Lizzy e Gabriel

Capítulo 4: Um novo dia começa


Os primeiros raios transcendentes de sol, tremeluziam através da janela do amplo quarto onde o corpo de Lizzy descansava .

Ao despertar com as batidas na porta de seu quarto, Lizzy apressou-se em se levantar e foi em direção à porta. Ao abrir a porta, se deparou com a criada postada no umbral, segurando uma bandeja, onde continha duas fatias pães e uma jarra de suco (aparentemente de laranja). E, não menos importante, Lizzy não pôde deixar de notar um bilhete que se encontrava no canto da bandeja.

—Trouxe seu lanche. – Disse a criada.

Agradecida, Lizzy pegou a bandeja e depositou-a na mesinha que ficava ao lado de sua cama.

—Está melhor¿ - Margareth indagou, com certa preocupação.

—Sim, tirando o fato de ter passado a noite nesse castelo asqueroso, estou melhor. - Completou Lizzy, franzindo o cenho.

—Deixarei você fazer sua refeição. Se me dá licença, tenho que atender aos pedidos do mestre.

Após Margareth se retirar do recinto, Lizzy se postou diante da janela, onde pode observar os primeiros raios de sol que iluminavam o jardim de rosas. Ficou encantada com tamanha beleza que aquele lugar irradiava. Ao longe cantarolavam os pássaros, que vinham em direção à fonte que jorrava água incessantemente.

Lizzy, sentou-se na cama macia, forrada com lençóis de ceda. E antes de fazer a refeição, pegou o bilhete (com certa cautela e curiosidade) que se encontrava na bandeja.

Nele dizia:

—Lizzy, peço desculpas por tê-la recebido daquela maneira, e, se me permitir, quero lhe fazer uma surpresa. Venha até a sala de música na ala oeste.

Lizzy saiu do quarto em direção a escadaria que subira na noite anterior. Procurou por Margareth nos arredores do castelo e então, notou um pequeno ruído que vinha da cozinha. E lá estava Margareth, limpando com uma vassoura, as pequenas teias de aranhas que se encontravam nos cantos da parede.

—Aí está você! -disse a criada.

Lizzy fitou-a por um segundo e então falou:

— Margareth, preciso de sua ajuda para chegar até a sala de música na ala oeste do castelo.

Com uma expressão confusa no rosto, Margareth indagou:

— Para que você quer ir até a ala oeste do castelo, Lizzy¿ -Replicou a criada.

E então, Lizzy retirou o bilhete (um pouco amassado) que ela continha em seu bolso . E levou em direção a criada.

—Oh, Lizzy! -Então é isso!¿ - O príncipe requisita sua presença. -Pois bem, te levarei até ele.

Elas subiram as escadarias forradas com o tapete vermelho, e seguiram para o corredor escuro que dava para a ala oeste. Lizzy ouviu uma canção suave que vinha em sua direção. Na parede, havia um quadro pintado a óleo, com o retrato de Gabriel, imponente em todos os sentidos. Lizzy estava vislumbrada com tamanha magnificência que o retrato passava. Ela acompanhou Margareth, e distraída, mal percebera que havia chegado ao seu destino. Margareth mais uma vez, se retirou.

Ao abrir a porta, Lizzy observou a grandiosidade daquela sala, e só então ,se deu conta de onde vinha a canção.

Atrás do grande piano preto de cauda, estava Gabriel (tocando uma canção) à espera de Lizzy.

—Venha até aqui senhorita. – Disse ele.

Ruborizada, Lizzy se aproximou.

—Vejo que leste a minha carta, e confesso que estou surpreso. Fico feliz que tenha vindo até aqui. -Achei que não viria. – Disse o príncipe em um tom de escárnio.

_Pois bem. O meu intuito de te chamar até aqui, é para oferecer-lhe um emprego como auxiliar dos empregados deste castelo. Porém, peço-lhe uma condição. - Disse Gabriel.

—Você terá que morar neste castelo, enquanto estiver servindo a mim. Portanto, estará sob os meus domínios. -disse ele, e continuou. - E claro, meu principal propósito é te convidar para jantar comigo esta noite. -Você aceitaria jantar comigo? Aceitaria meu pedido de desculpas?

Procurando as palavras mais oportunas para dizer naquele momento, ela respondeu:

— Não, não posso aceitar, não depois de tudo que passei, depois de toda essa humilhação. Não serei subjugada outra vez. E a propósito, não sei o que te fez pensar que eu aceitaria trabalhar aqui. -Disse ela, em um tom de desdém.

Gabriel ficou perplexo, ao ouvir a resposta de Lizzy. Porém, foi paciente, e usou de sua sabedoria para contornar a situação ali imposta.

— Lizzy, te peço desculpas mais uma vez, pelo ocorrido. Mas, por favor, fique conosco. Prometo que não vai se arrepender. Deixe seu orgulho de lado, assim como deixei o meu esta manhã. Faço questão de ter a sua presença para preencher este castelo. -Disse ele, com certa complacência.

