P.O.V. Edward.

Aquela figura irrompeu pelo salão. Ela largou o prato encima da mesa.

—Papai!

Ela correu pelo salão e se atirou nos braços deles.

—Ele não morreu. Ele ainda está vivo.

O Lorde Neville Hollingwood ainda estava vivo.

—Mamãe mandou você atrás de mim não mandou?

—Sim mandou. Ela temia que você causasse muita confusão.

—Ah, mas confusão é o nosso nome do meio.

Lorde Hollingwood riu.

—Com licença. Estamos feliz em saber que está vivo Milorde.

—Claro que estão.

—Eu vou sair pra tomar um pouco de ar.

Passaram-se alguns minutos até que ouvimos o grito.

—Lena!

Ela estava no chão ajoelhada e a senhorita Jane Bennett estava caída.

—Não! Não morre!

—O que aconteceu?

—Ela me atacou e eu a empurrei. Não queria que ela se machucasse, menos ainda que morresse. Agora ela morreu e eu to ferrada.

—Venha querida, vamos pra casa.

—Eu to ferrada. Que droga!

A jovem Lady Hollingwood estava em prantos, completamente desesperada.

—Falei pra você ficar com o cara! Sua imbecil!

—Vamos Lena, temos que conversar.

Lorde Hollingwood teve que praticamente carregar a filha até a carruagem. A jovem Lady só sabia chorar e a tinta preta escorria de sua face.

Então, a carruagem partiu.

P.O.V. Neville.

Eu fiz muita pesquisa sobre lobisomens e especialemente sobre a minha família. E descobri um fato importante.

—Eu to ferrada pai. Eu ativei a minha maldição.

—Não querida. Não ativou.

—O que?

—A bruxa que amaldiçoou os Hollingwood foi bem específica. Ela amaldiçoou os homens da família Hollingwood.

—Como assim?

—O nome da bruxa era Josephine. Ela era criada do meu avô. O seu bisavô a iludiu, disse que a amava, que se casaria com ela. A desvirtuou e a abandonou por uma jovem Lady. Lady Adriana Casagrande. Josephine ficou possessa. E para fechar com chave de ouro o seu bisavô Maximilian a denunciou e ela foi queimada na fogueira por bruxaria e antes de morrer ela condenou todos os homens da linhagem Hollingwood a se transformarem em bestas durante a lua cheia. Antes de morrer.

—Assim como a da Hollow, a maldição de Josephine foi empoderada pela energia de sua própria morte.

—Sim. Mas, como você é uma mulher, a maldição não recairá sob você.

Lena respirou aliviada.

—Graças á Deus.

A carruagem parou em frente á Mansão Hollingwood.

—Mas, e a pessoa do quadro?

—Um criado. Eu o contratei para posar no meu lugar, paguei o pintor, paguei o criado e depois que o retrato ficou pronto... eu os matei.

—Credo pai.

—Ninguém poderia saber.

—Eu entendo.

—Vá lavar o rosto. Sua maquiagem está escorrida.

—Vai se ferrar.

Ela me mostrou o dedo.

—Você realmente tem o gênio da sua mãe.

Eu disse dando risada.

—É o fogo das Carter.

Depois de se lavar, Lena tirou o vestido, os sapatos e foi tomar banho.

—Amanhã, vou fazer shampoo e creme para o cabelo.

—E você sabe fazer isso?

—Serva da natureza, amor. Mamãe me ensinou em caso de emergência. Eu sei até fazer sabonete, apesar de que... só a ideia de pegar em banha de porco me faz querer vomitar.

Depois do banho ela colocou a camisola de linho sozinha e foi se deitar.

Logo o dia raiou e eu ouvi algo que há muito não ouvia. O cantar de um galo.

—Cala a boca, galo idiota.

Reclamou Lena preguiçosamente em sua cama, afundando o rosto no travesseiro.

Eu desci para tomar café. Depois de compelir e me alimentar de uma servente era hora do café humano. O cheiro do sangue atraiu Lena que afundou os dentes no pescoço da serva e lhe alimentou com seu sangue. Em seguida a fez esquecer de tudo aquilo.

—Milorde, quem é a vossa amiga?

—Ela não é minha amiga. É minha filha.

—Sua filha milorde?

—Sim. Depois que eu parti, eu conheci a mãe dela, nós nos casamos e tivémos uma filha.

—Eu creio que a vossa filha vá precisar de vestimentas adequadas.

—Sim. Eu creio que sim.

Depois de tomar café da manhã, nós fomos á modista.

