Little Angel

Capítulo 2 - Memórias ao vento


Fazia muito tempo que Jace não se sentia assim tão desesperado e com medo.

E era incrivelmente estranho que se lhe perguntassem há uma semana como tinha sua infância ele teria afirmado com todas as letras que tinha sido ótima, apesar de dura. E que seu pai só o ensinava a ser forte.

Porém, agora era como se tudo estivesse acontecendo novamente. Todo o abuso, a manipulação, as punições, só que vistas pelo ponto de vista de um adulto. Um adulto preso no corpo inútil de uma criança!

Não conseguia correr, nem se esconder. Era um alvo fácil, e era tão fácil acertá-lo.

Não tinha perdido nenhuma das suas runas, mas o seu corpo era tão minúsculo e frágil que não conseguia ativar nenhuma delas com exceção da de cura (graças ao bom Anjo). Todas as outras he causavam uma dor terrível, com exceção da runa parabatai, que jazia inerte.

Ao pousar a mão sobre ela, não pôde evitar cogitar se Alec estava procurando-o ou não, ou se havia sentido o que lhe ocorrera. Talvez com a ajuda de Magnus tivesse alguma chance de voltar ao normal.

Era sua última chance, porque Madzie não tinha a mínima intenção de ajudá-lo e ainda achava que ele era nada mais que um novo amiguinho mal-criado que seria colocado na linha depois de uns castigos.

Tinha ímpetos de socar a menina até que ela o transformasse de volta, mas tentava se conter. Afinal, era só uma criança. Uma criança super perigosa e letal, mas ainda assim uma criança.

Não podia negar que o método do seu pai era eficaz porque mesmo com a sua consciência adulta, que parecia lhe escapar cada dia mais, ele se via cada vez querendo agradá-lo e não ser punido.

Era um soldado, mas era difícil aguentar tudo com um corpinho daqueles. Seu corpo implorava por comida, então o castigo de ficar em jejum por um dia inteiro não era algo que gostaria de repetir tão cedo, mas infelizmente esse era um dos preferidos do seu pai. Castigos físicos também não eram raros, mas nunca eram dados na frente da menina, pois Valentim não queria acabar com a frágil aliança que tinham.

E por isso, lá estava ele, brincando de tomar chá com umas bonecas e uma feiticeira mirim, perto das vistas do pai.

— Mais chá? - ela perguntou com um pequeno sorriso. Estava extremamente feliz com suas bonecas, e pouco ligava para os gemidos de dor que vinham do fundo do navio.

Sonsa.

— Claro. - Aceitou decidido a acabar com aquela brincadeira chata. Precisava chocá-la.

Assim que fingiu beber o líquido, fingiu engasgar.

— Você me envenenou! Por quê? Por quê?! - E caiu dramaticamente com uma careta e a língua para fora.

Ela hesitou por exato um segundo.

— Oh, não. Doutor, vamos salvá-lo. - A menina falou para o macaco de pelúcia inerte, que caiu assim que ela levantou rápido.

Jace abriu um dos olhos devagar quando não escutou mais nenhum barulho, só para ser atacado por cócegas.

— Para, sua pirralha! — Pediu, rindo sem parar.

— Ele está vivo! É um milagre!

— Para, já revivi. - levantou e saiu correndo, sendo seguido pela menina que não parava de lhe fazer cócegas.

Sem pensar ele se escondeu atrás do pai, e foi prontamente recebido e protegido.

— Sosseguem os dois. Está quase na hora do jantar.

Sentiu as mãos do pai passando pelo seu cabelo, viu o sorriso em seu rosto e isso o deixou feliz.

De mãos dadas com Valentim, não se deu conta de que esquecera até o motivo de estragar a brincadeira.

E nem de que sua vida adulta simplesmente sumira de sua mente.