P.O.V. Charles Bingley.

Mais um baile. Eu adoro bailes.

Estou procurando uma esposa já a algum tempo. Mas, a mulher por quem me encantei simplesmente sumiu.

—Qual é o problema meu amigo?

—Victória simplesmente sumiu e nenhuma destas damas me parece interessante.

Então, ela entrou no salão e tinha cara de quem estava ali apenas por mera curiosidade.

Um dos meus empregados a interceptou.

—O baile é apenas para convidados.

—Eu ein. Se é assim, passe bem.

—Tudo bem, meu caro Ramsley. Deixe a moça entrar.

—Senhor.

Ele a soltou.

—Encoste um dedo em mim de novo e será um homem morto.

Ela olhou feio para Ramsley.

—Quem é você?

—A pergunta é, quem é você?

—Lorde Charles Bingley. Encantado em conhecê-la.

—Igualmente. Minha avó falou de você. Disse que você paquerou ela.

—Paquerou?

—Flertou com ela. Mesmo sabendo que ela era mãe solteira.

—Se me permite perguntar, quem é a sua avó?

—Victória Lyndon.

—Victória Lyndon é sua avó?

—É. Eu sou Lena Hollingwood. Meu pai é Neville Hollingwood e a minha mãe é Marie Jeanne.

—Marie Jeanne? O bebê?

—Ela não é mais bebê.

—Não. Imagino que não. Você e a sua avó tem o mesmo gosto peculiar para vestimentas.

—Bom, eu acho que está na família.

Eu só então reparei nos sapatos dela.

—São... de... cristal?

—E porque não? Quantos anos você tem?

—Vinte.

—Dezesseis. Eu já estou com a corda toda, já passei pela invocação.

—Invocação?

—Ops. Esqueci que por aqui somos apenas um mito, apenas histórias para assustar as crianças á noite.

—Gostaria de roubá-la pelas próximas... duas danças. Se não estiver prometida.

—Não estou prometida. Eu tenho cara de objeto garoto?

—O vosso pai vai querer que tenha um casamento que lhe traga conforto.

—Estou realmente muito longe de casa. Do jeito que você fala, não sinto que eu esteja me casando, sinto que... estou sendo leiloada.

Nós dançamos, mas ela não parecia estar á vontade.

—Algo a incomoda?

—Ainda bem que você não pode ouvir.

—Eu ouço muito bem.

—Mas, não pode ouvir as coisas sujas e repulsivas que os seus amigos, cavalheiros estão pensando sobre mim. Eu quero arrancar as cabeças deles.

—O que?

—Eu tenho que sair daqui. Antes que seja tarde.

Ela saiu correndo. Um dos sapatos ficou para trás.

—Parece-me que a sua dama fugiu de Vossa Senhoria como o diabo que foge da cruz. Isso é um sapato? Um... sapato de cristal?

—É.

—Quem é a dama do sapato?

Resolvi mentir.

—Não sei. Senhor Perralt.

—Será que sua dama do sapato se incomodaria em ser a inspiração para uma de minhas histórias?

—Imagino que não.

De longe todos pudemos ver o raio caindo e então... um grito de fúria.

Ela voltou e pegou o sapato da minha mão.

—Quem diria que eu daria uma de Cinderela?

Ela colocou o sapato de volta e se sentou no degrau.

—Cinderela?

—É. Da história. Imagino que não tenha sido inventada ainda.

—O que?

—Cinderela. Uma comerciante abastado, cuja esposa morreu e deixou-lhe uma única filha. A menina era um doce de pessoa, obediente, resiliente... tudo o que eu não sou. Ah, e ela era loira. Pele pálida como leite fresco. Isso nós temos em comum. Até que um dia, o homem achou que Cinderela precisava de uma presença feminina na casa e casou de novo. Só que inadvertidamente ele se casou com um demônio de saia. A mulher era mesquinha, avarenta, sem talento e feia. E tinha duas filhas iguais a ela. As três criaturas morriam de inveja porque Cinderela era mais bonita, mais graciosa e mais gentil que elas então, a madrasta sujeitou Cinderela a ser criada, ela lavava, passava, varria e teve que dormir no porão. Mas, como era frio que nem o polo norte lá no porão, ela se deitava junto ás brasas do fogão e por isso estava sempre suja de carvão. Por isso, as vadias das filhas da madrasta apelidaram ela de Cinderela.

—A senhorita tirou a história de dentro da minha mente.

—E quem é você? Ah, Meu Deus! Você é o Charles Perralt!

—Lorde Charles Perralt á seu dispor Madamoseille.

—É um prazer conhecê-lo. Apesar de que, se eu fosse escrever, faria a Cinderela chutar as bundas metidas da madrasta e das filhas dela. Mas, acho que se fizesse isso, a Cinderela não seria Cinderela.

Nós ouvimos uma criança chorando. Um bebê.

E então uma mãe gritando com a ama.

—Essas nobres são umas vacas.

Ela entrou no salão.

—Dá ai.

—Milady?

—Me dá o bebê.

—Milady?

—Claro. Contanto que ele fique quieto.

