Loving a soldier

Capítulo 4 - Aquele do desespero


29 de Março de 2015

O garoto tentava desvencilhar-se dos agarres nos pulsos, movendo-se para trás, realizando movimentos sinuosos ou ainda cotovelando os seus dois colegas os quais o seguravam. Vendo que a luta por libertação não extraía resultados, apelou para sonoros “Não’s” em sequência, contudo foi outra tentativa falha, na verdade, o aperto apenas aumentou, levando-o a desistir e só resmungar:

“Gente, por favor, eu já disse que não quero ir, então será que dá para me soltarem?”

“Não, porque você não tem outra opção além de ir conosco, Austin” Oliver Young, o mais baixo entre os três integrantes da cena, informou, desprendendo o braço do amigo “É praticamente nossa festa de formatura. Uma memória inegável.”

“O anão tá’ certo, dude” Peter Muk, outro membro do trio, sentiu um soco relativamente forte nos bíceps vindo do garoto insultado ao o chamar daquela forma, todavia nem mesmo se dignou a o encarar “Dá um tempo, Oli, você já deveria ter se acostumado aos apelidos. Continuando, você precisa ir. Foram dezesseis semanas de puro sofrimento e agora que terminou não deseja sequer comemorar? Parece não estar entendendo o objetivo aqui.”

“Vocês que não estão entendendo!” Austin exasperou-se, soltando-se do agarre restante e virando-se para os amigos com uma feição irritada “Sabem bem que a Ally está no nono mês de gravidez e qualquer instante pode ser o ideal para vir a dar a luz. Preciso estar acessível a toda hora.”

“Nós sabemos do estado da sua namorada, porque até seria estranho se não soubéssemos, já que fica o dia inteiro murmurando sobre pelos cantos, mas hoje finalmente terminamos o TIA¹. Nós somos soldados de Infantaria!” Young comentou animadamente, sem conseguir esconder o brilho no olhar ao recordar da sua atual posição.

Moon suspirou, seguidamente começando a analisar o par a sua frente. A amizade entre eles era recente, talvez, se parasse para contar, obtivesse um resultado de quatorze semanas, porém os três rapidamente se entrosaram quando precisaram limpar o refeitório como punição por atrasarem-se no treino - Uma possível explicação para a intensa união, caracterizada na partilha de risadas e frustrações.

Por conta de tal vínculo, Austin aprendeu a lidar com os acessos de manha de Oliver, feitos a fim de ganhar qualquer coisa e que, infelizmente, funcionavam, pois o rapaz reconhecia o efeito o qual a combinação de seu rosto pálido, olhos verdes e rala barba castanha tinha, além disso, começou a apreciar a presença ácida do descendente de sul-coreanos nas conversas. Apesar de distintos, o faziam bem.

No entanto, mesmo com as amizades feitas no treinamento militar sendo agradáveis, não conseguia se impedir de sentir saudades de Miami, mais precisamente dos conhecidos. Dez, seu melhor amigo desde o primórdio, aquele garoto excêntrico que o salvou de morrer de fome em um intervalo no fundamental por ter esquecido o dinheiro lhe comprando pudim de chocolate, sendo um dos principais. Estava feliz por ele ter engatado em uma faculdade de Cinema, porém, em certos momentos, tornava-se egoísta o desejando por perto a fim de alegrar-se com suas peculiaridades.

Também tinha Trish, a qual conheceu através da namorada. A relação entre ambos não era intensa, somente confabulavam quando estavam no mesmo lugar ou para discutir sobre o que preparar no aniversário da Ally, entretanto ainda povoava seus pensamentos, especialmente por ela o recordar da amada, esta que era sua maior fonte de saudades, o fazendo sentir um buraco negro no peito ao meramente rememorar, querer abandonar tudo só para sentir a maciez dos lábios alheios e poder acompanhar a gravidez.

Aliás, tal vontade de conviver com a gestação ultrapassava o limite da aspiração paternal, alcançava a ambição de que a atividade fosse tornar o momento mais real. Conversar com a garota por chamada de vídeo e ver a cada semana a barriga ficar mais evidente, dialogar com o bebê ou só ouvir as reclamações consequentes do estado não era o suficiente para a ideia de ser pai transformar-se em concreta. Sem dúvidas, amava desde já a pequena criança, contudo certas vezes apenas necessitava desligar-se da luta contra o exaustivo medo do futuro sentido conciliado à batalha em admitir a circunstância, o que o encaminhou a aceitar uma saída com os amigos.

“Vocês me convenceram” Deu-se por vencido, observando os demais garotos comemorarem “Mas nós não vamos madrugar em um bar qualquer, certo?”

“Nunca que faríamos isso, Austin” Peter comentou sarcasticamente, sorrindo zombeteiro “Até parece que somos adolescentes na faculdade. Hey, aqui é soldado, disciplina sempre.”

