Tive pesadelos à noite. Sonhava que estava sozinha em algum lugar escuro que não tinha nome... Que não existia.

Bruno sorria e me dava à mão e de repente o lugar preto e vazio virava um campo com flores variadas. “Eu não te amo mais, por isso te deixo” ele sussurrou ainda sorrindo e então se foi. O lugar antes colorido e repleto de flores agora virou um preto ofuscante de novo, e então ficou muito frio, congelante.

Eu acordei assustada.

- Bruno! – gritei. – Bruno? – disse procurando por ele à espera de que aquilo fosse realmente um pesadelo. – Bruno. – suspirei, chorando.

Peguei o telefone.

Três horas da matina.

Não fazia sentido Bruno me amar, mesmo. Ele era o perfeito. Não eu.

“Seu sorriso, o seu jeito excêntrico e tímido às vezes quando tem que ser, como você cora, você tem mil jeitos, sabe? Você é perfeita e me faz sorrir. Eu te amo”, me disse ele uma vez.

Chorei ainda mais com a lembrança.

Não, eu não era perfeita. Bruno? Sim, ele era.

Me encolhi na minha cama, na casa de Bruno, a casa que era para ser nossa e agora só era minha.

Na cama vazia, fria. Solitária.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto e caíam no travesseiro.

- Bruno... – sussurrei, delirante.

Acho que estou realmente ficando louca.

Não é uma brincadeira, nem de longe.

Eu estou ficando louca.

Um tremor percorreu minha espinha.

- Eu te amo. – e então cai no sono novamente.

Quando acordei o sol ainda estava nascendo.

Me levantei e tomei um banho.

Dirigi até o hotel.

John não me incomodou. Ele tinha muito trabalho e eu não queria espalhar minha tristeza em John, chorar perto dele e então ele ficar triste também.

Pobre John.

Me amava de todo o coração e sempre tentava ficar comigo. Pobre John... nunca o amaria devidamente. Ele era meu irmão adotivo e não um amante.

- Olá. – eu disse, dando um sorriso débil e a voz monótona que me entregava mais ainda.

- Tudo bem? – pergunto John me avaliando com olhos ansiosos.

Não.

- Sim. – menti. Mas a falsa nota era evidente em minha voz.

Continuei o trabalho cansativo até o final do dia sem dizer mais nenhuma palavra.

E assim se passaram dois longos e cansativos meses. Rotineiros... Monótonos. Tediosos. Era a isso que minha vida se resumia.

Assumi um lugar fixo no Hotel quando Sam melhorou e então trabalho lá desde então.

O salário é ótimo e eu não queria atuar.

Estar no palco me lembrava de Bruno e então eu não tentei.

- Tchau, gente. – eu disse depois de mais um dia. A voz continuando monocórdia, porém não me importava mais.

John apertou minha cintura contra ele.

- Vou com você. A gente tem que se divertir, qual é. Você tá muito mal. Tá péssima. – ele disse.

- Hm, obrigada? – eu disse.

Ele riu.

Nós não somos assim. Eu não conseguia imaginar-me com John, namorando-o. Era algo proibido, ele era meu irmão. Meu estômago se revirou.

- John, eu não quero sair, tô cansada e...

- Nada disso. – ele me interrompeu.

- Mas...

- Não mesmo. – ele me cortou de novo.

- Idiota. – murmurei.

- O quê?

- Nada. – eu disse sorrindo de verdade, pela primeira vez em dois meses, o tempo exato que Bruno partira.

John me levou para um bar.

Eu não bebi nada, não bebo.

Mas comi um pastel, o que me lembrou de casa... E um suco de laranja.

- Acho que já vou. – eu disse, pagando o garçom antes que John o fizesse.

Ele pagou a parte dele.

- Eu te levo. – ele disse me levando até o carro.

A noite estava estrelada e eu sentia uma pontada de alegria.

- Hm... – murmurei. – Obrigada pela noite. Foi incrível! – eu disse sorrindo.

Ele me deixou ir e quando abri a porta ele disse:

- Posso entrar?

O convite me fechou a garganta.

- Não... vou ser uma boa companhia. – eu disse antes que parecesse rude.

- Tudo bem. – ele disse. – Eu te entendo. É recente.

Uma dor martelou meu peito.

- Não quero falar sobre Brun... sobre ele. – eu disse. – Obrigada pela noite.

E entrei.

Não falarei mais o nome dele. Não mais. Só de pensar me doía o coração e eu sentia como se fosse vomitar de ansiedade ou desmaiar.

Os dias passaram e passaram.

Eu não me importava com isso.

Ele estava longe.

Era o que me incomodava.

Meu coração estava longe.