Made of Stone

EXTRA - O curso natural das coisas - Pt. I


— Que olheiras são essas, meu menino?

Ben estava na gigantesca sala de estar, sentado no sofá e encarando a xícara de café intocada, já fria. Ergueu os olhos castanhos para a dona Martha, que se sentava ao seu lado com os olhos piedosos por sobre ele.

— Ele não me procurou mais — contou, como se contasse que alguém havia morrido.

Martha sorriu.

— Talvez ele precise de um tempo — apontou, sábia, já estando a par do assunto, desde que encontrara Ben aos prantos silenciosos após a conversa com Jake.

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Até para chorar Ben era quieto.

Martha costumava sentir dó destes aspectos dele, mas agora só a faziam amar mais aquele garoto. Eram características dele e jamais o mudaria. Talvez, apenas, a dor que parecia sentir o tempo inteiro e que agora aumentara mil vezes com o tempo afastado do melhor amigo.

— Ele já não teve tempo suficiente? — questionou, chateado. — Faz quase um mês que a gente mal se fala, sem falar nos dois meses antes. Eu... — Suspirou. — Eu falei que isso ia acontecer. Eu o estou perdendo.

Martha suspirou, passando uma das mãos pelo rosto moreno.

— E eu já falei que isso não vai acontecer — disse ela, certa. — Sabe o que eu acho? — Ben olhou para ela, desanimado. — Acho que você precisa de novas companhias. — Ben já negava antes dela finalizar: — Você está na faculdade, meu bem, está na melhor fase da sua vida. Por que não aproveita, ao menos um pouco?

Ben balançou a cabeça, um tanto rabugento.

— Você sabe que eu não sou assim.

— Ora, não estou pedindo que vire festeiro de uma hora pra outra! — disse ela, dando um tapinha em seu braço. — Estou pedindo que faça uma amizade, que inicie uma conversa com alguém, que tente descontrair um pouco.

Ben suspirou, apoiando as costas no sofá.

— Como eu posso descontrair, se ele...

Martha abanou com a mão como se não fosse nada.

— Esquece ele! — pediu, os olhos implorando.

Ben remexeu-se no sofá, parando os olhos nos dela como se recém a visse, e não gostasse do que estava vendo. — Como pode me pedir isso? — perguntou, ofendido.

Martha sorriu, um tanto triste.

— Não estou dizendo que o esqueça para sempre e sim, que não fique pensando nele 24 horas por dia — insistiu, piedosa. Ben desviou o olhar. — Eu adoro que seja comprometido com as pessoas que ama, Ben. E eu sei que o ama muito, mas você precisa entender que você existe — enfatizou — sem ele. Precisa entender que você é uma pessoa individual, que é um rapaz inteligente e incrível, e que você tem valor — disse, a voz embargando ao ver que os olhos dele se encheram d’água — sem o Jake.

Ben olhou para o outro lado da sala, engolindo em seco para não chorar de novo, já que Martha sabia exatamente como cutucar todos os seus pontos fracos.

Ela sabia que ele não pensava muito sobre si próprio.

Sabia que, depois de tanto tempo, talvez ainda não houvesse aprendido a se amar. E que Jake e ela eram as únicas pessoas que o faziam querer viver. Que ele próprio não era o suficiente para isto.

Ele próprio não era o suficiente para ele mesmo.

— Talvez, quem sabe, você não consiga entender isto com mais alguém... — Hesitou, nada sutil. — Alguém que... Que também te valorize como nós valorizamos, mas de uma forma diferente...?

Ben focou os olhos nos dela mais uma vez.

— Não quero mais falar da Lucy, Martha — pediu, o cenho franzido.

— Exatamente por isto que devia falar dela.

Ben revirou os olhos.

Ben havia dito para Lucy, via mensagem, que “isto não está funcionando”, que “gostei muito de você, mas não quero mais te ver”, e que “sou uma pessoa solitária”. Devido ao grande vácuo antes de lhe dirigir uma explicação meia boca, Lucy sequer o respondeu.

— Não estou dizendo que ela é o amor da sua vida — continuou Martha, pegando a mão grande do garoto nas suas rechonchudas e a apertou, chamando os olhos para ela. — Mas quem sabe isso não é o começo de algo bonito? — ponderou, com um sorriso. — E quem sabe, este momento pelo qual está passando não é um indício de algo, um sinal para você? — Ben desviou o olhar. — Quem sabe esse não é o momento perfeito para descobrir quem você é sem ele, já que ele está descobrindo quem ele é sem você?

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Depois de um longo silêncio, Martha fez mais um carinho no seu rosto com a mão livre e soltou-se dele ao levantar.

— Pensa nisso, meu menino — pediu, por último, vendo-o assentir. — Mas não pensa de estômago vazio. Venha almoçar.

Ben sorriu para ela antes que ela desse as costas, voltando os olhos para a xícara de café que ficara intocada por mais de hora no balcão.

*

— E aí, meu príncipe das trevas?

Bruno cumprimentou assim que adentrou no quarto do Alex, que demorou a ver sua presença porque tinha os olhos fixos no celular. Estava atirado na cama, todo vestido, com camiseta preta e branca, jaqueta preta, jeans preto e coturnos pretos.

Bruno pensou que o apelido fosse apropriado.

Alex riu, arqueando as sobrancelhas.

— O que faz aqui, bonitão? — questionou, retrucando a brincadeira, sentando-se na cama.

Bruno riu, dando de ombros.

— Eu vim te buscar pro nosso rolê.

Alex assentiu.

Haviam marcado de se ver pela primeira vez desde as férias. Tudo bem, sempre acabavam se esbarrando uns com os outros, mesmo fora do colégio, mas nunca mais se reuniram com todos juntos, especialmente com os dois formados.

