Lives

Capítulo 6


Capítulo 6

“This Is It terá seu início em Outubro.
O astro do pop, Michael Jackson, que sofreu uma parada cardíaca, dia 25/06, anunciou ontem em uma nova conferência o segundo adiamento de sua turnê This Is It, que teria sua estréia ainda essa semana em Londres. Disse que o prazo proposto não era o bastante para a preparação, e pediu desculpas aos fãs.”

Foi o que Peterson leu no jornal enquanto esperava costureira fazer as medições para o vestido de noiva de Cinthia. Sentiu um alivio por ele, para a sua surpresa.

Quem sabe agora ele não dê mais atenção a sua saúde?

Nem sabia o que tinha se passado depois daquele dia, se estava bem. Chegou até a pensar em cobrá-lo por seu trabalho extra em pleno dia de folga. Deixou pra lá. Não valeria a pena.

- Cinthia, eu preciso ir.

- Oh, tudo bem. E não se esqueça do jantar com Sam essa noite! Seria bom que criassem uma “amizade”, já que ele será seu par no meu baile de casamento.

Sarah soltou um grunhido.

- Acredite se quiser, mas eu já havia esquecido.

- Michael, você tem certeza que isso é o melhor a fazer?

- Mesmo que eu quisesse, não poderia voltar atrás. Já está feito.

- Estava quase tudo pronto.

- Esse é o problema Kenny, “quase”, eu quero tudo, e tem que ser perfeito, inesquecível aos meus fãs. É minha despedida. – Tomou um gole de seu suco de laranja. – Perfeito.

- Você quem sabe Michael...

- Preciso entrar em contato com a AEG.

Kenny apenas o fitou.

- Eles não me deixaram claro sobre os cinqüenta shows, jurava que seriam apenas dez. – Confessou Michael. – Dormi pensando nos dez e acordei assinando os cinqüenta. Não sei onde estava com a cabeça. – Balbuciou.

Terminou o almoço, despediu-se de Kenny e foi para o carro.

- Para onde senhor?

- Para casa.

Peterson terminara o expediente e procurava algo em meio as suas roupas batidas. Fazia tempo que não sabia o que era um encontro, e havia se esquecido daquele terrível “frio na barriga”. Honey estava lá, sentada na beira de sua cama folheando uma revista de fofocas. Ela deu um sobressalto.

- Veja! Michael Jackson adiou novamente sua turnê!

Sarah permaneceu em silêncio.

- Aqui diz que ele não tem condições de realizar uma turnê de cinqüenta shows porquê está anorexo.

Talvez eles tenham razão.

- Encontrou o vestido, Sarah?

- Desisto! – Exclamou ao se jogar na cama.

Olhava para o teto e desejava ter a varinha de Dumbledore para arrancar pensamentos e guardá-los num frasco. Deveria queimá-los na verdade!

- É Michael, não é Sarah? – Indagou Honey, deitando-se ao se lado. – Abre o jogo. O que aconteceu na casa dele?

- Acho que o livrei da morte mais uma vez.

- Então pronto, está resolvido! Fez o que tinha que fazer.

Ela se levantou, exultante, indo até ao guarda-roupa.

- O que acha desse vestido? Eu gosto dele.

- Sinto que devo ajudá-lo, não entendo o porquê. Acho que tenho pena.

- Sarah... – Honey se aproximou. – Há alguns dias você nem sabia que esse cara existia.

- Esqueça isso. E por mais que quiséssemos, só poderíamos nos aproximar dele no máximo como médicas ou empregadas, isso é, se ele ainda nos aceitasse. Você não pode fazer nada. Já parou pra pensar como seria estar entre essas celebridades? Deve ser uma loucura. “Tô” fora!

- Mas e aquele médico? Eu não posso deixá-lo assim... Solto... Pessoas podem estar em risco, além do Sr. Jackson.

- Pior. Pode sobrar pra você. Conrad Murray tem Michael Jackson ao seu lado. Não precisa de mais nada, o cara é poderoso. Você, uma cardiologista que ganha apenas o que te sustenta e o Murray que deve ganhar, sem dúvidas, muito mais, já venceu. A justiça é injusta minha amiga. Engraçado isso não é? Mas é a verdade. Seria caso perdido pra você. Esqueça.

- Talvez você tenha razão... – Murmurou.

- Eu tenho a razão! Venha, vamos logo escolher sua roupa que já são quase oito horas. Você não vai de modo algum deixar Sam plantado!

