Christine entrou no quarto silencioso observando sua filha à frente do espelho.

O vestido caia nela como luva, perfeitamente. Nem grande, nem pequeno. O azul do tecido contrastando com a cor dos olhos dela. Sorriu orgulhosa. Quando sua garotinha havia se tornado uma mulher assim tão rápido?

“Você está linda, querida”.

Temperance olhou para mãe, surpresa. Estava tão dispersa que nem notara sua presença.

“Parece que temos um cavalheiro misterioso bem observador pra acertar seu tamanho de primeira” ela riu “Seu pai até hoje não se lembra do meu”.

Christine sentou-se na cama.

“Vai me contar quem o nome do admirador, ou terei que adivinhar?”.

“Não importa” ela disse “Eu vou devolver o vestido, não posso aceitar”.

“Porque não?”.

“Você sabe o porquê mãe” ela suspirou, alisando o tecido “É muito caro para ser um presente de amigos”.

“Então se ele fosse seu pretendente você aceitaria?”.

“Mas não é, além do que isso não vai acontecer. É complicado”.

“Venha aqui querida, sente-se comigo” ela bateu a mão no espaço vazio ao seu lado “Deixe-me lhe contar algo”.

Temperance se aconchegou ao lado da mãe, entrelaçando seus dedos aos dela.

“O que você sabe sobre a minha historia com seu pai?”.

“Que vocês se conheceram em um baile, e tornaram-se amigos” e continuou “E depois ele pediu sua mão?”.

“Acho que esquecemos dê lhe contar algo importante” Christine sorriu “Você conhece alguma coisa sobre os Keenan?”.

“Um pouco...”

“Quando seu pai pediu minha mão, seu avô se recusou a aceitar a proposta, dizendo que era um mau negócio” ele explicou “Mas casamentos não são negócios, e eu amava Max. Então contra a vontade de meu pai eu aceitei a proposta e me casei”.

“Não estou entendendo aonde você quer chegar...”.

“Eu era uma Keenan, querida” sua mãe suspirou “E eu larguei tudo pra viver com seu pai, e não me arrependo. Eu ia a bailes frequentemente, desfrutava da alta sociedade e não sinto falta disso. A única coisa que me entristece é que você nunca teve a chance de escolher se quer essa vida ou não. Ao contrário de mim, seu caminho já nasceu traçado” ela tocou o rosto da filha, sorrindo “Este cavalheiro que enviou o vestido? Ele esta lhe dando a oportunidade que eu sempre quis pra você, querida. Você estudou com muito sacrifício e trabalha ajudando sua família, mas ás vezes você se esquece de que é apenas uma bela jovem que deveria desfrutar de algumas coisas”.

“Mãe, eu na-”.

“Escute princesa, vá para o baile, dance com o cavalheiro, esqueça por uma noite que você tem o peso do mundo sobre seus ombros e se divirta. Você acha que pode fazer isso?”.

“Eu acho que... Sim?” Temperance respondeu incerta.

“Essa é a minha garota” ela sorriu, se encaminhando para porta “Amanhã depois do almoço começaremos a arrumar você, tenho certeza que iremos nos divertir” e completou “Afinal, não podemos deixar o Senhor Booth esperando, certo?”.

Brennan encarou sua mãe, surpresa com a firmação dela. Como ela sabia?

E antes que pudesse perguntar a mulher já havia desaparecido no corredor.

...

O dia do baile havia chegado e com ele toda sua bagunça e pressa.

A casa da família Booth estava um caos, como ficava todo ano. Criadas circulavam em passos rápidos, enquanto as mulheres da família terminavam de se arrumar.

Ele estava na sala, bebericando sua bebida enquanto aguardava pacientemente. Um barulho na porta, seguido de uma voz conhecida chamou sua atenção.

“Olá família” ele cambaleava pela sala “Estou em casa!”.

Marianne desceu apressada, enquanto murmurava em pleno desgosto.

