Marina seguia com a sua rotina, tinha se conformado de que aquela era uma batalha perdida, já não tinha ânimo para empreender mais força e desejo para que aquele amor finalmente se materializasse. Por isso, deixou pra lá! Decidiu deixar que o mesmo acaso que a pôs frente a frente com Clara se encarregasse do seu futuro com a morena, seja como amigas ou, talvez, algo mais.

Mesmo decidida a não mais insistir, não pode evitar a tristeza, afinal se sentia frustrada por não ter vivido a história que havia planejado. A conquista para Marina nunca fora difícil, sempre soube seduzir e encantar quem lhe interessava, não estava acostumada a perder. Com Clara aprendeu que nem sempre se ganha, nem sempre a satisfação pessoal é a que mais importa. Marina aprendeu a ser generosa, pois percebeu que para ela era mais importante ver a morena feliz do que ao seu lado. Estava sentada no estúdio perdida em seus pensamentos até que ouve a voz de Vanessa:

- Está tão pensativa hoje! Que bicho te mordeu?

- O bicho do “amor não correspondido”, Vanessinha! E veja que ironia: eu que nunca tive vocação pra sofrer por mulher não consigo tirar a Clara da minha cabeça!

- Ai, que preguiça de você, Marina! Fica repetindo isso “Não consigo tirar a Clara da cabeça” como se fosse mantra! Eu hein! Você devia repetir “Eu vou tirar a Clara da cabeça”, isso sim! Aliás, agora que você recobrou a consciência a gente podia despachar a dona de casa pro Leblon de uma vez, não tem motivo pra ela continuar aqui!

- Que saco, Vanessa! Quantas vezes preciso repetir que a Clara vai continuar trabalhando aqui?! Vou dizer mais uma vez, e que seja a última: a Clara continua no estúdio, a menos que ELA não queira mais. Estamos entendidas?

- Okokok! Já entendi! Mas não concordo.... – Foram interrompidas pelo telefone, que Vanessa prontamente atendeu. Marina reparou que a ruiva estava ainda mais emburrada depois da ligação e quis saber o motivo, ao que Vanessa respondeu:

- Hoje não é o meu dia, viu!? Aquela modelete sem sal foi escalada pra campanha de amanhã. Argh!

- Que modelete, Vanessa?

- Aquela insuportável da Ana, que namorou com você! Inferno! Vou tomar um passe porque não é brincadeira!

Vanessa saiu do estúdio resmungando e Marina riu com a irritação da amiga, sabia que Vanessa tinha dificuldade para lidar com suas ex-namoradas. Ficou feliz em saber que iria fotografar Ana, lembrou-se dela e sorriu com as memórias que lhe vieram à cabeça, lembrou que o término delas foi iniciativa da fotógrafa que decidiu voltar para o Rio de Janeiro e não quis tentar uma relação à distância, uma vez que a modelo tinha fixado residência em Nova Iorque. De certa forma seria bom reencontrar Ana, ela sempre trouxe mais leveza à vida da fotógrafa, além do mais ela nunca tinha entendido porque a modelo não havia retornado suas ligações e seus emails, pois elas eram amigas acima de tudo, definitivamente seria bom rever Ana.

Se em Santa Teresa Marina estava resignada, no Leblon Clara estava contrariada, pois tinha resolvido se separar de Cadu naquela semana e estava tomando coragem para conversar com o marido, mas foi surpreendida pelo desabafo de Marina dizendo que estava desistindo de esperá-la. Clara estava desolada e ainda mais confusa, demorou para se posicionar e acabou perdendo sua chance com a fotógrafa.

Mesmo tendo sido surpreendida pela decisão de Marina, Clara não abriu mão do convívio com a fotógrafa e por isso não cogitou sair do estúdio. Clara se arrumou e tomou o rumo para Santa Teresa, pois mesmo que as coisas estivessem estranhas com a fotógrafa, não podia deixar seu serviço acumular.