E todos iriam: Alex, Bruno, Ben, Jake, Emily, Matt, Anne e Faye. Para não serem injustos, até haviam convidado a Mary Jane, apesar dela ter deixado o grupinho desde que Alex entrara, mas ela havia dado uma desculpa para não aparecer.

— Ok, só espera os pestinhas me responderem — pediu, ainda com os olhos no celular. — Mason tinha que comprar não sei o quê de computador ou jogo ou sei lá — disse, vago, causando um riso no mexicano — em uma loja do shopping, e acho que o Ian e o Caleb iam junto com ele, mas ninguém me responde.

Bruno riu-se. — Ok.

Todos achavam graça na amizade do Alex com os garotos, mas também já haviam acostumado.

— Senta aí — diz o Alex, vago, digitando no celular.

Bruno, no entanto, tinha outra coisa em mente.

Remexeu-se no lugar, encarando o puff, mas sabendo que estava agitado demais para fingir querer ficar quieto.

— Alex — chamou, observando-o resmungar um “hum?” —, você é gay né?

Alex ergueu os olhos do celular, encarando o amigo mexicano com desconfiância. Já não bastava Ian agir todo estranho por algumas semanas, deixando os dois desconfortáveis, depois que descobriu sobre o primo. Mas o Bruno? Aquele que jurava saber antes que todos?

Estranho.

— Sim — respondeu, alongando a vogal com estranheza antes de arquear uma das sobrancelhas. — Achei que já tivéssemos esclarecido isto.

Bruno assentiu. — Sim, eu só queria ter certeza — disse, a voz diminuindo a cada palavra.

Alex desligou a tela do celular de vez, intrigado.

— Por?

Bruno hesitou, agitado, ao relancear a porta aberta do quarto. Pensou se não estaria sendo um completo idiota - mais do que o normal - por isto, mas largou o foda-se porque aquele era o Alex.

— Ok — falou, agitado, antes de bisbilhotar no corredor e fechar a porta do quarto, girando a chave, antes de virar-se para o Alex. — Preciso que você me beije.

Os dois se encaram por um momento bizarro, antes que Alex soltasse um som pelo nariz, quebrando a tensão.

— O quê?

Começou a rir, e Bruno não se aguentou, se juntando a ele no automático, um tanto aliviado por tal.

— É sério, vem cá — pediu, de um jeito engraçado, dando um passo em frente.

Alex não se aguentou, gargalhando. — Você não tá falando sério, cara — tentou, e Bruno riu junto dele, sem conseguir dizer nada. — Por quê?

Bruno revirou os olhos, antes de fazer mais uma pose engraçada, que Alex pensou ser sua forma de sedução. Precisava de mais treinamento, de certeza.

— Porque sim, vem cá — chamou mais uma vez, com um sorriso sensual de canto que, para Alex, era apenas hilário. — Vem, seu gostoso.

Foi o que bastou para que os dois explodissem em gargalhadas, juntos, por tempo excessivo. Alex curvou o corpo por sobre a barriga, mal conseguindo olhar na cara do mexicano que, por sua vez, se apoiava na parede ao rir.

— Meu deus, Bruno — conseguiu pronunciar, entre risos, quando estes diminuíram o suficiente.

Bruno era sempre um palhaço, mas de todas as piadas do mundo, não conseguia entender de onde havia surgido aquela. A não ser que não fosse inicialmente uma piada.

Bruno respirou fundo ao conseguir parar de rir, aliviando os músculos da barriga que lhe doíam.

— Ah, tá, deixa — disse, com um sorriso. — Não ia dar certo mesmo — abana, como se não fosse nada, antes de se atirar no puff.

— Não, espera aí — começou Alex, ajeitando-se na cama. — Você estava falando sério? — questionou, vendo o mexicano coçar os cabelos, sem graça, fazendo-o rir de novo. — Por quê? De onde surgiu isto?

Bruno deu de ombros, um pouco encabulado, mas tentando disfarçar com os risos.

— Eu só queria saber se... — Hesitou, soltando um riso. — Bom, você sabe, se eu gosto da fruta também. — Alex gargalha de novo, inclinando o corpo para trás. — Você fica rindo! — acusa, mas rindo também. — Vou achar outra pessoa!

Com um resmungo, cruzou os braços, de forma teatral, causando mais risos no amigo.

— E vou embora se ficar rindo de mim — acusou, levantando-se em direção da porta para confirmar.

Alex riu de novo, mas porque dava para ouvir a brincadeira por detrás das palavras. No entanto, resolveu considerar o que ele dizia.

— Espera, espera — pediu, quando ele girou a chave, mas Bruno riu-se. — Bruno, você não precisa beijar ninguém pra saber, você já sabe.

Bruno hesitou, sem saber se ele falava sério.

— O quê? — perguntou, com um sorriso perdido.

Alex inclinou o rosto, achando graça, mas se limitando apenas em sorrir.

— Você sabe — repetiu. — Não tem como não saber. Você pode não admitir pra si mesmo, mas sabe. A gente sempre sabe — acrescenta, arqueando uma das sobrancelhas, ao se referir à sua própria experiência.

Bruno exalou pesado, deixando os ombros caírem, antes de voltar para o puff.

— Não, eu realmente não sei! — disse, abrindo os braços, igual uma criança. — De verdade.

Alex franziu o cenho, confuso, sem compreender este caso. Ele sempre soube, e achou que com todo mundo fosse igual.

Piscou algumas vezes, pensando, antes de dar de ombros.

— Tá, mas... — Observou-o, pensativo. — Se você teve dúvidas o suficiente para você querer sair testando por aí — disse, com um riso —, acho que isso já uma resposta por si só.

— Não...

Bruno até tentou negar, hesitando, ponderando, relembrando. Deu um riso sem graça, mas logo ficou pensativo, com o cenho franzido. Alex sorriu, pegando o celular que vibrara, antes que eles caíssem em um silêncio por mais tempo que pensara.

