P.O.V. Neville.

Eu sabia que ela estava magoada. Lena tinha só dezessete anos e depois do acidente com a senhorita Bennett aquilo a havia afetado profundamente.

Creio que essa seja a maldição da telepatia. As pessoas não controlam o que pensam já que pensam que ninguém ouve.

Lena nunca tinha tirado uma vida antes.

—Milorde.

—Olá Lorde Charles.

—Com sua permissão, gostaria de levar a vossa filha para caminhar.

—Se ela aceitar. Ela ainda está bastante abalada devido ao acidente com a senhorita Bennett.

—Sim. Uma tragédia de fato. Então, milady aceita caminhar comigo?

Ela fez que sim com a cabeça.

Então os dois saíram.

P.O.V. Charles Bingley.

Ela não falou nada. Deve estar tímida.

—Me permita dizer que está mais encantadora do que nunca. Eu peço perdão se pareço atirado, mas tenho que dizer o que sinto. Esta promoção torna por demais aparente a única coisa que eu ainda não realizei. O casamento, com uma bela mulher. Você é uma bela mulher, senhorita Hollingwood.

—Não respiro.

Eu me virei de costas.

—Ah, com certeza. Estou um pouco nervoso também.

Mas, quando voltei a olhar para ela, ela não estava mais lá.

—Lena?

Eu olhei para baixo e então vi a marca na água.

—Lena!

Vários outros cavalheiros vieram ao seu socorro. Inclusive o pai.

—O que houve?

—As pedras. É um milagre a moça não ter batido nelas.

Alguém se atirou no mar para salvar Lady Hollingwood. E nós vimos uma espécie de... onda.

—O que foi aquilo?

—Eu não faço ideia senhor.

O Lorde Hollingwood logo estava lá embaixo tirando a filha de dentro d'água.

—Saiam do caminho! Saiam do caminho! Pronto, peguei. Ela ainda não está respirando.

Lorde Hollingwood rudemente disse:

—Sai!

Ele arrancou o vestido da filha e cortou as cordas do seu espartilho. Fazendo com que ela voltasse a respirar.

—Eu jamais pensaria nisso.

—É porque nunca assistiu Piratas do Caribe e a Maldição do Pérola Negra.

Enquanto ela tossia e cuspia a água, ela riu.

Ela se sentou e falou:

—Santo Capitão Jack Sparrow.

—Você está bem querida?

—Estou. Eu não uso espartilho nunca mais. A Emily é mais forte do que parece.

—O que foi aquilo na água?

—Ahm, eu?

—Não. Houve uma onda.

—É. O mar tem ondas.

—Não. Não foi uma onda comum... foi..

—Foi a moeda.

—A moeda? Que moeda?

Ela tirou de dentro de suas vestes, do meio dos seios uma moeda com uma caveira.

—Jesus!

Lorde Hollingwood perguntou chocado:

—Sua mãe te deu isso?

—Foi.

—Á troco de que?

—Pra uma emergência. Isso é asteca, é ouro.

—Então... pode ser vendido por uma boa quantia.

—Você não sabe o que é isso, sabe?

—É ouro.

—Isso é asteca, é ouro sim. Uma das oitocentas e oitenta e duas peças idênticas que o povo da minha avó entregou numa arca de pedra ao próprio Cortez. Dinheiro banhado em sangue pago para impedir a matança imposta por ele e seu exército. Mas, a cobiça do desgraçado era insaciável, então com a ajuda dos deuses pagãos e até mesmo do Deus único cristão as bruxas lançaram sob o ouro uma terrível maldição. O pobre e tolo mortal que tirasse uma única peça daquela arca de pedra gelada, seria castigado por toda a eternidade.

—Um objeto amaldiçoado. Sua mãe não lhe deu isso para que vendesse, deu lhe para que o objeto servisse de fonte.

Lorde Hollingwood devolveu o medalhão para a filha.

—Mas, e a maldição?

—Eles nunca acreditam até ser tarde demais. No diário da minha tataravó Elizabeth, ela fala que um grupo de piratas encontrou a arca, com o ouro dentro e apesar de já terem ouvido falar da maldição... eles não acreditaram. Pegaram tudo. Gastaram, trocaram e desperdiçaram com comida, bebida e... prazer. Mas, logo ficou claro que... quanto mais eles gastavam, mais ficava evidente que a bebida não os satisfazia, a comida era como serragem em suas bocas e nem todo o prazer do mundo jamais saciaria sua luxúria. Eles agora eram homens amaldiçoados, eram movidos pela cobiça, mas então foram consumidos por ela. E para se livrarem da maldição só havia uma saída, todas as peças de ouro deveriam ser recuperadas e o sangue... restituído. Cada peça que se extraviou eles recuperaram e usaram o sangue de uma das sete famílias que amaldiçoou o ouro.

—Um sacrifício.

—Não. Sem desperdício. Apenas um corte na mão.

—Bom, maldições á parte porque nós não... vamos tomar chá?

—Claro. Cair dentro do mar dá uma fome.

Nós voltamos para dentro e minha irmã Caroline emprestou um vestido para Lady Hollingwood. Antes de beber o chá, ela sentiu o cheiro.

—Camomila.

—Então, Lady Hollingwood, quem é a vossa mãe?

—Marie Jeanne Hollingwood.

