Little Angel

Capítulo 9 - Sai fora


Era óbvio que Magnus não estava nem um pouco à vontade de deixá-los entrar, mas Jocelyn deu seu sorriso mais doce e nem um pouco convincente antes de entrar e cumprimentar o feiticeiro.

— Vim em paz, juro. - Seu sorriso aumentou. — Acho que nos excedemos da última vez, e eu peço desculpas. Em nenhum momento quis te ofender, sabe disso, não é?

O feiticeiro estreitou um pouco os olhos e decidiu entrar na dança para ver qual realmente era a dela.

— Claro, querida. Deixarei passar dessa vez, mas não se acostume. Minha paciência é curta e minha vingança é cruel. - Avisou, com um floreio dramático e afetado em tom de brincadeira.

Brincadeira é essa, claro, que não passou despercebida.

— Como vai, Magnus? - Luke cumprimentou com um sorriso, ganhando um sincero em retorno.

— Lucian, querido. Como vai a vida de Alfa?

— Muito bem até. Ouvi que acolheu um shadowhunter mirim agora e quis vir conhecê-lo.

— Ah, você vai adorá-lo. Ele é um anjinho.

Luke o olhou sério e um tanto descrente.

— Não pode culpar o menino pelo pai que teve, Lucian.

— E não o culpo, meu amigo. Mas como ter certeza de que os ensinamentos de Val não o moldaram?

— Veja com os seus próprios olhos então. - Chamou-os em direção à cozinha, fazendo sinal para ficassem em silêncio.

E lá puderam presenciar o menino brincando com os três jovens, gargalhando enquanto tentava se afastar dos dedos incessantes de Simon, que tentavam atacar seu pé cada vez que ele o aproximava dele.

— Filhote? - chamou-lhe atenção. — Você tem visitas.

Jace parou de cutucar Simon e os olhou. Seu enorme sorriso murchou quando viu Jocelyn lá, e ele grudou em Alec quando os dois se aproximaram.

Simon, percebendo a situação, se levantou e cumprimentou o Alfa com um abraço de urso.

— Que bom que veio, Luke. Deixa eu te apresentar o meu novo padawan. - E indicou o menino que o observava curioso. — E olá, Sra. F. - Cumprimentou a mãe de Clary.

— Olá, Simon. - Ela respondeu.

Luke sorriu para o menino e olhou divertido para o vampiro.

— Padawan? Não sei, a força é forte nele? - perguntou, colocando a mão no queixo, pensativo.

— É sim. - Jace pulou do colo de Alec e foi até os dois.

Quando Luke deu um passo para frente, o menino se escondeu atrás das pernas do vampiro.

— Não seja tímido. Ele não morde. - Simon disse. — Na verdade morde, mas só gente que merece. E nunca, nunca crianças. Eu garanto.

Jace o olhou curioso.

— Ele é um vampiro também?

— Não. Ele é um lobisomem! E um policial. E um amigo, e uma figura paterna que me deixa morar de graça numa casa de barco rodeada de lobisomens.

— Lobisomens e vampiros são inimigos naturais? - Jace estranhou.

— Não esse aqui. Esse aqui é só um cachorrinho de pelúcia gigante, cheio de dentes, mas inofensivo. - Falou, e foi o que bastou para que Jace considerasse Luke automaticamente um amigo.

— Você tem presas também? Pode me mostrar? E vira um lobo? Eu nunca vi um lobo. Papai disse que são malvados, e que vivam na floresta do lago, mas só encontrei tatu lá quando fui escondido. Você vira um tatu também? - perguntou incessantemente, fazendo Luke arregalar os olhos e rir.

— É um padawan mesmo. - Comentou divertido.

— Cinco minutos com o vampiro deixaram ele assim. Antes ele era normal e fofinho. - Explicou Alec, fazendo um menino fazer um bico.

— Ele ainda é fofinho. - Isabelle concedeu.

