Made of Stone

EXTRA - Especial - Orquídeas e meias infantis


— Então, qual é a da festa aqui?

Bruno queria fazer aquela pergunta há muito tempo, mas ela só escapou quando eles começaram a mover as coisas de lugar na sala de estar.

De todos os amigos, apenas Ben e Jake davam festas em suas casas, e praticamente todas eram movidas por Jake. Não seria tão estranho se Jake fosse festeiro, bebesse todas, interagisse com todos e dançasse até o fim da festa.

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Mas não era o caso.

Jake dá de ombros.

— Eu gosto de festas — responde, simplesmente, o óbvio. — Ben odeia festas — acrescenta, e Bruno quase revira os olhos com a menção do nome do amigo, que já não mais considerava tão amigo assim. — Mas ele fazia porque eu pedia — disse, empurrando o sofá. — Só que agora que as coisas... — Hesitou, deixando para lá o fim da sentença. — Agora, acho melhor que eu mesmo faça as minhas festas. Quero dizer, eu quero fazer.

Quer dizer que as festas que o Ben preparava eram todas para o Jake?

Bruno torceu o nariz, desgostoso. Já sabia que Ben não sentia o mesmo pelo Jake, mas ainda assim a proximidade dos dois o incomodava.

Mas, embora todo o corpo de Bruno insistisse para ele concordar e incentivá-lo ao dizer: “você tem razão”, “faça tudo sozinho agora”, “ou faça tudo comigo”, “fique longe do Ben”, ele não conseguia ser egoísta assim com Jake.

— Mas ele ainda é seu amigo — murmura, baixinho, empurrando o outro móvel até a parede para liberar o espaço da pista de dança. — Você não pode excluí-lo totalmente da sua vida.

Por um momento, chegou a ponderar se Jake não havia ouvido, porque continuou a mover-se como se nada houvesse sido assimilado pela sua cabecinha linda dele.

— Eu sei — resmungou Jake, por fim, relanceando o mexicano. — E não vou. Mas isto eu posso fazer sozinho. — Então, parou, respirando pesado pelo esforço, ao encarar o Bruno. — Ou você acha que não consigo?

No fundo, Jake só queria livrar-se de toda a parte tóxica e pesada de sua relação com o Ben. Uma dessas partes se referia ao fato de depender do Ben para tudo. Não saía com os amigos se Ben não estivesse junto, não fazia planos sem que Ben estivesse neles, não podia sair de casa sem avisá-lo onde ia, não podia fazer suas próprias festas porque Ben as fazia por ele.

Não é porque são melhores amigos que precisam ser uma pessoa só ao invés de duas. E tampouco estar apaixonado por Ben significaria que Jake devia ser sua sombra. Isto, não.

Bruno deixou um sorriso preguiçoso espalhar-se por seu rosto, antes de negar, com carinho.

— Claro que consegue.

Jake agradeceu mentalmente.

Quando eles terminam de arrumar os móveis no térreo e passar uma vassoura, os dois sobem para o quarto para ajeitar os detalhes da festa.

Jake estava debruçado sobre a cama, ajoelhado no tapete, ao fazer as plaquinhas para que ninguém tocasse no que não devia, além das que indicavam as portas dos cômodos que não deviam ser abertas.

Bruno o encarou, curioso, ao passo que Jake escrevia com caneta nas placas, usando a cama como mesa. Bruno se aproxima e faz o mesmo, puxando uma parte das quais Jake trabalhava e perguntando o que devia escrever para logo fazê-lo.

— Por que gosta tanto de festa? — pergunta ele, quebrando o silêncio confortável dos dois. Mas Jake não deixa sua tarefa e ele também volta atenção para a sua. — Você nem dança nelas.

Jake suspira, ponderando por um momento antes de largar, simplesmente: — Eu gosto de barulho, de aglomerados de pessoas e de música.

Bruno deixou de lado o que fazia para encará-lo por um momento que se alongou ao ponto de Jake sentir-se incomodado com a atenção. Foca os olhos claros em Bruno, franzindo o cenho com interrogação.

— Hum — responde Bruno, tardiamente, com um indício de sorriso, antes de voltar a atenção para a plaquinha.

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— O quê? — pergunta ele, estreitando os olhos, mas o mexicano dá de ombros.

— Nada.

Jake continua com os olhos estreitos na sua direção, mas não tem a chance de perguntar mais uma vez. A campainha toca e Jake desce, ainda incomodado pela conversa inacabada, e se depara com o resto da galera, cheio de sacolas para ajudar.

Matt, Emily, Annelise, Faye, Ben, Alex e seus quatro mini ajudantes: o primo, Ian, o Mason, a Grace e o dito Caleb, com quem sempre estava grudado. E literalmente, já que o garoto havia quase sumido debaixo do braço de Alex.

— Viemos ajudar!

*

A casa foi organizada aos poucos, com a ajuda de todos. Eles comeram quando os salgadinhos e as bebidas chegaram, e Jake viu quando Ben pareceu surpreso ao ver a quantidade de ambos.

