Living in Hell - Fanfic Interativa

Capítulo 07 - Dias de Sofrimento III


O dia seguinte amanheceu com chuva. O outono estava próximo e com ele vinha um clima um pouco mais frio, e as folhas das árvores da floresta já estavam caindo. Harry passou a noite em claro, apesar de Dave ter acordado no meio da noite e se oferecido e insistido para ficar de vigia, Harry recusou e ficou a noite toda de vigia.

Ele estava fora do depósito, no lado de trás da madeireira, e estava com um pá nas mãos fazendo uma cova há uns cinco metros de distância da parede da madeireira. O corpo de Abigail já começava a ter um cheiro ruim e por isso Harry estava com um pano sobre o rosto, usando como uma máscara. Há dois metros ao lado da cova de Abigail, havia um pequeno morrinho de terra e areia em forma retangular, do mesmo tamanho da cova, e em cima tinha uma cruz e uma chave de mecânico encostada sobre a cruz, e isso claramente representava um túmulo para Paul, já que o corpo dele ficara para trás.

Quando Harry terminou de fazer a cova, largou a pá no chão e foi pegar o corpo de Abigail no colo, entrou dentro da cova e deitou o corpo da mulher mais cuidadosamente possível. Harry estava abaixado quando ouviu uma voz:

– Bom dia – Harry sacou sua pistola o mais rápido que pôde e mirou na direção de onde veio a voz, mas quando viu que era Nadin colocou a pistola no coldre novamente.

– Bom dia... você me assustou – Disse rindo baixo de si mesmo.

– Me desculpe. Você passou a noite toda acordado? – Perguntou Nadin, pegando outra pá para ajudar Harry.

– Passei... Dave se ofereceu para fazer um turno, mas eu recusei porque não iria conseguir dormir – Harry saiu da cova, pegou a sua pá e começou a jogar a terra que tinha cavado de volta para o buraco.

Os dois continuaram jogando a terra dentro da cova em silêncio. No lugar que eles estavam não caía água da chuva por causa das árvores e do telhado da madeireira, e por isso eles estavam praticamente seco, porém ambos suavam.

– O chuveiro do banheiro funciona? – Perguntou Harry após terem terminado de enterrar o corpo de Abigail.

– Sim, os encanamentos do banheiro funcionam normalmente, mas a água é gelada porque ela vem do riacho – Respondeu Nadin, passando seu antebraço esquerdo sobre sua testa para limpar o suor.

– Ótimo, água gelada vai me despertar um pouco. E obrigado pela ajuda – Disse Harry em um tom gentil, e abrindo um pequeno sorriso para Nadin.

Ela permaneceu de frente ao túmulo de Abigail, foi até a parede da madeireira onde tinha um tipo de bancada com alguns materiais de construção, deixou sua pá encostada sobre a parede e pegou quatro pregos pequenos, e um martelo na bancada, procurou por dois pedaços pequenos e finos de madeira e voltou para o túmulo de Abigail, se ajoelhou e começou a pregar as duas madeiras em forma de uma cruz. Quando terminou de fazer a cruz, a fincou sobre o túmulo da evangélica que jazia ali.

Apesar de Nadin ser uma muçulmana, ela respeitava as outras religiões, menos, é claro, o judaísmo. Depois de ter fincado a cruz sobre o túmulo, Nadin se afastou um pouco do mesmo e entrou dentro da floresta, olhou para todos os lados para ter certeza que não tinha ninguém por perto. Ela ficou de joelhos no chão, dobrando o corpo para frente e apoiando a testa sobre a parte posterior das mãos, e começou a fazer sua oração. As orações muçulmanas são feitas cinco vezes por dia, mas por conta de tudo o que já ocorreu, ela abandonou quase todos os rituais que o islã prega. Apenas uma vez por dia, e sempre na parte da manhã, se reclusa para orar, e sempre afastada das pessoas.