— Você é minha favorita agora. - Jace sorriu pra ela e mostrou a língua para Alec, fazendo todos rirem com a expressão indignada de Alec.

— Bom, eu sou Luke. Prazer em conhecer. - Ele se abaixou e ofereceu a mão ao menino que a aceitou.

— Prazer, sou Jonathan. Jonathan Christopher.

Ele pareceu um pouco surpreso do menino oferecer seu nome real e não o apelido pelo qual conhecia o shadowhunter.

Jace, percebendo seu desconforto, emendou.

— Você também me conhecia quando eu era grande? - perguntou com a cabeça inclinada. — Eu sei que não sou pequeno. - Explicou sério.

— Te vi uma ou duas vezes, mas fiquei mais espantado por ouvir seu nome inteiro mesmo porque te conheci quando era um bebê e agora você está com assim, e antes vocês estava enorme.

— Que mentira, ele era baixinho. - Simon comentou, ganhando olhares enviesados de todos. — Desculpa, mas era mesmo.

— Bom, não era alto, mas certamente mais alto que agora. É só muita coisa para processar.

— Me dá dor de cabeça também. - O menino concordou e deu de ombros, fazendo-o rir. — Então, me conheceu antes?

— Eu era parabatai do seu pai. - Luke contou e os olhos do menino se acenderam de curiosidade. — E amigo da sua mãe. - indicou Jocelyn que só os observou até o momento.

O menino a olhou e franziu o cenho e deu um passo para trás, na direção de Alec.

— Vocês poderiam nos dar licença? - Jocelyn pediu, indo em direção ao menino, que correu para os braços de Alec.

— Não acho uma boa ideia, Jocelyn. Ele claramente não está confortável.

Ela pareceu querer discutir, mas desistiu quando Luke lhe lançou um olhar significativo.

— Eu só queria falar um pouco com o meu filho. - Explicou. — Jonathan, querido. Eu sou a sua mãe. - Ela começou quando viu que ninguém lhe daria privacidade. — Você não se lembra de mim, não é?

O menino escondeu o rosto no peito de seu parabatai.

— Você me chamou de monstro, mas eu não sou um. Sou um garoto bonzinho. — Ele falou bravo para ela, soando realmente ofendido.

Luke deu um olhar cheio de reprovação para ela.

— Você não é um monstro, Jonathan. - Ele falou sério, e o menino acreditou em sua palavra.

— Não é mesmo, filho. Eu peço perdão. Estava brava com o seu pai e acabei descontando em você e em amigos queridos. - Ela disse, olhando para Magnus que não pareceu impressionado com o discurso. — O seu pai nunca falou de mim?

— Disse que você morreu.

— Eu não morri. Estou bem aqui. Ele levou você de mim, Jonathan. Eu não teria deixado você para trás. Por favor, acredite em mim.

— Não! Vá embora. - Jace gritou com ela e escondeu o rosto no peito de Alec novamente.

— Jonathan!

— Não. Você não gosta de mim. Você tá mentindo, mentirosa.

— Jonathan! - Repetiu horrorizada com a reação do menino.

— Sai daqui! Eu não gosto de você. Sai! - Gritou, se afastando de Alec e indo na direção dela.

— Eu te amo, filho!

— Mentirosa! - Se descontrolou. Seu rosto estava tão vermelho que ele parecia que iria explodir.

— Bom, acho que já chega de interações familiares por hoje. - Magnus disse.

— Jonathan Christopher, pare já com isso. - Ela ralhou com ele. — Eu sou sua mãe! - Ela disse com certo medo.

— Jocelyn, é melhor você se afastar. Isso é o exato oposto do que você queria. - Luke tentou argumentar, mas foi ignorado.

— Não é! Sai daqui! - Ele gritou e seus olhos brilharam dourados por um segundo como que liberando energia, empurrando-a para longe.

Todos ficaram atônitos com o que o menino fez, incluindo Jace que pareceu perder a cor quando viu que a machucou.

