Pov’s Ally

—Uma semana. -Me sentei em um tronco caído de coqueiro em frente à fogueira.

—Uma semana. -Ele repetiu esfregando suas mãos uma na outra na esperança de que se esquentasse mais.

Hoje esta sendo o dia mais frio desde que chegamos à ilha, não há ameaças de chuvas nem trovões, apenas fortes rajadas de vento.

Eu devolvi a blusa de Austin tendo assim apenas meu biquíni e o lençol da cama para me aquecer e sei que mesmo com a camisa e a calça o loiro também sente frio.

—Quanto tempo acha que irão precisar pra sentirem nossa falta?-Perguntou olhando o mar agitado a nossa frente.

—Eles já sentiram. Saber se isso os incomoda é que é a parte difícil. -Me encolhi ainda mais no pano gasto que insistia em balançar com o vento.

—Porque é tão pessimista?-Mesmo que a pergunta fosse para mim seus olhos ainda tinham como foco o mar.

—Eu?É a verdade Austin. -Dei de ombros.

—Eu acho que essa é verdade que você quer acreditar. -Suas palavras eram calmas e doces, mas mesmo assim eu podia perceber que era como se estivesse me repreendendo de forma oculta.

—O que esta querendo dizer com isso?-Comecei então a beber um dos muitos cocos espalhados por toda a ilha.

Eu já havia pegado a prática de como quebrá-los.

—O que eu estou querendo dizer é que não é porque o seu namorado te traiu que você precise acreditar que todas as pessoas ao seu redor irão fazer o mesmo. -Finalmente seus olhos encontraram os meus.

—Uau. Parece que realmente esta por dentro do assunto não é pegador?Nem julgo sua noiva por te trair. –Tentei prender a risada e quase me engasguei com a água de coco.

—Ally me responda uma coisa. Pra você é mais fácil jogar os meus problemas em cima dos seus apenas pra poder continuar se achando a dona da razão não é?-Ele não vacilou em nenhum momento.

—Estou mentindo?Você fala de mim quando esta mais errado que eu.

—Em que eu estou errado?Por ter a esperança de que talvez alguém que realmente se importe comigo esteja a minha procura?Não me culpe se você não tem ninguém que se importe de verdade com você. -As palavras doíam mais do que qualquer traição, choro ou até mesmo que a queda do navio e o pior de tudo é que eram verdadeiras.

—Tem razão. As pessoas não se importam comigo, talvez seja por isso que eu tente acreditar em minhas próprias verdades Austin. -Engoli em seco.

—Quer saber?Você deve estar certo. Com certeza neste exato momento tem algum navio, helicóptero, foguete ou qualquer coisa do tipo vindo exclusivamente para essa ilha te resgatar dono do mundo. -Continuei.

—Será ótimo quando você for embora e eu continuar aqui sozinha. Com o nada que é tão semelhante a minha antiga vida. -Me exaltei um pouco.

—Percebe o quão mimada você é?Não superou um namoro qualquer e agora quer descontar em mim.

—Não eu não superei porque eu realmente cheguei a acreditar que eu podia ser feliz uma vez em toda a minha vida.

Chutei a areia em meus pés, as fazendo se misturam as chamas da fogueira.

Austin parecia estar mais insuportável do que nunca e a minha paciência já havia se esgotado desde que a noite caiu. Não dava para continuar daquele jeito.

Coloquei o coco de novo ao meu lado e então comecei a passar a mão por meus cabelos agora ressecados por conta do mar.Queria muita que esse fosse meu maior problema.Fiz um coque rápido e massageei as têmporas.

—O que vai fazer se sair daqui?-Ele voltou a perguntar. Agora parecia não ter nenhuma intenção em me julgar.

—Se eu sair daqui pretendo voltar a minha vida normal. Esquecer o Gavin, esquecer a traição e tudo o que me fez mal nos últimos meses. Talvez até volte ao trabalho antes do planejado. -Suspirei me levantando.

—E se não sair?-Eu via a hesitação em sua voz.

—Terei de suportar a sua existência até eu me afogar no mar na primeira oportunidade que aparecer. -Soletrei cada sílaba da forma mais clara possível.

Não ouvi respostar como já esperava. E eu não iria voltar para a cabana, não hoje.

Ainda com o lençol cobrindo meu corpo segui rumo à enorme floresta que nos cercava. O velho laginho conseguia ser ainda mais bonito a luz do luar e a cachoeira lhe dava um ar de graciosidade divina. O único barulho que se ouvia era o dos meus pés que algumas vezes se emaranhavam em galhos caídos e folhas secas, até mesmo os pássaros estavam em silêncio.

Continuei caminhando até alcançar uma parte mais elevada da ilha, onde eu podia ter uma visão mais ampla do lugar que me prendia a uma semana. Ela seria magnífica se não fosse tão triste de se viver. Eu mesma teria coragem de voltar aqui outra vez se tivesse a certeza de que não acabaria tendo que morar nessas condições, talvez apenas para relaxar por um dia.

Joguei o lençol no chão e me acomodei em cima dele. Aqui fazia calor o que era totalmente estranho a julgar que estávamos quase congelando lá embaixo. Mergulhar não parecia ser uma má idéia até um barulho vindo de trás das árvores esvair todos esses pensamentos.

Os passos do que quer que seja ficavam cada vez mais próximo e a única certeza que eu tinha era de que não era uma caranguejeira e de que Austin não estava ali para me proteger.