Lizzy e Gabriel

Capítulo 3: O Castelo e a nova prisioneira


Todos os criados vieram ver o que estava se passando por ali, mas foram logo dispensados por Gabriel, permanecendo apenas a criada Margareth, que ao observar aquela cena toda.-Disse:

— Gabriel o que está fazendo¿

— Nada que seja da sua conta. -Já disse, você pode ir agora! -Ele falou em um timbre de voz mais alto e rouco.

(Era de se esperar tal atitude. -Pensou Margareth).

Margareth, obtinha em sua face um semblante caído, reprimido e cansado. Estava usando um longo vestido branco que ia do pescoço até os pés. E usava uma touca envolta da cabeça que cobria todo o seu cabelo, não dando nem ao menos sequer para saber a sua cor. Tudo o que dava pra saber é que Margareth devia ter em torno de uns 50 anos. Mas com uma aparência muito mais debilitada, que quem a olhasse, iria dizer que tinha uns 70 anos.

Por muitos anos, Margareth foi a benfeitora de Gabriel, acompanhando-o durante toda a sua trajetória de vida. Margareth era uma das criadas mais velha do castelo. Cuidou de Gabriel quando ainda era um bebê, segurou-o em seus braços e nutria tamanha afeição e carinho por ele, como um filho. Ensinou-lhe regras de etiquetas, estudo de botânica (principalmente sobre as rosas), e um pouco de história, tudo dentro de suas limitações.

Ele era um menino adorável na visão dela, só pecando um pouco em seu gênio arrogante e egocêntrico. Margareth o tinha como um filho que nunca pode ter, pois confinada naquele gigantesco castelo prestando serviços a corte e a realeza, nunca teve a oportunidade de conhecer outras pessoas.

Ela dedicou sua vida na educação de Gabriel, (e teve um papel muito importante na vida de Gabriel) a pedido de seus pais, que eram muito ocupados para ensinar seu único filho. Gabriel cresceu em um ambiente de muito amor, mas também de muita rejeição. Rejeição essa, dada pelos pais ausentes, que nunca faziam questão de saber como ele estava.

Os pais de Gabriel eram pessoas muito influentes no vilarejo e na realeza. Quase nunca permaneciam em casa.

Gabriel muitas vezes se sentiu sozinho naquele castelo solitário. Cresceu com mágoa e rancor, o que contribui e muito para formação de sua personalidade, apesar de todo amor que Margareth lhe deu.

Margareth tinha muita afeição por aquele menininho inteligente, e muitas vezes tinha dó de sua condição. Pois, apesar de nascer em uma linhagem de "berço", faltava-lhe amor.

Muitas vezes ela se lembrava de quando ela levava uma caixinha de música de realejo, até o quarto de Gabriel, que ficava horas em sua agradável companhia. Ou quando eles se sentavam no banco debaixo do gazebo e ficavam horas lendo histórias.

*

O pai de Gabriel foi degredado e ficou longe por vários anos, devido ao seu envolvimento com contrabando de bebidas e roubo de diamantes. Ao retornar para o castelo, já com idade avançada, caiu em senilidade e morreu por uma doença que devastou seu corpo. Gabriel não se importava com a doença do pai, e raramente o ajudava com alguma coisa. Se esquiva o máximo que podia.

A mãe por sua vez, ficou em exílio quando o pai morreu, deixando Gabriel sozinho naquele castelo. Depois de uns meses seu corpo foi encontrado com a cabeça decapitada em uma montanha perto de um rio da província de Berry.

Desde então, Gabriel vive com os criados e a solidão que o grande castelo lhe oferece. Se tornando a cada dia, cada vez mais amargo, rancoroso, arrogante e egoísta.

*

Se perguntando o que viera fazer naquele terrível lugar, Lizzy acabou deixando uma lágrima escapar de seus olhos, chamando a atenção do príncipe, que então mandou os guardas a soltarem-na. Mas eles haviam resistido, parecendo que estavam se divertindo com a situação.

—Já disse para soltarem-na! -Gritou Gabriel ameaçadoramente. Vão embora. Dirigiu o olhar para Lizzy e complementou: - Deixem que eu cuido dela. E Rapidamente eles se retiraram, permanecendo apenas ambos no local.

Lizzy estava com manchas arroxeadas em seus punhos agora caídos.

Gabriel pediu perdão pelos soldados, por terem segurado-a tão fortemente, mas não obter nenhuma resposta. Ele chamou Margareth novamente e pediu que levasse Lizzy até o quarto de hóspedes.

—Venha minha menina, (ela se dirigia assim, carinhosamente com todos) vou te mostrar onde fica seu quarto. Margareth colocou as mãos em seu fino braço, mas Lizzy resistiu, dando uma puxada brusca. -Não sou sua menina.

—É melhor você ir. - disse Gabriel com aspereza - a não ser que... -ele pensou- você prefira dormir no porão.

—Vamos, disse a criada tentando convencê-la de que aquilo seria a melhor coisa a se fazer no momento.

