Lives

Capítulo 19


Capítulo 19

- Chegamos, senhor.

- Obrigado, Gerard.

- Precisa de algo mais?

- Não, não. Já me fez o bastante. Ficarei por aqui.

Saltou do automóvel negro ao tempo em que Gerard lhe recolhia as malas.

- Ficarei bem. – Respondeu ele a expressão preocupada de Gerard.

Gerard ajeitou a boina, sorriu para ele e desapareceu na primeira curva à esquerda. Ele largou o peso das mãos e tocou a campanhia do casarão. Cinco minutos depois tocou novamente. E depois de novo, e de novo.
Desistiu enfurecido.

- Será que todo mundo é surdo nessa casa? – Reclamou.

Recolheu as malas e deu alguns passos investigando uma possível vida adentro das janelas emolduradas por pó. Nada.

Foi à casa azul à frente na procura de informações. Chamou pelo interfone, mas logo ouviu passos se aproximarem. Quando o portão se abriu, seu coração tomou um ritmo frenético, as sobrancelhas arquearam revelando ainda mais as marcas da idade. A criada se afastou, assustada, mas se surpreendeu ainda mais ao avistar a patroa vindo logo atrás.

- Ben Peterson? – Inquiriu Sra. Burton, surpresa. – Eu sabia! Aquela voz!

- Santo Deus! Dowall, onde está o Sr. Jackson? – Sarah ofegava ao apoiar um das mãos na parede tentando respirar. – Eu vim feito uma maluca passando na frente até de ambulância para chegar aqui!

- Mas por que tudo isso?- Questionou Sra. McDowall, aturdida. – Não tem ninguém morrendo aqui, não! – Brincou, mas logo se calou.

George que tinha a atenção voltada a Peterson estava pronto para agir num súbito desmaio. A segurou no exato instante em que ela cambaleou pela dependência da mansão. Sarah mirou a expressão preocupada de Dowall e George, soltando um risinho sem graça ao se apoiar de vez na parede amarelo claro.

- Deus! Sente-se bem, Sarah? – Perguntou Dowall, receosa.

Nada ela respondeu.

- Blanket, isso é trapaça! – Brincou Jackson ao soltar uma gargalhada ruidosa.

Tinha as pernas cruzadas e pés calçados apenas por meias brancas enquanto sentado na almofada sobre o carpete do quarto de Blanket.
Blanket olhou para o pai e riu também. Largou o controle de jogo e saltou nas costas do pai fazendo-lhe cócegas na cintura e axilas.

Michael se contorcia ao tentar arrancar Blanket de sua cintura; já estava sem força ao passo em que a barriga doía de tanto rir. Virou-se e encheu as mãos com os pés da criança. Tirou-lhe os sapatos e meias.

- Ahá! Agora você verá o que são cócegas de verdade! – Ameaçou.

- Sr. Jackson! – Gritou.

Jackson voltou-se a voz num susto, apoiando as mãos no carpete com o coração em pulos violentos.

- Meu Deus! Dowall! – Exclamou ele controlando a voz amedrontada. Ergueu-se ajeitando a roupa. – Eu já disse, me chame de Mich...

- Senhor, venha rápido! – Puxou-o pelo braço, desesperada.

- Por favor, Dra. Peterson, fale alguma coisa! – Implorava George, atencioso.

Peterson mantinha-se calada.

Sentia-se sufocada, nauseada.

George tomou-lhe as mãos e pediu novamente:
- Doutora, só poderei ajudá-la se me dizer o que...

Jackson e Dowall surgiram. Sarah olhou-o dando início ao frio incomodo da barriga e...
- Sr. Jack...

O seu toque era como uma carícia, e dava vontade de senti-la a todo o momento.
Logo após ele lhe levantou o rosto fitando-a seriamente bem nos olhos.

- Consegue falar, Sarah?

Sua cabeça girava. Nunca sentira algo parecido com aquilo. Assemelhavam-se a sintomas de... preferiu desvencilhar-se disso.

Sacudiu a cabeça afirmando que sim a Michael, mas ele soube que mentia.
Dowall se afastou e Peterson o viu pegar um copo d’água, entregando-o a ela.

- Talvez ajude. Espero.

Sarah se ergueu meio tonta, e Jackson se prontificou em ajudá-la.
- Vou levá-la para descansar um pouco no quarto de hóspedes.

