Loving a soldier

Capítulo 2 - Aquele do arrependimento


29 de Setembro de 2014

Os olhos castanhos ganharam maior brilho com as lágrimas acumuladas, as quais poderiam ser consideradas parte de Allycia durante os vinte e seis dias desde que recebera as duas maiores notícias de sua vida. Os dedos, inquietos, apertavam fortemente o pedaço de papel, talvez molhado por conta do suor que surgia na região. O pequeno sorriso surgiu, como de costume, quando o menino alto, loiro, segurando uma pesada bolsa desengonçadamente virou-se em sua direção.

Correu até ele ao perceber seus braços abertos, sem mais tentando equilibrar a mochila, que se encontrava jogada na calçada, logo enroscando os finos braços no corpo alheio. Sentiu ser abraçada pela cintura intensamente, até mesmo causando certo incômodo, mas nada que a faria abrir mão do contato tão necessitado.

Cada um, com o rosto afundado no vão entre pescoço e ombro do outro, respiravam pesado, buscando parar o choro ou o segurar. Os cheiros fundindo-se de maneira costumeira. Uma mistura de afagos, calor confortante, beijos singelos na pele próxima da boca que seria tão saudosa futuramente teve início.

“Ah, Ally...” Austin murmurou baixinho, próximo ao ouviu da menina “Eu vou sentir tanta falta sua.”

“Eu também, meu amor” Ally confessou recuperada das lágrimas, no entanto, contendo o rosto e olhos avermelhados ainda, em seguida, afastando-se a fim de poder ver a face do garoto “Mas vai ser pouco tempo, certo? Nós podemos aguentar.”

Ambos permaneceram quietos, ostentando feições nervosas, afinal, nenhum tinha como realmente saber o quanto a experiência do Moon poderia durar. Dias, meses, anos. Restava-lhes apenas iludir-se, alimentando a fantasia de que a situação passaria em piscar de olhos, sem dor nem consequências.

“Sim, vai. Mesmo se demorar, nós vamos aguentar, porque nosso amor é maior que qualquer outra coisa” Austin disse, brincando com a bainha do casaco azul da namorada e assumindo um semblante triste “Ally, se você não quiser mais, se apaixonar por outra pessoa, me avisa, ok? Eu vou entender, pode doer muito, mas sempre vou tentar te enten...”

Foi silenciado por lábios tomando os seus, uma mão direita agarrando seu rosto e acariciando-o. Allycia não poderia ficar ali ouvindo tamanhas besteiras. Amava o companheiro como nunca poderia amar outro, a dor que ele sentiria num término seria a mesma que para si, até mesmo pior. Além disso, carregava um filho dele, como poderia pensar coisas assim?

Por um instante, durante o ósculo, enquanto perguntava-se, encontrou a resposta, fazendo-a retesar. O menino não sabia da existência daquele bebê ainda, não tivera coragem de contar depois da avassaladora informação e nos dias que se seguiram sua cabeça estava uma confusão, o seu redor também.

“O que foi?” Perguntou Moon alarmado, quando foi empurrado para trás e viu Ally tensa.

“Nada, esquece” Balançou a cabeça, retomando o mínimo inclinar de lábios “E, Austin, nada de pensar essas idiotices. Nunca romperia contigo. Do mesmo jeito que vai enfrentar esse inferno por nós, eu também posso.”

Voltaram a se abraçar, como se o período que estivessem se tocando fosse um reservatório para o futuro o qual permaneceriam tão distante. Quem sabe a teoria pudesse ser inútil, porém, para o casal apaixonado o qual não tinha onde se agarrar, isso era a melhor opção.

“Promete se cuidar lá?” Allycia pediu de olhos fechados, imaginando-se em outro lugar, outra dimensão, não diante à casa do namorado, com os familiares dele ignorando a interação dos dois, sem gravidez ou exército.

“Amor, você sabe...”

“Só promete, por favor. Prometa que vai se cuidar, dar seu melhor para viver, conversar comigo sempre que der para me dizer como tudo está. Faça isso para eu ficar tranquila, por favor.”

