Little Angel

Capítulo 10 - Enquanto você não vem


No dia seguinte, Magnus estranhou não ver Jace com eles na cama e saiu procurando pelo pequeno, e o achou dormindo tranquilamente no quarto de hóspedes próximo a suíte master.

Sorrindo, decidiu aproveitar a privacidade e voltou para seu quarto.

Não pôde deixar de rir enquanto arrancava a camiseta do namorado.

— Sei que não sou lindo, mas não sabia que causava risos. - Alec comentou.

— Não seja bobo, Alexander. Você é lindo. É que estamos parecendo pais se escondendo do filho para poder curtir um pouco.

— Bom, não está muito longe da verdade. - Alec concordou ao roubar-lhe um beijo.

— Melhor aproveitar então, não é? — Magnus aprofundou o beijo com um sorrisinho sacana.

— O que vocês estão fazendo? - Jace perguntou inocentemente, fazendo Magnus dar um pulo para longe do namorado.

— Nada demais. - O feiticeiro tossiu, arrumando a roupa.

— Posso fazer também? - inclinou a cabeça, confuso.

— NÃO! - Ambos responderam sem hesitar.

— Você é muito novo. - Magnus explicou.

— E quando eu crescer?

— Também não. Nunca. - Alec negou.

— Por quê? - Jace ficou mais confuso ainda.

— Porque sim, Jace. Nada de clube do livro pra você. Nunca mais.

— Isso é um clube de livro?

— Não. Clube do livro é algo horrível, Jace.

— Achei que ler era bom. - Jace foi até a cama e se jogou sem cerimônia.

Alec, que ainda estava animado, se cobriu com todo o lençol que conseguiu se afastando do menino.

— Ler é ótimo, mas só quando é com alguém que você ama. - Alec explicou, com o rosto todo vermelho.

— Ownnn, você me ama? - Magnus quase derreteu.

— Foco, Mags!

— Você está estranho e não faz sentido nenhum. - Constatou o menino. — E nem estavam lendo! Nem tem livro aqui. - Falou com a voz entediada.

— Fofinho, o que Alexander está tentando explicar não tem nada a ver com livros. - O feiticeiro tentou ajudar. — O que eu eu Alexander estávamos fazendo é o que casais fazem quando namoram e se amam muito, entendeu?

— Ah, vocês iam fazer sexo.

Magnus e o namorado encararam o menino sem reação.

— Por que não falaram antes? E o que isso tem a ver com livros? Não tinha nada disso no que eu vi.

— Você viu?! - Alec estava mortificado.

— O papai me mostrou.

— Acho que vou vomitar. - O shadowhunter saiu correndo da cama para o banheiro.

— O que houve com ele? - Jace estranhou.

— Ignore. Ele vai sobreviver. Mas me explique isso. Seu pai te mostrou o que exatamente? - Magnus se sentou na cama, observando o menino.

— No livro de reprodução quando eu perguntei de onde as crianças vinham.

— Só no livro?

— Sim. Tinha um desenho mostrando os órgãos e falando como funciona, mas não tinha nenhum livro desenhado. Por que precisa de um livro? Achei que só precisasse de um pênis e uma vagina. - Constatou, fazendo o feiticeiro rir.

— Normalmente sim, mas não acho que tenha sido isso que Alexander quis dizer.

— Você tem uma vagina? - Jace estranhou. — Achei que você fosse homem.

E Magnus não pôde evitar gargalhar.

— Não, eu não tenho uma vagina. E nem o Alexander. O que você viu no livro foi sobre reprodução humana. Ou seja, quando um homem e uma mulher tem relações sexuais para procriação. Nem sempre esse tipo de relação é para procriação, e nem sempre também é entre um homem e uma mulher. Entendeu?

O menino consentiu.

— E só adultos podem fazer isso?

— Só adultos e sempre com consentimento.

— E o que tem o livro a ver? - Reclamou.

— Nada com o que deva se preocupar. Alexander é meio excêntrico. Só tenha em mente que algo assim não é para ser feito sem pensar, sem consentimento ou por impulso. Daí a você só fazer com pessoas que goste muito. Do contrário pode se arrepender.

— Ok.

— Então vamos comer? - o feiticeiro ofereceu e o menino se jogou em seus braços para ser carregado. E talvez, somente talvez estivesse ficando um tanto mimado. — Venha para mesa quando acabar, Alexander. E fique em paz, a virtude dele continua intacta.