“Ignora o Pet. Ele só fala porcarias” Oliver desdenhou o colega, rolando os olhos só por lembrar o que foi dito “Nós vamos sim beber, provavelmente madrugar em algum bar qualquer, mas a gente não vai reclamar se você quiser ir embora, ok?”

“Não vão querer ir naquele que da última vez o barman praticamente implorou para não beberem mais, né?”

“É exatamente para ele que vamos” Muk riu, logo se dirigindo para a saída da base militar.

Os dois rapazes remanescentes correram em direção até o outro, encontrando-se na guarita a fim de fazer o processo rotineiro de identificação para o trânsito no Fort Benning e esperaram no lado de fora pelo táxi anteriormente solicitado. Durante a viagem para Mr. Wing Sports Grill and Bar, em Columbus – GA, os três ingressaram em conversas de diferentes tópicos até que o entardecer foi conquistado pela noite celeremente.

Por fim, o trajeto curto terminou e o grupo avistou a fachada de tijolos do pequeno estabelecimento. Dividiram o preço do serviço de transporte, prontamente se dirigindo ao lugar, contudo antes de entrarem Peter os impediu pondo as mãos na frente de cada um:

“Vocês vão ser obrigados a me darem seus celulares.”

“O quê? Isso não estava no contrato” Oliver contestou, cruzando os braços, como se assustasse o sul-coreano o qual era mais alto e robusto.

“Sempre acabam mexendo nessas coisas no lugar de socializarem. Não posso deixar isso se repetir.”

“Óbvio que a gente fica mexendo nele. Temos que aproveitar as raras oportunidades de fazer isso” Young continuou relutando, fazendo sua cara pidona, todavia sem sucesso pela feição de tédio recebida “Nunca funciona com você, droga.”

“Peter, me trazer aqui já foi uma grande vitória, mas sou muito capaz de ir embora. Preciso desse celular, minha única forma de contato com a Ally agora” Austin falou, tentando fugir do pedido do colega.

“Juro para você que o mínimo sinal de ligação ou qualquer coisa similar te entrego ele. Sério, gente, por favor, vamos no divertir inteiramente por uma noite” Muk disse, em seguida, sinalizando para se apressarem na entrega dos itens.

Mais uma vez sobrepujado no dia, Moon cedeu o que foi pedido igualmente ao Oliver. Ao passo que o outro colega acomodava-os em seu traje, ambos adentraram o bar, notando as paredes com desenhos de beisebol, o tom marrom predominando o ambiente e atmosfera esportiva a qual desconsideravam, afinal, não eram tão ligados a esportes desse tipo, porém o lugar oferecia preços acessíveis no seu cardápio.

Sentaram-se na mesa colada a parede, prontamente sendo-lhes entregues menus por um homem corpulento de idade, todavia dispensaram o ato por já saberem o que desejavam: Cervejas. Peter chegou um minuto depois, posicionou-se na cadeira ao lado de Oliver e mal deu espaço para qualquer assunto surgir:

“Enquanto guardava tudo lá fora, reparei num jornal jogado no chão, na verdade, na manchete de uma notícia sobre soldados sendo enviados para missões de paz no Oriente Médio, o que me trouxe uma dúvida: Vocês vão se voluntariar para alguma?”

“Eu acredito que sim” Oliver respondeu “Meu sonho sempre foi defender o país e agora que tenho habilidade para tal, por que não?”

“Que anão mais patriota” Muk gracejou, somente recebendo um olhar frio do citado em troca “E você, Austin? Algum plano?”

“Não sei na realidade. Ao mesmo tempo em que enviaria mais dinheiro para ajudar a minha namorada, também é arriscado. Não sou capaz de responder isso agora, caras, é muito em jogo.”

Os dois ouvintes somente concordaram e assistiram as bebidas sendo depositadas na mesa pelo mesmo senhor de outrora.

A partir desse momento as coisas desandaram. Moon, o qual prometera para si mesmo não ficar ébrio, com duas garrafas já estava falando aleatoriedades, à medida que o par restante observava o amigo, extremamente arrependidos por não terem o impedido de sorver outra, afinal, sabiam da fraqueza para álcool do rapaz através das últimas vezes que saíram juntos.

“Vou comprar uma água para ele” Young se pronunciou, sentindo-se mal por ver o loiro daquela forma “Me empresta um trocado, Pet? Só tenho notas grandes.”

“Claro, vai logo” Procurou pelo dinheiro no bolso e o emprestou ao outro “Traga o que sobrar.”

Oliver murmurou um agradecimento e saiu de perto da mesa encaminhando-se ao bar central. Enquanto isso, Muk passou a prestar atenção nas baboseiras faladas pelo garoto bêbado:

“Nós seremos a família A, você acredita nisso?” Ele gargalhou bobamente, apoiando de forma desleixada o queixo na mão “Austin, Ally e Amy. Vai ser tão engraçado. A gente vai poder mandar aqueles cartões de Natal ridículos com suéteres cheios de ‘A’ estampados combinando.”

