É difícil acreditar que realmente vim até aqui. Sempre havia dito a Jerome que não gostava dos lunáticos que faziam um culto a ele, porém, para achar Jerome essa é uma das únicas saídas que vejo para conseguir tentar descobrir onde ele está. Por haver várias pessoas aqui que são obcecadas por Jerome, esse foi o primeiro lugar que pensei em vir para poder tentar ao menos tentar saber se alguém daqui sabe onde ele está. Não posso sair desse lugar sem sucesso.

Bem, eu não queria mesmo procurá-lo, até porque já consigo ter plena consciência de que não preciso dele. Na verdade, nunca precisei. Apesar de tudo, preciso ao menos de uma explicação do porque ele simplesmente foi embora e não voltou mais, e embora ele nunca tenha sido uma pessoa que consegue ter uma explicação para cada coisa que faz, ainda sim acho estranho que ele não tenha voltado. É claro que também já pensei na possibilidade de que ele possa estar morto, no entanto eu teria ficado sabendo se isso tivesse acontecido. Todos iriam comentar caso ele estivesse morto, e, além disso, ele sabe onde se esconder e quem evitar. Ele pode estar perfeitamente bem.

Entrei pelo corredor que ficava na lateral do prédio abandonado, o que fez que eu tivesse uma breve lembrança do dia em havíamos vindo aqui, bem no dia em que também quase tivemos a chance de matar Bruce Wayne. Bons tempos que tivemos com o garoto.

Havia uma porta de ferro que exigiu que eu fizesse mais força do que eu costumava usar, para poder abri-la, e então consegui entrar no local. O cheiro de mofo era forte, isso devia ser devido ao tanto de rachaduras que há nas paredes, que deve ajudar mais ainda nos dias em que há chuva. As pessoas que ali estavam levantaram-se rapidamente e vieram em minha direção após notar minha presença ali. Ao invés de reagir e mandar que não viessem para cima de mim daquele jeito decidi não falar nada, eu não estava ali par arrumar briga com ninguém. Cruzei os braços e esperei que chegassem até mim. Na metade do caminho eles pararam e eu em seguida sorri levemente, entendendo que eles já haviam notado que era apenas eu.

— É a Madison? – uma garota de cabelos vermelhos sussurrou para uma outra garota que estava ao seu lado, mas foi uma falha de ninguém ouvir.

— Sim, sou eu – falei em voz alta, deixando todos atentos em mim. — Faz um tempo que não vejo nenhum de vocês. Felizmente. Inclusive, não me lembro de ninguém.

— Jeremiah Valeska matou todas as pessoas que estavam com ele – disse a mesma garota de cabelo vermelho quase gritando.

— E eu vou fazer o mesmo com vocês caso alguém fale comigo de novo nesse tom! – gritei.

Desta vez eu pelo menos sei que Jerome matou, ou melhor: dezenas de pessoas. No mesmo dia em que ele fez isso Jerome e eu ficamos sabendo, o que fez ele surtar por saber que as únicas pessoas que davam ouvido ao que ele falava – além de mim –estavam mortos. Por sorte, não eram todos que estavam recebendo ordens de Jeremiah naquele dia.

— Imagino que queiram saber o porquê de eu estar aqui – sorri.

— Você e Jerome precisam de nós para alguma coisa? – a garota que estava ao lado da garota de cabelo perguntou com um sorriso parecendo animada com a ideia.

— Não – balancei a cabeça negativamente. — Na verdade, quem precisa de vocês é apenas eu desta vez.

— E por que Jerome não está com você? – a garota perguntou.

— Porque faz três semanas que Jerome está sumido – pareceram meio chocados com o que eu disse, então achei melhor explicar para que não houvesse duvidas. — Porra, não é como se ele tivesse sido sequestrado ou coisa do tipo. Jerome foi embora por vontade própria, então preciso que o encontrem.

— Como faremos isso?

— Se virem. Procurem em todos os lugares. Perguntem para todos que acharem que podem saber onde ele está, mas quando souberem onde ele está, não quero que vá até ele ou falem com ele, e, de preferencia, sejam discretos, pois não estou afim de saber que Jerome descobriu que estou atrás dele – expliquei mantendo uma expressão séria.

