“Ouch!”

“Senhor Booth, por favor, quanto mais você se mexer mais demorado será essa sessão” o alfaiate informou.

“Você está me furando!” completou “E com agulhas”.

“Porque o senhor não para quieto. Está assim tão apaixonado que mal consegue conter-se?”

“Eu nã-”

Mas Seeley calou-se. Para quem ele iria mentir? Claro que estava apaixonado, e provavelmente até mais que isso.

Tudo que ele conseguia pensar era na imagem de Temperance em um longo vestido branco caminhando em sua direção, totalmente sua, e pelos Deuses, seu coração falhava uma batida ao se dar conta de que esse dia estava cada vez mais próximo.

“Ah, finalmente se acalmou senhor?”

“Apenas termine isso logo, tenho coisas para fazer” resmungou.

Mais alguns apertos e furos e o traje finalmente pareceu se situar no corpo dele.

“Você está maravilhoso, querido” Marianne entrou no quarto de surpresa, acariciando o braço do filho “Parece como seu pai”.

“Isso não soa como um elogio” ele murmurou “Poderia nos dar um minuto a sós?”.

O alfaiate concordou e em instantes estava fora do aposento, deixando mãe e filho sozinhos.

“Eu preciso de sua opinião” ele mexeu na gaveta da escrivaninha, procurando por algo “Droga, tinha certeza que tinha colocado aqui”.

“O que esta procurando meu filho?”

Ele remexeu mais um pouco até finamente achar o que desejava. Uma pequena caixinha de veludo azul escuro, e estendeu para a mãe.

“O que você acha?”

Marianne pegou o objeto sentindo a textura macia, e abriu a caixinha que guardava um lindo anel de ouro com um diamante azul solitário.

“É lindo. Para Temperance, certo?”

“Sim, e-eu... Não dei a ela nenhum anel quando a propus. Não está muito tarde pra isso está?” perguntou preocupado.

“Você pode colocar um anel no dedo dela quando quiser Seeley, ainda mais um belo como este”.

“Acha que ela vai gostar?”.

“Definitivamente sim, mas como toda boa moça vai tentar recusar, mas insista. Ela apenas não é acostumada com isso, mas esse anel vai cair nela como uma luva”.

Ele sorriu nervoso.

“Eu pensei que, ela merece e além do que não deveria andar por ai sem nada que simbolize o nosso compromisso” explicou “As pessoas poderiam entender errado, e eu definitivamente não quero isso”.

“Você pensou certo, eu soube que senhorita Burley passou a noite em prantos quando soube do seu noivado” ela sorriu “Acho que a pobre sempre manteve esperanças com você, mesmo depois de tantas dispensas”.

“É o preço por ser um visconde, mas ainda bem que isso terminou” encarou sua imagem no espelho “Você acha que esse terno está bom?”.

“Como já disse querido, você está maravilhoso” olhou para o filho sorridente “E só para seu conhecimento, mesmo que não fosse um visconde tenho certeza que ainda teria muitas senhoras interessadas em você. Você é muito bonito”.

“Puxei a mãe, o que acha?” Booth riu, abraçando-a “Obrigada por tudo, e prometo não desaparecer daqui nunca”.

“Espero que cumpra suas promessas então, seria um castigo viver sem você. Já terei que me acostumar a não vê-lo diariamente, Deus sabe como será complicado”.

“Ouch!” Seeley resmungou quando um alfinete o espetou novamente “Eu acho que está na hora de chamar o alfaiate novamente, antes que o noivo desapareça no meio dessas agulhas”.

“Provavelmente senhorita Brennan iria lamentar muito sua perda e não queremos isso, certo?”

...

Temperance estava nos fundos de sua casa, sentada em um balanço enquanto apreciava o silêncio.

Desde que seu noivado fora anunciado tudo o que ela menos tinha era paz. Sempre era requisitada sobre opiniões a respeito da cerimônia, comidas e principalmente o vestido. É claro que, quando ao ultimo item ela não se sentia nem um pouco incomodada. Apenas alguns dias atrás finalmente haviam finalizado a medida certa e a peça estava sendo produzida por uma das melhores costureiras da cidade. Marianne fizera questão de que ela fosse bem atendida e tivesse todos seus pedidos realizados, afinal uma moça só se casaria uma vez.

Mas agora tudo que queria era respirar o ar gelado do inverno e apreciar a calmaria do local.

“Tempe?”

Ela virou-se encarando seu irmão.

“Posso falar com você por um momento?”

Brennan concordou e Russ se aconchegou junto a ela no mesmo balanço.

