Magic Mystery Theatre

Capítulo 10 - “Desculpe-me por eu ser uma vadia.”


Na Academia Arcana está uma agitação atípica. Os rapazes de todos os grêmios estão animadíssimos, como também alguns professores. Até mesmo o sério diretor Talude teve o seu momento de folga para se arrumar.

Todos os homens estão num bom humor incrível, o que não se pode dizer das mulheres...

Se alguém diz: “Bom dia.” Qualquer mulher retruca: “Vai pro Inferno!”
As garotas estão mostrando os seus miomas mais sulfúricos do interior de suas almas.

Todos devem estar perguntando o porquê dessa mudança comportamental de todos os membros da Academia Arcana?
A resposta é simples. É uma mulher.

Uma única mulher que caminha de forma sensual e sedutora. Começando por seu salto alto brilhante e negro como uma noite estrelada. Os seus tornozelos torneados com uma pulseira de brilhantes preso em uma delas. Os seus joelhos e coxas a mostra envoltos por uma negra meia calça sensual estilizado em “X”. Uma mini-saia de couro negro que revela as suas formas femininas. A sua cintura fina e ainda mais realçada por um espartilho negro com detalhes em branco. Assim como o seu colete branco e uma rosa vermelha desenhada no seu bolso esquerdo bem perto do seu seio volumoso. O seu rosto perfeito, lábios vermelhos e orelhas pontudas todo adornado com brincos pequenos e brilhantes. A sua cabeleira ondulada negra como um rio revolto e escorrendo em seus ombros e costas.

Todos a olham quando ela passa pelas ruas de Valkaria e a sua mão coberta por uma luva rendada bate na porta de entrada para Academia Arcana.

O próprio Raschid, o zelador, recebe aquela elfa deslumbrante e sensual.

– Lady Lordanna! É um prazer vê-la por aqui... – diz o gênio todo arrumado e simpático.

– Olá, Raschid. Vim fazer uma visita. Ah, sim! – e retira um cartão de sua bolsa. Veio um lote de Qareens lindíssimas. Se estiver interessado? – e entrega ao gênio.

Encabulado, o zelador pega e guarda o cartão no seu bolso.

Como num passe de mágica, a elfa entra na Academia Arcana. Os seus passos firmes e sensuais caminham com orgulho e triunfo acompanhada do zelador.

Algumas garotas estavam reunidas e uma delas faz um comentário nocivo e cheio de ódio.

– Eu pensei que a Academia estava livre desse tipo de gente... Enganei-me. – cospe.

Lordanna pára de ir ao seu trajeto, se vira e se desloca na direção da pessoa que fez o comentário. Diante dela, a elfa diz olhando nos seus olhos.

– Giselle Blanco, 16 anos, humana. Está na Academia Arcana há dois anos. O seu Pai é cliente meu há mais de vinte anos. A sua sagrada mãezinha foi vendida para mim por uma quantia substancial. Antes de conhecer o seu pai, a sua “pura” mãezinha foi de cento e vinte e nove homens. Sabia que há uma possibilidade que o seu verdadeiro pai seja um desses que citei? – diz com um brilho de sarcasmo.

A mão da garota ia à direção do rosto da elfa, quando a própria segura o pulso dela numa velocidade incrível.

– Garotinha... Eu agenciei e abençoei mais casamentos do que esses malditos clérigos. Eu tirei milhares de garotas como você da miséria e da fome. Sou uma prostituta e cafetina! Mas eu sustento grande parte dessa Academia para evitar que o mercado de mulheres desvalorize. Acredite. A todo o momento nascem bastadas e futuras piranhas. Eu, pelo menos, dou dignidade aos frutos de estupros. Dou-lhes uma profissão. As putas são sustentáculo dessa sociedade hipócrita! – grita a elfa no rosto da garota que se encolhe.

Com desprezo, Lordanna solta o pulso da garota e a mesma cai no chão.

– Quando vir uma prostituta pode ter certeza que ela pode ser a sua mãe... – decreta a elfa que retorna ao seu trajeto.

Depois de uns metros, a elfa explode:

– Merda! Eu ainda pago a bolsa dessa ingrata! – continua a andar para a sala do diretor.

Depois de alguns minutos, a elfa se apresenta e se instala na cadeira reservada para os visitantes. Com sensualidade, a mulher ajeita os seus cabelos e inicia a sua conversa com o diretor Talude. Tudo começa com amenidades, depois os dois conversam sobre outros assuntos.