O Bruno!, pensou Alex, rindo para si mesmo. Quem diria.

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No entanto, isto lhe trouxe um questionamento que o tomou de curiosidade. Focou os olhos pretos no Bruno, que girava o celular nas mãos, com a cabeça longe.

— Quem foi que levantou a dúvida? — perguntou, como quem não quer nada.

Bruno franziu o cenho, demorando a entender a pergunta, antes de retorcer o rosto em uma careta. Deu um sorriso mínimo para Alex, antes de desviar o olhar.

— Porque certamente não fui eu — insistiu Alex, curioso pela resposta.

Bruno deu um sorriso malicioso.

— Como você sabe? — perguntou, os olhos de predador, ao passo que Alex cerrava os lábios para não rir. — Talvez eu tenha caído no teu encanto.

Os dois se olham por um instante antes de gargalhar de novo, fazendo com que Bruno se questionasse o que tinha na cabeça de pensar em beijar o Alex em primeiro lugar.

Não se levavam a sério.

— Eu não duvidaria — respondeu ele, por fim, convencido, ao levantar na cama e enfiar o celular no bolso, já que obtinha a resposta que precisava dos garotos.

— Sai daí!

Bruno dá um empurrãozinho no Alex, que ri e desvia, caminhando até a mesinha para pegar o maço de cigarro e o isqueiro e enfiá-los no outro bolso da calça.

— Sabe, talvez você pudesse ficar ao menos um dia sem fumar — provocou Bruno, mas Alex apenas lhe mostrou a língua, como o perfeito adulto que era perto do mexicano.

Antes de saírem porta afora, Alex segurou-o pela camisa, no entanto.

Bruno o encarou, arqueando uma das sobrancelhas.

— E talvez você devesse beijar quem levantou a dúvida — sugeriu, manso —, e não eu.

Bruno tornou a ficar sem graça, como acabava ficando quando os assuntos não envolviam piadas e gargalhadas.

Nah — diz ele, meio sem graça, perdendo um pouco da graciosidade. — Eu não posso.

Alex arqueia as sobrancelhas, pensando.

— Ele é hétero? — chuta, mas Bruno nega, coçando o rosto. — Então por quê?

O indício de sorriso de Bruno sumiu pela primeira vez na conversa toda, e Alex o imitou em um instante, preocupado.

— Porque ele está sofrendo.

*

Ao chegarem no shopping, depararam-se com Annelise logo de cara, com quem conversaram um tanto antes que Alex a deixasse com Bruno. Iria encontrar seus pestinhas em uma loja de jogos, já que todos eles já estavam por ali.

Quando adentrou na loja mais nerd que já viu em toda a sua vida, não precisou procurar pela mini gangue terrorista, os encontrou pelas vozes.

A discussão, também nerd, era sobre qual jogo iriam comprar, motivo pelo qual se deslocaram até ali.

— Não, esse é muito caro! — enfatizava Caleb, parecendo já incomodado com a saída deles.

Alex riu, se aproximando ao passo que eles tomavam forma, alinhados em frente à prateleira dos lançamentos de jogos.

— Tá, então esse — sugeriu Ian, pegando-o na mão e sacudindo na frente dos olhos do Caleb. — Olha só, tá pela metade do preço.

— Vocês são idiotas? — perguntou Mason, impaciente. — Querem mesmo pagar caro por um jogo meia boca? — questionou, revirando os olhos azuis. — Eu prefiro gastar toda a mesada com um jogo bom do que gastar metade dela com um jogo ruim.

Alex passou um dos braços por cima dos ombros do Ian, soltando um riso quando o primo se assustou. Em seguida, sorriu-lhe, cumprimentando-o.

— Mason tem razão — concordou Grace, sem ver a chegada de Alex —, vocês são idiotas?

— Vocês é que são! — reclamou Ian, chamando a atenção de Grace para ambos os Cunningham’s. — Não estão vendo que os bons mesmo custam o triplo da mesada de qualquer um de nós?

— Qualquer um? — retrucou ela, debochada. — Você é rico!

Caleb arqueou uma das sobrancelhas, sorrindo. — Não, os pais dele é que são ricos — debochou, junto de Grace, sobre a frase que todo adolescente rico diz.

Alex gargalhou, e Ian se desvencilhou dele, encarando-o como se fosse um traidor.

— Do que você está rindo? Não esquece que estamos na mesma família — disse, mas Alex continuou a rir.

— Ah, priminho, queria eu ter uma família como a sua — disse, bem-humorado, com a mão no peito, embora a fala tivesse um quê de verdade.

Ian bufou.

— E os na promoção? — tentou Caleb, apontando para a placa colorida que destacava as promoções.

— Os únicos na promoção são os meia boca — contou Mason, ajeitando os óculos ao passo que os checava uma vez mais. — Grace, você vai entrar na vaquinha também?

— Só se não for futebol, não suporto — disse, encurtando as poucas opções deles. — Tem que ser de luta!

— Eu posso contribuir um pouco também, se tanto querem — sugeriu Alex, dando de ombros.

E, como sempre gostava de estar abraçado em alguém, puxou Grace em direção ao seu peito desta vez, como se nada estivesse acontecendo, ao passo que ela franzia o cenho com estranheza.

Caleb riu, percebendo que havia sido involuntário dele.

— Vocês precisam de ajuda?

Os cinco viraram de uma vez só para trás, onde jazia o funcionário júnior com um sorriso educado que provavelmente lhe fora instruído para quando se dirigisse aos clientes da lojinha.

Os cabelos castanhos lambidos, a postura dura do corpo e a camiseta de gamer apenas confirmavam que o funcionário/estudante combinava perfeitamente com a loja nerd na qual provavelmente estagiava. Ao menos, foi o que Alex pensou. Devia ter a idade do Ian, talvez a sua.