—Porque não há registro do casamento de seus pais em parte alguma?

—Eles queriam descrição.

—Como seu pai sobreviveu á doença?

—Foi um... milagre.

—A senhorita parece atrair muitos olhares masculinos. Como consegue?

—Eu sei lá. Não quero que eles olhem pra mim, eles só... olham.

—A história que contou sobre o colar. Realmente assustou-me.

—Que bom. A ideia era essa.

—Não acredita mesmo nestas besteiras de maldições, não é?

—Há mais entre o céu e o inferno do que você pode se quer imaginar.

—E por mera curiosidade, quais seriam as sete famílias que amaldiçoaram o ouro?

—E porque eu diria isso? Para iniciarem outro expurgo?

—Expurgo?

—Caça ás bruxas. Obrigado pelo vestido, senhorita Bingley. Assim que o meu secar eu lhe devolverei.

—Não se preocupe. Deve ter sido assustador, cair daquele penhasco.

—Na verdade não. Eu não vi nada. Estava inconsciente. O espartilho me impediu de respirar e cortou o fluxo de oxigênio que chega no meu cérebro, ai eu apaguei.

—Foi muita sorte que aqueles bravos cavalheiros estavam lá para salvá-la.

—Sim. Mas, eu não sou muito o tipo donzela em perigo.

Logo o chá acabou. E os convidados começaram a se despedir.

—Mas, e toda essa comida que ficou ai?

—Nós jogaremos fora.

—Tá brincando né?! Tanta gente lá fora passando fome e vocês vão jogar toda essa comida fora?! Será que eu não posso levar? Nós temos empregados, eles vão comer isso.

—Vai mesmo dar esta comida para seus criados?

Ela respondeu-me indignada:

—Vou. Sem desperdício. Se eles cozinham, tem direito de comer.

—Minha mãe perdeu a aposta. Ela não aguentou nem dez minutos.

—Eu sabia. Então, Lady Dalton... ser mãe não tão fácil como pensou que seria?

—Aqui. Mil libras. Eu admito a derrota.

—Obrigado, mas eu não fiz pelo dinheiro. Eu fiz para que você aprenda a dar valor ao trabalho das suas amas.

Lady Hollingwood pegou o saco de moedas e foi embora levando quase que a comida toda.

P.O.V. Emily.

Eles finalmente voltaram do chá e Lady Hollingwood me provou que não era como nenhuma das minhas outras senhoras.

—Oi Emily. Ficou entediada sem mim?

—Havia muito o que fazer. Roupas para engomar, cômodos para limpar.

—Ótimo. Pode chamar os outros empregados, por favor?

—Sim milady. Todos eles?

—Todos eles.

Logo ficamos todos apreensivos, com medo de sermos demitidos, mas não foi bem isso o que aconteceu.

—Como recompensa pelos serviços prestados. Eu trouxe presentes.

Ela colocou a mesa e haviam doces e bolos e queijos.

—Pra vocês. Infelizmente não deu pra trazer vinho, mas... o resto.

—Milady...

—Tão esperando o que? Sentem ai e comam!

Ela nos havia trazido comida da festa. Colocou a mesa e nos deixou comer.

—Milady é muito generosa.

—Eu sei imagino como deve ser exaustivo trabalhar assim desse jeito. Era o mínimo que eu podia fazer. Aproveitem. Bom, eu vou subir e tomar banho.

—Eu...

—Senta ai e come com calma Emily. Eu me viro. Consigo preparar um banho.

P.O.V. Lena.

Eu comecei a encher os baldes e a carregá-los para cima enchendo a banheira. Coloquei aqueles panos em volta para eu não escorregar, então eu fiz a água ferver. Nem percebi que tinha um par de olhos curiosos me observando.

Tirei aquela roupa toda e me enfiei na banheira.

—Credo. Eu to cheirando a sal.

Me esfreguei com a bucha e o sabão, usei o meu shampoo caseiro no cabelo e então o meu condicionador caseiro.

P.O.V. Emily.

A água estava fervendo! E ela entrou lá dentro como se não fosse nada, sua pele se quer ficou vermelha. Lady Hollingwood ficou lá dentro cantando.

—When I was a young boy, my father, took me into the city to see a marching band.

O Lorde Hollingwood veio.

—Você não devia tomar banho nua. Não aqui.

—Ah, pai não fica enchendo. Tentei tomar banho com aquela camisola, ela fica toda grudada no meu corpo e eu não consigo lavar onde eu tenho que lavar.

—Você é realmente tão teimosa quanto a sua mãe.

—Não. Eu sou mais teimosa que a mamãe.

Ele riu e deu um beijo no topo da cabeça dela.

—Eu sei que está ai Emily.

—Milady eu...

—Tudo bem. Por favor, me ajude a me secar.

—Sim milady.

Lorde Hollingwood saiu e eu ajudei a minha senhora a se secar.

—Você viu não é? Me viu ferver a água.

—Eu não...

—Você viu. Não conte a ninguém, acredite não somos quem vocês pensam.

Ela fez a água ferver novamente até a banheira ficar seca.

—O senhor seu pai ele...

—Não. Ele é diferente. Não tenha medo Emily. Não de mim pelo menos.

—Vai haver um festejo hoje á noite. Na residência dos Bingley.

—Oh, povinho que não tem o que fazer. Essa gente parece que não dorme.