Magic Mystery Theatre

Capítulo 4 - Ninho das Águias


Por volta de setenta quilômetros da cidade imperial de Valkaria, em uma pequena colina, Vladimir Marcus, o vampiro, faz a sua vigia noturna. Sendo notívago, a criatura é o melhor vigia que alguém possa ter.

Mesmo com a sua condição de morto-vivo e parasita de fluidos vitais seria um motivo a mais de preocupação para qualquer grupo.

Felizmente, o vampiro tem uma conduta ética e autocontrole extraordinário. Por essas qualidades conquistou a confiança e o título de ser membro dos “Cinco Antigos”.

Os seus cabelos vermelhos encaracolados balançam ao sabor do vento, o seu silêncio o faz recordar em sua época que era vivo e da sua mal-fadada expedição as ruínas do templo de Tenebra, tudo que ele fez foi ouvir as recomendações do seu pai e acabar transformado em uma criatura da noite. As suas lembranças também marcam a sua tumultuada entrada na Academia Arcana e a defesa do Professor Carlos Castanheira por sua admissão.

– O que está vendo, Vlad? – pergunta uma voz feminina e com um sotaque carregado.

– Uma caravana há seis quilômetros, são aventureiros. Devem estar em missão. – diz de uma forma fria, mas gentil.

A bárbara Illuana Celum se ajeita ao lado do vampiro. A garota sente um medo instintivo diante de um predador, mesmo ela confia nele. O céu estrelado a faz recorda do seu tempo da guerra entre as tribos da Lua e da Neve. Illuana quase foi morta pelos membros da Lua, porém foi salva pelo professor Carlos Castanheira, mesmo sendo neto da suprema sacerdotisa, resolveu adotar a criança órfã como filha e levou-a para a Academia Arcana para aprimorar os seus poderes latentes de cura. Por si só são extraordinários.

– Não digo de sua vigília, mas a nossa ida a tribo da Lua... – comenta a bárbara.

– Somos um bando de loucos... O que estamos fazendo pelo professor é uma prova de coragem que nunca mais poderíamos imaginar. O pior temos uma divida de gratidão para com ele. Somos aceitos em um grupo, ainda mais uma escola de magos. Nunca um grupo tão heterogêneo como o nosso foi tão longe naquela instituição. Seríamos os primeiros formandos do professor. Devemos isso a ele... – desabafa o vampiro.

– Ele me criou como fosse a filha dele. Só que ele nunca escondeu a minha origem e ensinou a cultura do meu povo. Ele só fala em Fronzen, a língua de minha tribo, quando estamos sozinhos. Nunca soube como ele aprendeu isso e soube tanto de minha tribo de origem, mas acho que se sentiu culpado pelo que aconteceu comigo. – diz a garota de cabelos longos e encaracolados.

O vampiro retira um cantil de seu cinto e bebe o seu conteúdo. Tal gesto não escapa da observação de sua parceira noturna.

– Ainda sente desejo pela caça? – pergunta.

– Sempre. – responde sincero. Um dia de cada vez... Não é só a sede de sangue que tortura o meu ser. É a caça. Cacei e matei humanos, elfos, goblins, tudo que fosse vivo durante trinta anos. Aprendi magia e senti o desejo de aprender mais. Como a minha condição vampírica é querer sempre mais e mais... Como um ciclo sem fim. Perdi a minha humanidade com isso. Quando conheci o professor, tinha a intenção de matá-lo... – relembra.

– Lembro dessa história. – diz a bárbara. Ele te derrotou de uma forma humilhante, porém te deixou vivo.

– Eu nunca entendi o porquê aquele mago me deixou existir. Eu era um monstro e queria sugar e beber o mundo... Naqueles tempos, estava curioso em saber o porquê, mais tarde o conhecimento e posteriormente a amizade. O professor devolveu a minha humanidade, o controle e a fé. – mais um gole de sangue alquímico. Engraçado. Este sangue é estranho, frio e sem graça. Quanto mais o bebo, mais sede eu tenho, mas... A minha alma está saciada, graças a todos vocês sou humano novamente. – e bate no ombro da amiga.

Envergonhada, Illuana sorri um pouco orgulhosa pelo comentário do amigo.

De súbito, uma terceira pessoa se junta ao grupo de vigilantes.

