Little Angel

Capítulo 5 - Ao resgate!


Conseguir reforços tinha sido mais trabalhoso do que imaginou.

Após uma conversa exaustiva com Victor Aldertree — o atual responsável pelo Instituto de Nova York — Alec finalmente conseguiu um pequeno números de shadowhunters disponibilizados pelo instituto para sua operação, porém com objetivos distintos dos seus.

Enquanto ele e seus poucos aliados iriam em busca de Jace, seu parabatai, os outros iriam numa caçada onde os alvos Valentim e Jace, poderiam ser entregues à Clave vivos ou mortos.

Imaginando que algo assim aconteceria, Alec se certificou em não comentar o que de fato acontecera com Jace à bordo do navio, deixando de fora detalhes do que realmente se passou.

E sem mais delongas, entrou em contato com Magnus e marcaram de começar a operação dali uma hora, saindo do centro de operações.

Quando saíram do portal, diretamente no navio, foram recebidos por um exército recém formado de shadowhunters e aberrações provenientes dos experimentos de Valentim.

Era uma cena caótica e violenta, mas Alec não tinha tempo para desperdiçar com a massa. Precisava encontrar seu irmão e parabatai Jace, já que agora no navio conseguia senti-lo perto e ferido.

Sua runa o levou diretamente aos dois, e seu sangue ferveu quando viu que o menino estava sendo colocado numa jaula pelo próprio pai.

Não conseguia ouvir o que Valentim falava ao menino, devido à distância, mas tinha certeza de que boa coisa não era pela expressão amedrontada do menino.

E naquele curto instante decidiu não se preocupar com a Clave e se escondeu para que Valentim saísse sem o ver, certamente preocupado com a invasão. Depois que teve a certeza de que poderia resgatar o menino, ele se aproximou da jaula.

— Jace. - Chamou o menino que se encolheu do lado oposto da jaula quando o viu, certamente não o reconhecendo. — Eu vim buscar você.

Travou a mandíbula quando viu o rosto machucado do menino, que parecia minúsculo e extremamente vulnerável.

Abriu a jaula e tentou alcançá-lo, mas o menino se encolhia na direção oposta, tentando se afastar o máximo possível. Parecia com medo.

— Vamos, Jace. Não temos muito tempo.

— Não!

Sem tempo para discutir com o menino, ele o puxou e literalmente arrancou da pequena jaula. Foi uma cena perturbadora, ele puxando o irmão, e o menino segurando com todas as forças nas grades e se debatendo e gritando.

— Sossega, Jace.

— Não! Não! Me solta, me solta!

— Jace! - Ralhou com o menino, ao tentar soltar sua mão que voltava para a jaula cada vez que ele a soltava.

— Alec! Cadê vocês?

— Aqui, Izzy!

— Alec! Graças ao anjo.

— Me ajuda aqui, Izzy.

— Esse é ele?! - perguntou ao segurar as mãos do menino e impedi-lo de agarrar novamente a grade. — Nós temos que ir, Alec. O navio está afundando.

— E Valentim?

— Escapou. Tem mais alguém vivo aqui? - cogitou, olhando as celas com inúmeros submundanos executados.

— Não tenho certeza.

— Vai com ele. Eu vou checar aqui e já encontro vocês. Magnus está esperando por vocês.

E lá foi Alec com sua carga que ainda se debatia, tentando escapar.

Quando Magnus os avistou, lançou um feitiço no menino que perdeu os sentidos, não chamando mais atenção dos outros shadowhunters, e abriu um portal para que Alec saísse de lá.

Alec levou Jace diretamente à enfermaria, devido aos seus ferimentos. Porém, assim que chegou lá, foi recepcionado por Aldertree que o esperava com guardas.

— Sr. Lightwood. - Cumprimentou-o com falsa polidez. — Imaginávamos que se afastaria dos demais com o senhor Morgenstern.

— Wayland. - Corrigiu sem pensar.

— Aonde ele está, senhor Lightwood?

— Aqui. - Respondeu, indicando a criança ferida. Sabia que não tinha opção agora que tinha sido pego.

O chefe do instituto pareceu desconcertado por um instante, assim como os guardas, mas se recuperou logo.

— Isso é algum tipo de piada, Sr. Lightwood? Está acobertando a fuga de um procurado pela Clave?