—Lorde Hollingwood!

—Eu preciso de vestes para a minha filha. Lena, essa é a madame Noir.

—Muito prazer, Madame Noir.

—Muito prazer Madamoseille Hollingwood.

A Madame Noir mostrou a Lena todos os seus modelos.

—Isso é que é uma crinolina? Maluco eu não uso essa coisa nem fu... ferrando. Dizem que essa gaiola atrai raios.

—Que tecidos lhe agradam Ma cherie?

—Eu não sei. Não conheço tecidos. Eu compro nas lojas de departamento. Que tecido a senhora recomenda?

Ela comprou chiffon, seda para fazer o forro, tule, rendas, camurça, musseline e assim vai. Azul, rosa, verde, roxo.

—Agora, os acessórios.

—Acessórios?

—Ui.

A Madame mostrou o espartilho de barbatana de baleia.

—Ai. Acho que vou sentir falta do sutiã.

Eu ri. Sabia o quanto as mulheres odiavam usar sutiã.

—Eu só espero que eu consiga respirar dentro desse negócio.

Depois das compras nós retornamos á Mansão.

—Tem que se preparar.

—Pra que?

—Para o chá da tarde na residência dos Dalton.

—Esse povo não tem mais o que fazer não né?

Ela sempre me fazia rir. Parecia tanto com a mãe dela.

—Não.

—Vamos esperar que eles não sirvam chá de Wolfsbane ou de verbena.

—Eles nem sabem que estas ervas existem.

—Deus abençoe.

Ela se recusou a comprar a crinolina de metal e a criada teve que lhe ajudar a se vestir.

P.O.V. Emily.

Eu sou serva desde que consigo me lembrar e nenhuma Lady é como Lady Hollingwood.

—Milady.

—Pode me chamar de Lena. Pelo menos quando estivermos só nós. Essa coisa de milady pra cá, milady pra lá. Tá me enchendo o saco.

—Perdão?

—Eu to cansada de ser milady. Qual é o seu nome?

—Emily, milady.

—Muito prazer Emily. Então, alguma ideia de como colocar tudo isso em mim?

Disse ela em tom de piada. Eu tive que me segurar para não rir.

—Pode rir. É pra você rir.

Eu tive que ajudá-la a se vestir. Quando comecei a apertar o espartilho, ela começou a apertar a barriga.

—Caramba! Vai com calma. Eu preciso respirar. Eu to ouvindo você mexer essa corda ai atrás e tá fazendo barulho de chicote.

Eu dei uma leve risada.

Ela realmente parecia não conhecer nenhum dos itens de vestimenta.

—Você tá usando um espartilho também?

—Sim, milady.

—Coitada.

—E o que faremos com esses seus belos cabelos negros?

—Eu não sei. Geralmente eu só faço um rabo de cavalo e pronto.

—Rabo de cavalo?

Ela demonstrou com as mãos, juntando o cabelo e colocando-o num penteado que imitava um rabo de cavalo.

O penteado que ela escolheu era muito alto e chamava bastante a atenção.

—De onde tirou este penteado milady?

—Imperatriz Sisi.

O cabelo ficou todinho cheio de cachos que caiam como uma cascata. Tive que usar esponjas para manter o cabelo no lugar e o cabelo dela cresceu sozinho, mas precisei colocar alguns apliques para deixá-los mais cheios e com o volume que ela desejava.

—Nossa! Ficou lindo. Obrigado Emily.

—Disponha milady.

Creio que essa foi a primeira vez que uma de minhas Ladies já me agradeceu por alguma coisa.

—Está pronta querida?

—Estou. E eu estava certa. Esse espartilho é pior do que o sutiã.

Lorde Hollingwood deu risada. Ela usava um vestido de musseline roxo e rosa.

—Até logo Emily. É uma pena que não pode vir com a gente.

Ela não falou em tom de deboche. Parecia realmente triste por eu não poder ir.

P.O.V. Neville.

Foram dez minutos de viajem e ela passou os dez minutos da viajem remexendo o espartilho.

—Tente parar de se mover.

—É fácil pra você falar pai. Não é você que está usando essa porcaria. Estamos chegando. Já ouço as Ladies e os Lordes. O veneno está rolando solto.

Assim que paramos eu desci primeiro e a ajudei a descer.

—Caramba! O povo gosta de ostentar.

Logo ela ficou quieta, parecia desconfortável e não apenas se tratando do espartilho.

—O que foi?

—Estão falando de ontem. Do que aconteceu com a senhorita Bennett.

—Não foi sua culpa.