– Você está acordada, Illuana? – pergunta Bruce com um sorriso simpático nos lábios.

– Olá, chefe. – diz em tom de brincadeira o vampiro. Ela está sem sono.

– Eu nunca durmo direito quando viajo. – foi à resposta da bárbara.

– O que vou te contar vai te tirar o sono de verdade. A tal da investigadora descobriu que nós fugimos... – noticia o rapaz de uma forma bombástica. O mais incrível que ela está acobertando a nossa fuga. – explica.

Os dois entreolham e Illuana diz:

– Estranho... Se eu fosse ela teria um ataque. – conclui.

– Ela deu um chilique, mas quando soube de nossa intenção, ignorou. – responde Bruce.

– Valéria Crowley é uma maga competente. Deve ter sido difícil para ela ter sido descoberta. – comenta o vampiro.

– Aquela menina é muito depende dos seus Sprites. Está certo que suas habilidades são incríveis, porém estamos lidando com uma investigadora. Nunca ela se deixaria se enganar por uma garota de onze anos, mesmo sendo genial. – observa Bruce. Pessoal, quando amanhecer termos que acelerar o nosso passo. Pois se ela deixou e acobertou a nossa saída, ela quer e precisa de nosso professor de volta a Vida.

O grupo concorda e volta para a área do acampamento a qual os outros dois parceiros estão repousando.

O dia surge no horizonte. A grande estátua da Deusa Valkiria esplandece em sua grandiosidade. Os pássaros cantam. Na Academia Arcana, os alunos caminham rumo ao refeitório. O café-da-manhã é composto de pão, algum bolo vários sabores e tipos, sucos e chás. A intendência da instituição faz verdadeiros milagres culinários. Muitos ficam surpresos que muitos magos também são excelentes cozinheiros. Existe uma matéria no curso de alquimia que trata de alquimia culinária. Muitos se descobrem ao fazerem a deliciosa mágica de alimentar os seus amigos, professores e colegas.

Luiza Blue recebe o seu mingau de aveia e com cobertura de canela com um copo de farinha láctea com leite de cabra. Seguido a sua nutricionista, a sua condição precisa de todo cálcio possível. A sua doença degenerativa na coluna é cruel. Mesmo os tratamentos de conter o avanço da maldição, parecem que há um constante empate.

– Bom dia Luiza! – diz uma voz feminina e simpática. Dormiu bem?

– Olá, Jeniffer Nice! Sim, eu dormi. – retruca a cadeirante. Vai comer aqui dessa vez?

A bela ruiva de olhos verdes e expressão sensual não condiz muito sobre as características dos Lefou, mas os seus amigos e conhecidos mais íntimos sabem de sua placa de queratina que envolve todo o seu abdômen. A sua deformidade nunca atrapalhou a sua convivência com todos. Ela se considera uma garota de Sorte.

– Sim... Frutas e aveia. Tudo que uma menina linda como eu precisa. – e faz um gesto de apresentação de sua refeição.

Luiza ri.

– Só você... – balbucia. Então... Soube a investigadora está de marcação serrada com todos os alunos. Mais do que o habitual. – comenta a cadeirante.

– Acho que essa mulher não gosta de perder. – diz colocando a sua colher com pedaços de frutas em sua boca. Aposto que ela ainda tem uma quedinha pelo ex-marido.

– Pode ser. O professor era bonitão, gostoso, inteligente... – e Luiza suspira.

– Pára... O professor era tudo de bom em matéria de homem. – e dá um gritinho de excitação.

– Você queria namorar com ele? – pergunta a cadeirante.

– E quem não queria? – diz sincera a ruiva. Sei que não é ético. Porém quem quer seguir com as regras o tempo todo? – e ri maldosa. Então... E a sua irmã? Como está?

A expressão de Luiza muda da água pro vinho.

– Elisa não gosta da investigadora. A mulher tem amuletos e símbolos místicos que a cercam e impedem a observação dos espíritos. Não são símbolos costumeiros de magos. Parecem divinos... – comenta a cadeirante.

– Acha que está sendo auxiliada por algum Deus? Pode ser de Tanna-Toh, a Deusa do Conhecimento. – lembra a Lefou com o seu olhar típico de menina sapeca.

