Pov’s Ally

Corri o mais depressa possível até a cabana, Austin me acompanhou logo em seguida. Subi os três degraus de madeira que havia antes da mesma, eles rangiam de uma forma que chegou a me causar calafrios. Olhei para Austin meio receosa com a hipótese de entrarmos em uma cabana que nem ao menos sabemos se é habitada ou não. Ele apenas fez menção para que eu abrisse e assim o fiz, a porta de madeira um pouco corroída por acho que roedores rangeu tão alto quanto os degraus de segundos atrás.

Abri a por completo nos dando uma visão ampla de uma pequena sala. Austin entrou na cabana para observar melhor o lugar e eu lhe acompanhei, não iria ficar sozinha do lado de fora, assim que coloquei meus pés sobre a sala, senti um arrepio tomar conta de mim, mas não deixei que isso me desconcentrasse do que de fato era o importante naquela hora, ajuda.

Analisei melhor a pequena sala e pude ver que nela continha apenas um armário de cor preta inacabado e empoeirado, ele estava com uma de suas gavetas entre abertas. Preferi ignorar qualquer tipo de coisa que fosse e segui para o próximo cômodo da ‘’casa’’ que era graças a Deus um quarto, nele não havia nada além de uma cama cujos lençóis estavam perdidos em meio a tanta poeira que lhe consumia e uma janela também é claro de madeira, que por sinal estava aberta e nos fornecia uma visão digna de um paraíso tropical, podíamos ver os coqueiros em um balanço calmo por causa da brisa do mar e o imenso oceano que nos rodeava. Eu estava imersa em meus pensamentos quando ouvi ao fundo uma voz me chamar. Era Austin.

—Ally, veja isso. – Ele gritou do outro cômodo da cabana o que eu achei um exagero já que estamos a apenas alguns metros de distância.

Assim que me aproximei da sala ele me entregou um tipo de foto antiga que estava já em processo de decomposição. A analisei por algum tempo sem conseguir decifrá-la. Virei à mesma e pude ver que nela havia uma data, 12 de Janeiro de 1954.

—Seja lá quem for que morou aqui parece que passou muitos anos nessa ilha. –Austin me despertou mais uma ver dos meus pensamentos.

Ignorei seu último comentário e voltei a analisar a foto, não havia nada de especial nela, era apenas uma paisagem que era muito similar a da ilha em que estamos.

—Será que algum dia a gente vai sair desse lugar Austin? – Perguntei depois de longos minutos em silencio apenas observando a foto e a cabana que nos cercava.

—Ei, não vamos ser pessimistas. Nós vamos sair daqui sim, é só uma questão de tempo até eles localizarem a ilha e de eles virem nos resgatar. – Falou indo em direção ao quarto.

—Espero que você esteja certo. –Falei também indo em direção ao quarto, ou melhor, a fantástica janela pela qual eu me apaixonei em poucos minutos. A brisa era tão calma que eu podia ouvir nitidamente o barulho das águas se chocando entre si.

—Eu estou morrendo de fome e você? – Perguntou agora ao meu lado.

—Também estou com fome, já faz horas que eu não como nada. – Só agora eu senti a minha barriga roncar.

—Okay, eu vou ver se eu consigo arrumar alguma coisa pra gente comer, já volto. – Disse indo em direção a porta e a fechando logo em seguida

Vi aquele lençol empoeirado e a primeira coisa que pensei foi em que eu não estaria nem louca de deitar naquela cama empoeirada. Peguei o lençol e sai da cabana logo em seguida, fui em direção ao lago em que eu e Austin estávamos há algum tempo atrás. Sei que aqui não tem nem sabão nem nada do tipo, mas eu tenho que aprender a me virar certo? Enquanto esfregava o leve tecido branco contra uma pedra eu comecei a pensar em toda a minha vida, eu vivi anos de mentira, deixei de aproveitar a vida por causa de um cara, gastei muito tempo da minha no trabalho, etc.

Decidi voltar pra cabana para ver se da tempo do lençol secar até a noite. Assim como o esperado Austin ainda não havia voltado, então apenas coloquei o lençol para secar em um varal improvisado por mim.

Depois de aproximadamente trinta minutos eu acho, sozinha, apenas sentada em frente à cabana Austin resolve retornar com alguns peixes na mão dos quais eu não consegui decifrar a espécie.

—Achei que algum canibal havia te devorado. – Falei sarcasticamente enquanto o ajudava a colocar peixes no chão.

—Eu tive que voltar até a beira da praia para pegar as minhas roupas e o bote, ele pode ser útil para alguma coisa. – Falou jogando no chão o bote que eu até agora não tinha visto.

—Desculpa estragar a sua felicidade, mas como que nós vamos assar o peixe? – Perguntei voltando a me sentar nos degraus de madeira em frente à cabana.

