Lives
Capítulo 26
Capítulo 26
- Acha que a Dra. Peterson está tendo um affair com o patrão?
- Sabe que eu também já me perguntei sobre isso, Morgan? – Confessou Dowall ao por o último prato na mesa de almoço. – Mas seria ótimo para ele ter um relacionamento, tentar uma nova vida. Sabe? E ela é uma grande pessoa. Mas por que a pergunta?
- Oh, nada. É que eu só tive uma impressão... Eles passam tanto tempo juntos... e sozinhos... – Morgan terminou de pôr os talheres.
Dowall caminhou à cozinha.
- Entendo, mas ela é a médica dele.
- De qualquer forma, muito estranho. – Morgan foi atrás. - Às vezes eles se olham tão... tão diferentes... – Se apoiou na parede enquanto Dowall junto com a cozinheira chefe terminava de remexer algo no fogo.
- É, nisso você está certa. Eu também já percebi.
Morgan abriu o armário e retirou o azeite. Despejou sobre a salada.
- Sabia que ela saiu hoje cedo daq...
- Quem saiu hoje cedo daqui, Morgan? – Interrompeu Michael ao pegar uma parte do cacho de uvas sobre a mesa. Beijou Dowall e a afagou de leve o braço da cozinheira ao lhe lançar um sorriso. – Tudo bem? – Perguntou à ela. – Levou uma uva a boca e se voltou a Morgan. – Quem? – Lhe encarou como se dissesse “Se falar algo, se verá comigo!”.
Ainda não é tempo para que saibam de algo, pensava Michael ao mastigar mais uma uva.
- Oh, n-nada... – Morgan por pouco não despejou metade do azeite. – Ninguém! Eu estava falando da... da...
- Papai!
Ufa!, Morgan quase desmaiou de tamanho o alívio. Michael agarrou Blanket e beijou Paris.
- Já organizaram as malas?
- Sim, papai. – Respondeu Paris. – Prince está terminando a dele agora.
Ele revirou os olhos.
- Tinha que ser! Mas tudo bem. – Pôs o caçula no chão. – Venham, vamos nos sentar que já vamos comer.
Na sala dos médicos, Sarah encontrou Honey com uma ligeira cor de papel e um avermelhado contrastante no nariz.
Estava prestes a cochilar após um interminável plantão quando se deparou com uma figura esguia metida num jaleco branco com mãos coladas na cintura, acompanhados de um característico franzir da testa.
- Por que contou ao Dr. Willian? – Inquiriu Sarah, impassível.
Honey ergueu os olhos com dificuldade, trôpega. Fungou algumas vezes ao dar uma última puxada para dentro. Parecia ouvir quinhentas britadeiras no seu ouvido.
- Estou esperando, Honey.
Agora batia o pé direito num ritmo frenético, ainda com as mãos inertes na cintura. Séria.
- Droga, Sarah! – Reclamou Honey se empertigando no sofá. – Estou com um resfriado terrível, com uma dor de cabeça pior ainda e você me vem perguntar o que eu nem faço idéia?! Ah, me poupe!
- Está sabendo que Sam fez a “limpeza do armário” dele?
Honey se esforçou para abrir mais os olhos. Atenta.
- O que disse?
- O que ouviu! Ele está fora da equipe! – Sarah se sentou ao lado de Honey, cabisbaixa. – E eu estou morta.
- Não diga besteira!
Sarah se ergueu num pulo, furiosa.
- Ele anda alucinado, esqueceu?
- Sarah, juro para você que eu não disse nada.
- Ow, ótimo! – Deu meia volta, transtornada. – Kinsey, sim, deve ter sido ela!
A mulher de corpo sinuoso, com belos lábios e pele negra entrou.
- O que deve ter sido eu?
Ela parou, encarando Sarah.
- Estou fora disso! – Honey se levantou. – Se vão se matar, que se matem longe de mim. Não quero ser testemunha de nada!
- Nada disso! Você vai ficar aqui! – Sarah agarrou o braço de Honey e lançou-a de volta ao sofá.
- Ok.
- Todos estão comentando na sala de reunião e no refeitório... – Anunciou Kinsey. – Medicamentos estão evaporando feito água da nossa farmácia! A enfermeira Louren está furiosa. – Kinsey se desfez do jaleco e arremessou com força no sofá. Passou as mãos no cabelo e acrescentou: - O pior é que desconfiam de nós.
Honey saltou do sofá, incrédula.
- O quê?
- Droga! – Exclamou Sarah a ponto de explodir.
- Maldita Louren! – Xingou Honey. - Aquela enfermeirazinha nunca foi com a nossa cara!
