Pov's Ally
Minhas mãos voaram para o cabelo de Austin e pude sentí-lo me apertar ainda mais contra si. Nós dois precisavamos daquele beijo, era mais do que um desejo, era uma necessidade.
Austin levantou meus quadris e prendi minhas pernas ao redor de sua cintura.
Senti minhas costas esbarrarem contra um coqueiro próximo a nós e ele deu um meio sorriso entre outro beijo.
—Pensei que quisesse me matar até um minuto atrás. -Sua voz estava rouca e incrivelmente descompassada. Algo inédito para o loiro.
—Tem uma arma a menos de um metro de distãncia. Não me provoque. -Mordi o lábio inferior ao sentir seus beijos molhados em contato com o meu ombro.
—Acho que devemos entrar. Já está escurecendo. -Por mais que sua intenção fosse a de entrarmos na cabana seu único movimento foi abaixar a alça do meu vestido.
—O céu esta limpo. Poderiamos dormir aqui fora hoje. A fogueiro ainda tem muito o que queimar. -Voltei a atacar seus lábios. Austin parecia ter cedido, no entanto depois de dez segundos ele interrompeu o beijo.
—Podemos continuar isso lá dentro Ally. Não quero que corra risco algum aqui fora. -Ele pressionou minha cintura. Parecia estar tentando me alertar sobre o constante perigo que corriamos.
Revirei os olhos e ajeitei meu cabelo. Eu precisava de uma hidratação o mais rápido possível.
—Tudo bem então. -Respirei fundo e me afastei.
Austin segurou em minha mão e me levou em direção a cabana. Parecia não ter se dado conta do que acabara de fazer e preferi não comentar sobre o assunto.
Passamos pela pequena sala e fomos direção ao nosso pequeno "quarto". Diversas embalagens industriais estavam jogadas pelo chão empoeirado do cômodo. Digamos que roubamos praticamente todo o estoque de comida do avião.
—Mais alguns dias e eu irei morrer por falta de proteínas em meu corpo. Batata frita não acaba com a fome de ninguém. -Reclamei enquanto abria um dos pacotes daquele veneno. Nunca fui fã de saladas nem nada do tipo, mas aquilo poderia me matar a qualquer instante.
—É melhor do que aquelas frutas estranhas que tem ai fora. -Ele sorriu apontando para a janela.
Aquilo era verdade. Eu podia comer mil pintangas e ainda assim estaria faminta.
—Se eu tomasse mais um gole de água de coco provavelmente vomitaria. Eu não aguentava mais beber aquilo. -Dei a primeira mordida em uma batatinha. Por um momento me senti de volta a minha casa, deitada no sofá, comendo porcarias e assistindo a algum filme que estivesse passando na tv.
—Não dou uma semana para que diga o mesmo do refrigerante. -Jogou em minha direção uma garrafa de coca-cola.
Não tinhamos uma geladeira então não teria o melhor sabor do mundo, mas obviamente era melhor do que nada.
—Quanto tempo mais a comida vai durar? -Dei um gole no refrigerante. Era a primeira coisa que eu bebia no dia.
—Provavelmente mais uma semana e meia. -Ele pôs um biscoite na boca e na embalagem pude ler que o sabor era morango.
O loiro deu de ombros e se recostou na janela do quarto.
O brilho da lua em seu cabelo era sem sombra de dúvidas uma das coisas mais lindas que já vira em toda a minha vida, porém ao lembrar das circunstâncias em que estavamos meu sorriso morreu. Se estivessemos no navio, em um bar ou em qualquer outro lugar talvez pudessemos fingir que era o nosso primeiro encontro, mas nós dois sabiamos que as coisas era mais difíceis do que aparentava.
—Você acha que vai demorar para virem nos buscar? Já se passaram duas semanas Austin. -Bebi mais um gole do líquido escuro da garrafa.
Eu nunca tive esperanças de que um dia realmente iriamos sair da ilha, mas ainda assim não conseguia parar de perguntar sobre o assunto.
Austin que estava apoiado no batente da janela me olhou de relance.
—Pra falar a verdade eu não faço ideia. Já deveriam ter nos achado. -Seus olhos transmitiam conforto a medida que suas palavras eram absorvidas em minha mente. Não era essa a resposta que eu desejava ouvir, porém acenei tentando não parecer nervosa.
—E será se ao menos estão nos procurando? -A batatinha desceu rasgando a minha garganta.
Austin me analisou dos pés a cabeça. Seus olhos pareciam indecifráveis naquele instante e não pude entender o que queriam demonstrar com aquela atitude.
—Venha cá. -Disse apontando para a janela que estava encostado.
Franzi a testa e isso fez com que ele abrisse um sorriso deslumbrante a luz da lua. Fez um sinal com a mão me chamando novamente e então me levantei da cama deixando meu "jantar" jogado de qualquer jeito em meio aos lençois.
Austin abriu espaço para que eu fosse até o parapeito da janela. Os coqueiros balançavam preguiçosamente a minha frente junto a lua. As ondas haviam cessado por um tempo. Estavam dando uma trégua para o imenso oceano negro.
Pelo canto do olho vi Austin se movimentar atrás de mim. Suas mãos deslizaram por meus braços causando arrepios em minha pele. Fechei os olhos por breves segundos. Apenas o necessário parar memorizar o quão precioso era aquele momento.
Ele me abraçou por trás e encostou o queixo no topo da minha cabeça.