—Não se preocupe minha querida Ally, eu já pensei em tudo. – Disse com um sorriso orgulhoso no rosto.

—E eu posso saber o que seria isso, gênio? – Revirei os olhos.

—Claro, é simples nós vamos fazer uma fogueira. - Continuou ainda em sua pose ridícula.

—E como nós vamos arrumar madeira aqui, meu filho? Se já foi difícil pra encontrar água doce imagina madeira. – Fiz alguns gestos com a mão para que ele entendesse.

—Não estou falando de irmos procurar madeira e sim de que nós temos madeira para fazer isso. – Austin só complicava ainda mais a cada palavra que dizia.

—Eu acho melhor você explicar de vez isso, ou eu te afogo no mar e ninguém vai ficar sabendo de nada. - Ele já esta me estressando.

—Calma mulher. Podemos quebrar aquele armário que tem na cabana e os pedaços de madeira usar apara fazer uma fogueira. – Disse se sentando ao meu lado.

—Nada de nós, você vai fazer isso sozinho meu bem, eu estou morta, acabei de voltar do lago, estava lavando aquele lençol imundo. – Ele esta louco se eu vou quebrar aquele armário esquisito.

—Nossa que legal você se importar em eu não dormir na poeira. –Sorriu em forma de alivio.

—Como é? Você acha mesmo que eu lavei aquele lençol nojento só para o seu beneficio? Eu vou fingir que não ouvi isso. – Fali me levantando.

—Eu não vou dormir no chão. – Ele também se levantou.

—Fui eu que achei à cabana. – Falei elevando um pouco o tom de voz.

—Fui eu que salvei a sua vida. –Ele elevou o tom de voz ainda mais alto que o meu.

—Okay, pode ficar com a cama, herói. – Dei ênfase na última palavra e entrei na cabana indo direto para a janela que fica no pequeno quarto que lá possuía, Austin não veio atrás de mim o que pra mim foi a melhor decisão que ele tomou desde que chegamos aqui na ilha.

***

Já esta de noite e eu estou morrendo de fome, Austin não voltou a entrar na cabana a não ser para levar o armário para o lado de fora, no momento eu estou sentindo o cheiro do peixe, minha barriga esta roncando muito, já faz praticamente um dia que eu não como absolutamente nada.

Ouvi um barulho vindo da porta da cabana, não me virei para olhar quem era já que esta um pouco óbvio o ser humano que abriu a porta.

—Eu trouxe comida, caso você queira. – Senti que ele se aproximava cada vez mais.

—Pode levar, não estou com fome. – Eu realmente não sei como eu estou conseguindo me apoiar nessa janela, eu já estou a mais de quatro horas em pé apenas observando as ondas do mar.

—Da pra você parar de frescura e aceitar logo isso. – Tenho a impressão de que ele esta falando da comida.

—Eu não estou com fome. – Voltei a repetir a mesma frase de antes.

—Qual é Ally?Você esta a amais de um dia sem comer, daqui a pouco vai terminar desmaiando. – Ele continuava a insistir.

Continuei calada, acho que se eu o ignorar ele vai embora. E assim eu fiz não voltei a olhar pra trás. Ele já deve ter ido embora porque não ouvi mais nada.

—Eu só falei aquilo por brincadeira Ally, se você quiser pode dormir na cama e eu durmo no sofá, feliz?- Perguntou me surpreendendo um pouco.

—Não precisa pode dormir na cama, você já fez muito pra mim salvando a minha vida. – Me virei para encará-lo, um peixe assado em cima da cama, em baixo do peixe havia uma folha de bananeira que eu não faço idéia de onde ele tirou isso.

—Então nós dois dormimos juntos, simples. – Falou dando de ombros.

—Nem morta que eu vou dormir na mesma cama que você. – Debochei.

—Porque não? – Arqueio a sobrancelha direita.

—Porque eu não vou passar a noite na mesma cama que um estranho, como eu vou saber se você não é um maníaco? – Perguntei fazendo alguns gestos com as mãos

—Sério que você esta falando isso? – Perguntou prendendo o riso.

—Como eu vou saber? – Voltei a perguntar.

Austin voltou a me olhar agora com um olhar mais curioso, ele começou a se aproximar lentamente, fui andando de costas até bater contra o para peito da janela, estávamos em uma aproximação perigosa.

—O que você esta fazendo? –Indaguei sussurrando.

—Não se mexa. – Disse olhando em meus olhos.

Apenas assenti com a cabeça, seja lá o que for acho melhor não irritar ele agora. Austin se aproximou cada vez mais, sem qualquer tipo de espaço em meio a nós, ele pousou suas mãos em minha cintura, estremeci ao seu toque e acho que ele percebeu.

Ele aproximou cada vez mais a sua boca do meu rosto e antes que eu pensasse qualquer coisa ele sussurrou em meu ouvido:

—Não se mexa, tem uma caranguejeira em seu ombro esquerdo...