Nadin Al Kolayb Laada nasceu no Paquistão, filha de um empresário paquistanês do ramo automobilístico, cresceu acostumando-se a viagens para o exterior, principalmente Itália, Alemanha e EUA, o que fez dela extremamente culta e fluente em alemão, inglês e italiano, além de poder ter cursado faculdade de Direito com ênfase em Direito Empresarial na Inglaterra. Aos 23 anos casou-se com Sayed Jorban Laada, que era dez anos mais velho do que ela, um Gerente Comercial também nascido no Paquistão. Os dois mudaram-se para os Estados Unidos onde estabeleceram-se de forma estável na cidade de Baltimore. Nadin teve dois filhos, Amira e Muhammed, e sua vida familiar e profissional transcorria muito bem.

Quando o caos se instaurou sobre a terra, Nadin resolveu partir junto ao marido e os filhos para uma região mais setentrional, imaginando que talvez as coisas pudessem se restabelecer, porém, por conta da falta de comida e água, sua família começou a sucumbir. Uma das crianças, Amira que tinha seis anos, sofria de bronquite crônica, acabou morrendo por insuficiência respiratória, após um ataque de falta de ar. Já o marido e a outra criança, Muhammed que tinha quatro anos, faleceram após um ataque de mordedores. Nadin passou a ser obrigada a sobreviver sozinha, esgueirando-se e contando com a sorte, até conseguir ser acolhida por Mark e seu grupo.

Horas depois, quando todo o grupo estava acordado e já tinha almoçado o coelho de Paul junto com os peixes que Seward e Michael haviam pescado, Mark pediu para que Dave chamasse algumas pessoas para acompanhá-los na caçada e o caçador chamou Seward e Anne. Clark e Wendy já estavam sem as algemas, porém Mark pediu que Harry e Michael ficassem se olhos neles, caso fizessem alguma besteira.

E então os quatro foram caçar dentro da floresta, os quatro estavam armados com pistola e faca, no lugar da faca Mark carregava uma machadinha, e somente Dave estava com um rifle. O armamento do grupo se resumia em pistolas, revólveres e armas brancas, somente Dave tinha uma arma com maior potência.

Eles estavam dentro da floresta, há aproximadamente dezoito milhas de distância da madeireira. O mato que tinha no chão chegava na altura dos joelhos dos homens, e quase na altura da cintura da garota. Só se ouvia o barulho do mato sendo esmagado à cada passo dos quatro, o barulho da chuva e o barulho do vento, o grupo fazia silêncio absoluto. Quando eles ouviram um barulho diferente, todos eles pararam e Mark fez um sinal com a mão para que não se mexessem.

– Ouviram isso? – Perguntou Mark, com a voz tão baixa que quase nem ele mesmo ouviu.

O mesmo barulho é ouvido novamente, os quatro permanecem em silêncio e parados. Mark faz outro sinal, só que dessa foi para que Dave posicionasse o rifle, e assim o fez. E então a origem do barulho surge na frente do grupo há poucos metros de distância, era um cervo se alimentando e ele não tinha visto os caçadores que ali estavam. Mark fez sinal positivo com a cabeça e Dave não demorou nem um segundo para atirar no animal, o matando instantaneamente.

– É isso aí, Dave! Muito bem! – Comemora Mark, fazendo um "high five" com o Dave.

– Hoje teremos carne para jantar! – Também comemora Seward.

Seward caminha até o animal morto e o segura pelas patas dianteiras, começando a arrastar o bicho de volta para a madeireira. O cervo era uma fêmea e por conta disso pesava em torno de cento e trinta quilos, e como Seward era grande e forte não teve nenhuma dificuldade para carregar o animal.

Quando os quatro estavam na metade do caminho de volta para a madeireira, eles ouvem outro barulho.

– Mais um cervo? – Pergunta Anne.

Mas não era um cervo, era uma mordedora que tinha feito o barulho, e a mesma agarra o braço esquerdo de Anne, que tenta escapar da criatura faminta. Ela não consegue, a mulher infectada morde a mão esquerda de Anne, fazendo a garota gritar de dor e chorar de desespero. Dave mira seu rifle na direção da infectada, mas não pôde atirar porque ela estava muito perto de Anne e se ele errasse o tiro poderia resultar na morte da garota. Mark agiu rápido pegando sua machadinha e enfiando no crânio da mordedora, que caiu sobre o chão. Anne ainda gritava de dor, estava deitada no chão e se contorcia, ainda chorando.