“Vá para seu quarto Jared, vou mandar alguém ajudá-lo com o banho”.

“Eu vou para o baile, sem chance” ele respondeu, sorrindo “Ouvi dizer que esse ano terá debutantes muito interessantes. Eu quero ver”.

“Escute o que a mamãe esta dizendo” Seeley avisou.

“Me erre irmão já que você esqueceu seu passado, alguém tem que lembrar”.

Booth largou o copo na mesa.

Estava cansado de ter que bancar a baba para resolver os problemas de seu irmão e sem paciência para aturá-lo hoje. Sem pensar duas vezes, desferiu um soco contra a mandíbula do homem – ou garoto? - a sua frente, que caiu desacordado no sofá.

“Seeley, o que você fez?” Marianne perguntava apavorada.

“Chame algum criado para levá-lo ao quarto, talvez amanhã ele acorde” e avisou “Estarei esperando na carruagem. Por favor, não demore”.

“Meu filho...”.

“Eu não estou com cabeça para aguentar ele hoje, você sabe onde me encontrar”.

Ele saiu sacudindo a mão onde um hematoma já começava a aparecer.

...

A família Booth chegou ao baile rodeada de atenção.

O salão estava cheio, dividido entre alguns casais dançando, e rodas de conversa.

Seeley reparou os olhares que a senhorita Burley direcionava a ele, e fez o possível para se dispersar na multidão o que apenas o levou direto para Catherine.

“Senhor Booth” ela sorriu, estendendo a mão.

“Senhorita” ele deixou um beijo rápido “Se me da licença”.

“Somente se me prometer uma dança mais tarde” ela respondeu “Ficaria honrada”.

Booth a encarou, pasmo. O desespero era tanto que agora homens eram emboscados? Pelos Deuses, se Temperance não chegasse logo não saberia o que sobraria de si ao final da noite.

“Combinado, senhorita”.

Ele caminhou rápido e logo estava ao lado de fora da propriedade. Observou as carruagens chegando, mas nenhuma trazia quem ele aguardava. Trinta minutos se passaram e continuou na mesma situação. Suspirou exasperado, ela não viria.

Já se encaminhava para o interior do salão novamente quando viu a carruagem que alugara despontando na estrada.

De repente, ele estava nervoso.

De repente, suas mãos começaram a soar.

“O que diabos esta acontecendo comigo?” ele murmurou se aproximando do transporte.

O cocheiro educadamente abriu a porta, ajudando sua ocupante a sair, e foi nesse momento que seu coração falhou uma batida.

Ela estava linda. Céus! Nunca pensou ter visto uma mulher tão bonita em sua vida

“Uau! Você esta... Perfeita!”

“Você esta bem hmmn... Apresentável também” ela corou “Desculpe pela demora, meu irmão não queria que eu viesse”.

Ela colocou sua mão no braço dele, enquanto caminhavam pelo espaço.

“Eu sei que ele não gosta de mim, mas não pensava que era pra tanto” ele riu.

“Nós não deveríamos entrar?” ela perguntou baixinho.

“Não sei, o que você me diz?”

“Eu nunca estive em um baile antes” respondeu “Não seria a pessoa mais adequada pra responder sua pergunta”.

Ele parou de caminhar, encarando os olhos azuis dela.

“Então estou muito honrado de ser seu primeiro companheiro de baile” e beijou a mão dela “Temperance”.

Ela estremeceu diante do contato que arrepiou toda sua pele.

“Obrigada pelo vestido, ele é lindo” ela sussurrou “Mas você não deveria ter se incomodado”.

“Eu só hmmn... Não conseguia imaginar esse vestido em outra pessoa. Parecia errado. Ele foi feito pra você, acredite”.

Ela sorriu, e voltou a se apoiar no braço dele, enquanto Seeley os conduzia para dentro do salão.