Certamente, havia comprado demais. Mas era a sua primeira festa, convenceu-se, e estava tudo bem em errar. No fundo, aquilo trouxe um gosto amargo à sua boca, como se o universo gritasse que ele não podia fazer nada sozinho, mas ignorou.

No fim da tarde, estava tudo pronto e todos eles retornaram às suas casas para se arrumar antes de virem. Bruno até insistiu para ficar, garantindo que ele não tinha por que se arrumar mais do que estava, mas Jake o liberou.

Ficou sozinho, no silêncio da casa, encarando-a.

A casa parecia ainda mais vazia com a maioria dos móveis grudados às paredes e os espaços ocos no meio dos cômodos.

Passaram-se poucos minutos antes que Jake se arrependesse de haver negado o pedido de Bruno de ficar ali com ele. O silêncio o perturbou e, agitado, foi tomar banho e arrumar-se. Como ninguém chegava, trocou de roupa quinze vezes, encarando o relógio a cada cinco minutos, até que os primeiros dos seus amigos chegassem.

E, logo, os demais convidados começaram a aparecer.

A música iniciou-se, as conversas espalharam-se pelo cômodo e o movimento na casa não mais permitiu que ela aparentasse estar vazia.

Jake sentiu como se pudesse respirar novamente.

*

Mal havia passado da meia-noite quando Jake notou a figura desanimada de Ben, que tinha o corpo apoiado na pia da cozinha. Parou, encarando-o com atenção, antes de olhar ao redor e perceber que Lucy ainda não havia chegado.

Inspirou fundo, tomando coragem, antes de se aproximar de Ben, que encarava o copo de bebida como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Estava vestindo preto da cabeça aos pés, como se viesse de um velório. Mas nele a vestimenta cara tornava-se elegante, como se houvesse sido feita para estar naquele corpo.

— O que achou? — perguntou, quando parou na frente dele, embora não quisesse realmente saber.

Ben sorriu, com carinho.

— Está ótima — limitou-se a responder, inclinando o rosto para observá-lo. — Estou orgulhoso de você, Jake — disse, a voz tornando-se séria por um instante.

Jake desviou o olhar, assentindo.

— Obrigado — murmurou, antes de voltar os olhos para ele, focado no motivo pelo qual iniciou a conversa: — Cadê ela?

Ben piscou, pego de surpresa.

— Eu sei que vocês estão juntos — continuou Jake, para poupá-lo da confusão. — O pessoal comentou. Por que ela não está aqui? — repetiu, sério.

Ben desviou o olhar em seguida, desconfortável.

— Ela não pôde vir — murmurou, e Jake soube que ele mentiu no mesmo instante.

Jake franziu o cenho, subitamente irritado, com toda a situação. Por que ele tinha que tornar as coisas ainda mais difíceis?

— Está mentindo — acusou, e Ben baixou os olhos escuros para ele, culpados. — Por que está mentindo? — questionou, dando um passo em frente. — Por que não a convidou? — deduziu, chateado.

A expressão de Ben tornou-se piedosa, encarando-o como se temesse que o melhor amigo se quebrasse sob seus olhos.

— Jake...

— Pára de me proteger! — pediu, chateado também. — Eu não sou feito de vidro! Você — enfatizou, nervoso —, mais do que ninguém, devia saber que isto não vai me quebrar.

Ao perceber o tom de voz, olhou ao redor para ver se não chamou muita atenção. A música estava bem alta, no entanto, além das conversas, e ninguém pareceu notar a discussão.

Jake voltou os olhos para ele, antes de suspirar pesado e esfregar o rosto com exaustidão. Queria que aquilo acabasse logo.

— Ben — chamou, amansando a voz, como um pedido —, eu posso fazer isto — garantiu, implorando-o. — Eu montei a minha festa desta vez, sabe? A minha própria festa — murmurou, até sentindo-se bobo por isto significar tanto. — Eu estou seguindo em frente, mas eu fico olhando para trás porque você não o faz! — acusa, colocando o dedo indicador em seu peito. — Eu fico olhando para trás porque eu tenho medo que você fique aí parado, por minha causa!

Ben negou com a cabeça, magoado.

— Não é isto...

— Se fosse o contrário — interrompeu Jake, erguendo o tom de voz, magoado —, você gostaria que eu me impedisse de ser feliz por sua causa? — Ben fechou a boca. — Você gostaria que eu deixasse passar uma pessoa que amo porque você está apaixonado por mim?

Ben fechou os olhos, deixando os ombros caírem.

— Não — responde, forçando um sorriso ao encará-lo. — Nunca.

Jake assente. — Então, por favor...

— Mas não é isto que estou fazendo — interrompe Ben, negando com a cabeça. — Eu não estou me impedindo de ser feliz. Não mais — garantiu, sincero. — Eu só estou evitando uma situação chata, porque eu te conheço, Jake. Faz pouco tempo que estou com ela de verdade e eu sei que trazê-la aqui comigo, na sua festa — enfatizou —, vai ser cruel.

Jake engole em seco, desviando o olhar.

