P.O.V. Charles.

A senhorita Morgan finalmente acordou. Eu vi a senhorita Lori dar um beijo na boca dela, foi um beijo tímido, cálido, mas um beijo.

Aquilo de deixou horrorizado e eu saí do quarto, do hospital.

—Meu Santo Deus! Elas se beijaram! Em público. Diante de todos.

—E dai?

—Senhorita Calvert, eu...

—Se saber que a minha mãe é lésbica te deixa tão horrorizado, imagine o que não vai fazer quando descobrir a verdade sobre a sua namoradinha.

—A Senhorita Sophie Anne?

—É. Ela tem aquela carinha de santa, mas é uma vadia sadomasoquista.

—Sado o que?

—Ela foi submissa de um empresário por cinco anos.

—Ela não parece submissa.

—Você é mesmo um ignorante. Parece um E.T. Vou explicar o que é submissão pra você. Com o consentimento da sua doce senhorita Sophie Anne, o cara acorrentava ela, açoitava ela, fodia ela. E ela gostava.

—O que?! Não. Está mentindo.

—Eu li no diário dela. Ela descreve detalhadamente como o C.B. tocava nela, como as suas mãos grandes e másculas acariciavam brutamente cada parte do seu corpo. Fala sobre os arrepios na espinha, os frios na barriga e o quarto vermelho.

O jeito como ela falou, aquela voz rouca que ela fez e o fato dela tocar o próprio corpo de uma forma obscena e debochada.

—Se soubesse de metade das coisas que o C.B. fez com a sua namoradinha, você paria um filho pela boca. A nossa família é toda fodida cara. E por baixo daquela carinha de fofa, tem uma vadia sadomasoquista que gosta de açoites e correntes e de literalmente apanhar na bunda.

Eu não podia crer em nada daquilo. Não. Sophie Anne é uma jovem recatada e educada.

Sai daquele lugar ouvindo a risada da senhorita Calvert ecoando em meus ouvidos. Uma risada de deboche.

Assim que cheguei ao apartamento que compartilhava com o senhor James e me lembrei do mecanismo de busca eletrônico. Google.

Com certa dificuldade liguei o maquinário e o fiz funcionar. Quando procurei pela palavra desconhecida e os resultados apareceram, eu desejei não ter procurado.

Imagens de mulheres acorrentadas, vendadas, amarradas. Diziam que elas usavam coleiras como animais e quando eu pensei que não poderia ficar pior, eu descobri que poderia.

Encontrei imagens que se moviam e as pessoas envolvidas falavam palavras de baixo calão, a mulher chamava o homem que lhe colocava naquelas deploráveis condições de Mestre.

—A festa estava... Charles? Meu Deus Charles!

A voz do meu companheiro de apartamento era um ruído distante. Terríveis imagens de Sophie Anne se submetendo a algo tão deplorável poluíam minha mente.

—Charles!

—Ela não faria isso. Ela não se submeteria a algo tão deplorável, não por vontade própria.

—O que? Quem?

—Ela é uma dama. Recatada. Bondosa.

—Quem Charles? Te fizeram procurar isso no Google?

—Sophie Anne. Eu me recuso a crer que...

—Espera, a Sophie Anne é adepta do sadomasoquismo?!

—A tia dela se relaciona abertamente com uma outra mulher.

—É. A Detetive Morgan é lésbica.

—Você sabia?

—Todo mundo sabe que Debra Morgan é lésbica.

—E isso é aceitável?!

—É. Todas as formas de amor são aceitas. Casamentos homossexuais são legais.

—Casamentos?! Casam-se duas mulheres?!

—Duas mulheres, dois homens. Não importa é legal.

—A lei permite isso?

—Permite Charles. Casais homossexuais podem ter filhos ou adotar.

—Duas mulheres geram um filho?!

—Não. Elas vão á clínicas de inseminação. Homens doam seu esperma para ajudar mulheres que não podem engravidar ou casais homossexuais a constituírem uma família.

—Santo Deus! Apesar de estar chocado, horrorizado... eu ainda quero estar com ela.

—Se você a ama de verdade, vai ter que aceitar ela com todas as coisas doidas que vem dentro do pacote.

—Há um pacote?!

—Não. Estou querendo dizer que se você realmente ama a Sophie Anne, vai ter que aceitar que o pai dela é um assassino em série que está na cadeia por ter matado um monte de gente. Que a tia dela é uma Detetive da polícia lésbica e que Sophie Anne gosta de correntes e açoites.

—Como serei capaz de satisfazer uma mulher como ela?

James deu risada.

—Sei lá cara, aprende. Algo que é de conhecimento público por aqui, é que todos os Morgan sem exceção nenhuma são totalmente fora da caixa, pirados, esquisitos. Diferentes. Além do mais, a infância da Sophie Anne não foi exatamente normal, pai serial killer, mãe assassinada, bulling na escola... isso pode muito bem ser um mecanismo de fuga.

—Mecanismo de fuga?

—Eu estou estou estudando pra ser psiquiatra. Um médico da mente.

—Um alienista!

—Algo assim. Psiquiatra, não alienista. Psiquiatra.

—Eu preciso falar com ela. Saber o que ela pensa, eu não sei se serei capaz de lidar com isso. E sobre Lorelai Calvert?

—Ela é namorada da tia da Sophie, formada em Harvard. Ela é dona de uma enorme rede de hotéis. A Dragonfly Inn. Ela e a sócia dela, Sookie.

—Sookie? Isso é nome de gente?

—Sookie é uma fada. Ela é casada com um vampiro de dois mil anos de idade.

—Uma fada?!

—Meio humana, meio fada. Sookie é da realeza das fadas.

—Minha nossa senhora!

—O mundo não é mais o mesmo Charles. Seres sobrenaturais caminham abertamente entre nós. E foi a minha irmã que acidentalmente tornou isso possível.

—Sinto que estou me afogando. Tudo é novo e tudo é diferente. Não há nada familiar neste lugar. Sophie Anne é o mais próximo de familiar.

—Meu pai falou que você pulou dentro do portal. E pelo jeito que você se estabacou aqui no chão da sala naquele dia, não é difícil de se crer. Credo! To começando a falar como você!

Eu ri. Mesmo naquela crise pela qual eu estava passando, James conseguia fazer-me rir.