– Eu gostaria de deixar alguns ingressos e prospectos do novo festival em minha boate. Não se preocupe, será como nas vezes anteriores. Tudo será entregue por vias indiretas para os presidentes dos clubes dos alunos. Óbvio que será ocultamente. Não queremos que os pais dos alunos menores de idade fiquem preocupados com a “integridade moral” de suas crias. – e ri.

– De certo. A conduta ética de nossa instituição deve ser preservada. Mesmo sendo Magos temos instintos, digamos, mais primitivos. – e o diretor sorri de forma cúmplice. Qual vai ser o tema de sua boate neste ano? – pergunta curioso.

– A defunta Niele. Os rapazes adoram as elfas por causa dela. In crível como essa menina fez mais sucesso morta do que viva. Acredita?! Tive que ir até Vectoria para comprar tiras de couro! Gastei uma fortuna! Porém o investimento vai ter retorno. – e a elfa fica empolgada com a possibilidade de lucros. O que não falta é homem e algumas mulheres taradas neste mundo... – e gargalha.

Nisso a mulher entrega uma copia do prospecto do “Niiele Festival” para o diretor.

– “Temos garotas para todos os gostos e todos os tipos...” Imagino que exista um limite para este “todos os tipos”? – questiona o diretor.

– Claro. Nada de crianças! Sou vadia e cafetina, mas sou “limpinha”. Penso que crianças e sexo não combinam. É como água e óleo. Crianças estão em fase de desenvolvimento, ainda não têm capacidades físicas, mentais e psicológicas para compreender as plenitudes das formas de reprodução. Seria como colher um fruto ainda verde, eu quero que a minha mercadoria esteja no máximo de sua capacidade hormonal e sexual. Sexo é um jogo para adultos. – diz taxativa.

– A maioria dos alunos da Academia Arcana são adolescente... – observa o diretor.

– Poupe-me! Sabe muito bem que a maioria dos seus “alunos” usa magia de ilusão para entrar em minha boate e gastam uma quantia considerável que eu não posso desprezar. Como somos comerciantes, o senhor oferece poder e eu, prazer. As pessoas procuram a felicidade, porém cada um tem uma definição da mesma. Alguns acham que a felicidade está em ser superior aos outros em outras está na satisfação. O fato é que eu vendo prazer e seus alunos e professores apreciam o que ofereço. – filosofa a elfa.

Talude olha aquele prospecto demoradamente. Respira fundo e pergunta:

– Vai visitar o seu irmão?

A mulher fica em silêncio por alguns segundos.

– Ele está namorando? Soube que é uma Qareen que matou centenas de pessoas. – comenta.

– Cordélia é uma boa moça. Soube que ela cuida dele como uma mãe faria. – explica.

A sua expressão segura de antes esfarela diante a possibilidade de visitar o irmão.

– Não quero que as pessoas saibam que quem paga os estudos dele é uma piranha, cafetina e vadia... – e uma lágrima escorre no seu rosto.

O diretor segura a mão da mulher.

– Não se preocupe. Vai ser como antes... Sei não teve coragem de conversar com ele da última vez, mas agora acho que deve contar a verdade. Sei que passou a sua Vida toda se prostituindo para dar uma educação decente para o Tensey.

Como uma garotinha assustada e encolhida, Lordanna diz de modo mais humano possível o que sente e pensa:

– Quando a nossa cidade e Reino caíram, os elfos eram orgulhosos e lindos e transformaram essa escoria que vemos espalhados por ai. Quando a minha mãe morreu a dar a Luz ao Tensey, eu já me prostituia para que minha tivesse uma comida decente e não aquela lavagem que os humanos jogavam para nós. Nós duas fomos violentadas ao mesmo tempo. E pior, pelos membros de nosso próprio povo. A minha sorte que eu não estava em período fértil, pena que não pude dizer o mesmo de minha mãe. – recorda. Eu juntei dinheiro e fui roubada algumas vezes. Mas comecei aprender a usar o sexo como forma de poder e controle sobre os homens. Descobri que conhecimento é poder. Homens se revelam nos lençóis e somos os seus melhores ouvintes. Uma pequena chantagem aqui ou ali... Pronto. Tive uma estabilidade que nunca conheci em vida. Putas, às vezes, dão Sorte... – e sorri maliciosa. Resolvi investir em uma espécie de “Guilda” de prostitutas. Então, aqui estou! A poderosa “Lady” Lordanna, rainha e mãe de todas as rameiras de Arton. Sabia que sou considerada uma “santa”? Pode? – e ri de uma forma debochada. Trafico pessoas para vender os seus corpos e lucro com isso! Que tipo de pessoa é essa? – indigna-se.