Jocelyn pareceu um tanto atordoada ao ser lançada longe, mas se recuperou rápido e pegou a primeira faca, uma de carne, que viu no chão e atirou na direção do menino.

E teria acertado se Simon não tivesse interceptado o utensílio com sua velocidade vampiresca.

— Como ousa?! - a energia vermelha que saiu de Magnus a levantou pelo pescoço, prendendo-a contra os armários da cozinha.

— O que eu precisava fazer! Você viu o ataque dele, ele não é normal. - Ela disse, olhando para o menino que era amparado por Simon e Alec.

— Como pôde, Jocelyn? Ele é uma criança! - Luke parecia chocado e extremamente desapontado.

— Criada por Valentim, Luke! Você viu o que ele fez! Ele é um demônio. Os irmãos do silêncio me alertaram quando ele era bebê. Ele só trará morte e destruição por onde passar. - Ela disse, mas foi silenciada por Magnus, que apertou seu pescoço com seus poderes.

— Magnus! - Alec o chamou, e quando o feiticeiro se virou, viu que Jace os olhava assustado.

Prendendo-a, Magnus soltou seu pescoço. Não mataria a mãe do menino na sua frente.

— Nem mesmo os irmãos do silêncio conseguem prever o futuro, Jocelyn. Ninguém consegue. - Magnus atestou.

— Eu falhei de novo. - Ela se lamentou, atraindo olhares, mas parecia não se dar conta e falava sozinha.

Luke a olhou horrorizado, claramente o único que entendeu a dimensão daquela admissão.

— Foi você. — Ele disse, se sentando arrasado.

— Leve-o para dentro enquanto acabo aqui, Alec. - Instruiu antes de se voltar para a ruiva, ainda presa.

— O que quer dizer com isso? - Isabelle perguntou, segurando seu chicote.

— Eu fiz o que deveria ter feito e não me arrependo. - Jocelyn disse. — Ele era minha responsabilidade.

— Você já tentou isso antes. - Magnus concluiu.

— O incêndio. - Luke informou, colocando a cabeça entre as mãos.

— O incêndio que supostamente matou Valentim? - Isabelle perguntou sem entender.

— Valentim e o filho deles, Jonathan. Achei que tinha sido o próprio Valentim que ateou fogo na mansão, mas não foi. Foi ela. - Se lamentou. — E agora ainda me trouxe como distração para tentar de novo. Isso é nojento, Jocelyn. E baixo.

— Ele é uma ameaça, Luke. Você ouviu o que Clary disse, Valentim usará a ele para pegar Clary também. Eu não poderia deixar.

— E sacrificar um filho pelo outro é válido para você?! Você pelo menos escuta o que está falando? Isso é tão doentio. Você não é melhor que o Val. Se bobear é ainda pior porque ele pelo menos criou o menino!

— Luke, por favor.

— Basta! - Magnus ordenou, fazendo um movimento brusco com a mão, jogando-a por um portal.

Luke ficou estático olhando para o local onde ela estava.

— Magnus? - Isabelle perguntou.

— Ela é problema da Clave. Mandei direto para o seu querido chefe.

— Melhor eu ir até lá explicar a situação. - Isabelle comentou e Magnus abriu um portal para ela, com um sorriso ainda um pouco forçado devido à sua irritação. — Cuide bem dele. - Ela pediu antes de ir.

— Eu nem sei o que dizer, Magnus.

— Depois, Lucian. - O feiticeiro disse e foi em busca dos demais.

Encontrou Alec e Simon no quarto de hóspedes tentando tirar um Jace que chorava e se escondia de dentro do closet.

— Nós não estamos bravos com você, Jace. Eu juro. Não precisa chorar.

— Qual é, padawan? Não precisa ficar aí.

— O que houve?

— Ele se enfiou aí e não quer sair. - Alec explicou.

— Por que não entra? - Luke estranhou.