Todos se olharam. Alguns pareciam confusos, outros pareciam ainda processarem o que eu falei, mas alguns deles pareciam até estarem desconfiados do meu pedido. Eu se estivesse no lugar deles também desconfiaria sobre o fato de eu estar sozinha sem o Jerome, pois as poucas vezes em que eles nos viram nós estávamos juntos, e como também viam apenas Jerome como um líder, já devia saber que isso poderia gerar uma certa desconfiança deles sobre mim.

Olhei para as duas garotas que há alguns segundos sussurravam uma para a outra e fiz um sinal com a cabeça para que ambas me seguissem, e sem hesitar elas vieram andando junto à mim até os fundos do armazém. Precisava falar a sós com elas, apenas elas.

— Por que nos chamou aqui? – a garota de cabelo vermelho perguntou.

— Para continuarmos a falar do que eu havia dito ali atrás – respondi e elas pareceram entender.

— Se aceitarmos, o que iremos ganhar com isso? – a loira perguntou sobre

— Como vocês se chamam? – ignorei totalmente a pergunta dela.

— Sou Aubrey e ela é Josie.

— Já foram presas, certo?

— Sim – respondeu Aubrey.

— Tráfico? – e elas assentiram. — Certo. Onde costumam fazer isso?

— Nós sempre vamos há algumas boates e vendemos para as pessoas que estão lá, mas numa dessas vezes fomos pegas por um segurança que viu o que estávamos fazendo e chamou a polícia. Desde então não estamos fazendo isso tanto quanto fazíamos antes.

— Posso ajudar vocês duas com isso – elas sorriram animadas. — Porém, precisam fazer com que todos procurem saber onde Jerome está – disse firme.

— Podemos fazer isso.

— Sei que podem. Exatamente por isso que chamei as duas para conversar em particular. Vou precisar de alguém para sempre me avisar como está indo tudo por aqui, já que não posso ficar o tempo todo atrás de vocês.

— O que devemos fazer exatamente? – perguntou Josie.

— Façam com que não parem de procurar por Jerome.

— Mas todos aqui temos coisas a fazer – disse Josie.

— Tipo vender drogas e roubar lojas que foram deixadas? – debochei. — Meninas, não aprenderam ainda? Gotham. Não. Tem. Regras. Não mais. Terão tempo de sobra para ganharem o dinheiro como querem.

— O que acontece se nós decidirmos não fazer o que está pedindo? – dei risada do comentário de Aubrey.

— Primeiro: isto não é um pedido. Segunda: farei com vocês o mesmo que Jeremiah fez aos seus antigos amigos. Simples.

O olhar de ambas era como se quisessem me desafiar, no entanto era perceptível o medo que estavam sentindo. As garotas pareciam, sim, serem legais, mas eu não estava me importando com quem eu tivesse que ameaçar para conseguir o que queria. Jerome já não está mais aqui para mandar no que eu faço. Dessa vez será eu por eu mesma.

— Estão me entendendo? – perguntei apenas para ter certeza de que haviam pegado o que falei.

Elas assentiram rapidamente.

— Ótimo.

— E o que a gente faz quando soubermos onde Jerome está? – Josie perguntou receosa.

— Vão imediatamente até mim. Com eu já havia dito: não vão até onde ele estiver e muito menos falem com ele.

— Bem, acho que entendemos – Aubrey diz olhando para Josie.

Espera... eu conheço esse olhar.

— São um belo casal – elas sorriram em agradecimento e entrelaçaram seus dedos. — Certo. Acabamos por aqui – fui andando na frente delas e logo em seguida me virei para falar uma última coisa. — Vocês devem começar hoje o que eu estou mandando.

Logo quando eu já estava fora do local fui diretamente andando até o meu carro, porém escutei alguns gritos vindo do outro da rua. Uma garota estava encostada na parede de um dos prédios enquanto um cara estava de frente para ela apontava o dedo em seu rosto, gritando xingamentos para a mesma. Mesmo de longe eu podia ver que seu rosto estava vermelho porque provavelmente estava chorando pela situação que estava passando naquele momento. Pensei em ir embora e deixar que se os dois se resolvessem, porém mudei totalmente de ideia quando vi que o cara deu um tapa no rosto dela fazendo-a até mesmo cair no chão. Comecei a andar em direção a eles e apertava o passo conforme o choro da garota aumentava.