— E eu não posso ser cruel com você, Jake — finalizou, com a voz chateada. — Eu não posso.

Jake inspira e expira fundo algumas vezes, encarando seus próprios pés.

Superar o Ben não é algo que ele poderia fazer tão rápido. Pensou que já tivesse superado por um momento, até descobrir que Lucy e ele estão juntos e a ideia de vê-los juntos lhe causava um aperto no peito. Um aperto mil vezes menor do que da primeira vez que os viu juntos, mas ainda assim, um aperto.

Só que ele podia lidar com isto. E seria apenas lidando com isto que ele colocaria um ponto final neste capítulo de sua vida. O problema é que não podia lidar com isto se Ben continuasse o impedindo.

Limpou a garganta e negou, decidido.

— Não — diz, negando —, não vai ser cruel. Porque eu estou pedindo. Eu — falou, colocando a mão no peito — estou convidando-a. Eu... Eu — repetiu, mais firme depois da voz falhar, pegando a mão de Ben na sua e apertando-a — estou te dando a minha bênção.

Ben engoliu em seco, hesitante, mas Jake sorriu timidamente para encorajá-lo a acatar seu pedido. Soltou sua mão para fazer um gesto atrapalhado, indicando o seu peito e o peito de Ben: — De melhor amigo para melhor amigo — finalizou.

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Ben o encarou por um tempo, mordendo os lábios ao ponderar a respeito, antes de suspirar e sorrir. Assentiu, desviando o olhar para as costas de Jake, e acabou por sorrir ainda mais quando volveu a olhá-lo.

— E eu estou te dando a minha — força-se a dizer, com carinho.

Não era fácil para Ben pronunciar aquelas palavras. Acreditava ser muito mais possessivo com o Jake do que Jake era com ele, e isto porque apenas o via como amigo e como irmão.

Talvez por isto o destino o impediu de apaixonar-se por Jake, porque se achava incapaz de lidar com tanto sentimento. Mal era capaz de lidar com a amizade. Mal era capaz de dar sua bênção para que Jake seguisse em frente da mesma forma que ele.

Jake une as sobrancelhas em confusão.

— Para quê?

— Para seguir em frente.

Ben faz um gesto com a cabeça, indicando o casal em um canto, conversando com o resto de seus amigos.

Jake gira a cabeça, olhando para trás e enxerga, de cara, a pessoa a qual Ben se referia. Annelise estava grudada em Bruno, em um abraço simplório, enquanto eles riam de algo que Faye falou.

Jake volta os olhos para Ben, todo o sangue subindo para o rosto ao passo que o estômago gelava. Quando abriu a boca, nada mais do que gaguejos saíram por ela.

— Não, ele não... Isto não é o que... — Negou, engolindo em seco. — Não é bem assim.

— Talvez não — concorda Ben, assentindo. — Mas pode ser o começo de algo. Eu sei disso — acrescentou, quando Jake abriu a boca para retrucar — da mesma forma como você sabia.

Jake pisca, lembrando do primeiro dia em que viu Lucy e Ben em uma conversa, no dia em que eles se conheceram. Aquele dia que ficou mal durante toda a festa, como se houvesse levado cinquenta socos no estômago, porque Ben nunca se soltava tanto com ninguém e aquilo só podia significar uma coisa.

E Jake soube. Ele soube o que aquilo significava.

Mas não era a mesma coisa com o Bruno!

— Mas...

— Sem "mas".

Ben se inclina e deixa um beijo casto na testa de Jake.

Os olhos escuros desviaram para o grupinho às costas de Jake no mesmo momento, deparando-se com Bruno, cujo riso estampado no rosto ao olhar para os dois desapareceu ao ver o gesto de afeto.

Jake estava roxo de vergonha ao perceber que Ben resolvera beijá-lo no meio da sua dita cuja cozinha, com as pessoas circulando e lhes dirigindo olhares estranhos. Ben não pareceu se importar, no entanto, nunca tivera problemas em demonstrar carinho ao seu amigo. Apenas quando viu Bruno desviar o olhar com rapidez ao perceber que ele sustentara seu olhar, Ben afastou-se, satisfeito.

Baixou o olhar para o melhor amigo, agradecido.

— Vou buscá-la — garantiu, como uma promessa.

Jake assente, ainda envergonhado, antes que Ben desse as costas e saísse, dirigindo um último olhar para o Bruno, que não mais os encarava.

Jake tampouco queria ou saberia como encarar Bruno depois disto, apesar de saber que ele não havia escutado a conversa. Era como se o mundo inteiro soubesse, após Ben pronunciar aquelas palavras, que Jake sentia algo por Bruno.

Nervoso, passou a próxima hora rondando pela casa, juntando os copos de plásticos e arrumando algumas bagunças que os convidados insistiam em desempenhar. Também distribuiu bebida para os que pensaram que ele era um empregado pessoal, mas como era o dono da festa, então se sentiu obrigado a tal.

Foi e voltou da cozinha algumas vezes, até que em uma delas deu de cara com o mexicano.

