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Despedida de minha antiga vida
-Você vai mesmo embora? Lara, minha irmã mais nova estava quase chorando
-Eu prometo que irei te buscar um dia, mas por enquanto, você ouviu o que a mamãe disse. Eu disse, me abaixando para ficar a altura de seus olhinhos, marejados de lágrimas
-Mas Bel, você não é uma bruxa, eu sei disso.
-Tente entender Lara, mamãe pensa como as outras pessoas daqui, ela não vai aceitar meu dom. Apenas seja uma boa menina e eu voltarei quando você estiver mais velha. Agora dei-me um abraço, pois tenho de ir.
Lara me abraçou forte, passei minhas mãos por seus cabelos curtinho, marrons e lisos, e senti seu perfume de criança. E me fui, levando apenas minha mochila, com as poucas coisas que possuo que são minhas, que minha mãe não me deu, comprei-as com meu dinheiro.
-Eu te amo Bel. Ela disse dando tchau com as mãozinhas branquinhas.
-Eu também te amo meu amor.
Caminhei durante um longo tempo a pé, com meu all star vermelho, velho companheiro, até chegar ao ponto de ônibus.
17 anos, um dom incomum e incompreendido, sem família, sem amigos, sem casa, desempregada e sozinha no mundo. Essa era eu, neste exato momento.
Esqueci de mencionar o frio que sentia também.
-Acho que vai chover, e quando chove os ônibus não conseguem passar pela ponte da cidade. Quer uma carona minha jovem? Era uma senhora, que acabara de parar seu velho carro em frente a mim.
-Acho que vou aceitar a carona. Sorri para a senhora que abriu a porta do carro.
-E para onde está indo, querida? Ela perguntou ligando o carro novamente.
-Para a cidade.
A senhora era muito simpática. Claro que não contei para ela a minha situação. Ela me deixou no centro da cidade, agradeci e ela se foi.
Conheço bem essa cidade. Morei aqui durante toda a minha infância, mas depois de meu pai morrer, minha mãe se casou novamente e meu padrasto era do interior. Minha mãe se mudou para lá e teve a Lara, que é minha irmã apenas por parte de mãe.
Lara tem cinco anos, o mesmo tempo em que morei naquela cidade. Uma cidade pequena, isolada de tudo, apesar de estar a apenas 50 minutos da “capital” digamos assim.
O povo da cidade parece viver na época medieval, mas com mais fofoca entre eles, e foi por esse motivo que tive de ir embora. A infeliz fofoca de cidade de interior.
Xx
Chamo-me Annabel, tenho 17 anos, como já disse, e tenho um “dom” diferente. Às vezes é como se eu presenciasse situações repetidamente, como se eu sentisse que já vivi certas coisas, posso, às vezes, ver o futuro através de sonhos. Coisas simples. Não posso prever o fim do mundo ou coisas gigantescas, apenas pequenos e breves fatos.
Sou uma garota simples, com sonhos simples, mas que viu todos os seus sonhos sendo arrancados de si, cruelmente por sua própria família e que hoje está sozinha e despedaçada neste mundo enorme.
A cidade de meu padrasto é pequena, e assim como ela a mentalidade das pessoas também é.
Fui tida chamada de bruxa depois que todos descobriram meu pequeno “dom” e fui expulsa por minha mãe e seu marido de casa.
Agora estou aqui, na “cidade grande”, já são 8 da noite, está chuviscando, e eu estou sentada em um banco de madeira, em uma praça, sozinha. Não há ninguém na rua.
Não tenho dinheiro nenhum aqui comigo. A única coisa que tenho de valor é minha Flauta Transversal, a qual eu toco e amo, e por isso não tenho a coragem de vendê-la. Pode ate ser o bem mais caro que possuo, mas é também o bem mais precioso em minha vida, depois de minha pequena irmã.
-Ei! Você não pode dormir ai! Um policial gritava vindo em minha direção
-Mas porque não seu policial?
-Porque não! Ele disse com cara de poucos amigos.
Peguei minha mochila e sai de lá.
Vaguei perdidamente pelas ruas cinzas da cidade. A chuva fina, me fazia sentir mais frio ainda, e juntando com o vento gelado, eu já devia estar com os lábios roxos de frio.
Não sei o que vou fazer da vida agora.
Não conheço ninguém.
Acho que minha mãe queria me matar, mas não teve coragem e por isso fez isso comigo, para que eu morrese sozinha, sem ninguém comigo...
Espero, encarecidamente, que Lara não sofra o que estou sofrendo, ela é muito nova e não merece passar por isso...
Acabei adormecendo embaixo de uma árvore.
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