— Algum problema? – perguntei quando cheguei a mais ou menos 1 metro de distancia deles.

— Sabe como é, não é? Brigas de casais – ele explicou e deu um sorriso que me fez querer vomitar.

— Como são brigas de casais? –me fiz de desentendida.

— Ah, você sabe... – ele estava sem graça tentando explicar. Consegui o que queria.

— Sei – dei risada. — É você bater em sua namorada. Sabe, cara, você errou feio no que estava fazendo com ela – sorri.

Num rápido movimento eu tirei minha arma da cintura e mirei e sua cabeça, disparando três vezes seguidas, logo depois escutando os gritos da garota que agora ia até o corpo caído começando a abraça-lo.

— Não! – ela gritou. — Por que você fez isso?! – ela me olhou.

— Sinto muito – eu disse, e realmente sentia muito, mas sentia muito por ela, não por ele. — Você vai perceber que ele merecia isso.

Saí andando enquanto aquela garota ainda chorava abraçando o corpo do namorado morto. Sendo franca, não me importo com o sofrimento, aliás, quem perdeu alguém foi ela, não eu. Eu só não queria ter visto aquele casal. Isso tudo fez eu me lembrar de Jerome. Ver a garota chorando fez eu lembrar-me o tanto que eu o amava e o quanto eu infelizmente sentia falta dele. E talvez o pior de tudo não foi o fato de eu estar sentindo falta dele, mas sim o fato de que eu me identifiquei com o amor dela por ele, que mesmo a tratando daquele jeito, ainda sim ela daria tudo por ele.

Como eu queria e precisava relaxar um pouco, peguei meu vidro de comprimidos no porta-luvas. Coloquei três pílulas de uma vez em minha boca e logo virei vários goles de água da garrafinha que eu sempre deixava no carro. Rapidamente fechei a garrafa com a tampa e deixei-a no banco ao lado, pois sabia que não demoraria até fazer efeito, então não ficaria com aquela garrafa aberta e correr o perigo de cair no momento em que eu apagasse.

Comecei a dirigir até encontrar qualquer rua que fosse extremamente deserta, pois eu iria apagar antes mesmo de chegar em casa, por isso não me preocupei em ir embora. Depois de chegar a uma rua que eu já tinha certeza que era deserta o suficiente apenas me encostei no banco e com a cabeça na janela, esperando vir e me apagar.

(Flashback on)

Embora eu estivesse prestando atenção nas palavras do livro em minha mão, não podia deixar de reparar também que Jerome encarava-me há pelo menos uns 15 minutos, algo que não me incomodava, pois eu gostava que ele ficasse me olhando. Para mim, era sinal de que estava reparando por um bom motivo, e isso fazia com que ás vezes eu até torcesse para que ele ficasse me olhando, reparando em mim.

Dei uma leve olhada para o sofá, onde ele estava sentado, e em frente a ele ficava uma mesinha de madeira com algumas armas e também algumas dezenas de balas em que ele parecia ter desistido de colocar nas armas. Pensei em me levantar no chão e ir até ele, no entanto eu não tinha certeza se ele iria querer eu perto dele se for levar em conta que ontem nós tivemos uma briga feia, na qual quero me esquecer, pois ainda estou extremamente magoada com ele por ter tido que escutar tantas coisas ruins que ele me disse. Apesar de tudo, não vou ficar pensando nestas coisas, aliás, não quero continuar brigada com ele e tendo que ficar nesse clima estranho. Depois de alguns segundos o olhando nos olhos desviei o olhar para meu livro, porém já não conseguia prestar atenção numa palavra que estava escrita.

Por não estar mais conseguindo me concentrar, comecei a encarar a janela. Olharia para qualquer lugar, mas me recusava a trocar mais um olhar sequer com Jerome.

— Madison – escutei sua voz me chamar, e então o olhei.

É, eu não voltaria a olhá-lo a menos que ele me chamasse, coisa que ele fez.

— O que foi? – perguntei sem esboçar nenhum tipo de animo por ele ter falado comigo, mas estava feliz por isso.