Então, Lizzy subiu os vários degraus de um lado da escada com tapetes vermelhos que ficava logo após o hall da entrada do castelo. Acompanhada de Margareth, ela chega no andar de cima, e percorre um longo corredor com candelabros colocados ao redor das paredes para iluminar o local. Ao fim do corredor, em seu lado esquerdo avistou outra porta de madeira que provavelmente seria "seu" quarto durante aquela noite.

Após entrarem no quarto, Margareth mostrou o local, e sentou-se na cama gesticulando para que ela se sentasse também. Lizzy fitou-a com uma expressão de curiosidade, e então sentou ao lado de Margareth.

—Como é seu nome senhorita. -Perguntou a criada.

—É Lizzy. -disse ela, um pouco taciturna.

— E então, Lizzy, posso conversar um pouco com você¿.

—À respeito de quê?

—Sobre a situação a pouco ocorrida.

—Eu não estou entendendo absolutamente nada. Nem sei ao menos porque estou aqui, a única coisa que sei, é que vim à procura de um emprego, e aqui estou eu, trancafiada nesse quarto frio e úmido que cheira a mofo. -Disse ela. -E Por um momento sentiu raiva de si mesma.

— Se você não sabe, eu menos ainda. Conte-me o que aconteceu, ora bolas. -Disse Margareth.

—E porque contaria¿

—Está parecendo o Milorde falando desse jeito minha cara. Apenas me conte, prometo que não falarei nada com ninguém, aliás, não falarei respectivamente nada com o príncipe sobre nossa conversa, se é isso o que teme.

— Já disse a você, Margareth. Apenas estava lá fora conversando com Gabriel a respeito do anúncio no jornal que ele destacou, e disse estar precisando de empregados, e de repente, ele me respondeu rudemente, me dizendo que o que faria eu pensar que eu iria conseguir o emprego? -Disse ela - e fez uma pausa. Ele se mostrou incomodado com a minha presença, então, logo respondi que se ele não queria ser perturbado, que não colocasse um anúncio dizendo para ir ao castelo. Então, ele me fitou com uma expressão de desafio e logo dei de ombros e fui embora. Ao chegar no portão, os guardas me barraram, arrastando-me de volta à porta, e só então fui colocada para dentro deste castelo, onde e nada mais aconteceu até agora. -Completou Lizzy. -Ao dizer isso, Margareth pode observar uma expressão ligeiramente rígida no rosto de Lizzy.

— Minha cara, Lizzy, se você quiser trabalhar aqui, vá se acostumando, o Milorde é assim mesmo. É meio temperamental as vezes, e gosta de um bom desafio. -Só te digo uma coisa, se bem conheço Gabriel, provavelmente ele já te concebeu o emprego, e essa foi as suas boas vindas, dada por ele. Afinal, quem mais iria querer trabalhar com Milorde? -O pessoal do condado conhece bem a fama do príncipe. -Disse Margareth.

— Não me leve a mal menininha, mas só você para fazer essa loucura de vir até aqui, procurar emprego no castelo de Milorde. -Ele provavelmente a aceitou, pois, será a primeira e única pessoa que virá trabalhar aqui neste castelo.

Lizzy estava cabisbaixa e taciturna, e ao mesmo tempo, possuía uma expressão de espanto em seu rosto. Ela não parecia estar mais ali, estava longe com seus pensamentos. Estava refletindo no que acabara de acontecer, e do quanto se arrependera de estar ali. Voltando a si, Lizzy pergunta:

—Mas, e agora? - Ficarei aqui para sempre Margareth, o que farei¿ -E se ele não me deixar ir embora¿ -E se me manter prisioneira o resto dos meus dias¿ -O que farei¿ -Não quero mais ficar ao menos um segundo nesse castelo. -Me ajuda, Margareth, por favor. -disse ela.

—Bem, primeiramente, vou te dizer uma coisa. Não sei se vai confortá-la, mas, Gabriel não costuma ser muito generoso com os criados do castelo, então, aceite de bom grado o que ele te oferecer. E muito provavelmente ele te fará prisioneira neste castelo, assim como fez com todos nós, por isso, já te aviso de antemão Lizzy. -Trabalho neste castelo desde que Gabriel era um bebê. -Seus pais morreram relativamente jovens, deixando o trono para o único herdeiro da família. Então, Milorde teve que sobreviver ao frio e a escuridão deste castelo sozinho, pois, não podia contar com mais ninguém, a não ser os criados. Então, digo-lhe uma coisa, ele não tem piedade de ninguém que se oponha ao caminho dele. -Completou Margareth.

—Bom, pode descansar agora, Lizzy. Amanhã bem cedo, retornarei e te mostrarei o restante do castelo, e depois vamos esperar a convocação do Príncipe.

Lizzy ante seu desejo de deitar naquela cama macia que parecia se encolher naquele quarto escuro, pegou uns fósforos e acendeu a um dos uns castiçais q havia na mesinha ao lado para amenizar o frio e iluminar o local. Então, se deitou, e demorou para dormir. Mas, no meio da calada da noite, caiu em sono profundo depois de derramar lágrimas de desespero.