— Opa — diz ele, segurando ambos os braços de Jake para que nenhuma das duas bebidas seguradas por suas mãos derramassem. — Você anda ocupado — comentou, rindo.

Bruno usava uma camiseta larga da cor verde, que parecia combinar perfeitamente com seu tom escuro de pele. Os cabelos haviam crescido um tanto, a ponto de que estivessem visíveis as ondulações do mesmo.

Jake gostava dos traços de seu rosto, que denunciavam sua origem, e das rugas precoces ao lado dos olhos quando ele sorria, porque sorrir era o que melhor sabia fazer.

— S-sim — gagueja, fazendo Bruno unir as sobrancelhas minimamente pela alteração do outro.

Jake balança a cabeça, desviando do mexicano com rapidez para então largar os dois copos no balcão, tendo uma certeza estranha de que deixou ao menos metade das bebidas no chão pelo movimento brusco.

— Estava sendo um garçom — decide explicar, desta vez com a voz firme, ao forçar um riso.

Bruno hesita no lugar, olhando para baixo, mas solta um riso também ao decidir se aproximar. Dá uma olhada ao redor por um instante antes de dar uma olhada em Jake, em busca de algo.

— Achei que estivesse procurando por Ben — testa ele, como quem não quer nada.

Jake ergue o olhar, analisando-o. Os olhos castanhos não estavam fixos nele mas nos copos da pia e o riso que soltou era nervoso ao passo que erguia os ombros, como se aquilo fosse uma pergunta normal.

— Não — tentou Jake, ainda analisando o mexicano com desconfiança. — Ben foi atrás da Lucy.

Bruno foca os olhos nele novamente, franzindo o cenho, ao encarar as costas de Jake que se virara para pegar algumas das coisas do balcão da cozinha.

— É mesmo?

— Sim, eu o mandei — confirma Jake, dando de ombros. — Ele odeia festas — repetiu o que disse mais cedo —, e esta é a minha primeira. Então, talvez com ela aqui, ele tenha uma boa impressão do meu trabalho — mente, querendo não se aprofundar nos seus motivos.

Bruno sorriu, se escorando na pia enquanto observava Jake passar a lavar uma parte da pilha de copos. — Você está sendo altruísta ao fingir que está sendo egoísta?

Bruno achava óbvio que aquela havia sido uma grande decisão para ele, de mandar a pessoa que ama atrás de outra, mas Jake falava sobre querer que sua festa fosse boa para todos como se fosse uma verdade.

Achava graça nisto, mas também o incomodava.

Jake para, com uma careta, para olhá-lo. — Você tem cada ideia, Bruno — se limita a dizer, estalando a língua, ao voltar a atenção para a louça.

— Você é que tem — retruca o outro, divertido, ao cruzar os braços. — Mas se quer fingir que eu estou errado, por mim tudo bem.

Abre os braços de forma graciosa e Jake solta um riso pelo nariz, sem conseguir evitar. Bruno sorri largo, inclinando o rosto para encará-lo com encanto.

— Então — começa, relanceando os pés —, será que posso pegar emprestada uma das suas meias de ursinhos?

Jake pisca, unindo as sobrancelhas em confusão.

— O quê?

— Você encharcou os meus pés — revela, divertido, enquanto Jake desvia os olhos para os dois tênis molhados, bem como a parte de um dos tornozelos da calça jeans clara. Ergue os olhos para Bruno, incrédulo. — Eu teria dito antes, mas a conversa era séria, então achei melhor esperar. — Riu, erguendo os ombros.

Jake largou os copos do jeito que estavam e se virou para ele, sentindo o rosto corar mais uma vez pelo constrangimento. Francamente, ele só estava empenhado na louça para ter o que fazer e não precisar ficar encarando Bruno durante a conversa inteira.

Sentiu que havia derramado parte das bebidas dos copos, mas o susto de dar de cara com Bruno fora tão grande que não percebeu que havia derrubado no Bruno e não no chão.

— Puta merda, Bruno, me desculpa — pediu, se abaixando para dar uma olhada no estrago.

— Não tem problema. Sempre quis experimentar aquelas meias mesmo — brincou, rindo.

Jake sorriu também, culpado, mas assentiu.

— Venha, eu te empresto um calçado também, se servir — diz, caminhando em direção às escadas, seguido de Bruno.

*

Bruno já estava com os pés descalços presos no carpete no quarto ao passo que encarava a cama de Jake, bagunçada com papéis e recortes da organização da festa de mais cedo daquele dia.

Podiam ouvir as batidas da música dali, altas o suficiente para que notassem que devia incomodar a vizinhança.

Bruno havia bebido o suficiente para que estivesse no brilho do álcool, mas estava longe de estar bêbado. Jake perguntou algo e Bruno respondeu, distraído, ao dar uma olhada no quarto que havia frequentado bem mais vezes do que um dia imaginou que o faria. Por um instante, desejou que há alguns anos a partir dali, o mesmo pensamento cruzasse pela sua cabeça.

— Bom, eu tenho uma de coelho, se você quiser mesmo...