— Nós tentamos, mas aí acontece isso. - Simon demonstrou indo em direção ao closet, até bater numa parede de luz clara que o empurrou para fora, deixando o menino chorando mais ainda.

— Filhote? - Magnus chamou. — Ela já foi e não vai mais voltar, não precisa se esconder.

— Você tá bravo!

— Não com você, filhote - Falou com sinceridade. — Mas confesso que faltou muito pouco para esfolar aquela vadia. Sem ofensa, Lucian.

— Tamo junto.

— Não tá bravo?

— Não. - Sorriu.

— Não vai me bater?

— Claro que não! Pra ser sincero, estou tentado a te dar um sorvete por tê-la jogado longe. Aquilo foi lindo.

— Magnus!

— Mas sem cobertura porque atirar pessoas longe é feio. - Concedeu, revirando os olhos para o namorado.

— Isso mesmo. Seja duro. - Simon disse sarcástico.

Jace decidiu que era seguro sair do closet.

— O que é sorvete? - perguntou fungando e enxugando o rosto.

— Olha essa carinha, Alexander. - Magnus disse pegando o menino no colo e secando seu rosto delicadamente. — Ele merece cobertura, e tudo o que quiser.

— Depois do jantar. - Alec concedeu, revirando os olhos exasperado.

— O que acha de comida mexicana, filhote?

— Não vou comer nada feito com mexicanos inocentes. Isso é nojento. - Recusou, fazendo o feiticeiro rir com gosto.

— É melhor irmos. - Luke comentou, puxando Simon com ele. Bagunçou o cabelo do menino, que não esquivou do toque, e acenou para Magnus.

Quando chegaram à porta, ele parou e olhou para Alec sério.

— Eu realmente sinto muito por tudo o que aconteceu hoje.

— Eu sei.

— Ele é um bom garoto. Se precisarem de ajuda, é só me chamar. - Ofereceu ao shadowhunter ao dar um tapa em seu ombro.

Alec sorriu.

— Precisando de babá, tamos aí. - Simon sorriu e Alec suspirou desanimado.

— Se vira para achar os filmes que prometeu a ele. - Avisou, fazendo Simon sorrir de uma orelha à outra.

— Sim, senhor!

Naquela noite, acabaram indo apresentar uma lanchonete fast-food ao menino, que ficou mais interessado no brinquedo que ganhou no seu combo do que no próprio lanche. Tomaram sorvete, o que não foi muito do gosto de Jace que achou doce demais, e depois voltaram para o loft via portal.

Mais uma vez, para desespero do casal, o menino dormiu entre os dois ao se negar a ir para o quarto de hóspedes.

Porém, dar uma caixinha de suco para uma criança pouco tempo antes dela dormir não era uma boa ideia. E no meio da noite, Jace fugiu da cama para ir ao banheiro.

Quando voltou, estava sem sono. E vendo que os dois ainda dormiam sossegadamente, decidiu se aventurar pela casa e brincar um pouco.

Estava na sala acariciando um dos gatos que estava jogado no chão quando viu um vulto no espelho se mexendo.

Ele se levantou e foi até ele.

— Olá?

— Olá. - Falou, assustando o menino que deu um pulo para trás.

— Quem é você? - perguntou curioso quando viu que o homem do espelho era muito parecido com Magnus.

— Um amigo. - Respondeu e se sentou.

O menino, ao ver que o homem não fazia nenhuma menção de sair do espelho ou atacá-lo, decidiu dar um voto de confiança e se sentou à sua frente.

— Olha o meu brinquedo. Ganhei hoje. - Mostrou o carrinho do Relâmpago McQueen.

— E o que é?

— Acho que é um carrinho, mas é estranho porque tem olhos.

— É mesmo?

— Acho que é uma raça alienígena que comeu os humanos e dominou o mundo.

— Ou um humano amaldiçoado a viver seus dias como um carro de corrida. - Comentou, fazendo o menino rir.

— Você é engraçado. Gostei de você.

— Também gostei de você.