– Pode ser. Mas não é muito comum a intervenção de entidades auxiliares e anônimas como é o caso da investigadora. Elisa diz o mundo espiritual está muito agitado e plano divino está em observação constante na Academia Arcana. Não é nada bom quando Deuses olham fixo em algum ponto de nosso mundo. – observa a cadeirante terminado de comer o seu mingau.
– Credo! – diz a Lefou de cabelos escarlate se abraçando. Isso me dá arrepios.

– Tá com frio, totosa? Eu posso te dar uma boa aquecida. – diz uma voz masculina.

As duas garotas olham para a direção da voz e não gostam do que vêem.

São um grupo de rapazes de outro grêmio, o da Serpente. Ninguém na Academia Arcana gosta de qualquer membro deste grêmio. São considerados perigosos, maus e sem escrúpulos. Mesmo com os desígnios da Deusa da Magia de dar conhecimentos mágicos a todos, este grupo é odiado e observado.

Luiza e Jeniffer estão enfrentando é um grupo de rapazes ricos e inescrupuloso chamado a “Garra”. São lobisomens. Todos os seus membros fazem um ritual para tornarem seguidores da senhora das Trevas, Tenebra. A qual deve abandonar toda a sua condição humana em troca de poder e prazeres egoísiticos. Jeniffer é o sonho de consumo desses rapazes. O seu jeito sensual e sua beleza trazem os instintos mais primitivos desses animais à tona.

– Vai para o Inferno ou se esfregue com as pulguentas do seu grupo de mijadores de postes. – retruca a ruiva com nojo.

– Que isso... É uma oportunidade de ouro abandonar a sua condição de “Freak” e ser uma uivadora da Lua. Não vai faltar macho para você, no lugar dos seus amigos pederastas do Santuário. – diz o líder do grupo, Eduardo Espor, um filho de nobre Valkariano.

– Prefiro ser ”Freak” a ter uma ninhada de bebes cheio de pelos e pulguentos. Sou mulher e não cadela! – decreta.

– Ei, aleijada! Que tal dar um pouco de juízo na sua amiga ruiva? Afinal, as noites da Academia Arcana são perigosas. Não é bom andar sozinha durante a noite, sabendo que tem um monte de lobos à espreita querendo “cruzar” com a sua amiguinha... Eu não posso conter a libido dos meus rapazes... – e sorri com maldade.

O grupo todo ri de uma forma malévola e uníssona.

Um conjunto de talheres começa a se mexer e voar em direção do grupo de lobisomens, quando uma voz máscula e súbita surge no refeitório.

– LOBINHOS! –grita. Saudades dos meus cãezinhos...

Todos os membros do grupo se viram na direção daquela voz. E surge um sujeito que o grupo tem realmente medo. O seu nome é João Magnífico, o mais forte membro do grêmio do Falcão e, quiçá, de toda a Academia Arcana. A relação entre ele e o grupo é como de violência e extorsão. João Magnífico rouba sistematicamente o grupo por pura maldade. Pois os lobos tinham este habito de explorar os membros mais fracos da Academia. Só que João acabou com isso espancando toda a alcatéia e deixando seqüelas traumáticas em todos. João Magnífico é o motivo que não seqüestraram a pobre da Jennifer.

– João... – balbucia Eduardo. Vamos embora, pessoal... – ordena.

Pegando pelo pescoço do líder da matilha, João diz de uma forma ameaçadora.

– Um arranhão, um “ai” dela... Eu juro... Sou expulso da Academia, mas eu vou ter os meus casacos de peles para o Inverno. Entendeu? – diz apertando o pescoço do líder quase sufocando o líder.

Um subalterno implora pela vida do seu líder e o musculoso aluno solta o lobisomem que cai sentado no chão.

– VAZA! – ordena e todos os lobos desaparecem. Olá, meninas. Eu vou lavar as minhas mãos, pois não suporto o cheiro de cachorro mijado. – e ri.

Depois que fortão vai ao banheiro, as duas comentam:

– Será que ele gosta de você, Jennifer? – observa humilde Luiza.

– Não creio, toda a Academia gosta de mim, mas ele... Só tem olhos pra você. – decreta.

– Pára! Eu sou uma deficiente presa numa cadeira flutuante. – diz Luiza toda envergonhada.

Quando ele volta, é notório o carinho e atenção que o musculoso rapaz dá para a doce cadeirante. A Lefou pisca o olho em sinal de aprovação.

Luiza fica feliz.