“Está tudo bem?”

“Melhor impossível”

“Eu não conversarei com Seeley” murmurou “Decidi que se você o considera apto a ser seu marido ele deve ser realmente um homem com boas intenções”.

“Ele é” ela sorriu e perguntou “Você pode prometer segredo se eu lhe contar algo?”.

“Algo pessoal? Porque eu não preciso saber dessas coisas, você é minha irmãzinha”.

“Não é nada pessoal, não nesse sentido seu malicioso” ela riu “É sobre Michael... Ele m-me ameaçou dizendo que se eu não se casasse com ele iria tomar a casa de volta”.

“Ele é louco? Eu vou quebrar á cara dele” Russ vociferou “Quem aquele idiota pensa que é pra te ameaçar?”.

“Não importa” Brennan disse “Quando eu contei pra Seeley e-ele teve basicamente a mesma reação que você e se ofereceu para comprar a propriedade e depois dá-la para nós, mas eu não poderia aceitar... Não ao menos...”.

“Se você fosse algo a mais dele” o irmão completou “Ele é um bom homem no final das contas, mas Tempe seja sincera comigo, você realmente quer esse casamento? Viver de conveniência?”.

Ela encarou o irmão, seu rosto corando. Como iria explicar que, ao menos da parte dela esse casamento era tudo, mas menos de conveniência? Como iria explicar que tudo que mais desejava era estar nos braços de seu noivo, protegida do mundo e aconchegada ao calor dele?

Estava apaixonada, e por Deus, nem soube quando isso começou, mas somente que quando percebeu Seeley Booth era mais importante do que tudo em sua vida.

“Vou ficar bem Russ, sério. Não se preocupe” respondeu, evitando encará-lo.

“Você gosta dele” seu irmão murmurou baixinho “Eu te conheço e, por favor, não negue. Você está vermelha de vergonha”.

“E-eu, hmmn...”.

“Não precisa dizer nada, irmãzinha. Só espero que Seeley perceba o quão maravilhosa você é” se levantou, caminhando em direção à estrada.

Tinha coisas urgentes para resolver, e iria cuidar disso agora.

Quando se distanciou do balanço teve a leve impressão de escutar a voz de sua irmã, mas continuou seguindo em frente enquanto Brennan murmurava confusa no balanço.

“Eu também, eu também”.

...

Russ caminhava pela estrada que levava a residência da família Booth distraído. Pela primeira vez teve a oportunidade de observar ao redor, e assim como sua irmã ficou encantado.

Quando chegou ao campo que adornava a propriedade se surpreendeu ao ver Michael caminhar apressado ao que parecia querendo se afastar do lugar o mais rápido possível. Suas mãos estavam sujas de sangue e seu rosto exibia um corte que se estendia da orelha até os lábios.

“Michael o que aconteceu?” o herdeiro dos Brennan perguntou enquanto o homem passava por ele.

“Deixe-me em paz” Stires rosnou e continuou o caminho, agora correndo.

Russ resolveu ignorar e seguiu em direção a seu destino.

Observou que um grande carvalho que ficava perto da casa da família, e resolveu seguir por lá, só não esperava encontrar o noivo de sua irmã recostado na arvore com uma grande mancha vermelha na camisa branca.

“Infernos. Seeley, o que aconteceu?”

Booth escutou a voz conhecida, porém essa não lhe rendeu nenhum alivio. Tudo que não precisava agora era um continuou sobre suas ações com Temperance.

“Russ... Eu” suspirou fraco “Me ajude a levantar, eu acho que ainda consigo caminhar”.

“Você tem uma faca no seu estomago, é claro que você não pode andar idiota” bufou “Vamos, eu te ajudo”.

Juntos os dois conseguiram caminhar pelo campo até a porta da casa onde foram recebidos a gritos pelo mordomo.

O que aconteceu depois foi um borrão para Booth, tudo que conseguia lembrar era de escutar o nome da noiva seguido por uma escuridão.

Ele tinha desmaiado.

...

Quando Seeley abriu os olhos pela próxima vez já estava em seu quarto.

Levou a mão na barriga sentindo uma bandagem cobrindo o corte acompanhado de uma leve dor.

“Olá dorminhoco” uma voz doce ecoou pelo cômodo “Sente-se melhor?”.

Ele virou o rosto deparando-se com Brennan que estava sentada em uma poltrona ao seu lado.

“Um pouco” murmurou fraco.

“Bom, você teve um ferimento um pouco profundo e perdeu muito sangue, por isso a fraqueza. Em algumas horas se sentirá melhor, mas terá que se alimentar bem”.

