Lives

Capítulo 11


Capítulo 11


Tenho medo apenas, muito medo. Tenho medo da morte.


A criança entrou apressada com um ursinho nas mãos e se jogou na cama, ofegante. Jackson desvencilhou-se dos pensamentos.

- Papai, quando vamos à loja de brinquedos? Você prometeu!

- E vou cumprir.

Pegou seu caçula e o pôs em seu colo.

- Hoje papai precisa trabalhar, Blanket. Iremos amanhã, tudo bem?

Ele concordou meneando a cabeça de cabelos lisos.

- Onde estão Prince e Paris?

- No jardim com a Dowall.

- Sabe se o Dr. Murray já está lá embaixo?

- Está sim.

- Não, não. Aqui não dá para conversamos.

A voz do outro lado gritava.

- Já disse, ou vocês liberam o dinheiro, ou nada feito. É assim que eles querem.

Michael descia a escada no exato instante, sério. Murray encerrou a ligação, e sorriu sarcástico.

- Sabia que não ia aguentar, Michael. – Desdenhou. – Você necessita dos remédios, principalmente agora com a vinda da nova turnê.

O astro passou rente a ele e seguiu para o largo corredor. Parou. Chamou-o.

- Precisamos conversar, Murray. Vamos ao meu escritório.

- Peter, amei seu apartamento! – Exclamou, alegre.

Peterson deixou as malas no chão e trancou a porta.

- Ele é tão... Tão...

- Eu. – Respondeu Sarah.

- Isso! Ele é tão você!

- Bom que tenha gostado, Susie. Pois agora teremos que dividi-lo, já que não voltará tão cedo à San Francisco. A menos que ganhe na loteria e compre algo por lá.

Susie olhava atentamente todo o pequeno apartamento. Da sala seguia para o quarto, deste à cozinha, por todos os cômodos até se encontrar novamente na sala.

- E a Sra. Shelton?

- Pensei que já estivéssemos resolvidas sobre isso.

- Não aceito.

- Sou eu quem não aceito aquela mulher debaixo do meu teto.

- Ela é minha mãe, Sarah.

- Mãe que nem te considera uma filha. Ela não estava e não está nem um pouco preocupada com você, Susie.

Susie afundou no sofá, amuada.

- Diz isso porque ainda pensa que a Sra. Shelton é culpada pela morte de papai.

Sarah hesitou pela resposta.

- É, isso também consta na lista.

Susie se ergueu. Cruzou os braços.

- “Consta na lista”? Tem uma “lista” sobre mamãe?

Peterson seguiu para o quarto, desfez as malas e permaneceu calada. Susie a seguiu insistindo em uma resposta.

- Susie, não me chateie, tudo bem? Já passei do pescoço de problemas e não quero me irritar mais.

Droga! Matthew será pai! Acabou as chances.


Ela já não tinha chances.

- Pegue suas malas e trate de guardar suas coisas. Ainda temos que passar no supermercado, colocar algo na geladeira. E não se esqueça de me dar seus documentos para a transferência na faculdade.

Ela só escutou um “tá bom” distante.

No mesmo dia quase ao pôr do sol, Sam bateu a porta de Peterson. Ela bufou ao ver a figura de jeans e pólo listrada plantada em sua frente.

- O que quer? – Indagou, séria.

- Conversar.

- Oh, Sam, já falamos tanto sobre esse assunto. Basta!

- Não, Sarah, não falamos, apenas brigamos. Por favor, aceite tomar algo comigo no Coffe’s Break.

Não havia mal em aceitar. Ele não vai me deixar em paz.
- Tudo bem, Sam. Só me espere trocar de roupa.

Susie escutou a nova voz ecoando da sala. Estava na cozinha preparando algo mexido, e se debruçou na copa inclinando a cabeça. O coração acelerou em seu breve sobressalto. Voou para a sala parando poucos metros à frente de Sam.

- Sam? – Perguntou Susie, desejosa, tímida.

Ele a estudou por menos de um minuto. Seu olhar brilhou como resposta positiva.

- Susie?

Ela pulou em seus braços, e num rápido giro a pôs de volta na segurança do piso amadeirado.

O rosto de Peterson transpareceu o quanto estava surpresa.

- Nossa! Já está uma mulher! Como o tempo passa!

Um sorriso brotou de sua face.

- De onde se conhecem? – Indagou Sarah.

Sam tomou Susie mais uma vez, e num rápido encontro de olhares, respondeu a Sarah.

- No baile de nossa formatura. Lembra-se? Você a levou. Então a conheci.

Sarah não gostou do sorriso de Susie, e menos ainda do estranho brilho nos olhos. Enrugou a testa, perplexa. Não recordava.

- Hã... ok. – Se conformou. – Vou trocar de roupa.

Devo estar tendo envelhecimento precoce.

- Ah, Sam ficou com aquele mesmo papo desses últimos meses, que me ama e não sei mais o que lá. Acho que dois minutos após a primeira frase eu nem o escutei mais.

- Você já sabe o que penso.

Antes que dissesse, Sarah a imitou.

- “Você deveria dar uma chance a ele, Sam é o maior gato, e ainda te ama!”

- Tá, tá!- Exclamou Honey. – Eu não te digo mais nada. Mas depois não me venha chorar em meu ombro por suas besteiras.

Sarah a olhou de esguelha, descrente nessa possibilidade.

- Kinsey me contou que agora sua irmã mora contigo.

- Pois é, eu precisava tomar uma atitude antes que a “Sra. Shelton” acabasse com a vida dela.

- Bem, pelo menos com o dinheiro de Jackson vai ajudá-la com as despesas.

Peterson duvidou se a resposta valeria a pena. Sabia que Honey era exagerada.

- Está enganada. Ele não me paga.

Honey se afastou com os olhos espantosamente arregalados.

- Devia saber que no fundo ele era um pão-duro! – Quase gritou. – Eu o admirava tanto. – Suspirou, sem esperanças.

- Pois pode continuar a admirar. – Confirmou. – Fui eu quem não aceitei.

Honey levou a mão ao peito e se recostou no balcão da recepção, arfando. Peterson tratou de logo pegar suas fichas e sumir dali antes que ela berrasse.

Seria vergonhoso.