– Uma sobrevivente. É isso que vai dizer ao seu irmão. – decreta o diretor. Não há muitos elfos na Academia Arcana que tem uma pontuação tão alta quanto o seu irmão. Vá falar com ele. – e bate na mão dela carinhosamente como uma forma de apoio.

Lordanna agradece pousando a outra mão sobre a do diretor.

Minutos depois, a elfa se aproxima do alojamento dos estudantes. Porém uma magia do zelador, a visão dos outros alunos não percebe a presença da prostituta nas instalações. Então, Lordanna fica na entrada do quarto pago por ela para o seu amado irmão. O elfo de cabelos prateados estuda com afinco. A sua irmã fica quieta, apoiada na soleira da porta, olhando o seu irmão estudando. Isso a enche de orgulho.

– Faz tempo que não vem aqui, mana... – diz Tensey sem ver a sua que está atrás dele.

A elfa gagueja um pouco e hesita um pouco antes de dizer:

– Desculpa. Eu estava de passagem. Muito trabalho. – responde.

– Soube que o nosso professor foi assassinado? – comenta.

– Sim. Por isso que estou aqui, - e respira fundo. Preciso te contar uma coisa...

– Sei que é uma prostituta. – diz estas palavras sem alterar a voz e sem sair de sua posição de concentração e de estudo.

A elfa gela até a alma. Parecia que um buraco poderia engoli-la a qualquer momento.

Um silêncio constrangedor perdura por alguns minutos. Logo esse é quebrado por uma tentativa de explicação da mulher, mas é interrompida por Tensey.

– Lor... – sem sair de sua posição. Eu te amo! Você me criou como uma mãe. Sei que paga tudo isso com o seu esforço. Eu dou o meu máximo para ser merecedor de seu investimento. – neste momento ele pára de fazer o estava fazendo e abaixa a cabeça. Eu sei que és prostituta desde meus doze anos... Os meus amigos me mostraram o seu cartaz. Eles não me humilharam, foi engraçado. Eles queriam conhecê-la. Não era de deboche, era admiração. Não era a puta que queriam, era a elfa mais linda do mundo... – só ai que o rapaz se vira e revela as lágrimas que escorriam abundantes no seu rosto.

Lordanna vai em direção do seu irmão e o abraça com força. Ambos choram copiosamente por um tempo. A elfa se senta, acaricia o rosto molhado por lágrimas do seu irmão e diz uma longa história de dor e dificuldades por todos aqueles anos entalados na garganta da prostituta.

Depois das explicações, a elfa segura à garrafa onde vive a Cordélia. Ela fica olhando curiosa tentando enxergar seu o conteúdo.

– Essa Qareen... Como ela é? Gosta dela? – pergunta.

– Ela é legal. Eu a ajudei, juntamente com o professor Carlos se adaptar depois do trauma. Ela era um grude. Ultimamente, ela anda meio relapsa. Anda sumindo, mas ela continua a me servir.

Direta, Lordanna pergunta:

– Transou com ela?

O elfo fica encabulado.

– Não. Ainda, não...

Seca, ela diz:

– Deveria. Senão outro vem e te rouba. Garotas são fiéis até certo ponto. Por mais submissas que possam parecer, elas têm necessidades. Não importa a espécie. Ela deve estar achando que você a vê como amiga. E sei que gosta dela. Eu te conheço. Pode ser o rapaz mais inteligente do mundo, mas em matéria de sentimentos, é uma toupeira. – e ri.

– Vai ficar por aqui? – pergunta o elfo.

– Sim, claro! E perder a oportunidade de humilhar a minha arquiinimiga, a tenente Louise Burker? Eu não gostei dessa história dela querendo ser a sua amiguinha. Quero ver a reação dela ao ver aquela que foi o pivô da sua separação com o gostosão tarado do seu finado professor. – e dá uma risada debochada.