“Michael, ele...”

“Russ nos contou o que viu, e tudo se encaixou. Ele está preso e não sairá tão cedo” ela explicou.

“Ótimo...”

“Sinto muito” Brennan se desculpou, tocando os cabelos dele “Se não fosse por minha causa você não se envolveria com ele, e isso não t-teria acontecido...”.

“Sem necessidades para desculpas, Tempe” segurou a mão dela, acariciando “Ele é um idiota que me pegou desprevenido, só isso”.

Brennan sorriu feliz pelo contato.

As mãos ficaram entrelaçadas até Booth novamente cair no sono e ela deixou os aposentos dele.

“Ele está melhor, só não se esqueça de fazê-lo comer, é importante ajudar a repor o que perdeu”.

“Obrigada Temperance, você foi um anjo que caiu sobre essa casa” Marianne a abraçou, emocionada.

“Eu devo ir, já está tarde e meu irmão está me esperando” informou “Caso ele apresente algum problema durante a noite, a senhora não evite em me chamar, por favor”.

“Espero que não fique brava comigo, mas... Eu falei para seu irmão que poderia partir, mas o prometi que você ficaria como nossa hospede. Desculpe-me a liberdade, mas sinto-me melhor com você aqui”.

“Eu, ah- Russ não disse nada?”

“Apenas que passaria aqui pela tarde e que você o esperasse” a senhora a conduziu pelo corredor “Vamos querida, você também precisa descansar, por aqui”.

E logo Brennan estava adormecida no quarto ao final do corredor.

...

A noite fora longa e cansativa.

Brennan remexeu-se na cama, e antes do amanhecer seu sono esvaiu-se. Trocou de roupa abandonando seu traje de dormir provisório e voltando a seu vestido.

O caminho para o quarto de Booth não era longo e logo estava batendo na porta, sem respostas acabou entrando do mesmo jeito.

“Eu acho bom você ter uma ótima desculpa para estar de pé”

Booth encarou surpreso á imagem dela parada junto á entrada do quarto.

“E-eu hmmn... Estava cansado de ficar deitado, e realmente estou me sentindo melhor”.

“Isso é ótimo, mas mesmo assim você deve descansar” informou “Não queremos arriscar”.

Seeley se aproximou dela que estava ao centro do quarto, e segurou sua mão.

“Eu tenho algo para lhe dar” ele disse.

“Preocupação?”

“Ah, agora você sabe fazer piadas?” riu divertido “Bom saber”.

“Estou tentando” ela sorriu e continuou “O que é?”.

Booth tirou a outra mão de dentro do bolso, estendendo a ela uma pequena caixinha azul.

“Abra, acho que irá gostar” murmurou.

Brennan pegou o objeto, surpresa e abriu revelando o conteúdo.

“Você é louco, definitivamente louco” disse enquanto observava o anel “É lindo!”.

“Vou levar isso como um elogio” e continuou “Eu sei que o casamento está próximo, mas não queria que as pessoas pensassem errado, e eles realmente me lembram dos seus olhos”.

“Você não deveria, Seeley, eu realmente não me importaria” ela sussurrou perdida nos olhos dele.

“Mas eu quis, e não pretendo devolver, então é melhor você aceitar” sorriu divertido, pegando o anel da mão dela “Posso?”.

Ela meneou enquanto Booth colocava a joia em seu anelar, seguido por um beijo.

Temperance sentiu a onda e arrepios percorrer seu corpo, e percebeu um leve desapontamento quando ele se afastou, mas logo seus dedos traçavam as linhas do rosto dela, sentindo a maciez de que tanto gostava. Ela sorriu tímida e isto apenas incentivou a Booth que enterrou uma das mãos nos cabelos dela capturando os lábios nos seus.

Brennan suspirou ao contato retribuindo o beijo, suas mãos descansavam nos ombros dele, enquanto suas línguas degustavam uma a outra.

A conexão durou alguns minutos antes do casal se separar em busca de ar, testas coladas e respiração ofegante.

“Por favor, tome cuidado, você quase me matou de susto, foi horrível” ela murmurou, apertando os ombros dele.

“Não irá se livrar tão fácil assim de mim, noiva” sorriu trazendo-a para um abraço apertado, sempre atento ao ferimento.

“Eu não quero...”.

“Bom saber” beijou os cabelos cheirosos, seus dedos correndo pela linha das costas dela “E só pra você saber, não consigo imaginar-me casando com outra pessoa”.

“Fico feliz que não” sussurrou contra o pescoço dele “Muito feliz”.