Grace se dirigiu a ele com prontidão, saindo dos braços do Alex, tomando fôlego para dizer tudo de uma vez só:

— Precisamos de um jogo foda de luta, que esteja na promoção ou que não seja tão caro, e que seja lançamento porque não vamos pagar caro por um jogo velho — finalizou, causando risos em Alex e Caleb.

O garoto sorriu também, achando graça, antes de arquear as sobrancelhas, pensando. — Como o Street Fighter V? — tentou, no intuito de descobrir mais sobre o que devia sugerir a ela.

Grace travou por um momento. — Não faço a menor ideia do que isto significa, mas se está dentro dos parâmetros que pedi, então sim — concluiu, causando confusão nos demais.

— Como assim você não conhece Street Fighter? — perguntou Mason, praticamente ofendido.

— Já ouvi falar — disse ela, dando de ombros. — O que foi? — perguntou, referindo-se aos olhares. — Eu não sou como vocês, eu não jogo — revelou, causando surpresa. — Nem tenho PlayStation ou nada assim, sou mais de filmes mesmo. A única coisa que sei é que quando jogo na minha prima, eu gosto dos de luta, os outros são chatos. — Deu de ombros.

Uma série de resmungos e impropérios se seguiu, ao passo que Alex os observava com bom humor, assim como o atendente.

— Então por que você sequer tá opinando, coisa chata? — reclamou Ian, ao mesmo tempo que Caleb também se dirigira à ela:

— Por que não nos disse antes?

Grace alternou o olhar entre um e outro, antes de sorrir como se eles fossem imbecis. — Ninguém me perguntou — respondeu, singela, ignorando a pergunta de Ian. — Só me mandaram mensagem dizendo para eu estar aqui.

— Eu devia ter chamado a Cris — resmungou Mason, pegando o celular do bolso, ao se referir à crush, que era tão gamer quanto ele.

— Devia mesmo — concordou Grace, assentindo. — Ainda não conheço sua namoradinha.

— Ela não é... — começou, avermelhando feito um tomate, sob olhares risonhos dos demais, mas fora interrompido.

— É, sim! — retrucaram, em uníssono.

— Ainda querem sugestões? — questionou o atendente, perdido.

Caleb se adiantou, assentindo, ao se aproximar dele.

— Por favor — implorou, louco para ir embora. — Street Fighter serve.

O garoto riu educadamente antes de pedir para que Caleb o seguisse. Atrás dos dois, o resto do bando o seguiu, mais lento, discutindo sobre mais alguma coisa, a lenha na fogueira havendo sido Grace e Ian, como sempre.

Ao passo que todos esvaziavam o bolso para comprarem o dito cujo do jogo, apressados por Alex, que queria encontrar sua panelinha logo, o atendente apoiou-se no balcão ao lado deles, passando as informações para a moça detrás do caixa.

Alex, envolvido na conversa dos mais novos, ainda demorou um tempo para perceber que o garoto e Caleb estavam em uma conversa paralela ao lado do caixa, quase como se fossem amigos. Ouviu as palavras-chave da conversa e deduziu do que se tratava. Algo sobre haverem sido vizinhos tempos atrás, suas mães se conheciam, haviam trocado de bairro, mal se reconheceram, como haviam mudado.

Até aí tudo bem.

E então as coisas se distorceram um pouco.

— Ah, ‘cê não mudou muito não, Caleb — disse ele, inclinando o rosto para analisá-lo. Sorriu, por fim, mexendo em seus cabelos com leveza. — Tá mais bonito, mas continua do mesmo jeitinho.

Para um expectador, até pareceria engraçada a forma como tanto Alex quanto Caleb remexeram-se no lugar, desconfortáveis, como uma espécie de espelho.

— Hum, valeu — resmungou um desajeitado Caleb, retorcendo os dedos.

O garoto atendente abriu um sorriso ainda maior, parecendo apreciar o jeito envergonhado de Caleb, da mesma forma que Alex tanto apreciava.

— Ei, vocês não vêm? — chamou Ian, confuso, ao chamar a atenção dos três.

Os demais já haviam pagado e caminhavam para longe do caixa com o jogo em mãos ao passo que os dois nem pareciam perceber. Caleb planejando sua rota de fuga do antigo vizinho e Alex, estatelado, observando o desenrolar da cena.

Caleb piscou, virando-se para os amigos mas dando de cara com Alex no processo, que piscou, atônito. Em seguida, Alex fez a maior cara de paisagem que conseguiu antes de forçar um riso e se aproximar dos dois.

— Sim, estamos indo — avisou, alto, antes de passar um dos braços pelos ombros do Caleb e puxá-lo para o seu peito. Com os olhos no garoto que os observava sem nada compreender, perguntou: — Não é, Caleb?

Caleb piscou, desviando o olhar entre um e outro, antes de assentir e murmurar rapidamente para o garoto que os encarava com um sorriso desconfortável: — Foi bom te ver — disse, desajeitado. — Manda um abraço pra sua mãe.

— Claro, digo o.... — Alex puxou Caleb antes que vomitasse em cima nos dois, e o garoto só viu o vislumbre de um sorriso amarelo de Caleb quando olhou para trás. — ... mesmo.

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Caleb ergueu os olhos para o Alex, mas os olhos negros estavam encarando à sua frente enquanto o arrastava para a saída da loja, de onde os demais os esperavam.

— Qual é a pressa? — resmungou Caleb, tardiamente, tentando compreender.

— Achei que você estivesse com pressa para sair daqui logo — resmungou, de volta. — Só te ajudei.

Caleb ainda tinha uma careta quando murmurou, ainda meio perdido: — Hum, obrigado?

Assim que saíram da loja, Caleb se desvencilhou do abraço de Alex. O mais velho só o permitiu porque teve sua atenção desviada para um mexicano, apoiado em uma pilastra com um sorvete pela metade, que lhe encarava com uma sobrancelha arqueada.

