Loving a soldier

Capítulo 1 - Aquele da confissão


03 de Setembro de 2014

O volante do Pontiac 1995 deslizava algumas vezes por sua mão suada, porém não era como se ela pudesse evitar. Necessitava ir até seu destino e de modo algum conseguiria se acalmar enquanto não chegasse, quem sabe ainda mesmo depois.

Allycia checou a rua que estava, virando logo na próxima, deixando o controle escorregar de novo juntamente a uma ânsia repentina causada por completo nervosismo. Estacionou o veículo de qualquer jeito no meio-fio, respirando fundo em seguida, embora já tenha repetido isso diversas vezes e nenhuma delas melhorou os sintomas. Para completar agora, olhando para a casa a sua esquerda, tinha vontade de chorar em posição fetal até suas lágrimas secarem.

Com mais uma inspiração pesada, abriu a porta do carro, fechando bem apertado os olhos por um instante e pisando no asfalto. Tinha de ser corajosa, caso contrário, nunca faria tal coisa a qual, realmente, era muito importante. Em meio a passos cambaleantes, afinal, encontrava-se atordoada, os membros parecendo gelatina, caminhou até a entrada da exuberante residência de madeira branca.

Apertou a campainha rezando para que não fosse outra pessoa além do namorado a atender, não queria prestar satisfações do por que estar ali e o seu estado. Ouviu passos, logo após ficando de frente a aquele rosto tão conhecido e amado, esquecendo momentaneamente a situação, todavia já se lembrando de tudo, tendo de procurar apoio no batente.

“Hey, amor, está tudo bem?” Austin entrelaçou suas mãos, buscando o olhar dela que estava voltado para o chão.

“Está, está, só...” Não sabia o que dizer, na verdade, nada estava bem.

“Quer entrar? A gente pode conversar” Soltou um suspiro trêmulo, sinal de ansiedade, o qual Ally daria importância, se já não tivesse tanto a se preocupar, e assumiu um timbre firme “Eu preciso te contar uma coisa.”

A garota desencostou-se e fitou o amado. A fala dele deixou-a instantaneamente curiosa, querendo saber o que ele teria de importante a falar, afinal, Austin Moon dificilmente usaria tanta seriedade na voz, a não ser em casos extremos como, por exemplo, quando defendeu a garota de praticantes de bullying causado pelo fato de ser considerada pobre perto dos afortunados da sua antiga escola.

“Claro, vamos entrar” Forçou um sorriso o qual parecia mais uma careta “Também preciso contar algo.”

Ally acompanhou o namorado para dentro da casa, apoiando-se em seu peitoral quando ele rodeou-a pelos ombros. Com a cabeça próxima do pescoço, conseguiu sentir o característico cheiro de sândalo. Uma rápida lágrima escorreu por seu rosto a qual tratou de secar disfarçadamente e forçou nenhuma outra a ousar escapar dos olhos.

Como aquela menina estava amedrontada.

Chegaram à grande e decorada sala de estar, sentando-se no espaçoso sofá branco. Austin permaneceu abraçando a parceira, enquanto ela retomou o ritual de respirar fundo. O cômodo recordava-a de tantas coisas, até mesmo a razão do seu estado.

“De novo, Ally, você está bem? Tão quietinha...” Sussurrou o rapaz, começando a passar os dedos por entre seus fios morenos “Pode me contar tudo, não sabe?”

“Eu... Não sei?” Praticamente questionou, fitando a lareira do espaço, no entanto, logo levantando a cabeça e observando o amado com seus olhos grandes, avermelhados, transmitindo insegurança “Tenho de contar, mas... Fala você primeiro.”

Austin encarou a face logo a sua frente hesitantemente. Cada traço nela era perfeito a seu ver, desde as mínimas sardas ou o tom de amêndoa de suas íris. O amor por Ally não caberia dentro de si nunca, o desejo de vê-la bem irá sempre arder dentro de si, porém sabia que a machucaria confessando o que faria.

Deu um singelo selinho na moça, depois fez o mesmo na testa. O medo retomou-o. Ora de perdê-la, ora de feri-la.

“Eu te amo muito, tenha isso em mente, por favor” Pediu, trocando olhares com a namorada, ambos assustados “Faria qualquer coisa por nós dois e esse é motivo do que vou fazer. Meu pai me deu apenas duas escolha envolvendo nós agora com o término do colégio. Ou eu terminaria contigo...” A garota levantou-se num sobressalto, contudo Austin a puxou de volta para seu peito “Calma. Deixa eu terminar... Ok, ou eu terminaria contigo porque ele não aceita que me envolva com alguém de classe média, nunca aceitou aquele idiota, relevava só por achar ser coisa boba de adolescente, ou... Eu teria de me alistar, assim como ele.”

Ally demorou segundos para ter uma reação, apenas digerindo as palavras. Soltou-se devagar da proteção do namorado de cabeça baixa e sabendo que agora sim tudo estaria rodando.

“Alistar? Você diz, alistar no... Exército?” Murmurou, franzindo a testa como se aquilo fosse um absurdo.

“Fui na Junta hoje de manhã” Buscou a mão pequena da menina, apertando os dedos.

“Você está brincando. Não faria isso” Tentou desacreditar, mas quando apenas ouviu silêncio, entendeu, quebrando o contato entre as palmas bruscamente e levantando-se “Você não podia ter feito isso, Austin.”

“Mas eu fiz! E foi por nós dois!” Pôs-se de pé também, procurando abraçar a amada, porém ela se esquivava a cada tentativa “Meu pai nunca gostou de nós dois. Ele acha que eu devo me casar com alguém de classe alta também. O mais puro status. Mas com isso... Prometeu deixar a gente ficar juntos, sem impedimento algum.”

“Você vai para o exército!” Gritou e levantou os braços, sentindo-se descontrolada “Não tem nada pior que isso, você sabe. Não seja idiota. É um longo período, é... Perigoso.”

Ally não sabia definir como estava se sentindo. Ela conseguiria apenas dizer que era como uma reação química a qual logo explodiria. Ou também que era um castelo feito de peças de Lego e uma criança veio chutá-lo com todo a força, desmontando-o. Sentia-se insana, quebrada.

Tinha até esquecido do seu aflito anterior.

“Por nós dois, Ally. Não vai ser muito tempo.”

“Dane-se!” Falou alto, suspirando em seguida e colocando as mãos no rosto, apertando os olhos a fim de conter lágrimas “Dane-se... Vai ser horrível de qualquer jeito. Pouco, muito. O perigo continua o mesmo. Você vai arriscar sua vida.”

Sentou-se cansada, destruída no sofá. Aquilo não podia ser realidade. Nada do que descobriu no dia era. Um pesadelo, deveria ser isso. Quando é que acordaria? Quando alguém zombaria do seu desespero por um sonho onde o amor da sua vida iria para o exército? Quando?

“Deve ter outro jeito” Sussurrou, fechando os olhos e apoiando-se desleixadamente no encosto.

Austin que sentia dor apenas em ver a aflição da namorada, acomodou-se do seu lado, puxando para perto e beijando sua cabeça.

“Eu te amo. Quando eu voltar, porque vou, caso não saiba, nós vamos casar e ter filhos loiros de grandes olhos castanhos. Um time de basquete. Prometo.”

Ao ouvir a fala, Ally sentiu novamente um soco forte no estômago, como o de quando descobriu, e descansou a mão sobre a região.

Eles não teriam de que ter cinco filhos no futuro se fosse como o time. Quatro seria o suficiente, afinal, um já estava a caminho.