Bruno piscou, despertando do pensamento, antes de girar o rosto para o Jake no mesmo instante, com um sorriso. — Mentira! — exclama, animado, antes de se aproximar como um vulto. — Deixa eu ver todas elas!

Jake riu, mas colocou a mão no peito de Bruno para empurrá-lo antes que ele enfiasse a cara na sua gaveta. — Não, sai daqui! — diz, empurrando-o, mas Bruno o contorna e dá uma boa olhada nas meias coloridas.

Todas as meias eram coloridas, de bichinhos ou de personagens de desenhos e animações. Nem a gaveta de meias de sua sobrinha de oito anos era tão colorida, e achou aquilo completamente adorável.

— Você é tão... — Fofo, quis dizer, mas optou por outra coisa — criança, Jake!

Riu-se, feito um idiota, porque queria colocar Jake em um potinho e levar para casa, mas não soube expressar isto senão em risos encantados.

Jake resmunga alguma coisa, com um beiço, jogando a meia de coelho para ele. — Sou mesmo — reclama, estalando a língua.

— Ah, eu sei — concorda Bruno, ainda rindo, ao sentar-se na cama. — Você é um amor — fala, sem conseguir evitar.

Jake fica em silêncio por tempo demasiado e Bruno perde o sorriso, erguendo os olhos para ele. Ainda encarava a gaveta de meias com um ar um tanto melancólico, e então a fechou com um suspiro, como se despertasse de suas memórias.

Isto deixou Bruno ainda mais curioso a respeito das meias infantis.

— São apenas meias, não tem nada demais — retruca Jake, ao perceber que Bruno o encarava, em um tom entediado.

Bruno larga de mão as meias que iria vestir ao lado da cama e franze o cenho ao encará-lo. Jake pisca, confuso pela sua expressão, mas Bruno apenas balança a cabeça negativamente e solta um som pelo nariz, estalando a língua.

Jake o encara por um tempo antes de perguntar: — O quê?

Bruno enfia a meia de coelhinho em seu pé esquerdo, percebendo que servira quase que perfeitamente.

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— Você fez de novo — acusou, vestindo a outra no pé direito.

— Fiz o quê? — pergunta, confuso.

Bruno suspira, levantando da cama.

— Você distorce o que fala.

— Como assim?

— Está na cara que estas meias não são "nada demais" — diz ele, fazendo as aspas com os dedos. — Têm alguma importância para você, mas então você diz o contrário, para que eu não perceba.

Jake dá um passo para trás, como se aquilo o atingisse fisicamente, encarando-o como uma ameaça.

— Não — tenta, mas sem muita firmeza.

Bruno faz uma careta, balançando a cabeça.

— Sim, e foi mais de uma vez — contraria, estalando a língua. Jake cruza os braços na defensiva. — Lá embaixo, agora há pouco, você fez parecer que incentivar o Ben a sair com a Lucy não foi nada demais, quando nós dois sabemos que foi um passo gigante para você. — Jake abre a boca, prestes a retrucar, mas Bruno continua: — E quando me disse que você e Ben se ajudavam quando criança, colocou todo o foco nele e mal falou sobre você, sobre o que significava para você aquela amizade.

Jake negou, descruzando os braços.

— O que isto tem a...

Bruno deu um passo em frente.

— E quando me disse que simplesmente passou por alguns lares adotivos, como se não fosse nada demais, você estava distorcendo a verdade de novo — aponta ele, fazendo com que Jake deixasse o queixo cair, já que aquela conversa havia sido há eras atrás. Como ele podia se lembrar daquilo? — Aposto que você até se lembra muito mais do que diz. — Jake engoliu em seco, vendo que Bruno houvera se aproximado ainda mais. — E quando disse que gosta de barulho e pessoas aglomeradas em festas, o que quis dizer de verdade é que odeia o silêncio e não suporta ficar sozinho, o que teria acontecido hoje se você não tivesse dado uma festa por causa da viagem dos seus pais.

Enquanto Jake sentia como se o mundo tivesse parado ali, um de frente para o outro, Bruno começava a se arrepender do que disse e da forma como disse. Não queria encurralá-lo daquela forma, porque ele tinha toda a razão do mundo se não quisesse falar sobre os seus assuntos pessoais. Ele tinha razão em distorcer o que quisesse, a vida era dele e as memórias eram dele.

O problema que Bruno enxergava naquilo tudo era o de não gostar que Jake escondesse coisas de si, porque queria saber absolutamente tudo sobre ele. Queria saber dos seus medos, dos seus anseios, de suas memórias boas e das ruins, de seus sonhos e almejos. Queria estar tão presente na sua vida quanto Ben estava.

Engoliu em seco.

Alex tinha razão. Ele estava ferrado.

Jake, inspirando fundo, saiu do transe e contornou Bruno para alcançar o outro lado do quarto, atrás de algum calçado que servisse nele.

Bruno fechou os olhos e suspirou, chateado consigo mesmo, antes de virar e segui-lo, um tanto cabisbaixo. Jake tirou alguns calçados do armário, checando qual poderia servir em Bruno, que deveria ter o pé um ou dois números maior que o dele, no máximo.