Alex franziu o cenho, tentando entender o que queria dizer aquela expressão de sabe-tudo que Bruno lhe dirigia, quando o mexicano indicou com o olhar a loja em frente. Devido à loja ser totalmente revestida de vidro, de onde Bruno estava, podia enxergar perfeitamente o interior dela, inclusive o caixa que não era muito longe da porta.

Bruno os estava observando.

Alex fez uma careta, pensando no que dizer ao amigo para lhe convencer que aquilo não havia sido uma cena de ciúmes. Conhecia Bruno o suficiente para saber que era disto que o amigo iria lhe acusar.

*

Jake estava sentado em um dos maiores bancos do interior do shopping, de onde podia ver o movimento das pessoas que percorriam os corredores. Encarava de longe Annelise, Emily, Faye e Mia, que haviam se afastado um tanto para comprarem sorvete. Deixaram Jake no ponto de encontro caso os demais retornassem e/ou chegassem para evitar confusões.

O primeiro a aparecer, para seu completo desalento e alento, foi Ben. Parou ao seu lado, com as mãos nos bolsos da calça jeans, embora Jake ainda tenha demorado um tempo para vê-lo.

Deparou-se com um sorriso cauteloso do melhor amigo, que era capaz de lhe causar um reboliço no estômago apenas com isto. Ignorou a tremedeira ao engolir em seco e forçar um sorriso, tentando não transparecer o nervosismo de vê-lo depois de um recorde de tempo.

Ao que parecia, o tempo separados não havia causado nem uma mínima diferença na forma como Jake se sentia quando pousava os olhos em Ben.

— Oi — cumprimentou, baixinho, sem saber o que mais dizer.

Ben, percebendo que o deixava desconfortável por não desviar os olhos dele, com medo que Jake desvanecesse de sua frente a qualquer instante, desviou o olhar. Sentou-se ao seu lado, tentando disfarçar a ansiedade.

— Oi — retribuiu, também em um murmúrio sem jeito.

Jake desviou o olhar para as garotas, que ainda estavam rindo ao longe, com decepção pela demora. Retornou-o a Ben.

— Então... — começou, sorrindo amarelo. — Reunião de todos, huh?

— É. Eu... — Fez uma pausa, olhando para Jake, percebendo o quão desconfortável ele parecia estar. Sentia-se um lixo, toda a alegria de vê-lo desvanecendo a cada segundo que via a expressão pesarosa dele. — Eu devia ter ficado em casa, Jake?

Jake piscou, franzindo o cenho.

— O quê?

Ben engoliu em seco, desviando o olhar, ao passo que Jake sentia o coração encolher-se no peito.

— Você têm ignorado minhas mensagens e eu só... — Suspirou, aquietado. — Eu só estava pensando se eu não devia ter ficado em casa.

Jake arregalou os olhos.

— Não! — exclamou, nervoso, ao pôr uma das mãos em seu braço. — Não... Eu... — Engoliu em seco, sentindo-se culpado. — Me desculpa por não ter respondido, eu não sabia o que dizer. Mas... Isso não quer dizer que não devesse vir — afirmou, sério. — Você é meu melhor amigo e você também é amigo de todos, e eu... — Sorriu, fraco, mas sincero ao admitir: — Eu senti sua falta.

Não queria ter tornado tudo tão formal entre eles, e nem ter feito Ben sentir-se rejeitado daquela forma, mas precisava de um espaço.

No fundo, apesar de não sentir diferença alguma no sentimento que alimentara durante anos por Ben, ao menos Jake já conseguia distinguir com clareza o que havia sido real da amizade deles e o que havia sido criado em sua mente sonhadora sobre amor.

Ao conseguir separar as duas coisas, podia assumir para si mesmo que sentia falta de sua amizade com Ben tanto quanto Ben sentia. Só não sabia como retomar as coisas com seus sentimentos revelados e ainda tão vivos para com Ben. E precisava de um tempo para descobrir como.

Ben quase desabou de alívio, assentindo.

— Eu também senti sua falta, Jake, mais do que nunca — murmurou, com melancolia e certo desespero.

Jake forçou um sorriso. — Eu sei — sussurrou. — Me desculpa, eu só preciso... — Franziu o cenho, pensando. — Eu só...

— Você só precisa de um tempo — concluiu Ben, recordando-se das palavras de Martha ao fechar os olhos, como se recém as absorvesse.

Ele sequer as havia considerado, porque na sua cabeça paranoica, a única explicação para o sumiço de Jake era que ele não mais o queria ver.

— Isso — concordou, aliviado que ele entendesse. — Isso.

Ben assentiu, sério, como uma promessa de que iria acatar ao pedido, ao passo que Jake lhe sorria mais uma vez, agradecido.

— Olá, vocês!

As mãos de Matt pousaram sobre os ombros do mais alto, ao passo que os dois olhavam para cima, já que o rapaz mais velho da panelinha havia surgido por detrás deles.

Matthew exibia um novo corte de cabelo, os curtos fios castanhos deixando-no com um ar mais sério, e havia deixado a barba ruiva crescer mais do que o de costume.

Ben sorriu, levantando-se, quase ao mesmo tempo que Matt lhe puxava para um abraço de urso. Matt sempre havia sido o mais carinhoso dos rapazes.

— E aí, cara, como anda a faculdade? — perguntou, afastando-se para olhá-lo com animação. — Tá curtindo?

Ben assentiu, sorrindo.

— Por enquanto tá sendo tranquilo — contou, dando de ombros. — E você, o que está achando do emprego novo?

— Igual os outros — riu-se, relaxado. — A grana é melhor, mas não é lá muito requintado, não. Só tenho que usar um uniforme engomado, cuidar de uma papelada e correr de um lado para o outro dando recados.

Jake riu, antes que Matt também o puxasse para um abraço forte, como se recém o visse.