Lena pegou o pequeno Lorde no colo e falou.

—Essa música minha avó cantava pra minha mãe. É a história da vida delas.

Então, ela começou a balançar o pequeno Lorde Ethan e a cantar. Eu prestei bastante atenção na letra e era a história de uma mãe que criou seu filho sozinha, com a ajuda de Deus.

Ela tinha o timbre de voz suave e isso acabou acalmando o pequeno Lorde.

—Vê? Ela conseguiu acalmar Ethan enquanto você sua incompetente...

—Porque você não cala a sua boca?

—Perdão?

—Você nunca cuidou do seu filho. Nunca nem deu de mamar. Você passou a sua vida toda criticando os outros. Se é tão fácil assim, porque você mesma não faz?

—O que?

—Olha só, vamos começar com o básico. Segura o moleque.

Lena estendeu o menino para Lady Dalton.

—Segura vai. Á menos que você não consiga.

Lady Dalton segurou desajeitadamente o filho fazendo-o voltar a chorar.

—Acalma ele. Sua incompetente.

—Como ousa!

—Você fica apontando o dedo. Porque não, passa um dia cuidando do moleque. Um dia. Eu te desafio. A passar vinte e quatro horas contadas no relógio, cuidando do seu filho. Vai ter que dar de mamar, colocar pra dormir, faze-lo arrotar etc. Se você fracassar, vai ter que me pagar mil libras.

—E se eu conseguir, você me deve mil libras.

—Feito. Mas, pra ter certeza de que você não vai roubar, eu vou colocar alguém pra te vigiar.

—Quem?

—Ai é que tá. Você não vai saber quem é. Aceita ou vai dar pra trás?

—Eu aceito.

—Bom dia e que a sorte esteja sempre ao seu lado.

P.O.V. Lorde Edward.

Eu senti a ironia na voz dela.

—Ela não vai durar cinco minutos.

Disse a jovem Lady rindo.

—E como você sabe?

—Não precisa ser um gênio para descobrir. A Lady metida não sabia nem como segurar a criança.

Ela obviamente não sabia quem eu era.

—Eu sei quem você é. Você é o primogênito Edward Dalton, todas as posses do seu pai serão suas no segundo em que ele morrer. A Lady metida é sua mãe biológica.

—Bio...

—É o jeito de dizer que ela te pariu, mas não te criou.

—Sim. Eu fui criado por amas.

—Como eu disse.

—É impressão ou suas pálpebras estão pretas?

—Não é impressão. É maquiagem e isso, é esmalte.

Disse mostrando-me suas unhas negras.

—A senhora é viúva?

—Não sou viúva e nem senhora. Eu sou fã de rock.

—O que? Pedras? Gosta de pedras?

—Também. Diamantes, lapiz latzuli, aquamarine, rubis, quartzo rosa. Minha pedra preciosa azul favorita é o topazio azul. Meu pai me deu um colar de topazio azul quando eu fiz doze anos. Esse que estou usando hoje é de alexandrita. Uma das pedras preciosas mais raras do mundo.

—E o seu pai é um senhor de posses?

—Se considera o Lorde Neville Hollingwood um senhor de posses.

—Mas, o Lorde Neville Hollingwood morreu á mais de anos.

—De fato. Morreu.

—Você é uma bastarda.

—Não sou bastarda. Disse que ele morreu, não que ficou morto.

—O que quer dizer? Como assim não ficou morto?

Ela não respondeu. Apenas começou a beber do vinho e a comer da comida.

—Não devia comer tanto, vai engordar.

—Eu não engordo.

—Todos engordam sua tola.

—Eu não. Sua tola.

P.O.V. Jane Bennett.

Ele estava interessado em mim, até ela chegar.

—Pode ficar com ele pra você. Seja ele quem for.

—O que?

—O cara. Que estava interessado em você até eu chegar. Sabe, os Lordes casam com garotas como você, mas dormem com garotas como eu.

Eu... eu...

—Fica chocada não neném.

Ela comeu duas coxas de frango enormes, carne de porco, de carneiro, maçãs, laranjas, bolos, tortas. E bebeu vinho. Muito vinho.

—Minha nossa! Como você come.

—E eu nunca vou ter problema de colesterol alto, diabetes e nem nada assim.

—O que?

—Doença do açúcar. De onde eu venho chamam de diabetes e existe um tratamento. Só que ter diabetes deve ser uma droga. Ter sempre que ter o sangue filtrado pelas máquinas de diálise.

P.O.V. Edward.

Por Deus! Como ela come.

—Por Deus! Ela come como uma condenada.

—Sendo neta da senhorita Lyndon é de se esperar que tenha hábitos estranhos.

—Victória Lyndon? A senhorita que sumiu quando Lorde Hollingwood era criança e da qual nunca mais se ouviu falar?

—Sim. E ela é filha do Lorde Hollingwood com a senhorita Marie Jeanne.

—Minha nossa. Então, o Lorde Hollingwood deixou uma herdeira?

Todos nós ficamos mais do que chocados quando aquela figura inrrompeu pelo salão.