— Acho que este pode servir — diz ele, abaixado, ao erguer um dos tênis para as costas, onde Bruno estava. Bruno o pega, sem dar muita atenção. — Este fica um pouco largo em mim, então deve dar para o gasto. Este aqui também pode servir — acrescenta, tirando outro par de dentro do armário. — Eu posso pôr os seus tênis na máquina de lavar e, em um par de horas, vai estar pronto. Se você ficar até o pessoal ir embora já vai poder sair com...

— Me desculpa — pede ele, calando Jake. Jake suspira, fechando o armário para se levantar. — Você tem todo o direito do mundo de...

— Não — retruca, ficando em pé. — Você tem razão. Eu distorço tudo.

— Não foi isso que...

Jake dá as costas, no entanto, saindo do quarto, e Bruno se vê sozinho no cômodo tomado de coisas que lembram o Jake. Fica travado, pensando no que fazer, com os ombros caídos e os tênis em uma das mãos.

Bocudo, se xinga, estalando a língua.

Antes que pensasse em ir atrás do amigo, no entanto, ele retorna com um aparelho nas mãos.

— Trouxe o secador de cabelo da minha mãe — explica, no automático, sem nem olhar para o Bruno. Se abaixa do lado da porta para ligá-lo na tomada que ali havia. — A gente pode secar a sua calça, já que é só a ponta dela. Amanhã você lava — acrescenta, olhando-o pela primeira vez, como se ele fosse retardado por continuar na mesma posição. — Vem.

Bruno se segura para não suspirar em alívio por vê-lo ali. Desperta do transe chocado e se aproxima, desviando o olhar do aparelho nas mãos de Jake para a própria calça, e então para o aparelho novamente.

— Você prefere que eu tire para...

— Não — diz ele, rápido demais, brusco demais. Limpa a garganta, desviando o olhar, enquanto Bruno morde os lábios para não sorrir. — Não precisa, é só nas pontas.

Bruno assente, embora Jake esteja encarando o outro lado do quarto e não o tenha visto. Ele apoia-se na parede para erguer uma das pernas e Jake, com o aparelho ligado, tentar secar um e depois o outro lado.

Bruno o observa de cima, tentando pensar em algo para consertar tudo, mas o tempo passa rápido demais e logo o aparelho para de zumbir.

Ainda de joelhos no carpete, Jake o olha de baixo.

— Vê se está bom — pede, e Bruno também se abaixa para checar.

— Está ótimo — responde, antes de perceber a pequena distância entre eles. Jake engole em seco. — Obrigado — murmura ele, com um sorriso singelo, antes de desviar o olhar para sua boca.

Jake levanta em uma fração de segundo, agitado, mas Bruno faz o mesmo, inclinando a cabeça para olhá-lo ao perder o sorriso pela óbvia tentativa de fuga.

Estaria ele chateado?

O arrependimento voltou a bater em seu peito.

— Olha, eu não quis que você... — começou, tentando consertar, mas foi interrompido.

— Não — interrompe Jake, suspirando. — Bruno, você...

Jake morde os lábios, pensativo, sem saber como dizer aquilo. Bruno o observa, desde a pele alva e as sardas claríssimas que se encontravam na ponta de seu nariz até os olhos azulados.

Por muito tempo, Bruno ficou confuso sobre a cor dos olhos dele, mas já havia notado que eram mesmo azuis, embora a cor fosse tão clara que podiam ser facilmente confundidos com verdes. Não eram piscinas, eram mares naturais em seu olhar, como uma perfeita obra de arte.

— Você percebeu — murmurou Jake, meio desorientado, com uma sensação estranha no peito. Limpou a garganta, desviando o olhar dos olhos intensos de Bruno.

Ninguém jamais prestara tanta atenção nele quanto Bruno o fizera, e isto o chocou por um momento. Não sabia dizer se Bruno era simplesmente atento ou se ele quisera ser atento de propósito.

De toda forma, aquilo o encantou.

Normalmente, se sentiria exposto e incomodado por ser visto do avesso por outra pessoa além dele próprio, mas esta pessoa era o Bruno e isto apenas aquecia seu coração.

— Você tem razão — admite, pigarreando em seguida. — As meias têm um significado — conta, embora não quisesse contar sobre seu amigo de um dos lares que adorava meias infantis e acabou morrendo em condições trágicas; e que as meias o confortavam por lembrar dele. — Eu não gosto de falar sobre mim, por isto foquei no Ben naquele dia, e eu lembro mais do que eu conto — admite também, sobre as atrocidades que viveu e viu viverem, observando Bruno engolir em seco. Mas também não era algo do qual gostaria de falar.

Jake suspira, com um nódulo na garganta, antes de continuar:

— Mandar Ben atrás da Lucy também têm um significado e eu realmente não gosto do silêncio e odeio ficar sozinho em casa — conta, em um tom manso. — Eu ficava muito tempo sozinho quando... — Interrompeu-se, frisando os lábios, mas Bruno assentiu, querendo dizer que entendia mas sem conseguir pronunciar uma palavra. Jake assentiu também, forçando um sorriso. — Então eu gosto de juntar gente e música. Isso me acalma e me faz bem, ainda mais quando meus amigos participam.