— Não, é exatamente isso. Aquele louco de algum jeito fez isso. Com que intuito, eu não sei. - Explicou, depositando o pequeno corpo na maca do leito.

— E você não sabia nada a respeito disso?

— Não, senhor. Só havia sido informado que havia sofrido tortura.

— E sabia exatamente onde achá-lo?

— Minha runa o levou diretamente a ele.

— Ele estava simplesmente esperando lá? Com um laço de presente? É realmente o que quer que eu acredite, Sr. Lightwood?

— Não, claro que não. Eu senti que ele estava sofrendo através da runa parabatai, e o achei dentro de uma jaula pequena, junto com submundanos executados. A Izzy ficou para checar se há algum sobrevivente entre eles.

Teve uma vontade absurda de sorrir quando viu que o chefe ficou sem reação diante do relato, e agora observava o menino que ainda dormia.

— O que está esperando, enfermeiro? Ajude o menino. - Ordenou ao ver os inúmeros hematomas no rosto da criança que ainda não tinha recebido cuidados.

— Tem certeza de que é ele? - Raj olhava atentamente para o menino.

— Sim, ele ainda tem a runa parabatai. Assim como as outras.

— Por que ele fez isso com o próprio filho?! Jace era um dos melhores que tínhamos.

— Tenho certeza de que descobriremos assim que pegarmos seu depoimento.

— Depoimento de uma criança?! - Alec se alterou.

— Certamente, Sr. Lightwood. Ele esteve por duas semanas com o nosso principal procurado. Deve ter informações importantes que possamos usar. - Aldertree explicou a contragosto. — Acorde-o.

Assim que as runas de cura começaram a fazer efeito, o menino foi retomando a consciência, e ficou tenso assim que viu todos ao redor da maca.

Quando Alec fez menção de se aproximar, o menino se afastou sentando-se tenso e encolhido, o mais distante que conseguiu de todos. Parecia fazer um esforço para parecer o menor possível.

— Jace? - Alec o chamou, mas o menino só o olhava sem entender.

Aldertree, pensando que o menino estava fazendo corpo mole, decidiu tomar a frente.

— VOCÊ ESTÁ ENTENDENDO O QUE ESTAMOS FALANDO? - perguntou num tom alto, e bem pausadamente.

O menino inclinou a cabeça para o lado e levantou uma sobrancelha, com um sorrisinho irônico.

— Meu pai diz que somente os idiotas gritam sem motivo.

E se havia alguma dúvida de que aquele menino era Jace, naquele momento ela sumiu.

— Acha isso engraçado, senhor Morgenstern?

— Esse é o meu pai.

— E você.

— Não sou o meu pai. Eu sou o Jonathan. - O menino explicou sem entender o que o adulto queria. — Você é estranho.

Victor Aldertree passou as mãos pelo rosto, claramente cansado da falta de cooperação da criança.

— Há algum problema com ele? - inquiriu ao enfermeiro.

— Não. Tirando os hematomas de quando chegou, ele parece muito bem para uma criança de três anos.

— Eu tenho cinco! - O menino corrigiu, indignado por terem achado que ele era mais novo.

— Nesse caso, ele parece bem menor do que deveria na curva de crescimento dessa idade. - Comentou, e logo Aldertree o chamou para um canto da sala, de certo para lhe encher de perguntas ou pedir testes para o menino.

— E em todas. Sempre foi um nanico. - Raj comentou para o outro shadowhunter, mas todos ouviram, deixando-o sem graça.

— Não sou nanico, seu malvado.

— Não é alto.

— E você é feio! - Retrucou, causando uma crise de riso no indiano.

— Ele realmente é uma criança. Que fofinho.

— Para com isso Raj. - Alec pediu ao ver que Jace estava com os olhos marejados e apertava os lábios.

— Ah, Alec. Fala sério. Olha isso. Ele é minúsculo. - Comentou, brincando com os cabelos do menino, que se esquivou do toque. — Não seja assim. Não precisa ficar arredio assim. Ninguém gosta de garotos ruins. - Terminou, fazendo o menino arregalar os olhos com medo e começar a chorar.

— Caramba, Raj. Parece que tem cinco anos também. - Alec, reclamou com o colega. — Jace, olha pra mim. - Alec tentou acalmar o menino quando novos membros do time de resgate de Jace chegaram na enfermaria.