— E o resto do pessoal? — questionou ao Jake, que apontou para as garotas ao longe. — Cara, que difícil reunir todo mundo, tá louco.

— Não é? — concordou Ben, balançando a cabeça.

Matt prendeu os olhos em Emily, que o havia visto antes das outras, e o encarava com certa melancolia. Matt sentiu o peito apertar com saudade, já que era dela que sentia mais falta dentre todos. Mas as coisas já não eram as mesmas entre eles.

Emily foi a primeira a quebrar o contato visual, e Matt retornou aos rapazes.

Em seguida, os demais se agruparam, chamando atenção de todos que passavam pelo grupo que, naquele dia, havia subido para treze pessoas. Uniram-se na praça de alimentação, juntando mesas para que todos ficassem juntos. Usaram do tempo juntos, colocando o papo em dia, contando as novidades, apresentando Mia e Grace para os que não as conheciam, gargalhando de suas palhaçadas e tirando fotos juntos.

— Meu deus, como eu senti falta de vocês, cara — confessou Matt, em algum momento, com um sorrisão depois de haverem gargalhado de uma piada aleatória. — Se eu soubesse que sentiria tanta falta, eu seria capaz de repetir mais um ano de propósito.

Os demais riram, e Faye virou um tapa na cabeça dele.

— Vira essa boca pra lá — xingou, embora lhe sorrisse. — Você é sortudo, tá livre. Eu mal posso esperar para me livrar do colégio e seguir minha vida!

— Eu também — concordou Alex, erguendo o refrigerante como um brinde ao bater no dela, antes de beberem.

Caleb franziu o cenho para a conversa, pensativo.

— Vocês são uns frescos — reclamou Bruno, estalando a língua. — A vida de vocês nunca parou de seguir, otários, só vai seguir longe da gente, isto sim.

— Verdade — resmungou Annelise, espichando-se para dar um tapa na cabeça de Faye de maneira parecida com que a gótica o fez em Matt. — Otária.

— Não seja dramática, meu pãozinho de mel — pediu Faye, distorcendo a voz para uma infantil antes de se inclinar por sobre Mia e apertar a bochecha de Anne, que a estapeou, fingindo estar emburrada.

Mia riu das duas, havendo se acostumado em pouco tempo com a amizade que, a príncipio, lhe causara ciúmes.

— É, meu pãozinho de mel — imitou Alex, fechando os dois braços em torno de Bruno, que também fez um beiço de emburro para entrar no personagem. — Não seja dramático — pediu, tentando beijar-lhe o rosto, mas Bruno inclinava-se para longe.

— Dramático, eu? — berrou Bruno, levantando-se, afetado, ao chamar atenção de qualquer um que estivesse perto deles. — Você é que é um playboy traíra! Não quero te ver nunca mais! Fica com as tuas piranhas e me deixa em paz!

Bruno, então, jogou seu cabelo invisível para trás, antes de caminhar para longe como o perfeito ator que é. Alex segurou o riso antes de segui-lo, contorcendo o rosto em puro melodrama.

— Não! Meu amor! — berrou, também, ainda mais alto que Bruno, ao se ajoelhar. — Eu juro que meu coração é só teu, minha vida!

Bruno parou, olhando para trás, inspirando fundo, antes de continuar, com o queixo empinado:

— Não adianta ser o único a ter seu coração, se não sou o único a ter seu corpo nu!

Todos caíram na gargalhada, inclusive Alex, que virou em um pimentão ao perceber que toda a praça de alimentação observava a cena deles. Bruno, no entanto, não perdeu a compostura e marchou para longe, apesar das orelhas avermelhadas.

Alex, assim que se recuperou dos risos, saiu correndo atrás de seu amor, até que os dois sumissem de vista.

— Meu deus, que vergonha alheia! — Faye comentou, balançando a cabeça. Emily concordou.

— Então é isto que eu estou perdendo no colégio? — perguntou Ben, em meio aos risos, ao dirigir-se a todos.

Annelise gargalhou, assentindo. — Todo dia é uma nova aula de teatro melodramático com esses dois — resumiu todo intervalo de aula que tinham.

— Vocês são uma graça! — comentou Mia, olhando de uns para os outros.

Faye puxou ela para si, apertando-a em seu abraço desajeitado. — Você que é, minha sereia.

— Eles devem estar performando Romeu e Julieta no meio do shopping agora — comentou Emily, fazendo todos tornarem a rir.

Caleb ria junto dos demais, mas havia se aquietado de forma abatida, não totalmente parte daquele cenário, já que sua cabeça estava longe. Havia acabado de se dar conta de que Alex estava no último ano do colégio e que realmente falava sério todas as vezes que dizia querer fugir para longe dali.

Falava sério, não falava?

A concepção de que Alex partiria para longe deles em pouco tempo apenas tornava tudo tão nostálgico e triste, como se estivesse em câmera lenta no meio de um cenário cinza, que a princípio devia ser colorido.

De repente, não mais conseguia comer ou beber nada, devido ao estômago revirado. — Vou ao banheiro — informou, antes de levantar, desorientado.

— Ah, espera, eu também preciso — pediu Mason, levantando-se com rapidez.

Grace ria de algo que eles diziam quando olhou para o lado e, na ausência de Mason, deparou-se com Ian, que havia feito o mesmo.

Os dois perderam o sorriso na hora, olhando-se com desgosto, e desviaram o olhar para a panelinha outra vez. Não demoraram muito, suportando-se lado a lado, antes de se levantarem e irem atrás dos dois, que pareciam ter ido construir o banheiro ao invés de usá-lo.

Foi deixada apenas a panelinha do ensino médio, incompleta, mas eles sequer perceberam, alheios aos mais novos.

