P.O.V. Charles.

Eu não posso deixar a minha ignorância sobre esta época ofender alguém, especialmente a senhorita Morgan.

—Senhorita Morgan.

—Me deixa em paz.

—Eu gostaria de lhe pedir perdão.

—Por achar que o cara que estuprou a minha mãe e a deixou mentalmente perturbada estava no seu direito de marido?!

—As coisas eram diferentes antes. Eu nasci num mundo muito diferente do seu.

—É mesmo?

—É. Eu tinha passagens para embarcar no navio albatroz em mil oitocentos e oitenta e oito.

—O que?

—Sim. Eu sou Lorde Charles Bingley como no livro. Exceto que eu jamais conheci nenhuma família Bennett. Até agora.

—Tá falando sério?

—Sim. Muito sério.

—Você é vampiro?

—Não. Sou tão humano quanto você.

—Então como veio parar aqui? Como viveu esse tempo todo?

—Eu não vivi. Eu acidentalmente fui transportado para a sua época.

—Uau! Acho que depois dessa, o impossível simplesmente não existe.

—O que é Halloween?

—Um feriado pagão que foi agregado ao calendário cristão. É sagrado para as bruxas. O que é estranho, já que chamam de dia das bruxas.

—E vai haver um baile de Halloween. Eu vi nos folhetos.

—E dai?

—Gostaria de ser minha acompanhante?

—Você não está armando pra mim está?

—Armando?

—Me convida, eu vou lá, fico feliz, compro uma fantasia bonita e na hora você me deixa plantada. Não aparece.

—Eu jamais faria isso.

—Eu acho bom. Porque a minha tia Debra é policial e ela é estressada e boca suja. O último cara que me deixou plantada, se deu muito mal.

—Ela o matou?!

—Não! Só deu um sustinho nele.

—Um sustinho?

—Levou ele pra sala de interrogatório e fez ele acreditar que estava sendo perseguido. Mostrou pra ele as fotos de um dos... uma das vítimas do meu pai.

—Eu sinto muitíssimo.

—Não sinta. Graças ao meu pai eu tenho um ganha pão maneiro.

—E qual seria?

—Meu pai tem um tipo sanguíneo muito raro e eu também. Veio dele. Caso não saiba, vampiros existem e eles se alimentam de sangue pra viver. Uma bolsa do meu sangue vale uma fortuna e eles pagam.

—Então, o vosso pai é um homem sem honra...

—Não! Ele tem mais honra do que metade dessa gente que está aqui. Ele não tem culpa de ter nascido daquele jeito e ele usou aquela necessidade para salvar vidas. O meu pai provavelmente salvou mais vidas do que tirou. Na sua época haviam execuções ainda não é?

—Sim.

—Pense no meu pai como... um carrasco. As pessoas que ele matou, tinham essa mesma necessidade, só que eles descontavam em pessoas inocentes. Ás vezes até mesmo em crianças. Eu sei que ele não me ama, não do jeito que eu o amo, mas não é culpa dele. Ele não tem a capacidade de sentir, de fazer conexões emocionais com as outras pessoas, meu pai viu a mãe biológica dele ser morta quando ele era criança, então o vó Henry adotou ele e fez dele o carrasco perfeito.

—Um carrasco.

—É.

—Mas, a senhorita me daria a imensa honra de me acompanhar no baile de Halloween?

—Sim. Só, não me deixe plantada.

—Tem a minha palavra.

Logo chegou o dia do baile e James me ajudou a preparar-me.

—Combina com você.

—E qual é a minha fantasia?

—Príncipe encantado. Eu sei que está apaixonado pela Sophie Anne.

—De fato estou. Se lhe colocassem asas, ela seria um anjo.

—Ela também gosta de você. Só, não magoe ela ou a detetive Morgan vai fazer da sua vida o inferno na terra.

—Detetive?

—Ela foi promovida ontem.

—Do que acha que ela se fantasiará?

—Ano passado, graças ao idiota que deixou ela plantada... ela realmente incorporou a fantasia. Ela se fantasiou de menina malvada. E o Grayson ficou só na vontade.

—Só na vontade?

—Ainda bem que você não estava aqui ano passado.

—Ela deitou-se com ele?!

—Não! Ela provocou o cara, deixou ele louco de... desejo e ele ficou só na vontade.

—Então ela o seduziu, mas não aconteceu nada?

—Exatamente. O problema foi que, no dia seguinte ela voltou a ser a meiga e doce Sophie Anne e o Grayson fez da vida dela um inferno. Ainda faz.

—Esse Grayson foi o rapaz que a derrubou?

—Foi. Seja legal com ela, ela já passou por tanta coisa. É um milagre ela não ter... surtado. Ficado maluca.

—Imagino que sim.

—Ano passado ela tentou se matar. Ela foi hospitalizada, ficou super mal, a Debra também ficou muita abalada.

—A Senhorita Morgan tentou tirar a própria vida?

—Sim. Eu nunca tinha visto ela dar um sorriso, nunca.

Agora que eu a conheci, sei que não suportaria viver em um mundo no qual ela não existisse.

—Vamos, temos que ir.

P.O.V. Debbie.

A minha sobrinha já passou por tanta coisa. Ela é mesmo uma Morgan, somos todos uns fodidos.

Ela arrumou uma fantasia da era vitoriana, a nossa vizinha que é cabeleireira, maquiadora e manicure veio ajudar a produzir a Sophie.

Nós passamos o dia inteirinho colocando apliques no cabelo dela, fazendo cachos.

—Pronto. Está linda querida.

—Obrigado Marggie.

—Espero que dê certo desta vez. E que ele seja um rapaz bom, que saiba ver o quanto você é especial.

Ela deu um sorriso, um sorriso genuíno. O cabelo dela parecia muito com o do Dex. A cor.

—Vai ser a mais gostosa daquele baile furreca.

—Eu te amo tia Debbie.

—Também te amo Sophie.

P.O.V. Sophie.

Espero que dê tudo certo desta vez. A minha tia Debbie me levou até o colégio.

—Espero que não seja necessário, mas se precisar de mim...

—Eu ligo.

Estou muito nervosa. Posso ouvir a música tocando lá dentro, espero que não seja mais uma piada de mau gosto.

—Respira fundo Sophie Anne. Vai dar tudo certo.

Disse pra mim mesma me forçando a caminhar para dentro do salão de festas.