- Boa noite, Sam!

- Pensei que me deixaria aqui, como da última vez. – Ele falou, arrogante.

O sorriso de Peterson murchou.

- N-não... – Gaguejou. – Eu já pedi desculpas, Sam... Eu...

- Estou brincando, Sarah! – Interrompeu-a. - A propósito... Você está linda.

Ela deu um sorriso forçado. Que péssima maneira de brincar.

Enquanto jantavam, Sam tomou as mãos de Sarah e as trouxe para próximo de si. Os batimentos dela se descompassaram. Que não seja o que estou pensando, que não seja... Que não seja..., suplicava.

Ele fixou seu olhar à ela.

- Sarah, eu... – Respirou. – Nós...

Não! Não!

- Nos conhecemos há tanto tempo e...

Santo Deus é agora!

Acho que não se importaria de gastar um pouco mais de sua noite com esse cara chato aqui. – Sorriu, acanhado. – Tomando um sorvete e dando uma volta naquela feira de artesanato na Browks.

Sarah sentiu um tremendo alivio.

- É uma ótima idéia, Sam. – Obrigada, Senhor. – Adoro sorvete!

Sam a deixou em frente ao apartamento. Já era tarde e o corredor estava vazio.

- A noite foi ótima, Sam. Obrigada.

Ela se preparava para abrir a porta e mergulhar em sua cama. Sabia que o dia seguinte não seria fácil.

- Não lhe convido para entrar porquê... Ah, você já sabe! Preciso dormir.

Sam a fitava, percorrendo a textura de sua pele e de seus lábios rosados. Sarah se deu conta.

- Sarah, sei que somos amigos e colegas de trabalho há muito tempo. Nos conhecemos na faculdade, primeira aula: Anatomia. – Ele sorriu ao relembrar. – Foi inesquecível ver a sua entrada apressada, derrubando os livros... Desde aquele dia me apaixonei por aquela garota estudiosa, sensível, que hoje é uma respeitável médica e que se tornou mais encantadora ainda. A vi namorar e chorar por cada um, tantas vezes... – Ele se aproximava. Tocou-lhe o rosto. – Escondi há anos esse sentimento e já não consigo mais contê-lo.

Peterson presumiu que a distância entre eles era perigosa, e se afastou.

- Sam, eu... Sabe...

- Me deixe terminar, por favor. – Interrompeu-a. – Amo a nossa amizade e não queria perdê-la e nem arriscá-la, mas é preciso...

Ela hesitou, a garganta estava seca, e o terrível “frio na barriga” parecia ser congelante agora.

- Namora comigo?

- 00:08m.

Jackson olhou para o ponteiro maior do relógio que corria e o viu completar a volta. Não conseguia dormir, virava de lado ao outro, inquieto. O pequeno frasco no criado-mudo era provocador, mas ficou receoso graças à última vez.

Foi para a biblioteca, pegou um livro qualquer, sentou, abriu, não leu nem cinco páginas, fechou e suspirou. Estava exausto.
Na sala de estar passou os dedos em alguns de seus vinis, espirrou. Empoeirado. Escolheu um do início de sua carreira, teve alguns devaneios ao som de Got To Be There. Uma lágrima quente morreu no canto de sua boca. Olhou para tudo que tinha, e sentiu que não tinha nada.

Isso já está torturante demais!


Caminhou pelo vasto corredor de sua mansão, passou rente ao quarto de Prince, seu filho mais velho. Ouviu murmúrios e uma leve fungada de choro abafada por algo.

Seu coração de pai se alertou. Foi para abrir a porta que já havia uma pequena fresta. Prince e Paris conversavam. Era a menina que chorava contra o lenço rosa no nariz. Espiou por um breve instante, mas que foi o bastante para ouvir:

- Não quero que o papai morra, Prince, não quero. – Soluçou. – Tenho medo desses remédios que papai toma, muito.

- Eu também, Paris, eu também...

Se abraçaram.

Michael se afastou incrédulo. Como pude fazer isso com meus filhos?
Tudo que idealizava desmoronou-se rente aos seus olhos a cada lágrima derramada de sua pequenina.

Retornou ao quarto e deitou-se pesado. Olhava para o teto relembrando não só as palavras, mas a cena. Aquilo lhe doeu. Virou-se se deparando com o culpado. Estremeceu de raiva e lançou-o contra a parede. O pequeno frasco se rompeu, espalhando sobre o carpete o seu veneno.