Lizzy não sabia o que dizer. Afinal, não estava esperando por tamanha compreensão vinda do príncipe. Tanta calmaria em uma pessoa que na noite anterior, havia agido como um monstro. No fundo ela queria aquele emprego mais do que tudo, porém, o seu orgulho estava ferido.

Ainda incomodada com a pressão da pergunta, e sem saber o que fazer e como agir diante dessa proposta, Lizzy retirou-se da sala, deixando o príncipe encabulado.

***

Já era tarde, e o crepúsculo começou a dar os primeiros sinais no horizonte. Lizzy foi tomar banho. E quando voltou ao quarto, encontrou estendido em cima de sua cama, um vestido de renda vermelho rubi com pequenas tonalidades de vinho. Havia uma rosa em cima dele.

Ela pegou a rosa, e examinou-a. Olhou com curiosidade para a pequena e delicada rosa que estava envolvida pelos dedos de sua mão. Colocou-a de lado, e voltou sua atenção para o belo vestido. Lizzy pegou o vestido e esticou os braços para longe do corpo, como se estivesse avaliando a peça. Ao olhar novamente para a cama, ela viu algo que estava embaixo daquele vestido.

Era um pequeno pedaço de papel minuciosamente dobrado. Lizzy, curiosa como era, pegou-o e desdobrou cuidadosamente o papel. Deduziu ser outro bilhete.

Nele dizia: Venha até mim, Te espero para o jantar.

Deslumbrada com a beleza daquele vestido, Lizzy empertigou-se e vestiu aquele belo vestido rubi. Estava fascinada com aquilo tudo. O seu torpor foi interrompido belas batidas na porta.

— Margareth. -Disse a criada.

—Entre! Exclamou, Lizzy.

—Vim até aqui, para saber se precisava de alguma ajuda.

—Não preciso, Margareth. -Estou bem. -Disse Lizzy. -Foi ele que te mandou vir até aqui¿ Lizzy acrescentou desconfiada.

—Não, de maneira alguma -disse Margarteh- eu só vim até aqui para averiguar se estava tudo bem com você. Que, por sinal, parece estar muito bem.

Lizzy sorriu.

—Margareth, -disse Lizzy- preciso que me ajude com esse vestido, afinal, terei de comparecer em um jantar esta noite.

Margareth não pode deixar de notar o semblante de felicidade, estampado com tamanha transparência, no rosto fino e delicado de Lizzy.

—Mas é claro que ajudo, Lizzy. Podemos tentar fazer um penteado também. - O que você acha?

Lizzy retribuiu a generosidade com um meneio de cabeça.

Então, as duas se empolgaram e ficaram aproximadamente 30 minutos no quarto, (que para o príncipe era uma eternidade) fazendo todo os preparativos.

Gabriel estava sentado na grande mesa retangular que ficava na sala de jantar. Para ele, cada segundo que passava, pareciam horas. A sua perna direita se manifestava e balançava quase que involuntariamente e impacientemente.

Gabriel estava ansioso e ao mesmo tempo empolgado com a ideia de tê-la convidado para um jantar. Há quanto tempo ele jantou com uma dama? Talvez, nunca jantara com uma moça antes, (pensou ele) ao menos não tão decentemente, pois a última memória que lhe vinha à cabeça, foi de um jantar desastroso que teve com uma de suas últimas convidadas.

***

A todo o momento, Gabriel ficava olhando com os olhos fixos e esperançosos na direção da escadaria. Mas, só o que encontrava era a sombra dos candelabros refletidos nas paredes de pedra. Ele esperava incessantemente pela chegada de Lizzy. Esperava que ela aparecesse, para preencher, ou, talvez até mesmo, satisfazer ou sanar esses turbilhões de sentimentos. Sanar o vazio em que se encontrava. Cessar a escuridão trevosa que o envolvia. Lizzy, era a sua última esperança.

Ao fazer uma última tentativa de olhar para as escadas, um choque tomou corpo de seu corpo. Lizzy estava estática nas escadarias, olhando diretamente para o príncipe. Quando de repente, começou a desce-las. Gabriel, ficou surpreso com aquela situação.

Ele pode notar um brilho reluzente nos olhos de Lizzy. A grandiosidade e a magnitude (sem contar a beleza) estava acompanhando Lizzy.

Ele ficou irrevogavelmente deslumbrado. Estava sem palavras para expressar a sublime e singela delicadeza do que estava sentindo.

Rapidamente, ele se levantou e foi ao encontro de Lizzy até as escadarias. E com um pequeno gesto, ofereceu-lhe sua mão gentilmente.

Os olhos de Lizzy ( que pareciam faíscas de luz) foram ao encontro dos olhos de Gabriel, que emanava luz na mesma intensidade e proporção.

—Você dança, Lizzy? -Indagou, Gabriel com olhos encantadores.

—Não, se eu puder evitar - disse ela- ao olhar para os olhos do encantador Gabriel.

À partir dessa noite, aconteceria algo que mudaria a vida daquelas almas. Almas essas, que estavam destinadas a desfrutarem do amor.