Em meio às conversas, Ben dispersou-se ao observar Jake beber um pouco da cerveja de Matt, que lhe oferecera, antes de entregar o copo para ruivo outra vez. Ben seguiu sua mão com o olhar até que estivesse, novamente, pousada em cima da mesa.

No automático, pegou o pulso de Jake, chamando-lhe a atenção.

— Você ainda usa — comentou, baixinho, à parte da conversa dos demais.

Jake se remexeu na cadeira, observando-o mexer na pulseirinha singela que jazia em seu pulso, carregando um significado não tão singelo assim.

Jake ergueu os olhos claros para Ben e forçou um sorriso.

— Sim — afirmou, achando a resposta boba, já que a pergunta havia sido retórica —, é bom ter um lembrete de como... Bom, de como a gente começou.

Ben sorri, assentindo, e Jake desvia o olhar.

Haviam trocado aquelas pulserinhas de amizade quando ainda eram crianças, simbolizando que sempre estariam um ao lado do outro.

Jake quis usá-la, depois de tanto tempo guardada como um souvenir bonito, para recordar-se do tempo em que não sentia nada por Ben além de carinho e amor de irmão. Foi apenas um período de tempo depois, no início da pré-adolescência, que seus sentimentos nada fraternais acerca de Ben afloraram, nublando um tanto a realidade de seu relacionamento.

— Você tá bem? — perguntou Ben, incapaz de não perguntar, para não ser mais específico. Seu coração ainda está em mil pedaços por minha causa?

Jake compreendeu a pergunta por trás, conhecendo-o o suficiente. Quis responder que a dor ainda estava ali, mas havia se tornado muito mais suportável do que um dia imaginou que seria. Mas não queria conversar sobre isto, não com ele, não naquele local, não naquele momento.

— Vocês acham que eles tão transando? — perguntou Faye, apontando para longe.

— Quem? — questiona Emily, perdida.

Talvez houvesse sido a escolha de palavras, mas tanto Ben quanto Jake desviaram o olhar ao mesmo tempo para a amiga, estranhando a conversa aleatória, antes de voltarem a atenção um ao outro.

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— Eu tô bem — sussurrou Jake, balançando a cabeça positivamente, para encerrar o assunto de uma vez e ao menos, tentar tranquilizá-lo.

Ben assentiu, forçando um sorriso que lhe foi retribuído prontamente.

— O Bruno e o Alex — respondeu Faye, indicando os dois com um maneio de cabeça.

Ao ouvir aquilo, sob os olhos de Ben, Jake franziu o cenho e ergueu a cabeça, procurando o alvo do que as garotas falavam.

E lá estavam os dois, se cutucando e rindo, um mais idiota que o outro. Haviam retornado à praça de alimentação, mas aparentemente, antes de retornarem à mesa, houveram parado em frente à uma filial de doces.

Jake estreitou o olhar, desviando-o para as garotas.

— O quê? — Riu Matt, achando graça.

— É sério, tô realmente ponderando — diz Faye, pensativa, ao abrir um pirulito após entregar outro para Mia e Matt, que estavam ao seu lado. — Olha só para eles!

Apontou, quando Alex acabou com as costas grudadas em um dos pilares, desviando das mãos brincalhonas de Bruno, enquanto os dois faziam mais um escândalo, berrando e rindo.

— Eles são melhores amigos. — Jake afirmou antes que pensasse muito a respeito. Não viu graça naquilo. Todos viraram para encará-lo. — Eu e Ben também. — Ben arqueia as sobrancelha, surpreso. — Não é o que vocês dizem, que somos como irmãos? — perguntou, um tanto rancoroso pelo apelido de siameses dos dois.

Faye tirou o pirulito da boca, com uma careta. — É, mas é diferente.

— Por quê? — retrucou, incômodo, interrompendo o que quer que saía da boca de Matt. — Porque o Alex é gay?

As garotas se encararam, e logo riram.

— Mais ou menos...

— Bom, eu também sou gay, e daí?

Se Ben fosse um pouco mais expressivo, talvez tivesse arregalado os olhos também, além de deixar o queixo cair - o que ocorreu.

Todos congelaram o olhar em Jake, ponderando, se perguntando, ao passo que Jake se dava conta do que acabara de dizer. Ninguém soube exatamente como agir, porque quando Alex fez aquela cena com o Jillian, ficou óbvio que era para que os outros vissem, como uma forma de contá-los. Com Jake, no entanto, que sempre foi muito reservado, a revelação fez cada um pescar na memória se ele já havia comentado algo a respeito e houveram deixado passar.

No fim, o silêncio permaneceu por mais tempo do que o necessário porque ninguém quis ser insensível ao ponto de comemorar a novidade como fizeram com Alex, devido ao contexto da conversa.

Faye foi a primeira a sair do transe.

— Então vocês também tão transando? — pergunta Faye, indicando Ben e Jake com o dedo indicador, embora soubesse que não e apenas quisesse aliviar a tensão em torno da mesa.

Jake fecha os olhos e deixa o rosto cair nas mãos, enquanto Ben arqueia as sobrancelhas e dá um sorriso de canto, tenso.

— Não. E acho que é isto que Jake aqui — diz, pisando em ovos ao colocar uma das mãos no ombro dele — ‘tá querendo dizer. Não devem julgar Bruno e Alex com base na sexualidade de um deles — concluiu, cauteloso.

Emily, Anne, Mia, Faye e Matt se entreolharam. Matt e Emily, parecidos como sempre, preferiram se abster do assunto, enquanto Mia preferia não comentar por não conhecê-los tão bem.

— Hum, é, eles tem razão — concorda Annelise, assentindo. — Mas agora já está feito — brincou, embora portasse um semblante neutro. — Uma vez shippados, sempre shippados.

Jake revirou os olhos, e os outros riram, descontraindo a seriedade da conversa.

