P.O.V. Robert.

Meu nome é Robert Phillip Arthur Kemble e sou o Conde de Macclesfield. Ontem ao cair da tarde conheci a misteriosa senhorita Victória Lyndon e sua filha, um bebê de colo. Marie-Jeanne.

Apesar de ser viúva, ela não usa preto. Apesar de falar inglês, seu inglês não soa como o meu.

Sua filha tem lindos olhos azuis. Estava passando quando algo me chamou a atenção. Crianças batendo e pulando corda, elas estavam batendo duas cordas ao mesmo tempo. E imagine quem estava lá pulando corda com as crianças?

—Victória?

Ela estava de calças. Uma outra senhorita segurava Marie-Jeane enquanto Victória pulava corda e fazia acrobacias ao mesmo tempo.

—Victória! Saia dai imediatamente!

Gritou o vigário. Ela saiu elegantemente da corda que continuava a ser batida e flexionou os joelhos, colocando as mãos sob as coxas. Então, ela gargalhou.

—Victória você me envergonha.

Isso a fez parar de gargalhar e ficar séria. Eu vi seus olhos faiscarem.

—Porque? Porque eu sou mãe solteira?! Porque eu sou uma viúva que não anda de preto?! Porque eu acho que calças facilitam a mobilidade?! Porque eu odeio espartilhos?!

Ele levantou a mão para ela, iria dar-lhe uma bofetada na cara, mas ela segurou sua mão no ar.

—Porque a gente não passa direto para o puxão de cabelo, Princesa?

—Você é uma má influência para as outras.

—Não. Eu sou a melhor influência que elas tem.

Ela soltou a mão do pai e estendeu os braços para pegar a filha.

—Vem, vamos tomar banho.

P.O.V. Victória.

Eu enchi a banheira, tirei as roupinhas da Marie e dei banho nela. Depois, eu tomei banho. Me vesti e nós nos preparamos para o baile.

Pois é. Vai ter um baile na Mansão de Vossa Senhoria.

—Você tem certeza de que vai acontecer?

—Eu não sei exatamente o que vai acontecer, mas vai ser ruim.

—Papai vai nos esfolar vivas quando souber.

—Ele vai tentar.

Nós logo estávamos no baile, haviam muitas pessoas importantes na mansão. Um bando de nobres metidos á besta.

P.O.V. Lorde Bingley.

Eu estava conversando com os meus caros amigos Darcy e Kemble quando eu a vi. Estava cercada de outras moças e com certeza eu não era o único a olhar para ela.

—Ela é... a criatura mais bela que eu já contemplei.

—Ela sorri demais. E tem uma criança no colo.

—Imagino que seja casada. Mas, ela é um anjo.

—Ela não é casada. É viúva.

—Se é viúva então, porque não está de preto?

—Eu não sei. Eu só sei que a senhorita Victória Lyndon é a mulher mais intrigante que já conheci.

—E a criança?

—A filha dela. Marie Jeanne.

P.O.V. Victória.

As minhas irmãs só sabiam falar de casamento.

—É de bom entendimento que o Lorde Bingley está procurando uma esposa?

—Ele está, aquelas são suas irmãs Luiza e Caroline Bingley.

—Dizem que ele herdou quase mil e quinhentas libras.

—Que marido magnífico ele seria.

—Porque ele é rico? O dinheiro não compra caráter não.

—Porque você é sempre tão... negativa? Não quer se casar?

—Eu já me casei. Não acabou bem. Além do mais, eu jamais abriria mão da minha espada por um anel.

—Pelo homem certo abriria.

—O homem certo jamais me pediria isso.

Um homem veio. O tal Senhor Bingley.

—Charles Bingley, prazer em conhecê-las.

—Igualmente.

—Ouvimos falar tanto do Senhor, Senhor Bingley. Minhas filhas, todas de caráter impecável.

Ele tava nervoso.

—Posso apresentar-lhes... meu amigo. Senhor Darcy de Darbshire.

—Prazer. Está gostando da nossa cidade Senhor Bingley?

—Muito.

—Ouvi que a biblioteca de Netherfield é uma das melhores.

—A biblioteca? É mesmo?

—O que? Eu não sou só uma carinha bonita. Aposto que nunca esteve na biblioteca.

—Senhorita Lyndon, gostaria de lhe pedir as próximas duas danças, se não estiver prometida.

—Não to prometida. Se importam de... cuidar da Marie pra eu dançar um pouco?

