Lives

Capítulo 7


Capítulo 7

- Cinthia! Chegamos! – Exclamou Honey, alegre.

- Pensei que não viessem mais. – Confessou Cinthia. – Kinsey já chegou. Está na cozinha fritando uns bolinhos.

- Espero que sejam aqueles. – Brincou.

- São aqueles! – Enfatizou.

Peterson adentrou muda, colocou na mesinha de centro duas caixas de pizza e se deixou cair sobre o sofá, emburrada. Cinthia ficou tentada a saber o que se passava.
- O que ela tem? – Perguntou, baixo.

- Adivinha? Ainda está chateada por causa de Sam.

- Só por que dormiu com ele?

- Você conhece a “Dra. Peterson”.

Honey foi à cozinha e Cinthia até Peterson.

- Sarah, não fique assim. Foi só uma noite. Não há pecado nisso. – Brincou.

Silêncio.

- Melhor, você já o conhecia antes, desde quando moravam em San Francisco. E não tem porquê ficar chateada. Aliás, isso foi há um mês! Deixe pra lá. Já foi!

Sarah hesitou. Suspirou.

- Eu o via como meu irmão. – Falou, triste. – Não sei o que me deu naquela noite. Estávamos no corredor conversando, foi quando Sam falou o que sentia, não demorou muito e nos beijamos. Eu deveria ter impedido, mas não, eu continuei! Quando acordei vi Sam do meu lado. Parece tudo tão louco. Foi tão rápido. – Balbuciou.

- Quer saber? Era o que você precisava mesmo. De uma noite dessa! – Enfatizou. – Você parou no tempo desde Matthew. Não entendo como pôde!

- Ainda o amo.

- Ele está casado!

- Sei que ele ainda desiste disso e volta. Ele dizia me amar! Prometeu que ficaríamos juntos!

- Isso há mais de dez anos, Sarah! Acorde! Você tinha quatorze anos e seu pai ainda era vivo! – Berrou. – Me faz mal vê-la assim, sabe que a tenho como irmã. Não é você que vive dizendo que não quer chorar por homem? Então.

- Mas por Matthew é diferente.

Kinsey e Honey vieram da cozinha com pipoca e bolinhos de arroz.

- Pensei que iam sair no tapa! – Exclamou Kinsey. – Fique bem, Sarah, sabe que sempre estaremos com você.

- E aí? Trouxeram os filmes? – Perguntou Cinthia.

- Trouxe alguns. – Falou Sarah. –Os Donos da Noite - Harlem Nights, A Dama da Água, Disaster Movie, O Ataque dos Tomates Assassinos... Tem também uns filmes de comédia, romance, terror, e claro, não poderia faltar: Peter Pan! – Soltou um largo sorriso.

Todas vaiaram. Honey soltou um palavrão e caiu na risada.

- Só filme lascado...

- Quem deixou a tarefa dos filmes com Sarah? – Indagou Kinsey, inconformada. – Pela misericórdia... Os outros até aturamos, mas Peter Pan? Não tinha nada mais pior, não? – Riu.

- Ora, vamos. Acho tão bonitinho. Por favor. – Implorou Sarah com o dvd contra o peito. – Depois assistimos qualquer outro, até o que estiver passando na TV.

- Se isso te faz feliz... Coloca Peter Pan pra rodar aí. – Disse Honey. – Falei que deveríamos ter contratado um stripper. Grande despedida de solteira!

- Ei! Cadê as bebidas? – Indagou Kinsey, surpresa, passando os olhos pela mesinha de vidro no centro da sala.

- Até isso? Grande despedida de solteira...

- Cala a boca, Honey!- Gritaram juntas.

- Peter Pan já vai começar. – Avisou Sarah.

- Grande despedida de...

Todas ameaçaram jogar as almofadas.

- Tá bom... Tudo bem! Parei! – Gritou. Ergueu as mãos, sorriu maliciosamente e jogou o balde de pipoca para o alto. – Grande despedida de solteira... – Correu.

Jogaram as almofadas e foram atrás de Honey. Nem assistiram ao filme. Brincaram a noite inteira.

- Bom dia. – Cumprimentou Sarah, sonolenta. – Como estão minhas olheiras?

- Horríveis. – Respondeu Honey enquanto mastigava algo.

- Era o que eu temia. Vamos logo ajudar Cinthia com o vestido, maquiagem...

- Só vou terminar o café e já subo.

Peterson passou pela sala encontrando a TV ligada. Desligou. Riu ao relembrar da “Grande despedida de solteira”. Honey é uma boba! Isso sim!

