como foi o jantar ontem com o seu MARIDO!

– Marina, eu queria falar exatamente sobre isso com você!

– Sobre o jantar com o seu marido? Ah, Clara...

– Calma, Marina! Eu quero te dizer que não... – Antes que Clara pudesse concluir a frase a modelo voltou e interrompeu a conversa delas.

– Então, Mari! Voltei!- Marina se voltou para Clara e disse:

– Clara, eu preciso terminar o ensaio! Depois a gente conversa certo, tá?!

Sem outra alternativa Clara voltou para o seu canto, se antes já não gostava de Ana, agora gostaria de nunca tê-la conhecido.Pela primeira vez a assistente se sentiu ameaçada por alguém, tudo bem que Vanessa sempre se insinuava para Marina, mas isso nunca incomodou Clara, pois Marina nunca fez segredo de que seu tempo com Vanessa já tinha passado, mas em relação a Ana não tinha tanta certeza, não depois de tudo que a fotógrafa havia lhe dito no dia anterior. Clara precisava agir rápido.

O ensaio terminou e Ana foi para dentro se trocar, Clara aproveitou que Marina estava sozinha e lhe fez um convite:

– Marina, você vai fazer alguma coisa agora?

– Não, Clarinha! Por quê? – Clara ficou feliz em ouvir seu apelido, finalmente Marina se mostrava mais receptiva.

– Hoje o Ivan vai ficar um pouco na Leninha, pensei que talvez nós pudéssemos tomar um vinho e continuar a conversa de mais cedo – Clara disse sorrindo. Marina nunca seria indiferente àquela voz, àquele sorriso iluminado característico de Clara, então respondeu:

– Nossa! E eu achando que hoje meu dia terminaria numa cama sozinha comendo pizza e vendo filme repetido na TV! – Disse aos risos. Logo que terminou de falar ouviu a voz de Ana.

– Mas se depender de mim não termina nem sozinha e nem vendo filme repetido na TV! – Ana disse e Clara revirou os olhos, não podia acreditar que Ana a atrapalharia outra vez no mesmo dia!

Marina ficou sem reação, não sabia como agir, pois não queria perder a chance de estar a sós com Clara, mas também não queria despachar Ana, tinha muito carinho pela modelo e também precisa conversar com ela, queria saber porque ficou tanto tempo sem notícias e queria entender como Duda chegou em sua vida. Sem ter outra saída Marina convidou Ana para tomar um vinho com ela e Clara, afinal, até onde entendeu no dia anterior, Clara só queria sua amizade, Ana não poderia atrapalhar nada no final das contas. Por educação Clara disse que não se incomodava com a presença da modelo então as três se sentaram no estúdio para tomar um vinho.

Disse Ana:

– Então, Mari, me conta o que aconteceu depois que você me abandonou em Nova Iorque e veio pro Brasil – A modelo disse em tom brincalhão e Marina respondeu:

– Calma lá! Eu não te abandonei, você não quis vir comigo! – Marina respondeu no mesmo tom brincalhão

– Eu sei, eu sei! E quer saber? Foi a segunda maior besteira que eu fiz! – Disse num tom melancólico. Clara estava incomodada com aquela conversa e resolveu intervir.

– Mas a Marina disse que você fez um grande sucesso lá fora, Ana. Não está feliz com a carreira?

– Com a carreira estou, Clara. Não posso me queixar do meu trabalho, mas paguei um preço alto – Disse isso olhando diretamente para a fotógrafa, Clara percebeu o clima e tratou de falar:

– Uma graça sua filha! – E Marina emendou:

– Uma graça mesmo! A Clarinha também tem um filho: Ivan! Outra graça.

Então ficaram conversando sobre as peripécias de seus filhos e sobre amenidades, Ana contava sobre os bastidores do mundo da moda enquanto Marina e Clara contavam sobre os causos curiosos que aconteciam com as modelos nas sessões fotográficas. A conversa foi leve e as três se divertiram, mas Clara notou que sempre que Ana podia tocava na fotógrafa, ficava próxima a ela e tudo isso a deixou com muito ciúme, ela precisou se controlar, pois sabia que não podia exigir mais nada de Marina.Clara ficou com elas o quanto pode, se esforçou para sair depois de Ana e conseguir pelo menos 10 minutos a sós com Marina, mas não conseguiu. Precisou voltar pra casa e se despediu delas. Marina e Ana estavam num papo animado, sempre tiveram uma boa relação e sentiram falta de conversar uma com a outra, já estavam na terceira garrafa de vinho, Marina perguntou:

– Por quê você sumiu? Quando eu cheguei no Rio te liguei, mandei email e nada...

– Ah, Marina! Se eu pudesse voltar atrás! Aconteceu tanta coisa!

– Ficou chateada comigo?

– Fiquei! E fiquei mais chateada ainda depois, mas isso foi um pouco irracional! Rsrsrs

– Ficou mais chateada depois? Como assim depois?

– Esse depois foi a primeira maior besteira que eu fiz!

– Espera um pouco, Ana! Pode ser o alto teor alcoólico no meu sangue, mas essa conversa está fazendo pouco sentido pra mim. Do que você está falando?

– Marina, antes de você decidir vir pro Brasil nós éramos felizes, tínhamos planos, queríamos um filho, lembra?

– Ah, Ana! Eu lembro de todos os nossos planos! Você foi muito importante pra mim, quando a inseminação não deu certo foi tão ruim, mas foi ali que percebi que nós seríamos antes de tudo amigas, seguramos uma barra depois daquilo! Mas acabou sendo bom, né?! Imagina criar um filho na ponte aérea! – Disse a fotógrafa de forma descontraída, mas reparou que Ana estava séria e ouviu atentamente o que a modelo disse em seguida:

– Assim que você veio para o Brasil mergulhei de cabeça no trabalho, peguei alguns bons contratos, mas não pude cumprir todos, precisei parar por um período.

– Nossa, Ana! Eu não soube de nada aqui, o que aconteceu de tão grave?

– Na verdade não foi exatamente grave, mas foi uma surpresa e no começo eu não sabia muito bem como lidar com isso. Lembra que eu te disse que a segunda maior besteira que eu fiz foi não ter vindo com você?

– Sim, você já disse, mas não disse qual foi a primeira.

– A primeira maior besteira foi não ter te contado que a inseminação deu certo, um dos embriões vingou, demorou pra aparecer, mas funcionou! Então veio a Duda!

Marina ficou atônita com essa revelação e por um minuto não soube o que falar.