Lives

Capítulo 15


Capítulo 15

- Como não, Kenny?

Enfim jorrou a pergunta de seus lábios. Ergueu-se enraivecido.

- Foi o que disseram, oras. – Falou Kenny, permanecendo sentado e olhando para o astro a um passo de uma loucura.

Michael pigarreou e disse:

- Entendo que os números de shows vão me ajudar a embolsar um bom dinheiro, mas assumo que não acredito que conseguirei fazer todos.

O seu íntimo doeu ao soltar tais palavras, mas estava sendo sincero consigo mesmo.

- Os especialistas disseram que você está em forma. – O próprio Kenny desconfiou de suas palavras.

Michael sentou-se novamente puxando o ar com tanta força que teve a sensação de sua garganta secar.

- Michael, você não está bem. – Constatou Kenny. – Vou chamar o seu médico.

Foi para tocar o telefone, mas o astro impediu-o.

- Dispensei o Murray por um tempo. – Confidenciou.

Houve uma pausa. Kenny agarrou o telefone.

- Ligarei para qualquer outro.

- Não se preocupe, eu estou bem.

Seu tom de voz não confirmava tal afirmação.

Kenny fitou-o.

- Como se eu fosse arriscar mais uma parada... A última não foi o bastante?

Michael o olhou, firme.

- Eu já disse que estou bem.

Kenny largou o telefone e caminhou até a janela contemplando os grandes edifícios e o pôr-do-sol mesclado em vermelho e roxo que preenchia todo o céu.

- E o que pretende fazer, Michael? Os ensaios estão a todo o vapor, seus fãs ansiosos, todos esperam por sua volta. Todos. O mundo te espera.

- Mas eu estarei lá. – Contornou Michael. – Quando digo que farei algo, é por que farei. Mas o representante da AEG me disse que seriam dez e... – Não concluiu a frase.

Kenny virou-se e mirou a expressão extenuante, desgastante de Jackson.

- Você assinou.

- Me enganaram. – Retrucou.

- Te avisaram... “Por cima”, mas te avisaram. Depois que viram o delírio do público na conferência de anúncio da turnê, era óbvio que iriam aumentar o número de espetáculos. Na verdade, eles queriam oitenta, mas ficaram temerosos. Acho. – Desconfiou.

- Acho eu – Salientou. -, que pela primeira vez em minha vida devo ter ficado bêbado naquele dia. – Lastimou.

Deu um longo e extenuante suspiro. Achou bonito as matizes se movimentando no céu.

- Como se chamava o representante para quem assinei o contrato? – Indagou Michael.

Seu confidente andou pelo tapete artesanal fino de um vermelho sanguíneo tentando relembrar. Kenny voltou-se a Michael e se depararam com as expressões e bocas abertas para falar.

- Smith O. Durklein!

Era esse o nome que o negro anotava enquanto sentado no assento estofado de seu consultório em Houston, tentando prestar atenção, ou passar que estava atento, a que uma idosa emperiquitada falava. Viu a senhora se levantar resmungando qualquer coisa e desaparecer porta afora.

Que se dane!

Seus dedos discaram algum número e levou seu celular ao ouvido. Uma voz feminina atendeu no outro lado.

- Querida, se apronte. Jantaremos fora.

- Por que não vem antes do jantar?

Havia uma mescla insinuante e sensual em sua voz.

- Trabalho, querida. Trabalho.

- Onde está Michael?

- Olhe nas notícias: “Astro aparece com filhos em uma loja de Brinquedos”.

Tomou o jornal espremendo-o nos dedos e arremessou para algum canto, inclinando-se intimidador.


- Você entendeu. – Havia aspereza na voz.

- O que quer que eu faça? Ele me dispensou! – Berrou.

- Murray... Murray... – Deu um risinho importuno. – Não seja modesto. – Falou enquanto se movia na cadeira de couro com rodinhas.- Sabe muito bem que você é uma das pessoas do ciclo de confiança de Michael Jackson. Pode entrar e sair daquela casa quando quiser... Pode falar com ele sem marcar hora! – Gritou enfurecido. – Mova-se!

- Não é tão fácil, ainda mais agora em que ele me substituiu por uma tal de “Dra. Peterson”. – Desdenhou. – Nos vimos uma vez, e não demorará que nos conheçamos melhor. Peterson é um problema, e é preciso ser resolvido.

- Ande com isso, o prazo de seis meses já se encerrou.

- Sim, Dr. Thome Thome.

- Bem, Sr. Jackson, lhe trouxe um perfume de Lavanda e outro de Camomila. São ótimos estimulantes para o sono. Pingue algumas gotas no travesseiro e diga “Alô” aos sonhos! – Sorriu.

Ela tem um sorriso lindo!
, deduziu Michael, deixando passar despercebido as palavras da médica.

- Está tudo bem, Sr. Jackson?

Está tudo bem, Sr. Jackson?, não soube ao exato quanto tempo demorou, mas a sua voz insistente o despertou. Espalmou as mãos no rosto. Enfim saiu do transe.

- Algum problema? – Insistiu ela.

Jackson a olhou temeroso em se perder novamente no contorno perfeito de seus lábios, hoje, vermelhos sangue pelo batom cremoso.

- Não! – Sobressaltou. – Digo, sim... não... – Não conseguiu concluir.

Sentiu as mãos da moça tocarem seu pescoço e testa com precisão. Uma energia esquecida retornou fazendo-lhe vibrar a pele. O que estava havendo? Era o que queria saber.

- Não está com febre. – Concluiu. – O que está sentindo? – Sua voz tinha um soar preocupante.

Michael se afastou levando uma mão a testa. O que está havendo?, ressoava incessantemente dentro de si.

- Senhor...

Ela se aproximou, receosa. Jackson virou-se, fitando-a. Não se reconhecendo, como se seu coração estivesse se libertando de um antigo e árduo amor, para algo límpido e bom.

- Por favor, não me entenda mal, mas não estou me sentindo muito bem. Talvez seja o cansaço.

Sarah o estudou por um instante.

- É. Talvez seja mesmo.