Magnus pareceu confuso pelo motivo do choro.

— Meu nome é Jonathan!

— Esse é ele? - Simon perguntou chocado. — Caramba.

— Jonathan. Ninguém vai te fazer mal aqui.

— Vai sim. Meu pai me avisou sobre vocês.

— Sr. Lightwood, se afaste por favor. Jonathan Christopher Morgenstern, está detido até segunda ordem em nome da Clave.

— O quê?! Ele é uma criança! — Izzy falou indignada.

— Ele parece uma criança, senhorita Isabelle. Ainda não sabemos isso ao certo, e para isso, ele será detido para testes.

— Você quer dizer usá-lo de cobaia. - Clary rebateu, com cara de nojo.

— Não há necessidade de causar mais traumas à criança. Eu posso dizer, com total certeza, que Jace Wayland…

— Morgenstern. — Corrigiu Aldertree.

— ...foi alvo de um feitiço muito mal feito. - Magnus continuou como se não tivesse sido interrompido. — Estou há menos de três metros dele e ainda consigo sentir o resquício de magia em seu corpo daqui.

— Isso não prova que ele realmente é uma criança.

— Bom, ele foi, basicamente, encolhido, por falta de termo melhor. Seu corpo ainda tem a mesma idade de antes, não se engane.

— A-há.

— Porém — Magnus se aproximou do menino que tentou se afastar, mas foi segurado por Alec, e lhe examinou mais atentamente —, com o corpo revertido para uma aparência mais nova, suas memórias devem ter sido afetadas.

— O que quer dizer com isso, feiticeiro? Ele tem amnésia? Conveniente.

— Claro que não, shadowhunter. Um corpo de aparência de três anos…

— Cinco! Eu tenho cinco. - Jace corrigiu, fungando com a mão no olho.

Magnus teve que se segurar para não lhe apertar as bochechas.

— Sr. Bane!

— Ah sim. — Continuou a falar depois de um floreio com as mãos. — Um enorme corpo de aparência de cinco anos — frisou, piscando para o menino que lhe deu um pequeno sorriso — só suporta determinada quantidade de informação. Imagine o seguinte: uma pessoa evolui aos poucos e vai aprendendo a formular cada vez mais pensamentos complexos. Primeiro aprendemos a falar, andar, escrever e só depois a correr, ler, brincar. É todo um processo, entende?

— Um processo?

— Sim. E o dele foi ao contrário. De o quê? Vinte? - perguntou a idade a Alec, que fez um sinal de mais ou menos com a mão. — De vinte anos, ele pulou para cinco. Um corpo de cinco anos não comporta as informações que o de vinte guardava. É coisa demais.

— Eu vou chamar a minha mãe. - Clary comentou, não gostando nem um pouco do andamento daquela conversa.

— Ele esqueceu tudo?!

— Não consigo afirmar assim do nada. Precisaria examiná-lo melhor.

— Ótimo.

— Que bom. Então irei levá-lo, e assim que tiver algo, lhe procuro.

— Acho que me entendeu errado, Sr. Bane. Ele fica aqui. Está detido em nome da Clave. Afinal, não podemos ter uma criança desamparada correndo por aí com um louco á solta.

— Ele não está sozinho! Nós o acolhemos há dez anos. Ele é um Lightwood em tudo, menos no nome. - Izzy retrucou na hora.

— É nosso irmão. - Alec a apoiou. — Nós cuidamos dos nossos.

— Na verdade, ele é irmão da Clary. - Simon comentou sem pensar, e Aldertree sorriu triunfante.

— Exatamente. Irmão de Clarissa Morgenstern, e como ela mora aqui no instituto, ele continuará aqui sob a tutela da Clave.

— Ele é irmão dela e meu filho. A tutela dos dois é minha, e não da Clave. - Jocelyn disse, cortando o encarregado.

— E pretende escondê-lo como fez com a sua filha?

— Contra Valentim? Com toda certeza. Ele não está a salvo aqui. Vocês não tem ideia do que ele planejava quando o transmutou. Ao que sabemos, ele pode ter usado o nosso filho como isca para nos distrair enquanto ataca. - Ela disse olhando o menino que a olhava com olhos enormes da maca. — E você não vai colocar a vida do meu filho em risco, tampouco usá-lo para disfarçar sua incompetência em prender uma única pessoa.