“Oh, espero que eu seja o primeiro a receber. Você vai ser zoado eternamente” Peter comentou, entornando mais um gole de sua terceira long neck.

“Sabia que o nome da minha filha vai ser Amelia só por conta de uma série que sequer assisto? Doctor Who” O garoto continuou, não dando importância ao amigo “Allycia é viciada na personagem da série com esse nome e me ameaçou quando tentei ir contra. Aliás, quem sou eu para me opor? Ficava chamando o bebê de Tommy em razão de Arrow e, também, não tem como contrariar uma grávida.”

“Realmente, você estaria ferrado se discutisse com ela” O sul-coreano apenas concordou, pois de nada adiantaria falar algo além, estava sendo ignorado.

“Mas não conseguiria brigar com ela por causa de um nome. Cara, se a Ally pedisse para eu roubar um banco com aquela carinha gordinha e barriga, faria sem pensar duas vezes” Permaneceu no seu devaneio, tomando agora um semblante alegre ao lembrar-se da imagem da amada “Vou ser tão trouxa pelas minhas duas garotas.”

Austin perseverou divagando, refletindo como estava sendo complicado resistir à vontade de desistir de tudo a fim de poder encher a parcerias de beijos, resmungando sobre a criança a qual estava para nascer e derivados ou ainda da forma que o lugar parecia estar tocando músicas muito dançantes, o fazendo querer movimentar-se. Seus dois colegas apenas o desprezavam, presos em seu próprio debate a respeito de Oliver ter comprado comida para si com o dinheiro do outro, ou seja, sem troco algum.

Quando o loiro se encontrava remexendo-se na cadeira com uma garrafa d’água pela metade ao seu alcance, Muk calou-se ao sentir uma vibração vinda do bolso traseiro da calça, imediatamente procurando distinguir de qual celular em sua posse vinha. O de Young estava guardado no casaco, o seu achava-se com a tela preta, só restou o de Moon, que descobriu ser o responsável pelo tremor.

“Dude, ele não para de vibrar. Tá’ até irritante” Tirou o eletrônico do lugar e o entregou para o amigo, seguidamente voltando para a discussão acalorada.

Com as mãos desengonçadas resultantes da leve embriaguez, pegou o aparelho vagaroso, apertando os olhos a fim de identificar a chamada e, quando notou ser a namorada o telefonando, sofreu um sobressalto ao ponto do celular pular de suas palmas agora agitadas, caindo próximo do seu pé. Desesperado, já imaginando teorias para a tentativa de contato, abaixou-se a fim de pegar o objeto, contudo só notou os sapatos de Peter o empurrando para longe quando as pernas alongaram-se no momento que se voltou na direção de Oliver durante a briga.

“Merda” Xingou, em seguida, levantando-se rapidamente, no entanto tendo que esperar alguns segundos encostado na mesa por conta da vertigem sofrida.

Logo após já empurrava um grupo de pessoas socializando em pé para o lado, assistindo o caminho feito pelo dispositivo móvel, sem conseguir conter a ansiedade em finalmente o segurar e atender a bendita ligação. Depois de alguns “Ei’s” indignados pelo pessoal atingido, o garoto aproximou-se do item jogado perto de uma moça sentada sozinha em uma mesa, mergulhou para agarrá-lo, rapidamente aceitando o telefonema com as mãos trêmulas, sequer notando estar ajoelhado na frente de uma desconhecida a qual o encarava confusa:

“Por que você não atendeu antes, babaca?” Uma voz não pertencente à Ally gritou, provocando dúvida no rapaz “Você tem noção de quantas vezes te liguei, Austin?”

“Calma, quê?” Perguntou com o timbre lento, denotando estar suavemente ébrio “Trish?”

“Não, não, o Papai Noel. Claro que sou eu, idiota.” Ouviu o som de uma buzina ser apertada repetidamente “E, para o bem de todo mundo, vou ignorar essa sua voz de bêbado, porque a gente tem coisa ma...”

A frase foi cortada por um acentuado gemido de dor e respirações violentas, o que o arrepiou apenas por supor a pessoa a qual poderia ter sido a fazer isso:

“Isso foi a Ally? Trish, me responda.”

“Amiga, respira fundo. Lembre-se daquelas aulas de Lamaze que Mimi te levou. Concentra na respiração” A fala alheia assumiu um tom mais brando, provavelmente para transmitir segurança com quem estava conservando.

“Trish!” A tênue embriaguez anterior foi substituída pelo sentimento de seriedade mesclado ao de angústia.

“E-eu... Não consigo. Austin, eu não consigo sem v-você aqui” O garoto reconheceu a voz como de sua namorada, embora ela estivesse modificada através de nuances de aflição e cansaço.

“Meu amor, você consegue sim. Você é forte. A mais forte do mundo todo” Moon consolou, mesmo sem saber qual a razão do conselho “Só que para te ajudar melhor preciso saber o que está acontecendo, baby.”

“Sua filha vai nascer, idiota!”