- Esperem, esperem! – Pediu Sarah.
As duas olharam para Peterson.
- Kinsey, por acaso contou ao Dr. Willian sobre Sam?
Ela estava torcendo para que dissesse “não”.
- Não.
Ufa!
Sarah caminhou até a janela em busca de ar. Olhou para o estacionamento; do andar em que estava e ele parecia minúsculo, mas seus olhos não desviaram daquela incrível Ferrari vermelha reluzindo contra o sol faiscante. De quem será? Trabalho nesse hospital há anos e parece que nem consigo sobreviver!
- Por acaso sabem quem é o milionário da vez?
Ambas viraram as cabeças para Sarah.
- O que está dizendo? – Perguntaram em uníssono.
Jackson se olhava no espelho.
- Acho que estou bem para um quarentão, não acha, Dowall?
- Senhor, cinquenta.
Ele murchou a expressão que custara a fazer.
- Cinquenta e um! - A voz saiu num fio. - Como o tempo passa... Parece que foi ontem que tive meus melhores anos.
- Senhor, não quero ser imprudente, mas não acha melhor descansar para amanhã?
- Estou tentando isso desde ontem! – Confidenciou ele. – Mas está impossível! Aquele remédio que a Dra. Peterson me deu não está surtindo efeito! Estava tudo bem há dois dias atrás. E agora estou exausto e não consigo dormir!
- Não dorme nada desde ontem?
- Como disse, há dois dias... Não quero parecer doente para os meus fãs amanhã.
- Não está doente.
- Com essa cara pareço que estou. Olhe o tamanho dessas olheiras! – Michael aproximou-se mais do espelho.
- Tenho um chá infalível para o sono! Espere só! Vai dormir como nunca!
E a empregada sumiu no corredor.
Dowall e seus chás!
Sra. McDowall deu três toques na porta da suíte.
- Entre! – Murmurou Michael na cama rodeado de papéis e caneta na mão. Um óculos redondo na cara.
Dowall foi até ele.
- Vai dormir muito bem. Aqui está!
- Deixe aí que eu já tomo. Muito obrigado, Dowall.
Ela sorriu.
- Preciso terminar de assinar essa papelada para amanhã.
- Tio, eu já falei e vou repetir uma única vez: Sarah já está vindo para cá! Agora me deixe em paz! – Susie se virou de volta à TV com seu balde de pipocas numa mão e a outra lotada em direção a boca.
- Como pôde ter sumido daquele jeito no aeroporto, garota? – Indagou Ben Peterson, enraivecido. – Tive que contatar até a segurança do local para te procurar!
- Eu avisei que não queria ir e que não iria.
- Você anda muito mal-criada!
- E você um chato de galocha!
- O que está havendo aqui? – Sarah entrou se livrando de pastas e bolsa. – Já estão brigando?
Ben se levantou.
- Que história é essa agora, Sarah Peterson? Susie não pode ficar aqui com você!
- O que posso fazer se ela quer?
- Está vendo? É disso que estou falando! Age como uma adolescente!
- Melhor do que ser um velho chato! Oh, tio, dê um tempo!
Susie soltou uma risadinha.
- Susie...
Susie levantou as mãos.
- Eu estou quieta!
Foram para a cozinha. Sarah pegou uma pequena frigideira e alguns ovos na geladeira. Ben se recostou na pia.
- Era para eu estar em Nova Iorque nesse momento.
Sarah nada disse.
- O que faremos com sua irmã?
- Tio, sabe que ela não quer ir com o senhor...
- Rochester vai ser ótimo à ela!
- Pergunte à ela o que pensa de Rochester... E ela tem razão, só há gente mesquinha naquele lugar!
- Gente de porte, você quis dizer...
- Mesquinha eu quis e ainda quero dizer.
- Chama a nossa família de mesquinha?
- Nossa família era de San Francisco e não se portava como um bando de milionários nojentos que gastam seu dinheiro apenas com si mesmos! – A raiva foi tanta que quebrou um dos ovos na mão. – Quantas vezes viu Joseph fazer caridade? Eu perdi a conta porque era impossível de se contar!
- Hã?
Sarah suspirou.
- Esqueça.
- Quer saber? Eu desisto!
- Ótimo! – Sarah remexeu os ovos na frigideira. – Não sou mais a sua pequena Sarah... Tem de se acostumar com essa idéia. Sou uma mulher agora.
- Às vezes é difícil acreditar em como o tempo passou...
- Sei disso, mas ele passou.
- Sinto falta de Joseph.
- Também sinto falta de papai. Acredite, tudo ficará bem.
Fale com o autor