—Claro que não.

—Então, sim. Danço com você. Aqui, segura ela, segura firme que ela gosta de se atirar.

Nós dançamos e conversamos e ele era bastante divertido.

Então, aconteceu um acidente. Minha irmã Ellie derrubou uma garrafa.

—Oh, que infelicidade.

—Foi só um acidente. E foi por sua causa Darcy. Você é que é o intolerável.

P.O.V. Robert.

Ela retrucou, ouviu-o chamando a irmã de tolerável e o chamou de intolerável. Indo atrás da irmã.

—Eu não... ela vai ver só.

P.O.V. Darcy.

Eu iria gritar com ela, mas eu vi aquela criatura decomposta. Um cadáver ambulante.

—Zumbi.

—O que?

Eu peguei a pistola e com um tiro estourei os miolos da criatura.

—O que você fez seu besta!? Ela estava tentando dizer alguma coisa!

—Uma receita de bolo talvez?

—Acha que é a coisa ruim?

—Acho. Tem algo vindo.

Todos vieram para fora e fui parabenizado por meu ato heroico.

—Eu posso senti-los. Estão aqui. Eles estão aqui. Pai, leve a Marie pra dentro. Agora!

O pai levou a neta para dentro. E então, ouviu-se um urro. Os sinos de alerta tocaram e haviam pessoas correndo apavoradas.

—Estamos sob ataque!

—Jura?!

Aquela cena pegou a todos de surpresa. Ela e as irmãs tinham armas ocultas sob as roupas e usaram-nas para massacrar as criaturas.

Mas, dentre todas... ela era a melhor lutadora, ela lutava com mais ferocidade.

P.O.V. Robert.

Eu estou mais do que intrigado e deveras assustado. Para uma filha de vigário ela era bastante violenta.

Quando a luta finalmente acabou, ela veio até nós.

—E então Darcy? Realmente acha que pode me derrotar? Você é muito bem vindo pra tentar.

Falou Victória ameaçadoramente para Darcy. Então entrou na mansão.

—Ela está completamente ensanguentada.

—Sangue do homem morto.

—É Ellie não é?

—Sim. Sou eu.

—Se importa em dizer onde aprendeu a lutar daquele jeito?

—Foi a Vicky. Vicky nos ensinou. Assim nós jamais ficaríamos a mercê de ninguém, especialmente de um homem.

—Você quer dizer Victória. E onde ela aprendeu?

—Ela disse que sempre gostou de artes marciais, ela foi treinada desde criança porque quis. E que depois que os pais dela morreram, aprendeu a lutar quando encurralada num canto.

—Os pais dela?

—Sim. Vicky não é sangue do nosso sangue, meu pai a adotou a alguns meses em Londres. Encontramos-na vagando com a filha, ela entrou na igreja e rezou. Pediu a Deus por ajuda, que lhe arrumasse um emprego e abrigo já que estava sozinha e em um país estrangeiro.

—Ela não é Britânica. De onde ela é?

—Americana. Uma de nossas antigas colônias, é de lá que ela é. Ela é da América, um País chamado Estados Unidos. Uma praga devastou o país dela, ela descobriu que estava grávida então, pegou o primeiro navio para a Inglaterra.

—Então, ela fugiu da praga que lhe levou o marido.

—Sim.

—E como ela sobreviveu?

—Ela chamou de... imunidade natural.

—Imunidade natural?

—Deve haver algo á despeito disso nos livros dela. Vicky consegue identificar uma doença ou deformidade só de colocar os olhos na pessoa. Ás vezes consegue tratar, ás vezes até curar.

—Vamos Ellie, o pai quer ir embora.

—Então você luta, empunha espadas, cura doenças... existe algo que não faça?

Ela deu de ombros e respondeu:

—Ninguém é esquisita como eu. Tchau.

Elas foram embora.

—O que é Tchau?

—Ninguém é esquisita como ela, de fato.

—Mas, essa esquisitice só parece torná-la mais misteriosa. Eu nunca havia visto uma americana antes.

—Eu já. E nenhuma Americana se comporta como ela.

—Eles declararam guerra contra nós e se revoltaram.

—Sim. Mas, a mulher americana era uma perfeita dama. Ouvi falar que Victória usa calças.

—Eu a vi usando calças. Perguntei á modista e Victória tem gostos bem particulares e peculiares.

P.O.V. Victória.

A lua cheia vai voltar amanhã. Tenho que forjar a arma amanhã á noite.