“Eu prometo” Apertou fortemente aquele pequeno corpo que o seu conseguia cobrir, erguendo no ar, logo enchendo a face alheia de beijos, interrompidos apenas por baixos “Prometo” e risadinhas.

“Você está me fazendo amassar meu papel, seu babaca” A menina resmungou ao perceber que seus movimentos a fim de livrar-se estavam machucando o envelope, batendo com a mão livre no ombro do namorado.

“O que tem aqui, posso saber?” Indagou, pousando a menina no chão, rapidamente voltando-se a difícil tarefa de tentar pegar o objeto, pois a parceira desviava.

Allycia respirou fundo, apertando contra o peito o papel. Ali dentro estava a maneira que encontrou de livrar-se do maior arrependimento: Contar para Austin sobre a gravidez. A culpa de não ter dito nada a corroía todo instante, sabia que talvez fosse tarde, iria causar problemas, mas simplesmente não conseguiu antes.

“É um presente para você. Só pode abrir quando estiver viajando já, depois você decide o que fazer.”

“Deveria ficar com medo, amor?” Indagou ansioso, imaginando milhares de suposições, uma pior que outra, porém, para seu desespero, recebeu apenas um dar de ombros como resposta “Tudo bem, só quando eu estiver longe.”

Pegou o envelope delicadamente, investigando-o para tentar achar uma pista de seu interior, contudo a parte externa era lisa. Com desapontamento, guardou-o na mochila esquecida na calçada.

“Vamos logo, Austin. Já vai dar meio-dia e preciso estar na estação à uma hora!” Ouviu-se a voz de Mike, o pai do garoto, juntamente a buzina.

A menina queria que ele se engasgasse com a sua pontualidade. Da mesma forma que não gostava dela, ela nunca gostaria do sogro. Na verdade, queria distância.

“Droga, preciso ir” Resmungou, olhando para trás e sinalizando a fim do genitor esperar “Não sei o que dizer, só... Eu te amo. Amo tanto, tanto, tanto...”

A cada “Tanto”, Austin estalava um selinho na namorada, logo em seguida puxando-a para um contato mais profundo. O último deles durante um espaço indefinido de tempo. Sendo assim, colocaram o máximo possível de sentimento nele. Amor, saudade, carinho, cumplicidade. Passaram o quanto lhes foi possível beijando-se, distanciando-se em razão da falta de ar.

“Te amo muito também” Allycia falou, colando suas testas e respirando fundo.

“Vou sentir sua falta cada segundo distante.”

Mais uma vez, o som de buzina repercutiu na rua, fazendo-os separaram-se com relutância. Fitaram-se, prometendo com o olhar que tudo daria certo, mesmo sem ter certeza. Abraçaram-se, repetiram mais algumas vezes as três famosas palavras, até o momento que Austin disse pela última vez, pegou a bolsa e saiu correndo em direção ao carro.

De mão pousada na barriga ainda imperceptível de três meses, a menina assistiu o amado partir com o coração quebrado.

Dali alguns quilômetros e horas, viajando para o Forte Benning, em Georgia, já distante de Miami, o garoto permitiu-se pegar o envelope e matar sua curiosidade. Com palmas suadas, abriu, retirando uma carta e foto de dentro.

Primeiramente, pegou a imagem. Nela continha uma ultrassonografia, a qual reconheceu por já ter visto quando sua tia estava grávida, com uma pequena mancha no centro, possivelmente o bebê. Estranhou a razão daquilo, portanto virou a foto para tentar achar uma explicação, encontrando a letra pequena da namorada:

“Presente para o futuro papai

mais corajoso”

Com a compreensão caindo diante de si, Austin escancarou a boca, releu a mensagem e sentiu tudo parar por um momento. Não estava acreditando. Como não soube daquilo antes? A informação poderia mudar tanta coisa.

Uma onda de arrependimento o tomou quando olhou ao redor e ouviu o aviso de que logo chegaria ao campo de treinamento. Deveria ter procurado outra forma dos dois poderem ficar juntos, afinal, agora, iria deixar Ally sozinha com o filho deles a fim de arriscar-se no exército.