Pegou alguns dvds sobre a mesinha e guardou-os se deparando com a capa de Peter Pan. Sorriu, e guardou também.

Cinthia estava linda com seu vestido branco junto a Carl no altar.

Ele ficou com a gravata borboleta mesmo
, relembrou.

Com as palavras do padre, Peterson trouxe ao presente as de Matthew: Sempre estaremos juntos, Sarah... E logo: Essa é minha esposa, Denise. Ela tratou de se desvencilhar da recordação.

Quando a noiva jogou o buquê, foi Sarah quem o pegou.

Naquela manhã de garoa fina e chata, pela primeira vez em muito tempo, Jackson enrolara para sair da cama. Pensou novamente no que pensava ao longo do mês. Murray estaria em sua casa naquela tarde, e conversaria com ele. Decidiu.

Deu uma longa espreguiçada avistando a garoa. Parece estar frio. Foi até ao closed e pegou um agasalho. Os pés estavam frientos, abriu a gaveta atrás de umas meias e encontrou um antigo porta-retrato.

Guardara ali por um motivo qualquer, e nem se lembrava mais dele, porém nunca esqueceu da pessoa que se derramava em seus braços naquela foto.

Foi bom enquanto durou, pena que não foi para sempre. Talvez tivesse que ser assim mesmo, talvez não... Não importa mais. Ele se importava.

Desceu de encontro aos seus filhos para o café.

Era terça-feira e sua segunda folga no mês, com exceção de suas ausências nos ensaios. Não suportava faltas, mas não encontrava a mesma disposição de antes. Começava o dia cansado e terminava pior ainda. Chegou a pensar que a culpa era do peso da idade; naquele mês ainda completaria cinqüenta e um anos, e por mais que exaltasse o amor e a vida, odiava envelhecer.

O tempo ainda não era convidativo lá fora, e aproveitava aquela tarde para uma leitura com seus filhos próximos a lareira acesa.

E essa foi a primeira das muitas noites alegres que passaram com Wendy. Quando chegou a hora de dormir, ela os instalou na cama grande da casa subterrânea, cobriu-os bem e foi acomodar-se em sua casinha. Peter ficou do lado de fora, com a espada em punho, pois os piratas farreavam lá longe e os lobos rondavam ali por perto.
(BARRIE, James Matthew., Peter Pan, 1904, pp. 64)

Antes que terminasse o parágrafo, um de seus empregados avisou-o da chegada de seu médico particular. Michael tirou seu filho caçula de seu colo e pediu ao mais velho que continuasse a leitura, e que logo voltaria.

Murray tirava alguns frascos de sua maleta e ergueu-os exibindo a Michael, sorridente.

- Consegui mais de “seu leite”. - Exultante.

Jackson não se impressionou com a cena, já fazia meses que a via e obtinha a mesma reação; ficava feliz e sentia-se aliviado pela chegada de “seu leite”. Não havia novidade. Mas desta, para a surpresa de seu médico, Michael permaneceu calado, olhando-o, parecendo odiar aqueles frascos em suas mãos.

- Algum problema, Michael? – Indagou Murray, confuso.

- Sim. - Respondeu, seco.

Murray pareceu perplexo.

- Não os quero mais.

Aquela frase estava presa desde a noite que vira seus filhos conversar. Desabafou, foi difícil, e precisou sentar-se.

Não quero que meu papai morra...


Tenho medo daqueles remédios...


Eu também, Paris, eu também...


- Está louco? Não durará dois dias sem eles! Como irá dormir?

Ele dava voltas na sala provocando barulhos no assoalho.

- Qual a diferença? Com ou sem eles dá no mesmo, eu acordo péssimo, isso é, quando durmo. Não os quero mais, Murray.

Fitou a expressão de espanto de seu médico.

- Necessito de outra forma para dormir. Isso não está dando resultados... Positivos. – Murmurou.

Olhou para suas roupas mais folgadas que o normal. Estava muito magro.

Estou fraquejando, estou exausto, sufocado, tenho uma turnê pra fazer e meus filhos precisam de mim. Preciso viver!

- Andei pensando sobre outra forma de tratamento...

Murray socou a mesa de madeira envernizada fazendo-a tremer.

- Não! – Gritou. – Esqueça, Michael, esqueça! Já conversamos sobre isso. Entenda, esses tratamentos não darão resultados em você, é perda de tempo. Não há cura para a sua insônia, não há!