P.O.V. Robert.

Eu pulei a janela do quarto dela que estava escancarada, mas eu não a encontrei adormecida. Estava acordada.

—O que está fazendo?

—Saia do caminho. Está fazendo sombra.

E depois de sair do caminho ela respondeu:

—Estou fazendo uma arma. Uma lança pra ser mais específica.

Nós conversamos até ela dormir. Na manhã seguinte, os homens foram á taberna e estavam organizando um grupo para caçar a criatura.

—Parem! Vocês não devem fazer isso.

—E o que você sabe? Eu estive em cada centímetro deste bosque e já cacei todas as criaturas dele sob a luz do sol.

—Mas, não sob a luz da lua. E o que está caçando, não é um animal. Nem de longe. Aço comum, não vai matá-lo.

—Está tentando me assustar menina?

—Tentando avisar. Vai precisar de muito mais do que aço comum para parar a besta.

Os homens não a ouviram, eles riram e saíram atrás da Besta.

—Idiotas. Aposto que se eu fosse homem eles me ouviriam. Eles não vão voltar mais. É uma pena.

Ela colocou a capa e foi atrás deles.

P.O.V. Victória.

Eu sabia que eles iam morrer, mas eu vi um. Um que acreditou em mim. Por isso, decidi salvá-lo. Era quase meia noite quando a primeira tocha se apagou.

Eu fiquei de olho no menino e quando a besta veio pra cima dele...

—Abaixa!

Eu o empurrei e fiz um círculo de pó de acônito em volta de nós.

—Aquilo... não era um lobo.

—É claro que não, garoto tolo. Aquilo era um lobisomem demoníaco. Um lobo demoníaco. Um homem que bebeu água da chuva de dentro de uma pegada de lobo. Eu sei quem você é! Eu sei exatamente quem você é. E eu vou te matar cretino!

A Besta finalmente foi embora. Eu quebrei o círculo e o sol já despontava no horizonte.

P.O.V. Henry.

Todos os homens estavam reunidos na taberna.

—Aquilo não era um lobo. Era um lobisomem, uma criatura monstruosa. Se não fosse pelo pó de acônito, se não fosse pela senhorita Lyndon, eu não estaria vivo agora. Você disse á Besta que sabia quem ele era. Sabia?

O Marquês tomou de sua bebida e começou a sentir-se mal.

Ela se levantou da cadeira e foi até onde o Marquês estava sentado.

—Olá. Besta. Eu taquei acônito na bebida de todo mundo. E só você passou mal.

—O meu pai não é a Besta!

—Você matou crianças.

O Marquês respondeu friamente:

—Eu mato o que quer que esteja no meu caminho.

Todos ficaram chocados.

—Porque?

—É o que eu sou.

—Psicopata. Incapaz de sentir, incapaz de sentir remorso ou culpa ou qualquer coisa.

—Eu não teria definido melhor. Apesar de nunca ter ouvido essa palavra antes. Psicopata. É uma palavra estranha.

—É termo médico pra definir gente que nem você.

—Você já ouviu a história do que acontece com aquele que bebe água da chuva da pegada de um lobo?

—Sei bem o que acontece.

—Você se torna o lobo demoníaco. Agora vocês sabem que sou eu. E eu vou estraçalhar vocês em minutos se tentarem alguma coisa.

—Eu... vou acabar com a sua raça!

—Ele não pode se transformar sem a lua cheia.

—Ele meio que pode. Ele não é lobisomem. Vem. Vem! Vem me pegar!

P.O.V. Lorde Bingley.

A senhorita Lyndon correu e o Marques correu atrás dela.

—Não há mais para onde fugir, querida.

Ela ainda estava correndo quando ele se transformou num demônio monstruoso enorme. Então, ela se atirou no chão, deslizou pela neve, desenterrou uma lança e o empalou.

A lança atravessou seu peito. Ele voltou a sua forma humana.

Eles se encararam.

—Acha mesmo que uma garotinha tola e esse ferimento mínimo vão me parar? Eu sou a famosa e temida Besta de Bellfield e quando eu... acabar a minha matança, todos saberão. Eu terei cometido tantas e tamanhas atrocidades que toda a história vai se lembrar do meu nome!

—Ninguém vai se lembrar.

—Damnatio Memoriae?! Vai deixar que eles tirem o meu nome?! Nosso nome?! Filho...

—Ela está certa. Temos que fazer isso.

Ele começou a vomitar um sangue negro.

—O que... O que é isso?

—Nada de aço comum. Wolfsbane e cinzas da montanha, pura prata esterlina forjada com o nosso sangue, o meu e o seu. Sob a luz da lua cheia.

—A história talvez se lembre de você Lorde Sebastian, mas apenas como a Besta.

Ele caiu morto. Ela arrancou a lança de dentro dele e saiu andando, de cabeça erguida, se quer se dignou a nos olhar.

Mas, para a total surpresa de todos ela olhou para o Novo Marquês e disse:

—Obrigado. Você me ajudou a fazer a arma que o matou.

—O que?!

—Usei o sangue na arma. Lembra? Eu pedi pra você me estender a mão para vermos se a lâmina era afiada o suficiente e a lâmina cortou a sua mão.

—Me usou para matar o meu pai?

—Se tem que culpar alguém, me culpe eu não me importo. Tudo o que importa é que a Besta está morta. Talvez agora possa voltar pra casa.

—Ir pra casa?

—Eu não sei porque eu vim aqui. Mas, quando eu cumprir o meu propósito seja ele qual for, minha filha e eu vamos ser mandadas de volta. Comece a queimar tudo o que ele assinou, qualquer retrato dele que tenha. Apague todos os vestígios. Queime tudo.

—Era o meu pai!

—E ele não te amava! Ele não era capaz de amar! Não era capaz de sentir! Então deixe de ser bebezão e comece a queimar!

Ela deixou ele falando sozinho.

P.O.V. Robert.

Ter que queimar todos os retratos, documentos, cartas, todas as memórias do seu pai não é algo fácil.

—Precisa de ajuda?

—O que está fazendo aqui?

—Eu sinto muito. Eu fui muito grossa com você. Ele podia ser... um psicopata assassino, mas ele ainda era o seu pai.

—Eu não sei se conseguiria ter feito o que você fez. Por mais que eu saiba que o meu pai admitiu diante de todos que matava tudo o que atravessasse seu caminho... não sei se teria força suficiente para ajudar a matá-lo se soubesse quem ele realmente era.

—Por isso eu não contei. Se eu não o tivesse matado, ele nunca teria parado. Ele era um assassino em série. Assassinos em série sempre tem padrões, assinaturas. Eles não... simplesmente matam, eles possuem rituais ao fazê-lo. Ás vezes é sempre o mesmo tipo de vítima, ás vezes sempre no mesmo dia, ás vezes eles seguem períodos de tempo. É uma coisa compulsiva.

—Como você sabe tudo isso?

—Eu já vi muitos do tipo dele. É claro que, nenhum deles era um lobo demoníaco, mas tem alguns que ninguém nunca conseguiu pegar. O estripador de Monte Rei, Jack, o Estripador... O assassino do Zodíaco. O cara era louco, mas ele era um maldito gênio. Mensagens criptografadas que ele mandava para a polícia tamanha era sua audácia.

—Ela está maior.

—Sim. Crianças crescem.