Bruno assente, ainda com carinha de cachorro abandonado por sentir-se culpado por trazer o assunto à tona.

— Me desculpa — pede, singelo. — Desculpa.

Jake nega com a cabeça, sorrindo minimamente ao recordar-se de tudo que ele havia dito e percebido em si.

— Não, tudo bem. Você... — Solta um riso nervoso pelo nariz, coçando a nuca, sem querer olhá-lo nos olhos. — Bruno, você percebeu muita coisa sobre mim.

Bruno arqueia as sobrancelhas, sentindo o sangue todo subir para o rosto por haver se denunciado, e também solta um riso nervoso. Limpa a garganta, remexendo-se desajeitadamente no lugar.

— Ah, isto... — Hesitou, pigarreando. — Não foi difícil de perceber.

Jake tenta esconder o sorriso e falha miseravelmente.

— Ainda assim, você foi o único que o fez — murmura, olhando para o chão ao apenas espiá-lo de relance.

Bruno coça os cabelos, desajeitado.

— Fui, é? — resmunga, sem jeito. — Que coisa! Bom — emenda, com rapidez —, é melhor a gente voltar então, porque... — Suspira, encarando-o com cautela. — Bom, é que eu não queria tirar isto de você, Jake. — Jake pisca, confuso. — Você sabe, a festa com nossos amigos lá embaixo para que você não se sinta sozinho...

A confusão de Jake se perde quando Bruno termina de explicar, e ele assente, no automático. Bruno estava tentando deixá-lo à vontade, só que Jake não queria se sentir tão à vontade assim. Não queria voltar lá para baixo ainda, queria testar os limites do seu desconforto.

Bruno apoia as costas na parede, relanceando a porta entreaberta ao seu lado direito antes de voltar os olhos confusos para Jake, que permanecera em silêncio. Como se este gesto fosse um questionamento, esperou por uma resposta.

Jake abre e fecha a boca algumas vezes, engolindo em seco, antes de negar com veemência, os olhos azuis presos nos castanhos de Bruno.

A sentença declarada por Jake em seguida, em nada mais do que um murmúrio baixo, saiu carregada de significado e ele teve certeza de que Bruno o entenderia, como entendera todo o resto.

— Mas eu não estou sozinho.

No mesmo instante, Bruno sentiu toda a atmosfera do ambiente mudar ao passo que seu coração acelerava. O ar parecia mais comprimido, mais denso, mais pesado. Mais quente. E ambas as respirações agiram de acordo com esta mesma sensação, impulsionando os pulmões a trabalharem mais rápido, mais dificultoso, mais falho. E tudo sem que eles movessem sequer um músculo de lugar.

Bruno relanceou a porta entreaberta novamente, sem conseguir deixar de pensar que estava na mesma posição, no mesmo local, ao lado da mesma porta que meses antes.

Meses antes, quando fora beijado por Jake, havia sido empurrado contra aquela mesma parede e a boca tomada pelos mesmos lábios os quais encarava agora. Nunca pensou que pudesse querer senti-los nos seus, nem mesmo quando os teve. Não pensou que a proximidade com seu amigo de quase três anos o levasse a desejá-lo, a querê-lo e a querê-lo bem.

E, naquela milésima de segundo, quis que tudo se repetisse.

Bruno sorri minimamente, vendo que o peito de Jake subia e descia com mais dificuldade há uns três passos à sua frente. Sua postura, seus olhos, seu corpo, tudo em Jake declarava verdade a sentença que seus ouvidos captaram.

O mexicano encosta a cabeça na parede sem tirar os olhos dele.

— Jake... — começa, sentindo a voz mais grave que o normal, falhando pela antecipação. — Se você me beijar agora, eu prometo que faço mais do que simplesmente deixar.

Jake trava, o coração descompassado, sequer conseguindo sorrir. Sentia que havia, no mínimo, uma centena de borboletas comemorando no seu estômago ao passo que faziam uma cantoria sobre como Bruno é a pessoa mais beijável que já viu na vida.

Estava tão acostumado com seu bom humor e risos fáceis que sentiu o coração subir para a boca ao observar a forma como ele lhe encarava sem toque de humor algum. A forma nada amigável como lhe encarava. E Jake podia saber que a amizade, de fato, houvera passado para um segundo plano. A intensidade dos olhos adoravelmente castanhos, a forma como engolia em seco e como parecia tão nervoso quanto Jake o encantou ainda mais.

Jake, por fim, deu um passo em frente.

E outro.

E mais outro.

Como se os olhos que lhe encaravam com tanta familiaridade lhe hipnotizassem, Jake até esqueceu de sentir vergonha. Sentiu a mão de Bruno deslizar pelo seu antebraço até firmar-se em seu braço, como se para garantir que ele não fugisse.

Jake não queria fugir.