— Venha até aqui – e no mesmo momento eu me levantei e fui colocar meu livro em cima estante.

Em seguida, corri e me joguei em cima dele, que me agarrou para que eu não caísse de seu colo para o chão. Passei os braços em volta de seu corpo e o apertei enterrando meu rosto no vão de seu pescoço. Suas mãos agarraram minhas coxas e trouxeram meu corpo para ainda mais perto dele, o que me fez sorrir, pois aí tive a certeza de que ele realmente estava bem comigo.

— Está abraçando demais – eu ri de seu comentário.

— E você está quase apertando minha bunda.

— Isso é uma reclamação?

— Com certeza, não.

— Tanto faz, eu vou continuar de um jeito ou de outro – e dessa vez realmente subiu até minha bunda e as apertou força.

Me inclinei para frente e segurei seu rosto para beijá-lo. Nós movimentávamos nossas línguas, e conforme isso acontecia eu rebolava em seu colo com enquanto suas mãos faziam mais força em apertas minhas nádegas. Embora estivesse bom, eu não estava afim de fazer nada, então me afastei dei um leve empurrão em suas mãos que estavam em mim. Jerome olhou-me sem entender nada, e eu apenas balancei a cabeça negativamente, mas ele ainda tentou me segurar em seu colo.

— Não – neguei mais uma vez, e então ele me soltou parecendo um pouco frustrado.

Saí de cima dele e me sentei ao lado no sofá, logo em seguida agarrei seu braço e encostei a cabeça, fechando meus olhos e respirando fundo para inalar o cheiro de perfume que vinha de sua camisa.

— Acho bom que sejamos apenas nós dois. Gosto de nossa vida assim – comentei sorrindo.

— Tanto faz, nem me importo – disse indiferente.

Contraí os lábios, me segurando para não falar nada sobre a forma como ele falava. Já estou acostumada, não faz diferença.

— Meu braço está roxo – minha voz saiu mais fraca do que achei que sairia.

— Logo deve sumir – suspirei fundo, triste por ele realmente não se importar com o que ele mesmo me causou. — Ei – me chamou e o olhei. — Sabe que eu não queria ter feito isso.

— Então... Por que fez?

— Ás vezes você me estressa.

— Me desculpe – dou de ombros. — Mas não deveria fazer isso, Jerome.

— Faço o que eu bem entender. Devia saber disso.

— Pois é, eu sei, mas eu sou uma pessoa, Jerome. Sou sua namorada! – gritei e me desencostei dele.

— E por isso deve ficar quieta e não reclamar sobre a forma que trato você.

Abaixei a cabeça e abracei minhas pernas. Queria estar olhando para algum lugar que não fosse seu rosto caso eu começasse a chorar, e eu não queria chorar na frente dele, vou parecer uma idiota chorando mais uma vez.

— Olha aqui – neguei com a cabeça. — Madison! – me repreendeu.

— Não quero olhar para você.

— Quer.

— Eu não quero.

— Você quer, sim. Olhe para mim agora!

Voltei a olhá-lo e ele balançou a cabeça não aprovando o fato de eu estar chorando.

— Por que está chorando desta vez? – mantive silêncio. — Até quando você fará isso?

— O quê? –voltei a me pronunciar.

— Ficar chorando como uma criança. Se você não se cansa, eu me cansei.

— Me desculpe.

— Pare de se desculpar!– gritou. Pareceu se acalmar em seguida, mas eu ainda estava meio assustada com seu grito. — Você sabe o que sinto por você, não é?

Passei minhas mãos em meu rosto para limpar algumas lágrimas.

— Sei – respondi simplesmente.

— Então, Madison, isto é o suficiente para não reclamar mais de nada.

— Tudo bem. Estou bem – suspirei fundo. — Eu te amo.

— Sei disso. Estou cansado de saber.

(Flashback off)

Meus olhos ainda estavam pesados, eu seguia morrendo de sono. Provavelmente eu voltaria a dormir, o que impediria eu de ir até Jeremiah já que ele disse para eu ir até ele quando eu estivesse bem, mas isso não aconteceria hoje. Pelo menos, não posso ir lá com o estado em que estou.