Lizzy e Gabriel

Capítulo 6: De volta à aldeia


Lizzy acordou com os primeiros raios transcendentes de luz batendo-lhe na face. Eles invadiam as frestas que havia na velha janela mofada. Lizzy sentou na cama e coçou a cabeça. Correu as mãos pelo resto ainda adormecido. Quando retirou as mãos de sua face, Lizzy olhou na direção da mesinha que se sobrepujava e observou um objeto desmórfico em cima da escrivaninha. Ela Percebeu que havia algo mais, fazendo companhia com o objeto. Uma silhueta no formato de rosa. Uma flor, talvez. – pensou Lizzy. Não sabia exatamente o que era. Levantou-se por um momento, e ficou observando aquele contorno escuro e sem forma que ia se tornando mais evidente a medida que ela se aproximava. Era uma rosa já desabrochada com um pequenino botão em seu tronco. Abaixo dela, havia um pequeno envelope branco. Era a mesma rosa vermelha aveludada que havia visto noite passada. De repente, a lembrança da noite anterior tomou conta dos seus pensamentos, levando Lizzy para um leve torpor. Ela empertigou-se e retornou sua atenção para a rosa.

A rosa estava com a raiz e um caule sem espinhos. Lizzy passou seus finos dedos sobre as pétalas aveludadas, sentindo seus dedos deslizarem. Tão suave ao toque. Lizzy colocou a rosa de lado e pegou o envelope. Abriu-o e revelou seu conteúdo. Era um bilhete que continha a seguinte mensagem:

Dou-lhe essa rosa, para poderes plantar onde quiseres. A rosa mais especial do meu jardim, agora é sua. Tenho um imenso carinho por ela. Aliás, tenho um imenso carinho por todas elas, mas, mais por essa em especial. Abdiquei-a de tê-la em meus cuidados para passar para os seus. Uma prova do quanto você está me mudando, Lizzy.

Ps : Cuide bem dela.

Uma rosa para outra rosa!

Gabriel.

Ao terminar de ler, Lizzy devolveu o envelope na posição de início. Com isso, ela pode sentir que seus sentimentos e emoções estavam tão imensos, tão intensos, que não estavam conseguindo permanecerem dentro daquele corpo. Foi então, que os seus olhos, deram os primeiros indícios de vermelhidão e rubor. Um arrepio tocou-lhe a nuca, e um lacrimejar brotou em seus olhos, seguido de um pranto que percorreu seu belo rosto. Tamanha era a felicidade ao ler aquele bilhete.

Agora tudo fazia sentido. - Pensou Lizzy. Por isso, ele tirou a rosa do vaso e disse que iria replantá-la. Isso era apenas parte do plano.

Lembro-me que ele a deixou depositada sobre o balcão. -Pensou Lizzy. -Ele deve ter voltado até o jardim à noite para pegá-la.

E foi nesse momento, que Lizzy decidiu que iria levar aquela rosa até sua casa e plantá-la em seu pequeno jardim. Mesmo sabendo que seu solo não era tão fértil assim. Ela iria correr o risco, mesmo sabendo que poderia perdê-la.

Ela iria voltar para casa.

Lizzy pegou um jarro que descansava na mesinha ao lado da escrivaninha, e encheu-o de aguá. Pegou um copo de vidro e colocou a rosa dentro, para preservá- lá até à tarde. Em seguida, foi ajudar Margareth com os afazeres diários.

Era 16h30min. Esse horário indicava um breve intervalo para o lanche da tarde. Mas Lizzy, ao invés de fazer a pausa para lanchar, tomou a decisão de ir falar com o príncipe, só para agradecer-lhe pelo presente e avisá-lo, que naquela tarde, após o seu expediente de trabalho, ela voltaria para a sua aldeia e levaria consigo a sua rosa.

***

Gabriel estava arrumando os livros em sua biblioteca. Ele pegou a escada de madeira que estava encostada em umas das prateleira e a levou até um dos compartimentos de livro. Colocou-a no chão, e subiu. Retirou da grande prateleira, um livro empoeirado com uma capa dourada. Desceu da escada, e retornou-a em sua posição inicial, mantida de pé. Depositou o livro na mesa central em cima da toalha bordada de arabescos. E, ao se virar para a entrada da biblioteca, Gabriel ficou estranhamente surpreso ao ver Lizzy postada na porta com o envelope na mão.

— Oi Lizzy. -Não esperava vê-la por aqui. Como me encontrou aqui? -Entre, por favor. Venha conhecer a biblioteca. –Disse ele. E tirou uma de suas luvas brancas de sua mão direita para pegar um livro grosso e amarelado de capa marrom com um titulo gravado em alto relevo. -Gosto de senti-los. (Gabriel estava se referindo-se ao livro que estava em uma de suas mãos). -De ter contato com essa substância. Não é maravilhoso Lizzy¿ -Disse Gabriel.

—Venha até aqui senti-los também.—Disse ele, com gordura nos dentes.*

— Boa tarde, Milorde. Bem, primeiramente não foi difícil encontrá-lo aqui. Margareth me deu as coordenadas. -Disse Lizzy com um sorriso sutil. -Acredito que você deva passar as tardes aqui quando está de folga. Então, foi o primeiro lugar que pensei que você estaria. Já que gosta tanto daqui quanto do jardim.

Lizzy deu alguns passos em direção ao principie, e se deteu. Passou uma de suas mãos na prateleira de livros e percorreu-a com os dedos, tocando cada livro deliberadamente.

—É uma sensação agradável. -Disse ela.

—Bem, mas, na verdade, -continuou ela- vim até aqui, para agradecê-lo pela rosa. Fiquei excepcionalmente lisonjeada com o presente. -Lizzy disse.

Lizzy olhou nos olhos do príncipe e concluiu:

Bom, também pensei bastante a respeito da conversa que tivemos outro dia, e tomei uma decisão. Então, achei que deveria comunicá-lo quanto a isso. -Disse ela.

—Voltarei para aldeia hoje. Após meu expediente de trabalho, se assim me permitir. E levarei a sua rosa, quero dizer, minha rosa. -Disse Lizzy, com notável tristeza no olhar.

Gabriel notou a tristeza transparecer nos olhos de Lizzy. E pela primeira vez, o príncipe ficou sem palavras por um breve momento. Até mesmo encabulado, eu diria.

—Lizzy. É claro que você pode voltar para a sua aldeia quando quiser. Nós já conversamos sobre isso. Pretende partir assim que acabar o seu expediente ou quer que eu te libere antes? -Disse ele, tentando não demonstrar nenhuma reação a respeito da decisão de Lizzy.

—Após o expediente, Milorde. Assim como havia prometido.

—Está bem. -Disse o príncipe, sem qualquer objeção. -Prepararei a sua carruagem para transportá-la até a aldeia.

—Sou grata por isso, Milorde. (Fácil assim. Sem resistência nenhuma?) -Pensou Lizzy.

—Fico feliz que esteja levando a sua rosa.

—Tentarei replantá-la em meu jardim.

—Que bom, Lizzy. Cuide dela com muito amor. E por favor, pare de me chamar de milorde. Me chame apenas de Gabriel.

—Cuidarei, Gabriel. E saiba que todas as vezes que eu levantar de manhã para regá-la e cultivá-la, lembrarei de você.

E com um último olhar dentro de seus olhos azuis celestes, (uma tempestade estava acontecendo ali, em seus olhos) Lizzy dá meia volta e segue pela saída da biblioteca.

O príncipe permaneceu estático por alguns segundos, mas logo, se recompôs.