Little Angel

Capítulo 3 - Fuga


Dot observava as duas crianças, incluindo a pequena feiticeira a quem tinha sido incumbida de treinar, e seu coração apertou ao ver o menino loirinho.

Era fato de que feiticeiros não eram fãs de shadowhunters, havia uma animosidade entre as duas espécies há séculos, mas esse era um caso diferente.

O garoto tinha sido brutalmente transformado em uma criança.

Tais transformações não eram tão incomuns assim. Ela tinha conhecimento de casos de serviços prestados por feiticeiros nesse sentido, mas todos feitos com cautela e não simplesmente em questão de segundos.

O que Madzie fez foi um choque para o corpo do menino, e era um milagre que algo não tivesse dado errado.

— Ei, está tudo bem? - perguntou numa voz baixa ao menino que parecia triste e não participava da brincadeira.

Ele só a olhou e continuou calado. Não parecia ser de muitas palavras.

— Sente alguma dor? - quis se certificar apesar de que se o menino simplesmente não explodiu em milhares de pedaços quando foi transformado, e não teve convulsões era um bom sinal.

Ele levou a mão ao peito, mas não respondeu. Se aproximou da grade da cela que os separava, observando.

— Você foi uma má menina?

E aquilo a chocou.

— Você já foi um menino mau e ficou preso?

— Já.

— Bom, isso é uma pena. Ninguém deveria ficar preso. - Comentou, e sorriu quando viu o menino concordar. — Por que está segurando seu peito? Ele dói?

O menino só a encarou.

— O meu dói às vezes. É normal. Acontece quando sentimos falta de algo.

Ele pareceu pensativo.

— O que são todas essas runas no seu corpo? Tem a bastante tempo? - cutucou, tentando fazê-lo lembrar.

O menino deu de ombros.

— Não lembro.

— Isso não é muito normal, não é? Dizem que elas doem quando são aplicadas.

— Não senti nada. - Falou orgulhoso.

— Aposto que você não sabe o que a maior parte delas faz.

— Sei sim. Essa é de cura. - Levantou a blusa para mostrar.

— E essa aqui, você sabe qual é? - apontou para a runa parabatai, e ele pareceu murchar. — Essa é uma runa parabatai. É o maior tipo de vínculo que pode existir. Você é muito sortudo em ter uma dessas.

— Sortudo?

— Sim, não é todo mundo que divide a alma com alguém.

— Não quero dividir minha alma. Eu preciso dela! - Falou horrorizado, fazendo-a rir.

— Isso é algo bom. Dividir uma mesma alma quer dizer que os dois sentem as mesmas coisas. É como… ter o melhor amigo sempre por perto. Qualquer um com um parabatai fica mais forte e mais feliz.

— Sério?

— Claro. Eu poderia ir encontrar o seu, mas estou presa aqui. Você entende, não é?

Ele mordeu os lábios e cruzou os braços. Era o exemplo da pessoa pensativa, e de nada lembrava o rapaz rude que ela vira dias antes provocando e sendo surrado por alguns membros do Círculo, a mando de Valentim.

— Se eu te tirar daí, você vai contar para o meu pai?

Ela sabia que se aceitasse a ajuda do menino, ela o colocaria em risco caso ele fosse descoberto, mas com sorte ela voltaria com reforços antes mesmo que alguém suspeitasse.

— Será um segredo nosso. - Ela deu o dedinho para o menino como uma promessa. Ele só a olhou sem entender e balançou a cabeça.

— Você estranha, moça.

Daí então lhe explicou como distrair Madzie para que ela não percebesse quando ela usasse magia.

— Tá com você. - Ele bateu no braço da menina e começou a correr. E não demorou para ser seguido por Madzie.

Quando ambos estavam longe, e os capangas que faziam a ronda distraídos, Dot usou sua magia e abriu o cadeado, fez um portal e num piscar de olhos estava longe dali.

Magnus quase engasgou com seu martini quando um portal se abriu no meio de sua sala.

Quando Dot saiu do portal, esgotada, deu de cara com um feiticeiro surpreso e várias armas apontadas por Shadowhunters.

— Dot! Meus Deus. Achei que estivesse morta. - Clary foi a primeira a parecer se recuperar e correu para abraçá-la.

Seus olhos marejados foram a última coisa que viu antes de perder a consciência.