—Quero que você me prometa uma coisa. -Sua voz estava mais suave do que nunca.
—Acabamos de nos acertar e você já quer que eu prometa algo? -Tentei brincar. Era mais fácil quebrar o gelo da situação do que pensar no real motivo para ele estar dizendo aquilo.
—Estou falando sério Ally. -Nossos dedos se entrelaçaram e apertei com força sua mão.
—Não posso prometer algo que não sei se serei capaz de cumprir. -Falei com sinceridade. Eu já tinha ouvido diversas promessas que nunca foram concretizadas, não queria fazer o mesmo com outra pessoa.
—É mais um pedido do que uma promessa. -Sussurrou em meu ouvido.
O ar não dava indícios de tempestade, porém o clima dentro da cabana era frio e vazio quase todo o tempo. Eram raros os momentos em que eu me sentia acolhida dentro daquele lugar e em todos eles Austin era quem os proporcionava.
—Diga. -O tom trêmulo da minha voz foi quase inperceptível, mas se ele notou algo provavelmente guardou apenas para si.
—Me prometa que ao sair dessa ilha será uma mulher diferente. Que não vai deixar de viver a sua vida por causa de um namorado e que não vai parar o seu trabalho quando o primeiro problema bater em sua porta. Prometa que vai esquecer Gavin. -Ele falava aquilo quase internamente. Parecia uma espécie de prece.
—Eu não... -Comecei, mas ele interrompeu minha fala.
—Esqueça tudo o que aconteceu nos últimos meses. Esqueça tudo o que um dia foi o motivo das suas lágrimas e se for preciso esqueça até de mim. -Suas mãos faziam leves carinhos em minha barriga.
—Não vou me importar de ser apenas uma falha da sua memória desde que isso te faça sorrir. -Terminou com um beijo em minha bochecha.
Fechei os olhos. Eu não iria chorar. Estava feliz demais para deixar qualquer mísera lágrima tomar conta do meu rosto, mas ainda assim não pude deixar de sentir uma pontada em meu peito.
Eu não queria esquecer dele.
—Pra onde você vai quando sairmos daqui? -Perguntei mordendo o lábio inferior. Se nunca mais fossemos nos encontrar eu merecia ao menos explicações.
Ele me analisou rapidamente. Não sabia ao certo o que responder, mas preferiu dizer a verdade.
—Vou voltar para Chicago, e você? -Eu podia ver a hesitação dos seus olhos naquele instante.
Balancei a cabeça rapidamente e me virei para encará-lo melhor.
—Eu prometo. -Respondi com um mínimo sorriso. Sei que não respondi sua pergunta, mas a promessa bastaria para que ele se acalmasse por hora.
Austin fixou seus olhos em mim. Mais vivos do que nunca. Eu podia ver ali que ele lutava contra si mesmo para acreditar em minhas palavras. Seus olhos então desviaram sua atenção para a minha boca. Eu ainda tinha um quase sorriso ali e Austin percebeu isso.
Suas mãos me aproximaram ainda mais e encostei minhas mãos em seu peito. Austin acabou com a distância entre nós e me envolveu em um beijo doce, simples e urgente. Eu não conseguia entender qual o real sentido daquilo. Se ele tinha me beijado como uma forma de dizer que acreditava em mim ou se foi apenas para que eu parasse de mentir. De qualquer forma me senti pela primeira vez em anos segura nos braços de alguém.
Tudo parecia se resumir a nós dois. O som que os coqueiros emitiam faziam questão de nos lembrar disso. As folhas em seus altos cada vez mais agitadas a medida que Austin me sentava no parapeito da janela.
Ele afastou nossos lábios ainda ofegante. Sua boca se aproximou do meu pescoço e soltei um gemido baixo ao sentir seus beijos em contato com a minha pele.
—Haja o que houver não olhe para fora da janela, está me ouvindo? -O loiro sussurou em meu ouvido quase que temendo que eu fizesse exatamemte o contrário.
Meu coração parou de bater no mesmo instante em que ele disse a última palavra.
—O que aconteceu? -Perguntei sentindo um frio súbido percorrer toda a minha espinha.
—Saia quando eu dizer que está tudo bem, ok? -Ignorou minha pergunta devolvendo outra como resposta.
—Você esta me assustando Austin. -Minha voz não passava de um sussurro.
Sua mão foi em direção as minhas costas. Seus dedos quentes deslizaram por toda a minha coluna o que me fez engolir em seco.
—Acredite, se você olhar não será apenas um susto que vai levar. -Sua voz estava entrecortada e sobrecarregada.
Eu não podia encarar seus olhos, pois ele ainda estava com os lábios em meu pescoço. Pensei em sua proposta. Eu deveria escutar suas palavras. Continuar quieta e sair dali apenas quando ele avisasse, mas eu já estava cansada daquilo. Estava cansada de fazer tudo o que as pessoas queriam, como se eu fosse uma bonequinha que todos poderiam escolher seus movimentos do jeito que bem entendessem.
No calor do momento virei o rosto em direção ao que quer que estivesse do lado de fora da janela. Um som de tiro foi tudo o que consegui ouvir no momento seguinte. Austin que ainda me abraçada fez uma careta de dor e cambaleou um pouco para trás. Suas mãos se desvencilharam do meu corpo aos poucos e a mancha de sangue em seu peito fez com que eu soltasse um grito agudo quando Austin foi de encontro ao chão.