Apesar da tensão, Jake se sentia aliviado por haver vomitado as palavras para os amigos, e Ben se sentia aliviado por ele haver, pela primeira vez em muito tempo, agido como se os dois fossem os mesmos amigos de sempre.

— Você é muito estranha — comentou Matt, por fim, se referindo a Annelise.

— Por quê?

— Não te parece estranho “shippar” — pronunciou, fazendo as aspas com os dedos — o Bruno com qualquer pessoa, sendo que você costumava ficar com ele até, tipo, ontem? — perguntou ele, achando graça.

Jake uniu as sobrancelhas em questionamento, por haver até esquecido que Annelise e Bruno viviam grudados um no outro até pouco tempo atrás. Sentiu-se estranhamente incomodado ao relembrar, no fundo questionando-se se eles continuavam ficando quando estavam a sós.

— Não — retrucou, singela. — É o curso natural das coisas.

Antes que mais alguém dissesse algo, os dois alvos de fofocas chegaram, abraçados.

— E aí, galera? — cumprimentou Bruno, gracioso, grudado em Alex. — Sentiram nossa falta?

— Nem percebi que vocês haviam sumido — debochou Faye, provocando.

— Ridícula — provocou Alex de volta, puxando a cadeira para sentar-se, estranhando as quatro cadeiras vazias ao seu lado.

— O que estavam conversando? — perguntou Bruno, descontraído, ao sentar-se ao lado de Alex novamente.

Emily riu, desviando o olhar para os demais para ver se alguém teria coragem de compartilhar. Mas é claro que teriam.

— Estávamos ponderando se vocês dois — apontou Faye com o indicador, fazendo Annelise rir — estão transando.

Os dois piscaram com surpresa de maneira semelhante, cômicos, e Matt caiu na risada.

— Ah — acrescentou Annelise, apontando para o Jake —, e também acabamos de descobrir que o Jake é gay.

As sobrancelhas de Bruno foram às alturas, e os olhos imediatamente voaram para um acanhado Jake. Estava surpreso que ele tivesse contado para alguém, ainda mais para todos, embora no fundo tentava decifrar a relação das duas sentenças na conversa deles.

Alex, do contrário, gargalhava sobre a teoria dos dois transarem, especialmente ao se recordar do Bruno pedindo beijo antes deles se deslocarem até o shopping. Ah, se eles soubessem!

No entanto, perdeu o riso quando absorveu a informação sobre o Jake.

Alex franziu o cenho, olhando para o amigo que tinha os olhos em Bruno, como se conversassem entre si apenas com isto. A cabeça trabalhou em velocidade máxima, os parafusos se encaixaram em poucos segundos, logo após focar os olhos no mexicano ao seu lado.

Bruno tinha os olhos em Jake, apesar deste já haver desviado o olhar para os demais, parecendo desconfortável com a revelação, sob o braço protetor de Ben.

Alex quase sentiu o clique quando as coisas fizeram sentido, sua boca abrindo aos poucos em choque. E, quando Bruno girou o rosto para o melhor amigo, eles têm uma comunicação silenciosa que vai desde o estreitar de olhos de Alex até o arregalar dos olhos de Bruno, que finalmente percebeu que havia sido exposto por ele próprio. Balançou a cabeça negativa e freneticamente, como um pedido silencioso para que Alex não comentasse nada na frente dos demais.

Alex acata, a expressão mudando quando abre um sorrisão de quem sabe de tudo, relanceia Jake e puxa Bruno pelo moletom com um riso, fingindo brincar.

Passa o braço pelos ombros dele, puxando-o para mais perto.

— É ele — murmurou no ouvido de Bruno, que se remexe. — Ele levantou a dúvida — sussurrou, incrédulo, mas divertido com a ideia.

Bruno desviou os olhos para os demais, entretidos na conversa, sorriu grande e falsamente, fingindo prestar atenção neles, antes de murmurar sem mexer muito a boca: — Eu te odeio tanto.

Alex riu, empinando o queixo com orgulho de sua destreza em descobrir tudo.

— Mentiroso — riu, observando o Jake como se recém o visse. — Mas eu te entendo — provocou, curioso pela reação de Bruno, ao indicar Jake com a cabeça e dar um sorriso malicioso.

Bruno estreitou os olhos, fazendo uma careta ao analisar Alex atrás de uma explicação para o comentário. Sem entender e sem gostar, limitou-se a resmungar: — Cala a boca.

Alex sorriu ainda mais largo, puxando-o para perto de novo, murmurando próximo ao seu ouvido: — Ciúmes, parceiro?

Bruno revirou os olhos, apesar de sentir-se sem jeito ao absorver suas palavras, e olhou para longe. No entanto, algo mais o fez puxar Alex para perto novamente, e mostrou-lhe um sorriso maquiavélico.

Indicou os quatro adolescentes que, finalmente, retornavam à mesa, e Alex seguiu seu olhar, pousando os olhos em Caleb.

— Você devia ser a última pessoa a me acusar de ciúmes, Alex — comentou ele, divertido. Alex piscou, perdendo um pouco do sorriso. — Eu vi o que aconteceu hoje e eu sei — enfatizou, arqueando uma das sobrancelhas — o que aconteceu hoje. Lembre-se sempre disto, parceiro!

— O que vocês tão cochichando aí? — questionou Matt, provocando os dois.

— Estamos tendo uma DR — explicou Alex, piscando um dos olhos.

Bruno gargalhou, afastando-se, antes deles tentarem incluir-se na conversa em grupo dos demais, ao passo que os quatro terroristas sentavam-se à mesa.

Alex lutou contra a vontade de olhar para Caleb, sabendo que Bruno implicaria com ele mais uma vez, então se limitou a encarar Jake, sob uma perspectiva diferente da qual sempre o enxergou.

Sem compreender por que o casal shakespeariano lhe encarava como se fosse uma peça rara, Jake sentiu-se alvo da conversa, sem sequer imaginar o quão certo estava.