***

A manhã correu tranquilamente depois disso.

Alec saiu para o trabalho no instituto e Magnus ficou com Jace que contava, animado sobre seu novo amigo imaginário.

Aparentemente, ele era um adulto super simpático e engraçado que passou a noite inteira criando historinhas com os bonecos e ainda o colocou na cama.

— Devo agradecer seu amigo por você ir para o seu quarto então?

— Meu quarto?

— Você mora aqui, não é?

E o menino sorriu.

— Talvez possamos decorar com coisas que você goste para ficar mais a sua cara. - Sugeriu e os olhos do menino brilharam.

— Com dragões? - perguntou.

— Gosta de dragões? - estranhou porque ele nunca tinha comentado.

— Agora gosto.

— Então terá dragões. - E Jace jogou as mãos para o alto. — Agora coma o seu waffle.

***

Quando Alec chegou ao instituto, tudo o que ele menos esperava era ver o sorriso triunfante de Jocelyn no centro de operações, ao lado de Victor Aldertree.

— Alec! Eu estou tentando falar com você há horas! - Sua irmã interceptou o caminho. — O que houve com o seu telefone?

— Meu telefone? Nada. - Ele tirou o telefone do bolso, e viu que estava sem bateria. — Eu esqueci de colocar para carregar depois que voltamos. - Explicou. — O que essa mulher faz aqui?! - perguntou alterado.

— Minha mãe tem todo direito de estar aqui, Alec. - Clary a defendeu.

— Ela atirou uma faca no Jace!

— Ela disse que não teve a intenção. - A desculpa soou fraca até mesmo nos ouvidos de Clary.

— Vou atirar uma nela sem intenção também. - Retrucou.

— Ele atacou a minha mãe!

— Atacou coisa nenhuma!

— Ela disse que foi jogada longe por ele, sem ele nem mexer um dedo. Isso não é normal.

— Ele não fez nada!

Aldertree que até então ouvia o bate-boca de longe, se aproximou.

— Se não fez nada será liberado, mas até que se prove que ele não é uma ameaça aos outros, ele está intimado a comparecer ao instituto assim que possível.

— Vai interrogar uma criança?

— Eu não. Os irmãos do silêncio.

— Magnus nunca o trará.

— Então será intimado também, e processado caso não compareça. A clave entenderá que ele se nega a cooperar e isso não ajudará em nada nas acusações contra Jace.

Alec sabia que estava entre a cruz e a fogueira.

— Me deixe falar com ele primeiro. - Pediu, colocando as mãos para trás e com uma expressão estóica como um bom soldado.

— Faça isso. Você tem uma hora. - Aldertree informou e saiu com Jocelyn.

— Alec. - Isabelle o chamou.

— Não se preocupe, Izzy. Eu vou resolver isso. - Alec prometeu e ela concordou.

***

— Alexander! - Magnus sorriu quando viu o namorado voltando cedo. — Que surpresa boa.

Alec sorriu um pouco nervoso.

— E o Jace?

— Brincando com uns brinquedos novos que buscamos agora pouco. Aparentemente, agora ele virou um super fã de dragões.

— Isso é bom.

— Sim, sim. Vamos redecorar o quarto de hóspedes para ele. Você podia vir se estiver livre.

Vendo ali uma oportunidade, Alec logo a agarrou.

— Não seria melhor fazer surpresa para ele? Eu posso levá-lo para dar uma volta enquanto você arruma tudo.

Seu coração doeu quando viu que Magnus adorou a ideia.

— Ele vai adorar. - Magnus deu umas palminhas, claramente animado. — O que está esperando? Xô. Eu tenho muito o que fazer. Jace! Venha! Alexander vai te levar para dar uma volta.

O menino correu animado da sala, trazendo consigo só um dragão de pelúcia, levantando as mãos para ser pego no colo.

— Xô. - Magnus falou novamente quando viu que o namorado não se mexia e o praticamente o arrastou até a porta.

— Você sabe que eu te amo, não é? - Alec falou, e o feiticeiro sorriu docemente.

— Achei que nunca mais sentiria isso, mas eu também. - Confessou. — Agora fora daqui vocês dois. Tenho um quarto da barbie para decorar.

— Dragão!

— Tudo igual. - Magnus riu e fechou a porta.

— Aonde nós vamos? - o menino perguntou.

— Ver a Clary.

— Ela vai poder conhecer o Fofinho. - Jace comentou, mostrando o seu dragão.