Aproximou-se o suficiente para sentir a respiração pesada em seu rosto e fechou os olhos automaticamente ao sentir o familiar aroma de orquídea que exalava dele. Sorriu para isto, e tão logo o fez, os lábios cheios de Bruno uniram-se aos seus.

Para Bruno, que acompanhava cada movimento de Jake, naquele estado de rubor, vê-lo fechar os olhos para ele e sorrir tão próximo à sua boca foi o ápice do que podia resistir. Quando seus lábios se encontraram, foi como se Bruno houvesse, enfim, sentido a água na boca depois de muito tempo no deserto.

Queriam tanto aquilo que o beijo levou alguns segundos para encaixar-se, com batidas de dentes e movimentos errados, devido ao nervosismo de ambos. Assim que entraram em sincronia, encontraram a perfeição.

Bruno desencostou-se da parede assim que os lábios passaram a mover-se com majestia, ao ousar colar o corpo inteiro em um hesitante Jake. Subiu a mão que jazia no braço de Jake para o seu pescoço ao passo que a outra circundava sua cintura para grudá-lo em si. Não fora rude e tampouco brusco, seus toques eram leves e carinhosos, temeroso que Jake se afastasse de si.

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Jake sentia como se cada toque delicado e receoso de Bruno o corrompesse mil vezes mais do que se houvesse agido feito um selvagem. O beijo molhado que se estendia com calmaria e perfeição fazia a adrenalina apenas crescer em seu corpo, pensando na linha de amizade que acabara de cruzar com Bruno.

Beijara poucas vezes na vida e teve que demorar um tempo para poder reagir além de apenas sentir.

Os dois braços que jaziam ao lado de seu corpo, na base do choque, movimentaram-se para abraçar o corpo de Bruno. Até mesmo o simples detalhe da quentura das costas de Bruno atravessar a camiseta ao ponto de senti-la nas palmas das mãos fazia suas pernas falharem. Jake apertou suas costas instintivamente para aproximar-se ainda mais dele, o que ocasionou que Bruno se encorajasse para firmar ainda mais seu braço em torno de Jake, sentindo-o estremecer no processo.

Talvez o beijo tenha durado uma eternidade, como fazia sentir. Talvez houvesse sido tão doce e perfeito, como fazia saborear. Talvez o mundo houvesse mesmo parado naquele instante, como fazia parecer.

Assim que o beijo cessou, nenhum dos dois ousou se mexer, testa na testa. A camiseta de Bruno permanecia amassada no punho de Jake, e Bruno não cedeu o braço para que ele se afastasse tampouco. Jake tinha a respiração acelerada, mas o beijo pareceu minimizar todo o nervosismo de Bruno, que apenas lhe sorriu ao abrir os olhos.

— Eu não acredito que você me deixou te beijar — murmurou Bruno, ainda encantado.

Jake riu, nervoso, destravando - o que sequer importou, porque estava preso ali. — Eu não acredito que você me beijou — disse ele, sem conseguir olhá-lo nos olhos, soltando o ar pelo nariz.

Bruno sorriu ainda mais, e então usou da outra mão para fazer Jake encará-lo. Quando teve os olhos azuis grudados nos seus, perdeu o sorriso ao encarar seus lábios outra vez e declarar: — Eu não acredito que eu demorei tanto pra te beijar. — Jake sequer piscou, engolindo em seco, mas as orbes castanhas tornaram a parar nas azuis. — Jake... — Bruno afrouxou um tanto seu aperto, mas segurou a camisa de Jake da mesma forma que ele segurava a sua. — Não vamos voltar. Vamos ficar aqui. Por favor — pediu, roçando o nariz no dele.

Jake nem teve tempo de assentir - e iria! - antes que seus lábios fossem tomados outra vez, em um movimento certeiro. Só deus sabe o quanto a física é mesmo maleável, porque suas pernas realmente viraram gelatina por alguns segundos e seu coração realmente moveu-se de lugar com as batidas aceleradas.

Sem cessar o movimento de bocas, Bruno girou o corpo de Jake o suficiente para tê-lo de costas para a porta, e com passos ágeis que Jake seguiu sem questionamento, aproximou-se dela o suficiente para fechá-la com um baque e grudar seu amigo na porta.

Foi a coisa mais prazerosa que fizera em muito tempo.

Foi como se fechasse, definitivamente, a porta da amizade que eles costumavam ter para trancar-se em uma relação diferente, apenas os dois. Não havia previsão para quando decidissem abrir aquela porta para o resto do mundo, porque mundo algum importava perto daquele entre as quatro paredes.

Apenas os dois, naquele pedaço de espaço-tempo, afastados de tudo o que costumava acalmar o coração ansioso de Jake. Quiçá, agora, houvesse encontrado um tipo diferente de calmante, um que fazia seu coração acelerar ao invés do contrário.

Um tipo de calmante que falava espanhol, tinha a pele mais bonita do mundo, os olhos castanhos mais gentis e o sorriso mais genuíno que houvera visto na vida.

Abriu os olhos para encarar um adorável Bruno por um instante antes de puxar o corpo dele contra o seu, unindo novamente seus lábios com os dele.

O resto do mundo deixou de importar.