Brennan estava surpresa com tanto luxo em apenas um lugar. Comes e bebes distribuídos para quem quisesse e aparentemente o quanto quisessem também.

“Então, gostou?”

“É enorme...”

Eles caminhavam na direção da mãe de Booth quando ela percebeu que estava recebendo vários olhares curiosos.

“Eu não acho que foi uma boa ideia eu ter vindo...” ela sussurrou “As pessoas estão me encarando, principalmente àquela loira”.

Seeley sorriu.

“Eu acho que foi uma ideia maravilhosa você ter vindo, você é uma ótima companhia” ele respondeu “E elas estão te encarando porque queriam estar no seu lugar”.

“Você é realmente um Don Juan, não?” ela sorriu e brincou “Vou começar a olhar para trás quando andar na rua”.

“Elas terão que se acostumar, afinal nunca estarão no seu lugar mesmo”.

Brennan o encarou tenteando entender a afirmação dele.

Ele quis dizer que ela estaria ao seu lado... Para sempre?

Pelos Deuses! Estava confusa.

“Senhorita Brennan, que prazer vê-la aqui” Marianne disse “Vejo que meu filho está em ótima companhia”.

“O prazer é todo meu, senhora Booth”.

“Esqueça o senhora querida, pode me chamar de Marianne, pois eu a chamarei de Temperance a partir de agora” e sorriu “Você veio só? Não vejo seus pais”.

“Minha família não tem costume de frequentar esses bailes, eu só vim porque seu filho insistiu muito”.

“Seeley sabe o que quer, não é querido?” Marianne perguntou brincalhona “Ele consegue ser bem persistente”.

Brennan sorriu, e observou o amigo ficar vermelho.

“O que você acha de uma dança, Temperance?” ele perguntou, já a conduzindo para longe de sua mãe “Acha que consegue não pisar nos meus pés?”.

“Posso tentar” ela sorriu em resposta.

Booth a guiou até o centro do salão, pousando suas mãos delicadamente na cintura fina, enquanto a mulher em seus braços apoiava-se em seus ombros.

“Você cheira bem” ele sussurrou, trazendo-a para mais perto “E isso é um elogio”.

“Porque não seria?” ela questionou curiosa, sentindo as reações de seu corpo ao toque dele.

“Porque você é meio doida, poderia entender errado” ele respondeu “Não me entenda mal, eu gosto de doidinhas”.

“Eu não sou doida”.

“Sim você é” e continuou “Inteligente, perspicaz, sincera e ainda por cima bonita”.

“Isso é ser doida? Eu não entendo. Segundo estudos realizados por Oxford, para uma pessoa ser diagnosticada com esquizofrenia ela teria qu-”.

“Você é diferente, por isso.” A interrompeu “De um jeito bom. Isso que eu gosto em você”.

“A maioria dos homens não gostam disso”.

“Eu não sou a maioria, porque eu gosto disso” Seeley sorriu para ela “E muito”.

Eles voltaram a dançar, dessa vez em silêncio. Apenas o som da musica corria entre o salão enquanto o casal – de amigos? – deslizava sobre a pista, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

No canto do salão, Marianne estava com um grupinho de mulheres, observando o casal.

“Parece que seu filho finalmente encontrou alguém que goste Mari” a mulher continuou “Ela é bem bonita, mas nunca a havia visto por aqui”.

“Ela não frequenta a alta sociedade, por isso” senhora Booth explicou “É filha daquele advogado Brennan, mas é uma boa garota, inteligente”.

“Eu acho que Seeley precisa mais do que uma garota inteligente ao seu lado. Se ela não é do nosso meio, como vai poder organizar as coisas? Cuidar da casa? Provavelmente não sabe nem dar ordens”.

“Que bom que meu filho não leva em consideração a opinião alheia, certo? Ele gosta dela, é tudo que preciso saber”.

Marianne saiu caminhando, sorrindo.

“Você não poderia ter escolhido melhor, querido”.