— Aconselho a repensar suas palavras e seu tom, Sra. Fairchild. A Clave não esqueceu de que por sua causa o cálice mortal foi perdido.

— Por minha causa, ele esteve seguro por dezenove anos. A Clave não ficará muito feliz ao saber que além de não conseguir recuperar o cálice, ainda perdeu de vistas um psicopata que declarou guerra contra o mundo das sombras, mesmo numa operação óbvia com ajuda de feiticeiros que o transportaram até o local e com a ajuda do meu filho.

Todos pareceram segurar sua respiração para saber o desenrolar daquela afronta.

— Pois bem. Você é a mãe, mesmo que ausente todos esses anos. - Cutucou. — E a tutela e guarda dele é somente sua. - Sorriu triunfante, pois sabia que ela também residia no instituto, e por consequência o menino também.

— E eu, como mãe, declaro que Magnus Bane será responsável por ele até que eu encontre um local mais seguro e secreto para mantê-lo longe de qualquer um que queira feri-lo.

— Como?! - Magnus perguntou totalmente confuso e um tanto indignado.

— Magnus, eu sei que é pedir muito, mas eu preciso que me ajude mais uma vez, meu amigo. Não posso deixá-lo aqui. - Explicou desesperada, ao segurar as mãos de Magnus nas suas, enquanto o olhava. — Por favor.

Depois de ver as expressões aflitas de Alec e os demais, suspirou e revirou os olhos dramaticamente.

— Isso vai te custar horrores. - Avisou. — E me refiro a umas férias com tudo pago de pelo menos cinquenta anos bem longe de shadowhunters. - Se afastou, conjurou um papel e parecia compenetrado nele.

— Jace Morgenstern ainda é um shadowhunter. Não pode sair do instituto sem autorização.

— Ele é uma criança.

— Tem todas as runas. Isso faz dele um shadowhunter.

— Faz dele uma criança traumatizada porque não pode usar nenhuma delas, exceto a de cura, nos próximos anos. — Izzy pontuou.

— E um shadowhunter sem poder usar as runas não está apto para o trabalho. - Alec.

— Meu filho ficará aonde eu achar melhor, Aldertree. Até que ele tenha idade suficiente para voltar, ou queira voltar. - Jocelyn informou, sem paciência para aquela discussão. — Ai. - Reclamou quando Magnus a furou com uma pena.

— Assine aqui, por favor. — O feiticeiro lhe deu um papel e uma caneta pena. — É um contrato de serviços. - Explicou.

— Com sangue? - Estranhou, apontando para a pena.

— Bom, isso deixa tudo mais oficial, não é? - piscou para ela, que balançou a cabeça e assinou.

Depois de assinado, ele assoprou para que secasse rápido e depois de conferir tudo, estalou os dedos e o papel sumiu.

— Bom, é isso. Vamos, filhote. - Chamou o menino que inclinou a cabeça para o lado, não entendendo. — Continue fazendo isso com a cabeça que realmente te transformarei em um. - Riu quando o menino balançou a cabeça em negação. — Só brincando. Só um cara legal. Quase sempre, pelo menos. - Comentou ao sair, mas parou quando viu que não estava sendo seguido. — Venha, Jonathan. Não quer ficar aqui com eles, não é? - o menino não perdeu tempo em pular da cama e ir até o feiticeiro.

— Vai me levar até o meu pai?

— Infelizmente não, mas vou garantir que nenhum deles te disseque como um sapo. - Fez um careta, fazendo o menino rir. — Vocês não vem? - estranhou quando Alec, Izzy, Simon, Clary e Jocelyn ficaram parados enquanto ele abria o portal.

— Não será um incômodo? - Jocelyn quis se certificar.

— Claro que será, mas sobreviverei. - Indicou para que Jace fosse de mãos dadas com Clary.

— Você é imortal. - O vampiro comentou rindo, ao passar pelo portal, sendo seguido por Alec e Izzy.

— E esse é exatamente meu ponto, Sherman. - O feiticeiro concordou. — Alto lá. - Falou para o chefe do instituto quando ele fez menção de passar pelo portal. — Vocês não. - Apontou para ele e seus guardas. — Não gosto de vocês. - Deu uma piscadinha antes de passar pelo portal e desativá-lo.