Depois de um longo momento, sentindo-se mais disposta, ela agradeceu a Michael.

- Obrigada, e lamento o incômodo. Ando tão exausta... – Lembrou-se que não se alimentara o dia inteiro, – Deus, sinto-me tão embaraçada!
Jackson sorriu, terno.

- Não se sinta assim. Fico feliz por estar bem.

Havia algo bonito e inexplicável nos olhos dele quando se fitaram.

Houve uma longa pausa que foi interrompida pelos passos saltitantes de Blanket, que adentrou o quarto e num susto se esquivou escondendo o rosto. Jackson imediatamente foi atrás e o trouxe de volta.

- Filho, está tudo bem.

- Mas eu estou sem máscara!

- A Dra. Peterson não é como os outros. – Beijou Blanket na testa e o acomodou em suas pernas. – Diga oi à ela.

Blanket gentilmente estendeu a mão.

- Olá, pode me chamar de Blanket.

Sarah sorriu.
- Então me chame de Sarah!
- Você vai comemorar conosco o Dia do Papai?
- Depende, o que é o “Dia do Papai”?

Silêncio. Michael pigarreou e disse:

- É o que os demais chamam de aniversário.

- Mas hoje – continuou Blanket. -, não teremos guerras de bexiga de água e nem de bolo de chocolate com chantilly.

- Combinamos de assistir apenas um filme acompanhado de sorvete após o jantar. – Concluiu Michael, sorridente.

Jackson afagou os cabelos do filho, que pulou de seu colo para o lado de Sarah. Mirou-a.

- Você vai vir? – Seus olhos brilhavam.

- Se ainda estiver um pouco indisposta, eu compreendo se quiser ir embora. - Ponderou Michael. – Mas seria ótimo se ficasse conosco.

- Bem, eu não sei, eu...

- Vai tia Sarah... Fica!

- Blanket – Falou Michael. -, não a chame assim... Sabe que ela não é sua tia!

Sarah voltou-se a Michael repreendendo-o gentilmente:

- Não, tudo bem! Deixe-o.

- Então, ficará conosco tia Sarah?

Michael encarou-a juntamente com Blanket.

-Desculpe, mas realmente é melhor eu ir descansar.

- Você está certa, eu quem sou insistente demais.

Ele olhou-a, segurou-lhe a mão esquerda lhe dando um sutil afago.

- Agradeço por ter vindo, de qualquer maneira. Torço para que esteja logo disposta.

Ela permitiu-se sorrir. Blanket levantou-se.

- Vou chamar Paris e Prince para brincar. – E saiu com seu ursinho marrom.

Vendo Blanket sair, deu-se conta que precisava ir depressa também. Fez menção de erguer-se. Michael a interrompeu.

- Sarah...

Jackson uma mão à pele lisa dela, dando-lhe uma singela carícia. Depois, seus dedos passearam pela maciez loira de seus cabelos. Ela sentiu um estremecer congelar-lhe as pernas. Os pelos do corpo ganharam vida junto ao peito que arfou. As respirações e o hálito exalado de ambos os lábios entreabertos se misturavam.

Peterson necessitou calar os olhos para sentir aquele turbilhão de sensações, ao ser surpreendida por um hálito cálido e um calor rente a sua pele. Algo macio tocou-lhe a boca levemente. Abriu os olhos e viu os de Jackson fechados, esperando um movimento, uma simples reação. Ele ousou em colar os lábios um pouco mais trazendo o corpo dela mais próximo ao seu, quando Peterson recuou subitamente, aturdida.

Fitou-o.

Tornaram-se sem ação. Jackson corou definitivamente.
Sarah pulou em seus lábios num beijo urgente como se um necessitasse de ar para seus pulmões. Michael desbravava sua boca pequena e rósea, brincando e descobrindo o sabor de seus lábios. Sentia a temperatura do corpo à frente com a irreverente aproximação, o respirar descompassado, que num impulso desfez o laço de sua boca.

Sarah ainda ofegava, atordoada, quando anunciou:

- Eu... – Respirou fundo, tentando conter a agitação arfante de seu peito. -, e-eu preciso ir!

E ela fugiu deixando o rastro de seu perfume para trás.

Jackson ouviu a porta bater, e então mordeu o lábio permitindo escapar um sorriso pura satisfação.