Lizzy e Gabriel

O caminho de volta à aldeia. Parte ll


A apenas algumas horas antes do sol se pôr, Lizzy sobe as escadarias que leva até seu quarto. E ao chegar no amplo cômodo, ela retira de umas das gavetas da escrivaninha o convite do jantar enviado por Gabriel. Ela o observa, e em seguida o re-lê. Ao término da leitura, Lizzy dá um leve sorriso (devido a lembrança que o convite trouxe) fazendo sua expressão se marcar por alguns segundos. Ela o deixa depositado ao lado da pequena mala de mão e segue em direção do grande guarda roupa velho para pegar seus vestidos que estão pendurados e separados pelas araras. Lizzy pega seus pertences que estavam nas gavetas restantes da escrivaninha. Ela começa arrumar suas coisas colocando tudo junto e embolado, formando uma espécie de trouxa.

Os demais pertences como escova de cabelo e acessórios ela os coloca em uma bagagem de mão. E, em questão de minutos, Lizzy consegue deixar tudo pronto para partir.

Mas, apesar de tudo, lá no fundo, Lizzy ainda estava incerta sobre a decisão que tomara.

Lizzy sai de seu quarto arrastando a trouxa atrás de si e segurando a pequena mala de mão. Ela segue rumo ao corredor escuro, (iluminados apenas pelas bruxuleantes luzes dos candelabros), pisoteando e deixando marcas nos impecáveis tapetes (vermelho e dourado) de veludo arabescados.

Ela pega um atalho que leva até a cozinha, onde lá, encontra Margareth e alguns outros criados reunidos.

Lizzy deixou sua trouxa ao lado de um dos pés, e ficou imposta no umbral da cozinha.

Margareth astuta como era, logo percebeu a presença da amiga, sem deixar de notar a mala de mão.

—Oh, minha querida Lizzy, -disse Margareth fazendo menção com uma das mãos -venha até aqui.

Lizzy seguiu em direção de Margareth , e ao chegar ao seu destino, parou.

—Você vai mesmo nos deixar,Lizzy¿ -disse uma das criadas que ali estava.

—Vou sim, senhora Portman. -Disse Lizzy desviando o olhar de Margareth para a outra criada.

—Oh, é uma pena. Você é tão prestativa. Vamos sentir sua falta. -Disse a senhora Portman.

Lizzy voltou sua atenção para Margareth, e para as marcas de expressão que aquela pobre mulher adquirira ao longo dos anos trabalhando naquele castelo. Ficou imaginando como seria ter passado uma vida naquela redoma. Aquelas marcas carregavam o peso da sabedoria e do sofrimento imposto pela vida. E ela podia notar isso.

Lizzy deu uma última olhada nos olhos flamejantes de Margareth. E agradeceu a criada por todos os ensinamentos e por toda ajuda que a criada ofertou. Minúsculas gotículas de lágrimas começavam brotar em suas pálpebras inferiores, mas Lizzy as conteve assim que brotaram.

Lizzy se despede de todos ali presentes e agradece um a um, por tela acolhido tão bem. E com uma notável tristeza no olhar, Lizzy se despede de Margareth e dos demais criados. Os criados a seguem até a porta da cozinha.

Ao sair da cozinha, Lizzy percorre todo o castelo, e vai em busca dos outros criados para poder se despedir. Porém, ao passar por um dos corredores, ela teve a impressão de ouvir um vestígio de música ao longe, como se tivesse sendo barrada por alguma isolação acústica.

Um piano tocando ao fundo, talvez. Pesnsou Lizzy.

Com uma melodia melancólica e notas bemolizadas o som infeliz percorria os largos corredores escuros até chegarem aos ouvidos de Lizzy. Ela sabia de onde estava vindo essa música inusitada. Era oriunda da ala oeste. A sala de piano, mais precisamente. Curiosa como ela, decidiu seguir o som, assim como um cachorro que segue o cheiro de algo suculento.

Era uma melodia harmônica, embora triste e dramática, com um leve toque romântico, quase que hipnotizadora.

Do outro lado do castelo na ala oeste, (sala de piano) Gabriel tocava uma canção quase fúnebre, fazendo algumas alterações nas notas com pequenos seguimentos de pausa em sua mão esquerda. A pausa se faz audível e Gabriel fecha o tampo do piano por um momento. Nessa pausa infinitamente indeterminável de tempo, Gabriel começa a se questionar sobre as atitudes que ele teve para com Lizzy. Desde do momento que ela entrou no castelo até agora.

Ele refletiu também sobre a tomada de decisão repentina de Lizzy ir embora do castelo. Gabriel não conseguia digerir nem só por um instante a ideia de ter que perde-la. O desespero toma-lhe conta só de pensar em voltar a vida boemia e solitária que ele tanto lutou para perder. Ele também se questiona sobre os sentimentos que estão emergindo de seu ser. O orgulho e o ego tentam mascarar, mas é mais forte que ele. Não há como disfarçar, está entalhado em sua alma. Não há como fugir, o amor o atingiu em cheio. Tarde demais para voltar atrás.

Só então, depois de muita reflexão, e autoanálise, ele começa a aceitar e a entender o significado do que ele está sentindo por Lizzy. Algo que ele talvez jamais tivesse sentido em toda sua vida. Algo inédito. Algo chamado: Amor.

Ele abre de novo a tampa do grande instrumento a sua frente. Sentado em uma postura rígida, Gabriel posiciona seus dedos sobre as teclas brancas do velho piano de cauda e recomeça a tocar. Ele toca uma última canção antes de ir de encontro com Lizzy. A canção do coração.

Gabriel estava com tremenda vontade de correr até Lizzy e dizer para ela não ir embora. Para não deixá-lo ali naquele velho e solitário castelo devastado de solidão e sentimentos ruins. Se não fosse seu orgulho, ele imploraria para que ela ficasse, e traze-se luz aos seus dias sombrios. Ela fez algo despertar nele, que nem ele sabia que existia, ou não acretiva que ele seria capaz sentir ou amar. Ele seria capaz de pedir para que ela ficasse ao menos mais um tempo. O tempo suficiente para ele conquistá-la.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.