Chegando ao estúdio Clara encontrou Marina sentada em sua mesa compenetrada em seu computador e Vanessa estava fazendo anotações na agenda. Cumprimentou as duas com um ‘Oi’ genérico e desviou seu olhar para Marina, que instantaneamente cruzou seu olhar com o de Clara, jamais ficaria indiferente àquela mulher. Marina pediu que Clara excepcionalmente não mexesse no arquivo e a ajudasse a recolher referências para a campanha do dia seguinte, Vanessa não pode deixar de implicar com Clara, esperou que Marina saísse do estúdio e falou só com a morena:

- É, Clarinha! Não está fácil pra gente! A concorrência só faz aumentar...

- Está falando do que, Vanessa?

- Estou falando desse empenho todo da Marina com o ensaio de amanhã!

- E desde quando isso é um problema, Vanessinha?! – Clara falou com certa ironia.

- Desde o momento em que a modelo do ensaio é a ex da Marina, e antes que você ache que é só mais uma te adianto que essa é especial, ela e Marina eram praticamente casadas, moravam juntas, tinham planos até de filhos. Terminaram quando a Marina quis voltar pro Rio e a Ana quis ficar em Nova Iorque. Ainda bem que você resolveu ficar com o maridão, Clara! Garota esperta! – Vanessa falou com ironia.

Quando Clara soube disso sentiu um aperto no peito, não sabia exatamente porque, mas tinha certeza que a vinda de Ana afetaria seu relacionamento com Marina, e ela não queria ficar longe da fotógrafa, ela precisa estar perto, só de pensar em Marina e Ana juntas Clara sentia seu estômago revirar. Foi quando Clara percebeu que não havia dúvidas, se deu conta que tinha que arrumar sua vida e reconquistar a fotógrafa, antes que fosse tarde demais.

Naquela mesma noite Clara conversou com Cadu sobre a separação, embora a conversa não tenha sido fácil, ele não se mostrou surpreso e não ofereceu resistência, mas pediu que o processo fosse devagar e cauteloso para preservar Ivan, ao que Clara concordou prontamente.

No dia seguinte Clara acordou animada para ir ao estúdio e começar a reconquistar a fotógrafa, se arrumou com cuidado e caprichou na produção. Chegando ao estúdio se surpreendeu com duas presenças desconhecidas: uma mulher, que parecia ser a tal modelo ex da Marina, e uma criança, uma menina linda que aparentava ter uns três anos.

Marina estava visivelmente feliz em rever Ana, e isso fez com que Clara demonstrasse uma certa preocupação com a presença da modelo. Marina fez as apresentações e todas foram tomar café na beira da piscina. Ana também estava feliz na presença da fotógrafa, as duas mostravam muita intimidade, e Vanessa mostrava irritação e o humor ácido que lhe é habitual.

As mulheres estavam conversando sobre trivialidades e Marina estava encantada com Duda, a criança que estava na companhia da modelo e que era sua filha. Ana se desculpou por ter levado a filha, mas explicou que a babá teve um contratempo, mas que chegaria antes da sessão de fotos para ficar com a menina. Marina não se incomodou, pelo contrário, estava feliz com Duda ali, e não cansava de fazer perguntas a menininha.

- Duda, você está gostando Rio de Janeiro?

- Estou gostando muito, acho que quero ficar aqui pra sempre! – A fala de Duda fez todas as mulheres sorrirem e Ana disse:

- Pra sempre é muito tempo, filha! – Marina emendou:

- Não sente saudade de Nova Iorque? Dos seus amiguinhos?

- Sinto! Mas a minha mamãe me disse que minha outra mamãe mora aqui e eu quero muito conhecê-la.

Ana ficou visivelmente preocupada com a fala da filha e logo tratou de mudar de assunto, Marina ficou com uma expressão confusa vendo o desconforto de Ana ao tocar no assunto. Vanessa estava só observando a dinâmica da mesa, considerou o tempo que Ana ficou sem dar notícias e aparecer na mídia, a história de Marina e Ana como casal, percebeu como Duda tinha traços físicos que lhe eram familiares e tomou um susto com a conclusão a que chegou. Disse mentalmente “Não é possível. A Marina tinha dito que não tinha dado certo! A Ana não faria isso....ou faria?!”