— É, vai sim.

***

Quando chegaram no instituto, Alec foi com passos largos até a sala de Aldertree.

— Então o trouxe. - Aldertree atestou surpreso.

— Sim. — Disse, olhando os irmãos do silêncio.

— Cadê a Clary? - Jace perguntou com a voz baixa, abraçando seu dragão.

— Você e eu vamos conversar um pouco antes de vê-la, tudo bem? Só vamos por um portal para uma cidade primeiro. Vai ser divertido. - Aldertree tentou convencer o menino com uma voz animada.

O menino só o olhou e aos irmãos do silêncio com suas bocas costuradas e deu um passo para trás.

— Não.

— Jace. - Alec chamou. — Eu preciso que você seja forte agora. Será bem rápido. Eles só vão fazer umas perguntas e depois você poderá ir ver seu quarto novo. - Prometeu. — Não precisa ter medo. Estarei com você.

— Na verdade, Sr. Lightwood. Nenhum shadowhunter além de mim será permitido no local, mas fique tranquilo. Ele estará a salvo. Guardas estarão a postos do lado de fora para segurança.

— Ele é só uma criança.

— Ele estará a salvo, eu garanto. Só vamos fazer umas perguntas. E se tudo estiver ok, ele estará de volta antes mesmo que sinta saudades.

Quando viu que Alec não arredava o pé, suspirou.

— Posso transmitir tudo para um terminal da central, mas aconselho discrição ao assistir perto dos demais.

— Isso seria ótimo.

— Então, vamos. - Aldertree acionou o portal e os irmãos do silêncio passaram. — Venha, Jace. — Ofereceu a mão ao menino, que ainda estava agarrado ao bicho de pelúcia.

Com o olhar resignado, Jace deu a mão à Aldertree e o seguiu.

Alec não pôde deixar de sentir uma pontada no coração ao ver a cena.

***

Isabelle estava a procura do irmão, e o encontrou muito tempo depois no escritório de Aldertree.

Seu irmão estava pálido e suava muito.

— Alec! Você está bem?

— É o Jace. - Levantou com passos bambos, sem explicar, indo em direção à central.

— Ele está com Magnus?

— Não. - Respondeu, ao sentar na frente de um terminal e colocar uma série de senhas.

Quando Izzy viu Jace no vídeo, largou o irmão, tirou o celular e ligou para Magnus.

No segundo toque ele atendeu. Sequer deu chance para que ele falasse.

— Eles pegaram o Jace.

— O quê?

— Eles estão com Jace, Magnus. E estão torturando-o.

— Mas como? E Alexander? Ele saiu com o Alexander. Ele está bem?

Ela pausou.

— Eu acho que foi ele quem o entregou.

***

Não era isso que tinha sido acordado. Eles só iriam fazer umas perguntas. Jace não tinha feito nada.

Era só uma criança.

Não era culpado, mas algo tinha dado errado. Ele tinha sido condenado e a sentença já estava sendo cumprida.

Estavam retirando suas runas.

E a dor era terrível.

Ganhar cada uma delas não é um processo indolor. Pelo contrário, algumas são agonizantes. Porém, a maior parte delas são feitas em adultos que já tem certa tolerância à dor, ou, no mínimo, estão cientes da possível dor que irão sentir. E não crianças de cinco anos com o corpo extremamente frágil.

Inclusive, a idade comumente aceita para a primeira runa é doze anos, e não cinco.

Com cinco os ossos são muito frágeis e correm o risco de quebrar dependendo da localização da runa.

E era exatamente isso que estava ocorrendo. Estavam quebrando os ossos do menino naquele procedimento.

Era uma cena cruel.

— O que é isso? Quem autorizou isso?! - Lydia perguntou quando viu o estado de Alec e identificou Jace no vídeo.

— Aldertree. - Respondeu com um fio de voz, e antes que pudesse falar qualquer outra coisa, um portal se abriu e de lá saiu um feiticeiro possesso.

— Onde ele está? - Sibilou entre dentes, com os olhos amarelos brilhantes.

Alec deu um berro, ao mesmo tempo que o menino, quando seu corpo torceu violentamente e caiu de joelhos. Vomitou.

— Pelo Anjo. - Isabelle chegou e olhava o vídeo com uma expressão horrorizada, o que era compartilhado por todos os shadowhunters ali presentes.

Na tela, Jace jazia no chão com o corpo retorcido e inconsciente.