– Merda! Me desculpa, Anne! – Disse Mark, enquanto ele levanta a mão que segurava a machadinha e desfere um único golpe um pouco acima do pulso da garota.

Anne desmaia com a dor, Mark tira sua camiseta e amarra a mesma em volta do antebraço da garota, fazendo que estanque um pouco do sangue, pega a garota no colo e começa a correr o mais rápido que consegue em direção da madeireira, seguido por Dave e Seward, que deixou o cervo para trás. O tempo que eles demoraram pra chegar até a madeireira não chegou a um terço que eles tinham levado para encontrar o cervo, havia aparecido alguns mortos-vivos pelo caminho mas eles ignoraram completamente e seguiram correndo.

Ao chegar na madeireira, Mark pede para que Seward vá até as prateleiras e gavetas que tem em todo o depósito para procurar alguma coisa para tratar Anne. Dave vai até sua picape e vê que tem pouco combustível, não seria possível levá-la até uma cidade com o combustível que tinha no tanque. Mark vai até a caçamba da picape e deita o corpo de Anne ali. O grupo olhava essa cena boquiaberta, e a maioria correu para dentro do depósito para ajudar Seward na procura de um kit médico ou algo do tipo.

Eles conseguem encontrar alguns gazes e esparadrapos, e pouquíssimos antibióticos. Seward traz um travesseiro, coloca o mesmo abaixo do braço esquerdo de Anne, fazendo-o ficar um pouco elevado. Harry estava com uma mangueira em uma das mãos, e com um galão na outra, suga um pouco do combustível do furgão para dentro do galão, mas não suga tudo o que tem do furgão. Ele corre em direção da picape e coloca o combustível no tanque da mesma. Enquanto Seward e Mark enfaixa o coto de Anne. Toda a ação levando menos de um minuto do momento em que eles chegaram na madeireira.

Eles tinham que levar Anne junto por dois motivos: o primeiro porque não tinha combustível o suficiente para ir e voltar da cidade, e o segundo motivo é que se não a levassem, ela iria morrer por causa do tempo que eles iriam demorar para ir e voltar da cidade, a distância da cidade mais próxima que tinha um hospital era mais longa que a cidade que eles tinham ido saquear. Naquela cidade não tinha hospital.

– Nós vamos para uma cidade que fica ao norte daqui! Quero que vocês peguem o que pode ser útil e nos sigam! – Mark falava com um tom de voz alto e claro – Iremos parar na primeira cidade que tenha um hospital ou algo do tipo, então quando vocês pararem para pegar mais combustível para o furgão, saberão onde estaremos!

– Mas e a madeireira? Vamos abandoná-la? – Perguntou Ariel.

– Sim! Aqui não é mais seguro! Vimos alguns mordedores na floresta não muito longe daqui, então temos que partir se não quisermos ser atacados novamente! – Após dizer isso, Mark entrou na cabine da picape junto com Dave. Seward ficou com Anne na caçamba.

Dave acelerou e deixou a madeireira para trás. A chuva não parava de cair do céu, então para que não se molhasse junto com Anne na caçamba, Seward tinha pêgo a toalha de mesa da cozinha e improvisou uma tenda na picape, amarrando uma ponta nas duas antenas que tinha em cima da cabine e a outra ponta na placa que tinha na parte de trás da caçamba.

– Espero que isso sirva... – Sussurou para si mesmo.

Dave acelerava rapidamente a sua picape, sem medo do motor fundir ou de derrapar na pista molhada. A situação exigia que ele corresse alguns riscos, mas Dave estava atento para que acidentes não acontecesse. Ele diminuiu a velocidade para fazer uma curva, e quando terminou de fazer a curva e voltou a acelerar a picape, ouviu o barulho de uma explosão. Era o pneu dianteiro direito que havia estourado.